*Jimin*

Ouvi o grito de Anne e logo depois ouvi um barulho enorme no chão e na porta do quarto dela.

Levantei correndo para ver o que tinha acontecido.

A primeira coisa que vi foi J-Hope estirado no chão. Abaixei para tentar acordá-lo, mas não tinha jeito.

Olhei para Anne, ela estava na cama sentada com alguns papéis na mão, estava olhando para um ponto no meio do quarto totalmente apavorada.

Quando olhei para o chão, me apavorei também. No meio do quarto tinha uma cobra, e ela estava pronta para atacar Anne.

A primeira coisa que eu achei foi uma bolsa, e foi isso que eu joguei no bicho. Ainda bem que eu fui rápido, a cobra deu o bote, mas a bolsa a acertou antes que ela pudesse pegar Anne.

A garota estava sem um pingo de sangue no rosto de tanto medo. Peguei o braço dela e saí a arrastando.

Eu não estava nem ligando pro hematoma que com certeza apareceria ali depois, eu só queria sair daquele quarto e levar ela junto. 

Fechei a porta e desejei que aquela maldita cobra morresse lá dentro.

Depois do barulho todo que a gente fez, os meninos finalmente apareceram na porta.

—O que aconteceu? - Perguntou Rap Monster.

—Tinha uma cobra no quarto de Anne.

—Uma cobra?! Como foi que entrou uma cobra aqui? - Perguntou Jin. - E o que aconteceu com J-Hope?

—Isso aí eu já não sei. Ele dever ter desmaiado quando viu a cobra.

—Aquilo ali no chão... É sangue?

Todos olhamos para o chão. Tinha um pouco de sangue onde J-Hope havia caído.

Ah não...

E outra poça de sangue se formava mais perto. Essa estava vindo do braço de Anne.

Parece que a cobra tinha sido mais rápida do que eu, uma de suas presas havia feito um corte no braço de Anne, um corte que não parava de sangrar.

—Se era venenosa... - Anne começou, mas parou por aí e olhou para Suga.

Todos nós estávamos assustados, mas eles dois pareciam ainda piores. Será que a doença de Anne pode piorar o efeito do veneno? Eu não tinha coragem de perguntar.

Suga pegou Anne no colo e saiu correndo com ela em direção à porta. Eu e Jin agarramos J-Hope, cada um de um lado, e levamos ele também. Namjoon e Jungkook ficaram com Taehyung porque ele não estava se sentido bem já a algum tempo, eles ficaram encarregados de ligar para o nosso manager e explicar tudo a ele.

Chegamos no hospital e o desespero de Suga era bem claro. Ele entrou correndo e gritando por ajuda, eu nunca tinha visto ele daquele jeito.
                             XXX

Estávamos na emergência, para nossa sorte tinha duas camas disponíveis uma do lado da outra. Anne e J-Hope estavam tomando soro.

O médico havia tirado sangue de Anne para fazer alguns exames, ela parecia mais calma, mas Suga ainda estava completamente atordoado.

J-Hope, que finalmente tinha acordado, estava mais preocupado com ela do que com o corte que tinha na cabeça dele (tudo bem que o enfermeiro falou que não foi profundo e ia cicatrizar completamente em alguns dias, mas ainda assim era um corte e na cabeça!).

Mas para ser sincero, eu também estava muito preocupado com Anne e estávamos todos olhando para ela como se esperássemos que ela fosse simplesmente morrer a qualquer momento.

—Não era um cobra venenosa gente, se fosse meu braço já estaria bem inchado. - Ela disse tentando nos acalmar.

Nessa hora o médico chegou.

—Não era uma cobra venenosa. - Ele afirmou. Anne nos olhou com uma cara de "eu avisei". - Não tem veneno no seu sangue, mas eu encontrei algo no exame muito preocupante. - Continuou o médico. - Você sabe que...

—Sim, eu sei. - Anne interrompeu antes que ele falasse.

O médico olhou para nós, Suga e J-Hope eram os únicos que não pareciam completamente perdidos.

—Bem... Você tem que cuidar bem desse corte, não deixe infeccionar de jeito nenhum.

—Pode deixar. - Anne sorriu.

—Vocês dois estarão liberados assim que terminarem o soro.

Então o médico foi embora.

*Anne*

Depois daquele terrível susto, voltamos para casa.

—Hyung! - Gritou Taehyung. Ele, Jungkook e Rap Monster estavam sentados no sofá. - Achei que você tinha me abandonado.

J-Hope sorriu.

—Claro que não. - Ele disse dando um "soquinho" no braço de Tae. - Isso nunca.

Os dois ficaram lá, se olhando como se fossem cúmplices.

Alguém bateu no meu braço.

—Para de encarar. - Sussurrou Yoongi.

Virei pro outro lado.

—Você está bem? - Perguntou Rap Monster vindo para o meu lado.

—Estou, a cobra não era venenosa. - Respondi dando um sorriso fraco.

—Estou falando de outra coisa. - Ele disse e apontou com a cabeça para o lado e Tae e J-Hope.

Eu fiquei meio sem reação e ele sorriu.

—É - Ele disse. - Eu estou de olho.

Com isso ele se afastou e foi falar com J-Hope para ver se ele estava bem também.

Calma Anne... Não pira, não agora.
                              XXX

Hoseok não foi para a gravadora, o que foi uma coisa totalmente terrível já que tivemos que ficar em casa só nós dois.

Haviam tirado a cobra do meu quarto, mas eu ainda estava com receio de entrar lá, então estava na sala lendo o roteiro e fazendo algumas anotações.

—Esse é o roteiro? - J-Hope perguntou.

Ele está pegando o costume de simplesmente se materializar do meu lado e, cara... Desse jeito meu coração não aguenta.

—Sim.

—Posso ler com você?

Gelei. Isso queria dizer que ele ia sentar ao meu lado e íamos ler juntos. Essa era a visão que eu tinha do que eu queria fazer quando tivesse um namorado quando tinha doze anos.

Pare Anne! Pare com isso!

—Pode ler. - Falei entregando o roteiro a ele. - Eu acho que vou comer alguma coisa.

—Ahh... - Ele disse. - Então podemos comer algo juntos.

Eu tô ferrada.

Era muito desconfortável aquilo. Eu gostava dele, ele gostava do Tae e ontem achava que o Tae estava mais confortável comigo do que com ele, mas mesmo assim ele era legal comigo.

Não fazia sentido. Ele era uma pessoa muito boa e isso só fazia com que eu gostasse dele ainda mais.

É, eu tô completamente ferrada.

—Eu faço sanduíches para nós e você faz aquele chá gostoso, que tal? - Ele propôs.

—O chá é só quando alguém estiver triste. - Foi a única coisa que consegui dizer.

—E quando alguém está apaixonado? Que chá você faz?

—Framboesa. - Respondi automaticamente.

Ele ficou pensativo.

—Por que framboesa?

—Minha avó tinha uma casa de chás, um dia ela não estava se sentindo bem e minha mãe ficou cuidando da loja. Meu pai foi até lá comprar chá de framboesa. Foi assim que eles se conheceram.

—Devemos tomar chá de framboesa então?

Aquilo estava me deixando doida. Essa era outra coisa da lista "Coisas para fazer quando eu tiver um namorado".

—Não. - Falei. - Eu faço quando o Tae estiver aqui.

Ele me olhou de um jeito estranho.

—Não é o que você está pensando. - Falei rapidamente. - Eu e o Tae não temos nada, juro mesmo, de verdade. Quando ele estiver aqui eu faço e vocês podem tomar juntos.

Ele ficou processando a informação por um momento, mas não tenho certeza se ele entendeu ou não.

—Vamos tomar chá de que então?

—Canela.

—E chá de canela é para quando você se sente como?

—Para nada, é só um chá.

Era mentira. Chá de canela... Minha avó tomava quando não aguentava a saudade que sentia do meu avô, tomava quando parava para pensar que ele era tudo pra ela e ela o havia perdido para uma guerra terrível.

Chá de canela era o que eu ia tomar agora porque eu sentia que tinha perdido tudo.
                              XXX

—Vaaaaaaamos Anne, por favorzinho. - Jimin estava implorando.

—Eu tenho que terminar logo isso, não posso sair.

—Por favooooor noona. - Disse Jungkook.

Os dois fizeram carinhas fofas.

—Ah, tá bom. Eu vou.

Eles ficaram comemorando, fazia cinco minutos que tentavam me convencer a ir num karaokê.

Com tanto trabalho... E eu num karaokê.

Isso mesmo Anne, é assim que se vence na vida... Faça festa quando devia estar terminando de revisar o roteiro.

Mas, para falar a verdade, era uma distração bem vinda.

A ordem para cantar ia do mais novo para o mais velho.

Jungkook e Taehyung já haviam cantado e todos estavam me obrigando a cantar também.

Fui até lá e selecionei "Lie-Jimin", a unica música que me veio à cabeça naquela hora.

—Olha moça, eu até deixo você roubar minha música, mas por favor deixe o meu apelido em paz. - Disse ele.

Eu não fazia a menor ideia do que ele estava falando. Será que ele estava bêbado?

Quando começou a tocar eu percebi o quão burra tinha sido por colocar justo aquela, mas então não tinha mais volta e eu simplesmente me entreguei.

Algo, por favor, me salve
Por favor, me salve
É interminável, mesmo se eu tentar fugir
Eu cai em uma mentira

Eu estava a todo momento fingindo que estava bem, fingindo ser feliz é aquela música... Ah, aquela música era como se fosse a canção da minha vida. Eu não estava bem, nem um pouco e fingir que estava me corroía mais do que tudo.

Eu ainda sou o mesmo, o mesmo que sempre fui
O mesmo eu de antes está aqui
Mas essa mentira cresce mais e mais
Está ameaçando me engolir
Pego em uma mentira
Por favor, encontre o eu que era inocente
Eu não consigo fugir de dentro dessa mentira
Por favor devolva o meu sorriso
Pego em uma mentira
Liberte-me desse inferno
Eu não consigo escapar desse sofrimento

Acabei a música com o coração na mão, um soluço preso na garganta, uma lágrima que eu nunca deixaria descer.

—Wooow. - Foi o que eles disseram.

—Foi incrível. - Disse Jungkook.

Por favor, me ajudem...

—Jimin, ela interpretou melhor do que você. - Disse Tae.

Por favor... Por favor não me deixem passar por isso sozinha... Por favor, me ajudem... Eu preciso...

—Uau! Foi incrível. - Disse Jin.

Olhei para Suga, o único que sabia o verdadeiro significado daquela música para mim.

Ele estava de cabeça baixa, não conseguia me olhar.

Não Yoongi... Você foi o único que me restou... Por favor, não...

Fiquei olhando desolada quando ele levantou e saiu da sala.

Eu estava sorrindo para os meninos que ainda me elogiavam. Mas a dor no meu peito era absurda, tão absurda que eu tive que alargar ainda mais os sorriso para não transparecer nada.

Yoongi se foi... Meu melhor amigo também se foi... E eu estava lá, só os cacos, estilhaços de algo fragill.

Eu me sentia como uma pirita. De longe parecia ouro, mas não tinha grande valor. Era uma completa farsa.

Entre todos os olhares, notei um diferente.

J-Hope estava sério e olhava dentro dos meus olhos.

Naquele momento eu soube.

Ele ouviu tudo. Ouviu tudo o que eu disse em silêncio. Ele ouviu meu pedido de socorro e agora ele estava levantando do lugar e vindo em minha direção.

De todas as pessoas, por que justo ele?

Saí dalí correndo antes que ele me alcançasse, antes que visse as lágrimas escorrerem sem parar do meu rosto.