Bruce nunca se lembrava de quando começou suas "atividades noturnas", jovem e idealista, acreditava piamente que faria a diferença, tornaria Gotham um lugar melhor. Escolheu a veste preta como um símbolo - pessoas morrem, símbolos não. Um dia, quando não fosse mais capaz de continuar, outro assumiria o manto e tudo que o Morcego representava subsistiria.

Não se recordava, nesse exato momento, quando isso mudou. Talvez foi se esvaecendo aos poucos, com a percepção da "escalada do crime" que nunca parecia ter fim; talvez a morte daquele que considerava seu sucessor o tivesse quebrado mais que imaginara; talvez o surgimento de seres tão poderosos no céu de Metrópolis o tivessem feito perceber quão pequeno, quão impotente ele era. Talvez Alfred estivesse certo e ele precisasse de uma namorada. 

Não importa o motivo ou a origem, ele se fechou. Deixou de acreditar em seus próprios princípios. Ignorou seus melhores instintos e se voltou pra um lado tão sombrio quanto a cor de seu uniforme. Até que ele surgiu. Primeiro como inimigo, foi o primeiro em muitos anos que o fez sentir. Ódio, raiva, desconfiança. Mas ainda assim, eram sentimentos não eram?

Daí ele morreu. Salvando a cidade que Batman deveria morrer pra proteger. Perecendo contra o inimigo que foi criado devido à cegueira que lhe acometeu. Ele, o grande detetive, derrubado pela emoção. Todos seus sentidos adormecidos pela dor foram a causa de Lex Luthor ter ido tão longe em seu plano lunático. Se ele apenas tivesse sido racional e aberto, se tivesse ouvido Alfred, se tivesse percebido o plano de Luthor antes, se não tivesse se deixado manipular como uma massinha de modelar, aquele monstro não teria sido criado e ele ainda estaria vivo. Mas ele morrera e culpa era de Bruce. É, ótimo trabalho, Morcegão.

Mas ele podia mudar isso. Reencontrar Diana e os outros nos arquivos de Luthor. Aliás, outra fonte de vergonha para si mesmo. Ele deveria saber daquilo antes de Lex, ele devia ter notado os padrões. Ele devia... Deixa pra lá. Ele os encontraria, os uniria. Seria essa sua redenção.O kriptoniano gostaria disso. Essa seria a missão de sua vida, considerando que já passara do prazo de validade de um vigilante. Estava velho, sabia. Mas ainda tinha forças pra mais uma missão. Aquela que vinha esperando a vida toda. A única maior do que a si mesmo. Tomaria pra si a missão que sabia, era a mais importante de todas.

 Não seria o herói, pois o herói estava morto. Mas podia tentar fazer outros assumirem o manto dele, defender a Terra. Fazer aquilo que ele não é capaz. Seres poderoso ameaçam o planeta, seres poderosos são necessários para defendê-los. Não ele, incapaz como era. Mas pessoas melhores, mais humanas. Mais... como ele. Que trouxessem esperança.