O semblante de Raul em Sobral escrita por Leopoldino


Capítulo 1
Capítulo 1




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Vinícius focaliza o ocaso ao fundo dos prédios e bares da Dragão do Mar, a rua Augusta de Fortaleza. Relembra os bons momentos que passou ao lado de seus amigos, pensa que estes desaparecem a cada dia. Mesmo após uma recepção acalorada a Bigos que voltava da França, Vini sente que há coisas que se perderam no tempo e nas chuvas de verão.

—Com o passar dos meses, as mesas de bares que frequento estão mais vazias. Sou obrigado a falar em inglês na faculdade. Ouço vozes do passado, é uma total vontade de fumar makonhah.

Após algum tempo sem fumar drogas, Vini decide interromper seu luto penitencial, pois almejava uma brisa que acalentasse sua alma.

—Mas sem ninguém para apreciar um beck comigo? Não seria o prazer um construto narcisista?

Na cadeira ao lado de Vini, senta-se sua namorada(que ninguém sabe o nome). Ela pronuncia algumas palavras, mas logo Vini percebe que não sabe falar inglês e entra em desespero.

—Por que todos resolveram a falar em inglês agora? Não vou ficar nesta cidade, vou voltar pro sertão.

Algumas lágrimas tecem finas linhas luzidias em sua face, sua amante as percebe e o abraça demonstrando carinho. Vini então retribui o amor:

—O abraço lembra a devoção de meus amigos.

Ambos se encaminham para a casa de Vini, querem sensações diversas ao fim desta tarde.

—Que tu acha da gente rachar 25g de maconha?

—Dont say maconha, say CD!

—Mas que caralho, porque estás a falar inglês?

Após realizarem transações suspeitas em um beco muito comum na rota de Vinícius até sua casa, eles finalmente chegam ao local ao fim de uma viagem de três horas. Vinícius morava muito longe mesmo, mas o amor não é medido por metros, embora neste caso sejam quilômetros.

Sobem então ao quarto de Vini, a casa estava vazia. Acendem duas drogas, como forma de manifestar certa distância e estranhamento. Com o passar do tempo, silêncio e climão, Vini por um impulso diz:

—Vou buscar água.

Desce vagarosamente o lance de escadas pensando sobre como aquela droga havia destruído sua amizade com Raul, sente falta de suas correntes do whatsapp, que a cada dia se fazem menos presentes em sua vida.

—Se ao menos eu tivesse assumido a culpa, Raul ainda estaria ao meu lado.

Se revolta ao ver os olhos vermelhos e chorosos no seu reflexo na água e conclui:

—Vou agora para Sobral!

Engole todo aquele medo, desespero e brisadeiro, ruma em direção do carro sem avisar pessoa qualquer. Após aquela triste tarde, vem uma noite quente e abafada, que faz surtar o espírito, que demonstra na pele o arrependimento e o amor. Naquela infinita rodovia em direção a Sobral, Vinícius para em um posto para comprar dois picolés, um de leite condensado, o outro, hum, de milho.

—Moço me vê dois picolé de milho e de leite condensado?

É, muitas vezes a droga impossibilita ações simples, ou seria a agonia daquela noite? Ele volta ao carro com quatro picolés, guarda-os no porta-luvas e segue em sua jornada ouvindo Total Eclipse of the Heart em loop.

Às três da manhã, o celular de Vinícius toca, despertando-o para o mundo real. Ele atende e escuta um longo sermão dos seus pais e um detetive.

—Vinícius, você saiu de carro e deixou uma menina falando inglês trancada dentro de casa. Não avisou ninguém, agora ela tá dormindo no seu quarto. Tu é imbecil? E também, a gente sabe que você fumou drogas, Vinícius! Quando você voltar a gente vai te internar numa clínica e…

Vinícius termina a ligação furiosamente, sem responder coisa alguma, com algumas lágrimas escorrendo em seu rosto. E diz:

—Vou comer um picolé.

Ele então abre aquela sobremesa já um pouco derretida e de forma distraída vai lambendo-o e se lembrando do objetivo de rever Raul. Enquanto muito do picolé, este de milho, sabor preferido de Raul, acaba escorrendo e caindo sobre sua camisa, calça, e talvez, cueca boxer. Relembra o passado e a situação que motivou a distância entre ambos. Vinícius e Raul haviam sido descobertos no uso recreativo de certa droga, os pais de Vini informaram os responsáveis por Raul, e a maior punição acabou ocorrendo para Raul, que foi obrigado a se mudar de Fortaleza a Sobral, onde estaria distante das más influências da capital. Tudo isso por culpa de Vinícius que não foi nem um pouco discreto, acabara condenando Raul ao ostracismo. E o que faria Raul, longe de seus amigos, solitário e triste, sem se reconhecer na nova moradia, longe do PCC? Vini então estremece ao lembrar do causo em que Raul fora estuprado na Uninove, sem que houvessem pessoas para apoiá-lo naquele momento difícil em Sobral.

—Ao fim desta madrugada infernal, vou me desculpar por tudo com Raul, aquele mais adorado entre meus amigos.

O último pedaço de picolé acaba caindo dentro da cueca de Vini, ele sequer percebe, sua concentração é corrosiva e incendeia sua mente com avanços nostálgicos e vontades.

São cinco horas da madrugada. Finalmente Vinícius chega a Sobral, e sem nenhum descanso vai no endereço de Raul. Ao toque de duas buzinas, Vinícius se choca com a visão daquele ser na janela da casa.

—Raul, sou eu. Eu vim te visitar.

—Porra Vinícius, é cinco e vinte da manhã. Vai é se fuder.

Vini pensa em ir embora, mas decide não desistir da amizade.

—Raul, preciso falar com você, eu dirigi a noite inteira pra isso!

Doravante, Raul se dispõe a recebê-lo, ainda que com um pouco de receio. Vini desce do carro, a escuridão ajuda a esconder sua roupa manchada. Caminha cansado até Raul e o cumprimenta com certo desencanto. O tempo lhe havia feito mal, sua pele parecia marcada, de forma máscula e sedutora, com inúmeras cicatrizes em suas mãos fortes, de um homem crescido e esforçado.

—Você está diferente, Raul.

—Depois de tanto tempo aqui em Sobral, conclui que a carpintaria seria a melhor forma de enganar a solidão, já não sou o jovem de ontem, Vini.

Ambos se abraçam rapidamente, como companheiros de um sindicato, que lutam pelo sonho de um futuro melhor para seus iguais.

—Você tem feições rústicas, parece um pai preocupado.

Raul então enrubesce a face castigada pela seca e destino.

—Entre.

A sala grande e cheia de móveis polidos e bem trabalhados, encanta Vini com o talento de seu amigo. Senta-se em um grande banco de madeira, ao lado de Raul, onde há bustos de madeira esculpidos em faces gregas e másculas, belas feições. Vinícius sente que naquele lar há uma esperança no futuro, haveria de contemplar muito a madeira trabalhada do artesão.

—É tudo muito bonito, você vive desse talento?

—Desde que cá estou. Vivo bem, sou reconhecido, e mesmo assim há um vazio dentro do meu peito.

—Você namorou alguém aqui em Sobral?

—Outras questões afligem o meu âmago de artista. A saudade do PCC e a de …

Tentando animar aquele triste silêncio, Vinícius lembra do humor passado.

—Raul, tu é pai.

—Não sou não cara, vai se fuder.

Diz Raul rindo, um pouco nervoso.

—Ainda mais com essa nova feição. Cara, bora fumar um?

Vinícius começa a bolar um cigarro de droga quase que instintivamente, às vezes olhando o rosto de Raul e sorrindo. Antes de terminar o beck, diz:

—Desculpa por tudo, por minha culpa você saiu da capital, teve que abandonar a faculdade e viver da sua arte. Num momento já tão grave, sem apoio algum ter de lidar com o abuso que sofreu.

Raul começa a chorar em silêncio, é quase como se não houvessem mais lágrimas para expressar sua tristeza. Ele diz:

—Vinícius, o importante é que você veio, eu te perdoo.

Se abraçam demoradamente. Vini sente uma fragrância de madeira que vem de seu amigo, o cheiro másculo e sedutor do carvalho com que se esculpe a arte. Sente então uma pontada em sua calça, e relembra o seu reencontro com Bigos, olhando, obtuso, o nada. Os dois vagam naquele abraço, sem perceber que a roupa de Vini estava suja de picolé.

—Vinícius, preciso te contar algo, que muito me aflige.

Muito nervoso, Vinícius responde:

—Então diga logo.

—Sabe o porquê da minha disposição em falar com mendigos e pessoas estranhas na rua? É sempre a esperança de um dia poder rever o meu filho, Vinícius. Eu sou pai, real oficial.

—Mas Raul, não tem como um mendigo de mais de trinta anos ser seu filho, ele não seria mais velho que você?

—Muitas vezes o amor de um pai transcende o tempo, espaço e racionalidade, Vinícius. Um dia você entenderá.

Vini percebe então que o beck já está aceso há alguns minutos, e se satisfaz ao ver que o cigarro sai dos lábios de seu amado amigo em direção aos seus. Sente uma grande comunhão entre o desejo de ambos; estão interligados e se divertem como nos velhos tempos. Raul diz sussurrando:

—Vini, você tá cheirando picolé de milho.

Vinícius responde envergonhado:

—Ah, é verdade, eu trouxe alguns para você.

Eles vão até o carro, onde Vinícius se abaixa e inclina no banco para tirar as sobremesas do porta-luvas. Raul, então, com seu olhar de cigano oblíquo, mui castigado pela seca, reverbera admiração pelo corpo de Vini; é quase como se morresse ao não poder sarrar Vinícius.

—Mas está tão calor aqui, será que não derreteram?

—Não, não. Meu Civic 2017 tem o melhor ar condicionado da região, olhe, estão todos inteiros.

Vini percebe que Raul está muito perto de seu corpo, fingindo um descuido, ele se volta para fora do carro, e com deleite, acaba roçando em Raul; se surpreende ao sentir certo volume em seu short rústico, era digno de uma fotografia de Sebastião Salgado. Louco de maconha, Raul diz:

—Vini, me dá seu picolé.

Quando Vinícius processa a fala e vai entregar um picolé de leite condensado a Raul, percebe que o amigo já está abaixado e desabotoando sua calça, tirando para fora seu pulsante pau de 14 cm. Sedutoramente Raul lambe a pica de seu amigo e diz:

—Tem sabor de milho, é o meu favorito.

E devora a pica de Vini, com muita saudade e compaixão, é quase como se aquele homem amadurecido revelasse um garoto prostituto e brincalhão.

Vinícius em choque observa o mundo ao seu redor, sente que Sobral é parte dos Campos Elísios, onde só há prazer e redenção. O fim da mágoa entre ambos revelara uma paixão além do companheirismo. São cinco e quarenta da manhã, estão ao lado de fora da casa e perto do carro, não há pessoas na rua, somente os dois amantes. Vinícius afaga o cabelo de Raul, sem empurrar sua cabeça, num gesto de profundo carinho. Diz para ele:

—Levante, quero um beijo seu.

Porém Raul continua a chupá-lo, como num transe lancinante, se demorando ao engolir o pau voluptuoso de Vini, buscando realizar seu parceiro com sua língua áspera pela seca, mas molhada de tanto prazer.

—Vamos entrar.

Diz, quase que com ódio por interromper a felação.

Trancam o carro e rapidamente entram na casa, com os picolés. Se despem por completo e Vini se surpreende: o pau de Raul é majestoso e rústico, é como o pé de um móvel que fora construído por ele, cheio de veias esculpidas naquele mogno digno de um herói grego.

Como um senhor da fúria, Raul besunta seu pau com o picolé de leite condensado e faz com que Vinícius aprecie por completo seu falo. Ambos se contraem de tanto prazer, sem derramar coisa qualquer, sejam palavras ou deleite. Raul então intervem no momento:

—Vini, me faça seu, tu vai me foder todo agora, e com toda a fúria da sua saudade.

—Raul, com todo o prazer, me derramarei sobre seu corpo muitas e muitas vezes. Com dois picolés, ainda há muito o que refrescar…


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Notas finais do capítulo

Esta história leva em consideração o universo coletivo das demais fanfics do Plantão Inútil e sociedade.



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