A vida continua. escrita por Hoffnung


Capítulo 9
IX




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Acordo e demoro um pouco para perceber que estou sozinho na edícula, olho para o relógio e vejo que já são pouco mais de meio-dia. Droga, eu queria acordar cedo para levar Julie à escola, mas confesso que demorei para dormir depois da nossa conversa... Não sei se fiz certo em dar um tempo para ela, mas acho que sim. Se eu a amo tenho que abrir meus olhos e aceitar a realidade. Afinal, um grande poeta disse: "Quem sou eu para mudar o que o mundo escolheu?", tento sorrir com meu elogio, mas não consigo, minha conversa com a Julie foi bem séria e isso me preocupa, mas ela não pareceu mudar de ideia sobre nosso futuro relacionamento... O que eu não sei se é bom ou ruim. Félix diz que ela está assim porque terminou seu namoro recentemente, portanto ainda está abalada e procurando alguém para poder afogar suas mágoas. É só questão de tempo para eu me machucar... Martim já é mais sincero, falou que é impossível nosso relacionamento... Ele disse mais algumas coisas, mas eu saí da edícula antes que pudesse terminar, sinceramente, não preciso de seu pessimismo, o meu já me consome. 

Agora, mais cedo, Julie diz que sua melhor amiga, - que na minha opinião é uma das pessoas que mais quer o bem dela fora sua família, claro - não apoiaria. Isso desanima qualquer um... Mas Juliana está provando o contrário, e que independente de tudo ela me ama, e eu acho que é isso que importa. Mesmo que não dê certo mais para frente, pelo menos agora eu posso tentar ser feliz, ou realmente ser, não sei. Olho novamente para o relógio: 12:23. Se eu correr consigo encontrá-la na saída da escola... 

... 

Cheguei alguns minutos depois que o sinal bateu, mas não vi Julie então acho que ela ainda não saiu. Me encosto no portão e volto a pensar. O panaca pisou feio na bola, por mais que a Julie negue, eu sei que ela ainda sente algo por ele... No mínimo pena, ou até mesmo uma leve atração. Posso estar enganado, mas acho que não – isso raramente acontece -, depois que ele a visitou ontem Julie chorou bastante, ela não me disse o motivo, e sinceramente eu já desconfio e prefiro não perguntar, assim posso ficar perdido em meus pensamentos me forçando a acreditar que ela não quer voltar com ele. Olho para o lado e vejo o cretino passando de cabeça baixa perto de mim, alguns de seus amigos nerds conversam sobre alguns dados de RPG estranhos ou coisa do tipo, não entendi e nem faço questão. Quando eles já estão longe, finalmente percebem que o Nicolas está triste e dão uns tapas nas costas como consolo até saírem da minha vista. Ri pelo nariz, otário... Teve a garota mais perfeita nas mãos e deixou ela escapar. Tsc, tem que ter pena mesmo. 

Olho para a escola e - finalmente - vejo a Julie saindo, que demora... Ela estava um pouco engraçada, andava tropeçando no ar, e mal se aguentava em pé. Beatriz tentava ajudar a amiga carregando a mochila e segurando a sua mão para orientá-la, mas não parecia ser muito eficiente... Assim que elas cruzaram o portão fiquei visível. 

— Tá tudo bem? - pergunto olhando o estado de Julie 

— Daniel? Nossa, que susto. Por que gosta de matar as pessoas assim? - Bia coloca a mão no coração enquanto sua amiga dá um sorriso sem vida. 

— Aconteceu alguma coisa? – ignorei seu comentário o que fez Beatriz bufar. 

— Julie ficou tendo uns sonhos estranhos de noite e não conseguiu dormir, nem tenho certeza se ela está mesmo acordada agora. 

— Claro que estou - Juliana respondeu fraco. 

— Hum... - não sei se acredito na história do sonho, acho que eu fui um pouco culpado da sua noite mal dormida. - Deixa eu te ajudar. - estico minha mão em direção à mochila de Julie, mas a Bia não me entrega. 

— Acho melhor não... 

— Por que? 

— Vai ser estranho uma mochila sair voando por aí. - Por um momento tinha esquecido o que eu era de verdade. Fiquei chateado com suas palavras, mas tentei não demonstrar, então apenas dei de ombros. - Mas ajudar ela a andar sem cair já seria útil... 

— Hum, tenho cara de apoio? - Julie me olhou espantada, acho que não esperava que eu dissesse isso... Mas agora já é tarde e eu não ia pedir desculpas, não na frente de sua amiga. Me limitei a abaixar a cabeça e segurar a sua mão, mas Juliana soltou com certa brutalidade. 

— Não preciso de sua ajuda, você não é apoio. – repetiu minhas palavras com desprezo e começou a andar em direção contrária à sua casa. 

— Julie... - ela me olhou brava. - Sua casa é do outro lado. - digo segurando a risada. 

— Virou gps agora? - provocou. Bufei enquanto Beatriz apenas observava. 

Até a metade do caminho foi tranquilo, mas depois de um tempo Julie começou a ficar mais mole e se apoiar nas paredes. Parecia exausta, o que eu estranhava afinal, por mais que ela tenha dormido mal essa noite, mais da metade do domingo foi destinado ao seu sono. 

— Deixa eu te ajudar. - segurei sua cintura, mas a mesma se afastou rápido quase caindo. 

— Não preciso da sua ajuda. - respondeu ríspida. 

— Deixa de ser orgulhosa... - revirei os olhos. 

— Olha só quem fala. – ignorei seu comentário e continuei insistindo. 

— Para de ser infantil e deixa eu te ajudar. - me aproximei, mas ela continuou andando. 

— Eu consigo sozinha. - andou mais uns metros até tropeçar e cair em cima da Bia que andava na nossa frente. 

— "Eu consigo sozinha". - a imitei com uma voz fina. Julie lançou um olhar furioso, mas não me importei, apenas aproximei dela e segurei sua cintura tentando dar mais equilíbrio. 

— Seria mais útil se me carregasse. - esnobou. 

— Como a madame preferir. - parei na sua frente e me abaixei. 

— Sério isso? - deu risada. - Não sabia que era uber agora. 

— E eu não sabia que era tão exigente. - a encarei a tempo de ver revirando seus olhos. - Chance única, vai perder? - vi que ela deu um sorrisinho e não pensou duas vezes antes de subir, ou melhor, pular nas minhas costas. Gemi um pouco com seu peso quando ela propositalmente se jogou em cima de mim. 

— Ué, tá fraco... - zombou. 

— Acho que alguém está comendo demais. - devolvi apenas para não perder o costume, ela não estava tão pesada assim e além disso era ótimo sentir ela em meus braços, mas sinto falta de provocá-la um pouquinho. Beatriz deu uma olhada para trás e lançou um sorriso malicioso para Julie que na mesma hora se encolheu. 

— Acho melhor os dois se apressarem, se alguém passar na rua e ver isso vai achar estranho uma garota assim no ar. - suspirei triste com isso, mal poderia ajudar o amor da minha... morte (?) sem ser julgado pelo que sou... Acho que Julie percebeu minha tristeza pois acariciou meus cabelos e beijou meu ombro onde estava apoiada sua cabeça. 

Por sorte faltavam apenas dois quarteirões para chegar em sua casa, e durante o trajeto não vimos ninguém nas ruas. 

... 

Estava na edícula desde a hora do almoço, passei a tarde toda aqui no tédio. Seu Raul não foi trabalhar então eu não poderia tocar. Martim e Félix estavam com o Pedrinho, provavelmente ajudando ele com alguma invenção ou sei lá, e como Julie não apareceu por aqui, acho que está tirando um cochilo ainda, mas por incrível que pareça já estava sentindo saudades e acho que não vou conseguir esperar muito mais tempo... 

... 

Fico na dúvida se bato na porta de seu quarto ou apenas entro, ela poderia estar dormindo e não sei se quero acordá-la. Dou duas batidas de leve na porta e passo metade do meu corpo pela parede. 

— Oi, posso entrar? - falo assim que vejo Juliana sentada na cama com um violão. 

— Pode... - responde meio desanimada. 

— Tá triste? - pergunto me sentando ao seu lado. 

— Quer saber a verdade, Daniel? Tô, estou triste sim. - antes que eu perguntasse o porquê, ela continuou. - Por que me tratou daquele jeito de mais cedo? Achei que realmente gostasse de mim, mas ultimamente anda difícil acreditar, primeiro você diz que não estamos tendo nada, depois fala sobre uma Camila, e que quer me dar um tempo para pensar sobre algo que eu tenho certeza... Sem falar que foi grosso comigo na saída da escola. 

— Nunca duvide do meu amor. - falei sério. 

— Hum, tá. - balançou os ombros e não deu importância, voltou a tocar. 

— Julie. - chamei mas ela nem ligou. - Julie... 

— Tô ouvindo. - respondeu ríspida. 

— Olha pra mim... - tentei pedir da forma mais doce possível. 

— Já disse que estou te ouvindo. - tirei o violão de seu colo e o apoiei na parede. 

— Ok, mas agora quero que olhe pra mim. - puxei seu queixo obrigando-a a me olhar. Isso fez com que nossos rostos ficassem próximos, senti sua respiração pesar e sorri com isso. 

— Já estou olhando... - sussurrou. 

— Por que dúvida de mim? Julie, eu juro que estou fazendo de tudo pra nós podermos ficar juntos. 

— Por que não acredito nisso? - bufei. 

— Eu juro... - peguei suas mãos de modo desesperado e comecei a beijá-las subindo lentamente com os beijos para seu braço. 

— Por que pediu um tempo? - cheguei com os lábios em seu ombro e comecei a dar beijos mais demorados. - Disse coisas sobre nosso futuro como se eu não soubesse disso. - continuei subindo com os beijos parando no seu pescoço. - E-e.... Dis-s-e.... Ah-hn.- senti sua pele se arrepiar conforme eu aumentava a frequência dos beijos. - Daniel, para, tá me desconcentrando... - disse sorrindo. 

— Só paro se acreditar em mim... - falei encarando seus olhos e assim que sai do transe, voltei com meus lábios em seu pescoço devorando-o, subia até o começo da bochecha e voltava, as vezes ia até o canto da boca, mas não passava disso. Queria provocá-la. 

— Eu já disse porque não acredito, as vezes eu acho que você está mudando e depois volta a se mostrar insensível e grosso como antes... Isso... - suspirou sentindo meus lábios em sua pele. - Is-so... Esse s-eu jeito... Machuca. 

— Julie, shhh, quietinha. - falei beijando seu rosto com vontade. - Tá falando demais. 

— Tá me mandando cal-- antes que ela terminasse de falar, a interrompi com um selinho rápido, mas quando eu ia afastar ela juntou nossos lábios novamente. Não esperava por isso, apenas queria que ela parasse de falar, mas não vou mentir que estava muito bom. Era apenas um selinho caprichado, mas isso já me deixou mais confiante. Acho que era um sinal. A prova que eu precisava para ter certeza que lutaria por ela com todas as minhas forças. Pedi passagem com a língua e na mesma hora ela cedeu. Segurei seu pescoço com uma mão a trazendo para mais perto de mim e com a outra apertei sua cintura. Ela sorria entre o beijo enquanto eu suspirava com o carinho que ela me dava quando acariciava meus cabelos perto da nuca. 

Acho que amanhã mesmo vou a pedir em namoro, não é a opinião dos outros que vai me impedir. 

Estou amando, e pela primeira vez sou retribuído, não posso mais perder tempo... Quando me dei conta, já estava deitado em cima dela apoiando meu peso em meus braços para não a machucar, o beijo ainda era o mesmo apaixonado e cheio de desejo como nos primeiros segundos. Percebi que ela tentava falar alguma coisa, então mordi seu lábio inferior o puxando levemente e finalizando o beijo com um selinho molhado. 

Julie ainda regulava a respiração quando perguntou: 

— Q-uem é Cam-ila? 

 
 

 


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Notas finais do capítulo

Mais tarde posto outro! Obrigada por ler



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