Meu Sol escrita por Abelhinha


Capítulo 1
Meu lar.


Notas iniciais do capítulo

Então...inicialmente a história era em terceira pessoa, mas então eu passei tudo para primeira. Se algo me fugiu a vista quando corrigi, desculpem-me.

Boa leitura.



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A lua resplandecia naquela noite, o barulho da festa enchia meus ouvidos de tudo quanto é tipo de som, pessoas trombavam em mim a todo momento, algumas vezes até olhavam para trás para conferir se eu também estava ciente que o empurrão fora um convite; no entanto, eu não estava interessado. Eu só fui até ali porque Tommy insistiu bastante.

— Ei, Ollie - Ouvi a voz de Laurel me chamando e fui ao seu encontro. Parecia que a turma estava toda reunida. Era engraçado porque eu passei todas as fases da vida junto deles, não houve uma época ou momento em que eles não estivessem lá, mas eu não conseguia me livrar da sensação de que eu não os conhecia.

Qual seria a cor favorita de Ronnie?

Laurel teria um sonho?

— E aí, galera - Eu falei, meio sem jeito. Eles já me viram transando, fazendo minhas necessidades no banheiro, em um nível pior do que bêbado, mas de repente eu não sabia mais como me portar na frente deles, toda aquela intimidade evaporando. Eu achava, sinceramente, que ela sequer chegara a existir um dia.

E eles começaram a falar. E eu só conseguia me perguntar como eu aturei isso por tanto tempo, como me deixei levar. Eles só sabiam falar sobre quantas e quais mulheres saíram com eles, quem fez o quê. Ela tinha razão, eles tratavam as mulheres feito um lixo, como objeto, não como os seres humanos que são. Até algum tempo atrás, nunca tinha me perguntado como ficavam as mulheres que usei - não me orgulho de usar essa palavra, mas é a que mais combina - no passado. Agora eu me sentia um lixo. Eu ferrei a vida de Mackenna Hall por nada, porque era o desejo do momento. Ela tinha uma vida, família, amigos - assim como eu- e mesmo assim eu não hesitei em humilhar ela publicamente.

Eu até tentei me enturmar, tentar falar sobre algum assunto que não fosse referente às bobagens que saía da boca de Ronnie - ou outro -, mas ninguém me dava bola. Quando eu falei que a Nike não deveria ser tão valorizada porque utilizava o trabalho escravo eles me olhavam como se eu fosse um ET. Quem liga para trabalho escravo, se tem alguma criança apenas 8 anos trabalhando durante horas sem ganhar nada, quando se tem tudo que se quer? O dinheiro comprava tudo para nós, mas em troca nos tirava nossa humanidade. Por isso, não aguentando nem mais um segundo, eu fui embora sem me despedir. Acho que a única pessoa que pareceu me notar fora Tommy que também andava aéreo ultimamente. Eu precisava conversar com ele. Tommy era uma dessas pessoas que valia a pena ainda.
*-*

Duas noites depois, resolvi dormir na apartamento de Thea. Quando ela saíra de casa, disse aos nossos pais que estava a procura de novas coisas e precisava sair da barra da saia deles e a primeira coisa que ela fizera fora comprar aquele apartamento. Agora era eu quem estava ali. Talvez me ajudasse compartilhar do mesmo lugar que minha irmã usou quando tinha os mesmo sentimentos que eu. Talvez eu também encontrasse alguém para me fazer sair dessa rua sem saída.

Havia uma varanda bonita e arejada ali e foi lá que me enfiei para pensar. Havia algo místico em observar o céu, eu ficava envolto numa sensação de paz e aconchego que nenhum outro lugar proporcionava. Era estranho o que só um simples observar era capaz de lhe causar. O céu daquela noite em particular estava muito bonito com todas aqueles pontos brancos que formavam belíssimas constelações. Dizem que quem olha para as estrelas, vislumbra o passado. Mas eu não queria mais aquilo. Chega de olhar para trás. Estava na hora de eu avançar.

A brisa cálida daquela noite me acompanhou enquanto eu colocava uma rede para ali deitar. Me lembrei das férias que passava na casa de Raisa antes dela morrer, o frescor dos dias na piscina, a alegria de estar em comunhão com a família, as histórias que contavam à noite quando todos se reuniam no quintal para rir e conversar, a comida da avó que ninguém nunca fizera igual; nem mesmo sua mãe. Fiquei nostálgico com as lembranças e meu coração se apertou de saudades de Raisa. Ela sempre lhe causava aquela sensação boa de conforto. Por que as pessoas boas sempre tem que ir embora? Era um incógnita.

Me levantei da rede e um vento mais forte balançou as cortinas estranhas de sua irmã atrás de si. Olhou para o relógio que marcava 1h20 da madrugada. Apesar de gostar muito de dormir, naquele momento não estava com sono. Debrucei no parapeito da varanda e observei a movimentação ali embaixo. Um carro grande deu uma freada brusca em cima de outro; um grupo dançava numa roda que formaram ali; um outro carro passou tão rápido que eu nem consegui distinguir a cor do veículo. Eu gostava daquilo: Observar as pessoas, tentar adivinhar o que se passava em suas vidas. Era meio que um jogo

Eu fiquei imaginando se aquelas pessoas se sentiam tão entediados quanto eu. Se elas também esperavam mudar de vida.

Foi então que eu ouvi a porta abrir.

— Thea? Você está aí?

Dei um giro de onde estava e fiquei cara a cara com dois pares de olhos azuis que ultimamente rodeavam minha cabeça. Olhar para eles me causava a mesma sensação de como quando olhava para o céu agora pouca: Paz, conforto. Era estranho falar isso, mas eu me sentia em casa.

— Ah! Oliver! Você quase me matou de susto, criatura - Ela tinha a mão no peito, num gesto dramático. Eu revirei meus olhos como o gesto.

— Dramática.

Foi a vez dela revirar os olhos.

— O que você faz aqui?

Pensei um pouco sobre a pergunta dela. O que eu queria ali? Há pouco eu pensei que fosse para encontrar um lugar calmo e tranquilo para pôr os pensamentos em ordem, mas seria somente isso? Eu acho que, lá no fundo do meu inconsciente, eu sabia que meu cérebro me encaminhou para o apartamento de Thea porque ele sabia que encontraria Felicity lá. Afinal, elas dividiam um apartamento. Sabe que aquela frase que "Todos os caminhos nos leva a Roma"? A minha era: Todos os caminhos me levam para Felicity. Essa era a verdade nua e crua a qual eu não conseguia admitir para mim antes.

Será que eu conseguiria falar isso para ela?

— Eu venho procurando por algo.

Ela franziu a teste, confusa.

— E encontrou? Quer ajuda?

— É meio engraçado você dizer isso, Felicity - Embora eu gostasse dos apelidos que ela tinha, eu nunca deixaria de me privar do simples prazer de dizer seu nome - Porque foi justamente você que me ajudou a encontrar.

"Seis meses atrás eu era o que eu chamo de babaca tentando entrar em reabilitação. Eu não sabia o que estava fazendo da minha vida, só sabia que eu não podia continuar com aquilo. As pessoas sempre me disseram que eu tinha uma vida perfeita. E eu tinha, de certa forma. Não é justo eu ficar reclamando quando se tem pessoas que gostariam de ter 1/3 do que sempre tive. Eu reconheço que sempre tive muitos privilégios enquanto homem nessa sociedade. Mas, Felicity, por Deus, eu não me sentia feliz. E eu sabia que não se tratava somente desses episódios de playboys mimados que nunca se contentam com o que tem. Não. Eu sentia que precisava de algo mais na vida, sabe? Star City é uma cidade que precisa de cuidados, e quem sabe eu não poderia ajudar? De pouco em pouco. Ajudar as pessoas, me sentir útil nessa grande incógnita que o universo é, sabe? Me apaixonar, quem sabe. Só que eu não sabia como fazer isso. Não sabia até conhecer você. Você é um daqueles seres humanos que vêm à Terra com o objetivo de trazer luz. Aliás, você não é somente luz, Felicity. É mais: você ilumina e dá luz às pessoas. E com isso ela sente vontade de iluminar outros seres humanos também. É como o Profeta Gentileza disse: Gentileza Gera Gentileza. Você é luz que gera luz."

Felicity estava no meio da janela e a luz dos postes advindos da rua ilumina seu contorno. A escuridão do apartamento não me permitia ver seu rosto completamente, mas eu sabia que ela estava surpresa com o que eu disse. Diabos, eu também estava. Eu não tinha intenção de lhe dizer aquelas coisas até que as palavras simplesmente jorraram da minha boca. Era isso que ela fazia comigo: Eu me tornava espontâneo, mas de forma completamente diferente às atitudes do passado.

Era melhor.

— Oliver...

— Eu prefiro que você não fale nada.

Eu dei um passo a frente, para que Felicity soubesse exatamente o que eu pretendia fazer; não queria que ela achasse que eu era um babaca que dava beijos sem saber se era recíproco. Então ela me olhou de forma firme e intensa, se aproximando de mim sem nunca deixar de me olhar. Foi difícil continuar lhe encarando porque ela a mesma sensação de observar o Sol. 

Ela era meu Sol.

E foi naquele beijo que eu soube que Felicity também sempre seria o meu lar.


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Notas finais do capítulo

Não deixem de me dizer o que acharam!! ♥



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