Mais uma tarde em Edo, podia-se dizer tranquila, mas até uma jovem garota abrir a porta de onde morava com força quase arrancando a mesma.

Ela entrou em sua casa e tirou seus sapatos.  Naquele momento, sem ligar para quem se encontrava na sala, correu até o sofá e se jogou no mesmo, com o rosto na almofada.

Os dois presentes ao seu lado, Gintoki e Shinpachi, a olharam e não precisava perguntar o que tinha acontecido. Eles enxergavam os arranhões em seus braços, seu cabelo bagunçado e antes dela deitar, avistaram alguns curativos adesivos em seu rosto.

Mais uma vez ela tinha brigado com o loiro da Shinsengumi, Okita Sougo.

— Você e aquele menino ranhento psicopata do Shinsengumi soltaram faíscas de novo? —Perguntou o espadachim de cabelos prateados, ele estava sentado em sua cadeira, com os pés encima da mesa e limpando o nariz com o seu dedo mindinho.

Kagura em vez de responder alguma coisa apenas gemeu como se estivesse reclamando, aquilo era um sim.

— Kagura-chan, você e o Okita-san não precisam brigar todo dia, vocês não têm motivos. — Dessa vez foi a vez de Shinpachi dizer alguma coisa.

— Patsuan, eles estão naquela idade onde um homem e uma mulher tem interesse em testar a resistência dos moveis da casa.

— Entendi Gin-chan, foi por isso que eu reparei que o soco que eu dei nele semana passada quebrou uma mesa da barraca de dangos, normalmente eu não pensaria em mesas. — Kagura disse levantando a cabeça e respondendo Gintoki. Shinpachi apenas levou a mão no rosto e agradeceu pela menina não ter entendido a verdadeira intenção do que Gintoki queria dizer.

— Bom, entre os dois pirralhos tentando descobrir como se arrepia a nuca e a minha antiga companheira Ketsuno Ana, acho que a decisão está clara. — Gintoki levantou da sua cadeira e foi até o sofá onde Kagura estava. A mesma saiu de lá pois já sabia que o samurai iria implicar por um lugar. Shinpachi pegou uma revista e começou a ler.

Kagura percebeu que o Yorozuya estava um completo tédio. Até iria passear com o Sadaharu, mas o mesmo se encontrava dormindo no canto da sala. Desistindo daqueles três sem salvação, pegou seu guarda-chuva, arrumou seu cabelo, vestiu seu sapato novamente e saiu de casa.

A garota começou a caminhar sem rumo por Kabukicho. Pensou em comprar sukonbu no caminho ou até passar na casa da Otae, mas no fim não acabou decidindo o que fazer pois sua mente estava longe.

Lembrou da fala de Shinpachi minutos atrás que brigar com o sadista era uma perda de tempo. Mas por que?

Kagura chutou uma pedra em seu caminho e bufou, reparou no céu, tinha muitas nuvens, iria chover em breve.

Não tinha gostado daquele comentário do quatro olhos, mas não sabia porquê. Claro que se Sougo não existisse na vida de Kagura tudo seria perfeito, como ela pensava.

Mas não era exatamente assim.

Brigar com o sadista todas os dias virou uma rotina para a garota. E ela não parecia se preocupar chegar todos os dias em casa com o rosto machucado.

Pingos de chuva começaram a cair, Kagura abriu seu guarda-chuva, assim como várias pessoas ao seu lado, mas ela nem tinha percebido nas ações das pessoas ao seu redor, ela não conseguia parar de pensar naquele sadista que ela tanto odiava.

Okita Sougo tinha tornado algumas horas de seus dias bons, por mais difícil que ela queria admitir isso. Ela nunca tinha encontrado alguém tão sádico como ele, talvez ele seria mais louco que seu irmão. Um garoto louco, com uma obsessão louca de lutar.

E como não estava percebendo por onde andava, sentiu-se esbarrar com algo, ela olhou para frente e viu a figura a sua frente, a pessoa que não queria encontrar de jeito nenhum naquele momento, sim, o próprio sadista.

— Ah não, algo sujo tocou em mim, vou ter que ir para casa tomar banho. — Sougo fingia que limpava a sujeira de seu casaco. Kagura olhou para o rosto do garoto e já pensou no soco que queria dar nele ali mesmo.

— Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas hoje duas vezes eu já vi essa sua cara feia. — Dessa vez foi a vez de Sougo se irritar. Toda vez era assim, o começo era provocações, logo os dois iriam sair a tapas e socos, e os dois já estavam preparados para isso.

— Achei que você só tinha olhos para aquele seu doce com gosto de chulé, se notou meu rosto é porque gostou. — E logo quando o garoto de cabelos loiros disse aquilo, ele recebeu um soco em sua barriga.

— Vê se digere isso ao invés do meu doce de chulé.

— Sinto muito china girl — Sougo sacou sua bazuca e mirou em Kagura. — Mas hoje quem vai terminar no banheiro com indigestão é você. — E por fim atirou.

Kagura conseguiu desviar com facilidade e Sougo sabia que ela tinha conseguido, afinal, uma bazuca não iria derrubar a raça mais forte do universo. Kagura apareceu encima dele com seu guarda-chuva atirando. Sougo desviou de algumas balas e outras se defendeu com sua espada.

Antes de Sougo fazer alguma coisa, ele reparou no sorriso cínico da Kagura e achou estranho. Kagura riu e olhou para ele, o garoto se perguntava o motivo da risada.

—Será que realmente é uma perda de tempo?

— O que quer dizer? — Sougo a encarou sério. A chuva já estava um pouco mais forte que antes. Os dois só sentiam os pingos de chuva que caiam pelos seus rostos e a emoção daquela luta diária.

— Lutar com você, dia a dia, é uma perda de tempo. — Kagura olhou para cima e esperou que mais gotas de chuvas caíssem pelo rosto dela. — Não precisamos disso, é como o Patsuan disse.

Sougo não disse nada, ficou encarando ela por algum tempo até que começou a se aproximar dela.

— Não me diga que está andando para trás. — Sougo parecia sério depois daquele comentário. Kagura olhou para ele e esperou ele vir até ela. Quando ele parou de andar, ele estava tão próximo dela que ela deu um passo para trás um pouco assustada. Ele encarou os olhos azuis da garota e Kagura não ousava piscar. Não estava entendendo o porquê daquela aproximação do sadista.

— Meu tempo é precioso garota. — Sougo colocou a mão no queixo da yato e levantou o rosto dela. Colou sua testa na testa da garota e a encarou sério. — Não gastaria ele com coisas que não são importantes para mim, por isso, na próxima vez que eu te ver vou fazer questão de dar meu melhor tiro em você. — Sougo por fim deu sorriso cínico, ficou encarando a garota por mais um tempo até tirar a mão do rosto dela e se afastar. Kagura não parava de encarar Sougo. Ele começou a ir embora por onde veio.

Ver ele partindo deixou Kagura com um sentimento diferente dentro de si. Eles não iriam acabar de brigar? Ela não estava desistindo.

Ele tinha se tornado seu aliado durante o tempo que esteve na Terra e seu maior rival. Quando os dois lutavam, nunca saia um vencedor da luta. Ela tinha que mostrar para ele que ela era mais forte que ele, ela tinha que ganhar dele.

Sougo poderia ser um imprestável, mas era seu melhor rival. E doeria admitir para ele, mas Kagura gostava muito de lutar com ele, de provocar ele. Brigar com o sadista era sua rotina.

Antes de Sougo desaparecer da visão da garota, o sádico escutou um tiro que tinha chego até seu lado direito. Olhou para trás e viu a garota chinesa apontando o guarda-chuva em sua direção.

— Acho que é você que está andando para trás. — Kagura sorriu motivada. — Está fugindo sem terminar uma luta. — Sougo sorriu e tirou sua espada da bainha.

— Se eu fosse terminar essa luta agora levaria apenas menos de cinco segundos. — E então correu em direção a garota.

Brigar com Okita Sougo não era uma perda de tempo, muito pelo ao contrário, era algo necessário.