*J-Hope*

Quando os dois ficaram em silêncio decidi entrar no quarto.

Suga estava sentado na poltrona ao lado da cama.

—Eu vou na cafeteria, vocês querem alguma coisa? - Perguntou ele.

—Não, obrigada. - Respondeu Anne.

—Eu também não. - Falei.

Suga saiu nos deixando sozinhos no quarto.

Anne foi mais para o canto da cama.

—Senta aqui. - Ela chamou apontando para o espaço vazio ao lado dela.

Sentei lá e ela apoiou a cabeça no meu ombro.

—Você está realmente bem? - Perguntei.

—Estou estou bem agora, eu juro.

—Eu fiquei com tanto medo que acontecesse alguma coisa com você. - Falei sentindo as lágrimas subirem aos meus olhos.

—Sinto muito. - Ela se desculpou e chegou mais perto passando o braço por cima de mim.

Ficamos lá naquela posição por um longo tempo, até que eu lembrei de algo que eu nunca havia perguntado.

—Por que você decidiu virar escritora?

—Acho que eu tinha uns quinze anos... - Ela contou. - Meu piano havia querendo e eu não tinha dinheiro para mandar arrumar. Teve uma competição de literatura no estado todo para alunos do ensino médio. Podíamos escrever sobre qualquer coisa. Foi tão maravilhoso fazer a pesquisa para a história, e enquanto eu escrevia eu sentia que podia ser e fazer qualquer coisa.

—E você ganhou a competição?

Ela riu.

—Claro que não. Eu fui desclassificada porque coloquei na categoria errada.

—Então você tocava piano...

—Sim, eu vim uma vez pra cá quando era mais nova, participei de uma competição de piano aqui.

—Ahh... Então foi assim que você conheceu o Suga?

—Exatamente.

—Eu nunca vi você tocar piano.

—Na verdade... - Ela disse com um ar um pouco mais sério. - Eu parei de tocar desde que meus pais morreram.

Ah...

Aquilo me pegou de surpresa e eu não sabia o que dizer.

—Sempre foi o sonho deles que eu fosse musicista, eles ficaram realmente bravos quando eu disse que queria escrever. Passaram anos sem que eles aceitassem, até que eu finalmente tive um trabalho reconhecido. Mas foi muito tarde, eles morreram num acidente um mês depois.

—Então você...

—É, eu não tenho família. Eu tenho meus chás que herdei da minha avó, e eu tinha um gato, mas ele fugiu. Mas nada disso é tão doloroso quanto já foi, porque agora eu tenho você e tenho os meninos, vocês são minha família agora, e eu realmente amo isso.

—Anne, eu sei que estamos namorando a pouco tempo, e não precisa ser agora, pode ser daqui a alguns meses, mas quando você sair do hospital... você quer casar comigo?

Meu coração disparou quando ela abriu um largo e brilhante sorriso.

—Com certeza.

E essas foram as palavras mais lindas que eu ouvi na minha vida.
                                  XXX

Eu ainda estava deitado com Anne. Já estava bem tarde e Suga ainda não havia voltado.

—Hoseok... - Anne chamou baixinho. Olhei para aqueles olhos brilhantes. - Acho que estou com medo. - Ela disse e seus olhos se encheram de lágrimas.

Me aproximei do seu rosto e beijei ela. Nossas lágrimas se misturaram em uma só.

Eu também estou, Anne.
                                      XXX

—Eu trouxe café. - Disse Suga me acordando.

Já estava de manhã.

Olhei para Anne, ela muito lentamente abriu os olhos.

Suga sentou do outro lado da cama.

—Estou... tão cansada... - Ela disse quase dormindo de novo.

—Ei, até eu estou acordado! - Disse Suga.

Ela deu um sorriso fraco e voltou a abrir os olhos.

—Você quer chá? - Perguntei.

—Não... - Ela disse e uma lágrima solitária escorreu por seu rosto.

—Ei sua bobona, por que você está chorando? - Suga reclamou, mas a própria voz dele estava falhando.

Ela abriu outro sorriso fraco e fechou os olhos novamente. Foi questão de segundos até que a máquina que monitorava os batimentos cardíacos avisou que Anne havia ido embora.

Olhei desesperado para Suga sem saber o que fazer.

Fui levantar da cama para chamar um médico, para pedir que alguém fizesse alguma coisa, mas Yoongi me impediu.

—Eles não podem fazer mais nada. - Ele disse. - Já fizeram tudo o que podiam.

Então meu mundo desabou.

*Jin*

Cinco minutos. Foram apenas cinco minutos. Se ao menos tivéssemos chegado a tempo...

A correria no aeroporto, a correria no hospital para chegar ao quarto... Ainda assim, foi tarde demais.

Quando entramos no quarto J-Hope estava em desespero e algumas enfermeiras tentavam acalma-lo. Nenhum de nós aguentou por muito tempo. Era inútil tentar consolar Hobi quando nós mesmos estávamos arrasados.

Deixei a choradeira do quarto, segui para o corredor e dei de cara com Yoongi.

Abracei ele.

—Jin eu... eu fiz a coisa certa, não foi? - Ele perguntou. - Eu fiz a coisa certa em esconder meus sentimentos... fiz o certo ao deixá-la ficar com o Jung, não é?

Ele começou a chorar.

—Mas então por que me sinto assim? Por que parece que eu cometi o maior erro da minha vida? Eu não poderia fazer ela feliz como o Hoseok fazia... então por que me sinto tão burro por ter deixado ela ir?

Eu não tinha resposta para aquilo. Então a única coisa que fiz foi abraça-lo mais forte.
                        XXX Um ano depois XXX

*J-Hope*

Sentei no chão frio com aquele papel na mão. Já havia se passado um ano desde a morte de Anne, mas não se passou um dia sem que eu sentisse falta dela. O que tinha me restado agora era esse papel.

Posso lembrar como se fosse ontem. O médico nos encontrou e perguntou qual de nós era o Hoseok, ele disse que encontrou essa carta no quarto onde Anne estava.

Ah, Anne, se você ao menos soubesse o quanto eu precisava de você do meu lado e dos seus abraços...

—J-Hope, vamos entrar agora. - Avisou Tae.

Jimin havia acabado de cantar "Lie", eu não tinha certeza se conseguia subir no palco.

Exatamente um ano... poderíamos estar casados agora... e daí se éramos muito novos? Ela seria minha para sempre e seríamos felizes...

—Er... Gente - Disse Tae no microfone antes que a música começasse. - Eu queria pedir uma coisa a vocês.

Olhei para a plateia lotada. Será que as Armys podiam sentir o que eu estava sentindo naquele momento.

—Exatamente há um ano. - Tae começou. - Nós perdemos alguém muito especial. Alguém que não esperávamos conhecer e que também não esperávamos que fosse ser tão importante para nós. - Ele me abraçou. - Em homenagem a essa pessoa, em memória de alguém tão adorável, queria pedir que fizéssemos um minuto de silêncio.

E aconteceu o que eu não esperava. Cada pessoa naquela plateia se ajoelhou no chão e tudo se silenciou. Não consegui conter as lágrimas.

Não Anne, nós nunca esqueceremos você, eu eu irei te amar eternamente.