A Colônia escrita por Débora Ribeiro


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Olá amores!
Passando rapidinho, na véspera de natal, para postar um novo capítulo de A Colônia. Espero que gostem e que façam boa leitura.
Feliz Natal! :D



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Capítulo 9

Daemon mal tinha acabado de sair do meu quarto quando sinto uma nova presença logo atrás de mim. Invadindo totalmente meu espaço.

— Pensei que tínhamos conversado sobre você bater na porta e pedir permissão para entrar. – Falo irritada e olho para Noah, que estava deitada em minha cama, com as pernas cruzadas e a mãos atrás da cabeça e os olhos fechados. Totalmente à vontade. – Eu poderia muito bem, estar nua.

Sua boca dá uma leve estremecida, como se ele estivesse segurando um sorriso, então ele abre um único olho – o castanho para ser mais exata.

— Eu não veria nada que eu já não tenha visto antes. – Ele fala e eu bufo.

— Alguém como você provavelmente nunca conheceu alguém como eu de uma forma mais...

— Íntima? – Ele completa rindo.

— Sim.

— Por que alguém como eu? – Noah questiona e se senta.

— Você provavelmente é mais velho que o Rei e mais dez Níberianos juntos, deve estar costumado a pessoas como você. – Sinto o rubor tomar meu rosto.

Pessoas como ele? Que merda eu estava falando?

— Não sou tão velho assim. – Ele se defende, fingindo estar ofendido.

— É velho o suficiente para ser considerado velho. – Afirmo e seu sorriso fica ainda maior. – De qualquer forma, não entre mais no meu quarto sem ser convidado, isto não é apropriado.

— Eu sou seu treinador e você é minha campeã, provavelmente vou te ver de muitas formas durante o torneio, nua seria apenas a mais agradável.

Olho incrédula para Noah. Ele não podia estar falando sério.

— O que você está fazendo aqui? – Sibilo para ele, me segurando para não acertar algo em sua cabeça, talvez a poltrona ao meu lado.

— Está pronta para amanhã? – Noah apoia as mãos na cama e me olha, como se quisesse uma resposta sincera.

Me sento na cadeira perto da penteadeira e cruzo as pernas, puxando o robe entre elas.

— Não sei se estou preparada para fazer algo que eu não tenho a mínima ideia do que seja. – Respondo e mordo meu lábio inferior. – Mas isto é uma questão diferente. Mentalmente eu não estou pronta, mas fisicamente estou.

— E sua dupla para a primeira prova? – Noah questiona e sempre que ele olhava com aquela intensidade minha vontade era de me esconder.

— Só a vejo quando estamos no salão de jantar, mas Chester é mais e forte do que aparenta. Vamos nos sair bem.

— Espero que ambas sejam velozes, vocês vão precisar correr.

— O que quer dizer? – Pergunto e o encaro, mas Noah já não estava mais em minha cama e antes que eu possa gritar, ele reaparece com Chester.

— Puta merda! – Chester grita tropeçando quando Noah solta sua mão. – Eu nunca mais quero ter que transpassar na minha vida!

— Por favor, não vomite no meu quarto. – Peço com uma careta.

— Quanta consideração! – Chester reclama e encosta a cabeça na parede, parecendo realmente mal.

— Você está a poucos quartos daqui, nunca pensaria que alguém que come como você teria problemas com uma curta transpassada. – Falo rindo e Chester aponta um dedo para mim, seu dedo brilhando com fogo vivo na ponta.

— Tome cuidado, agora posso queimar seu traseiro perfeito. – Ela ameaça e Noah ergue as duas sobrancelhas. – A bunda dela realmente é perfeita, quando nós...

— Ok, Chester. Vamos falar sobre amanhã. – A interrompo e me levanto, ignorando a curiosidade estampada no rosto de Noah. – Sente-se, Noah vai nos informar sobre algumas coisas.

— Fenn não deveria estar presente? – Chester pergunta com a voz cheia de ironia.

Eu bufo e reviro os olhos.

— Você me perguntou a semana inteira aonde eu e o Grão Senhor estávamos indo treinar, eu não poderia te contar, não até agora. – Chester me lança um olhar ofendido e eu sorrio levemente para ela. – Não por você não ser confiável, até porque passei a confiar em você.

— Há competidores que adorariam saber também, e se descobrissem, vocês duas não teriam mais vantagem. – Noah explica e eu aceno.

— E a qual vantagem temos? – Chester questiona.

— A nossa primeira prova será na floresta, mas não sei mais do que isso e é por isto que você está aqui, tão tarde da noite.

— Hoje o Rei declarou que os treinadores poderiam dar alguns detalhes sobre a prova, e se seu treinador não se importou em dizer a você, ele provavelmente não faria em momento algum. – Noah fala a Chester. – Durante a semana treinei com Alishia na floresta, e mostrei alguns lugares para ela, vocês terão estas vantagens.

— E qual será a prova? – Chester pergunta, agora em alerta.

— Será uma caça a bandeira. Cada dupla terá que recolher duas. Há várias espalhadas no centro da floresta, e a outra, a segunda, estará na linha de chegada, terão marcas diferentes para não serem confundidas. – Noah conta e eu começo a andar de um lado para o outro. – As três primeiras duplas a chegarem receberam pontuações, a primeira conseguirá cem pontos, a segunda cinquenta pontos e a terceira vinte e cinco.

Noah meneia a cabeça para mim e sorri.

— Darão dois dias para vocês voltarem, se a prova acabar antes desses dois dias, vocês saberão se não tiverem entre as três duplas. Mas não é só isso. O Rei vai tirar alguns bloqueios da floresta, fiquem atentas.

— Vamos estar. – Afirmo e Chester concorda. Teríamos que lidar com qualquer que fosse a situação, está era a única opção. – Phillip me mostrou todo o mapa da floresta.

— O que? – Chester pergunta chocada.

Já Noah, apenas me encara – desta vez sem sorrir –, provavelmente querendo chutar meu traseiro por não ter contado isto a ele.

— Foi algo que consegui pelo meu próprio mérito, antes que comecem a dizer algo que provavelmente vão se arrepender. – Digo para os dois.

— Se os outros souberem disto, você passará de cadela, para vadia da realeza. – Chester diz e eu suspiro.

— Era algo assim que eu não queria ouvir. – Murmuro.

— Quando foi isto? – Noah pergunta calmamente. Muito calmamente.

— Na manhã do segundo dia de treinamento.

— Gravou todos os detalhes?

— Todos os lugares, trilhas e encruzilhadas que nos darão vantagem. – Repondo e ele assente.

Noah então fala sobre todas as armas que poderíamos levar e sobre como a prova funcionaria. A ordem seria para que não matássemos os oponentes, a não ser que está seja a última alternativa, e confesso que a ideia de matar alguém me deixava nervosa de certa forma. Também falou que não deveríamos levar roupas, pois seriam apenas dois dias e levar muitas coisas apenas pesariam e nos deixariam mais lentas.

Enquanto ele falava e Chester o enchia de perguntas, eu anotava tudo mentalmente.

Quando Noah disse para que eu esperasse até que ele levasse Chester de volta, concordei apesar de ficar surpresa.

Antes, Daemon tinha ficado comigo no meu quarto pelas poucas horas vagas que tinha, e apesar de não ter perguntado muito sobre a minha semana de treinamento, ele me contou algumas coisas realmente interessantes a respeito de outros competidores.

Também contei a ele sobre o pequeno segredinho do Príncipe. Bem, não era exatamente um segredo, mas também não era de conhecimento geral.

Daemon ficou horrorizado quando disse que Phillip conseguia ler mentes ao que parecia, e eu entendia completamente seu horror. Eu disse a ele que até o fim do torneiro, conseguiria descobrir mais sobre o Príncipe, e Daemon disse que eu não teria nem mesmo a chance de me aproximar dele o suficiente para descobrir.

Então apostamos dez moedas de pratas, se eu conseguisse, ganharia um dinheiro fácil.

— Está muito pensativa.

Nem mesmo me assusto ao ouvir a voz de Noah novamente.

— Não posso ter privacidade nem mesmo enquanto estou pensando? – Resmungo e me jogo na cama, sentindo o cansaço de toda aquela semana me atingir.

— Claro que pode, fiz apenas um comentário. – Noah se senta na cadeira e me olha com aquele olhar questionador. – Por que a estão chamando de cadela da realeza?

Ele só podia estar brincando comigo.

— Sério que não sabe?

Noah rosna e fecha as mãos em punhas. Uau, nunca o tinha visto ficar nervoso comigo antes, não por algo tão banal.

— Sabe que quando rosna fica parecendo um leãozinho zangado, certo? – Falo e ele apenas me olha. – O fato de ter presas também ajuda.

— Te fiz uma pergunta. – Diz com a voz suave.

O Grão Senhor falava calmo e suave apenas quando estava prestes a explodir.

— Por quê? Bem, deixe-me ver... – Digo e então fecho meus olhos, pensando não nos motivos pelo qual me chamavam de cadela da realeza, mas sim nas noites de paz que tinha na Colônia. E como se estivesse em daquelas noites, pude sentir o cheiro de grama fresca e uma brisa fria tocar meu rosto. – Talvez seja porque eu esteja recebendo muita atenção real.

— Mas não era isto que queria? – Uma pergunta tão simples, mas tão cheia de respostas e questionamentos.

Eu não estava respirando.

— Antes de me bloquear naquele dia eu conseguir pegar alguns dos seus pensamentos, e antes que me acuse por invadir sua mente, devo dizer que eu não o fiz. – Abro meus olhos e aperto meus lábios. – Você parecia tão desesperada, tão nervosa, que seus pensamentos estavam à mostra, como um maldito alarme para quem quisesse ler.

Um buraco poderia simplesmente se abrir no chão e Halb me arrastar para dentro dele. Era meu fim.

— Estive curioso desde então, apesar deste não ser um dos motivos pelo qual te escolhi. – Noah continua. Não, não, não... — O que uma Tsundere tão pura, esteve fazendo em uma Colônia por toda sua vida?

Minha boca estava seca, e meus pulmões doíam pela falta de ar.

Não conseguia respirar.

Tudo em vão.

Todo o esforço por nada. Eu tinha que fazer algo. Urgentemente.

— Não conte ao Rei, por favor. – Eu imploro baixinho, sentindo lágrimas se acumularem em meus olhos.

— Me diga um motivo para não contar e decidirei se o farei ou não.

Com toda força e coragem, eu me sento, erguendo o olhar para encarar Noah. Podia sentir aquela tatuagem no meio das minhas costas queimar, por mais uma vez estar implorando, algo que jurei não fazer.

A árvore da vida representava muito mais que o simples fato de sobreviver. A curva das folhas se encontravam com as curvas das raízes, formando entre si, um círculo entre a árvore. O desenho era simples, mas quem vivia na colônia e sobrevivia, recebia aquela marca-tatuagem com um fervor que apenas alguém que passou perto da morte recebia tal honra. Alguém com força, coragem e força de vontade.

Leberianos não se curvavam a ninguém – já se submetiam o bastante sem fazer isso -, e apesar de não ser originalmente, uma, eu também não costumava a fazer isso, mas pelos meus, eu faria o quanto fosse necessário.

— Eu não sei porque fui abandonada em uma Colônia, e em parte, é por isto que estou aqui. Quero saber quem eu era antes de me tornar o que criaram. – Falo engolindo em seco mais uma vez.

— E o que criaram? – Noah questiona abrindo e fechando uma de suas mãos.

— Alguém que não é capaz nem mesmo de se reconhecer. – Falo vagamente. Em partes, era verdade, mas as minhas razões para estarem ali iam muito além daquilo.

— E por que acha que descobrirá a verdade sobre o que procura aqui?

— Apenas sei. – Respondo então suspiro. – Meu coração sabe.

Nós nos observamos, e tento não estremecer sob aquele olhar intenso que seria capaz de fazer uma grande cidade se reduzir a cinzas.

— E o fato de os Leberianos estarem se revoltando também não é um dos seus motivos? – Noah pergunta e eu quero sucumbir a aquela sensação de derrota.

— Não sei nada sobre isso.

— Mentirosa. – Ele acusa e um lento sorriso surge em seus lábios. – Claro que sabe, viveu entre eles por toda sua vida, sabe tudo sobre eles e também sabe que um grande problema está a caminho.

Fecho minha boca, selando meus lábios enquanto ele continua.

— Sabe que se eles saírem das Colônias, entraremos em guerra. – Noah semicerra os olhos para mim. – Pode falar comigo, ou pode falar com o Capitão Durand.

Isto sim era uma fodida ameaça!

— Começou há um ano, a revolta. – Digo e balanço a cabeça, tentando não afundar naquelas lembranças sombrias. Ainda não.— Eu sempre observei tudo pelos fundos, mas conforme fui crescendo, minha presença se tornou inútil. Nem todos nascem maus ou se tão tornam maus, alguns são bons e gentis, acho que isto vai de o quanto a Leber os afeta quando nascem, não entendo muito sobre a maldição. Os que sofrem mutação são os piores. Estes são confinados em salas e instalações distantes, como medida protetiva para os demais. Agora, outros que apenas tem suas mentes afetadas, podem fazer com que até mesmo você, um Grão Senhor, seja submetido a uma tortura infinita. Podem fazer com que implorem pela morte.

— Como os que dirigem essas Colônias não sofrem? Como não são afetados? – Noah pergunta sem qualquer expressão em seu rosto.

— Eles tomam um tônico ou chame de soro se quiser, que causa um bloqueio na mente, então ficam imunes a qualquer tipo de poder ou persuasão. Eu o tomava também, nunca consegui manter minha mente bloqueada por muito tempo, até hoje não tenho controle sobre isso como percebeu. – Digo com desgosto e ele me oferece um sorriso sem mostrar os dentes. – Mas o ponto é que, eles são inteligentes, e todo o procedimento que fazem com eles para mantê-los na linha, não está adiantando ou funcionando mais. De alguma forma, estão libertando as amarras de seus poderes, e se isto acontecer, não vai ser bonito. Me chame de tola e ignorante, mas quando disse que viria para o palácio, eu sabia que teria alguma chance de ajudar meus amigos que ficaram na Colônia de Volkarina, se descobrisse quem eu realmente sou.

— E porque acha isto, Alishia? – Noah pergunta com as sobrancelhas arqueadas.

Dou a ela um sorriso sombrio e triste, então me levanto e tiro minha blusa, sem senti qualquer pudor pela minha nudez. Observo o rosto de Noah se encher de surpresa e choque enquanto ele olhava não para meus seios expostos, mas para o que havia entre eles.

— Por isso tinha tanto medo que me visse nua. – Falo com falso humor. Não era por sentir vergonha ou qualquer coisa relacionada, não, longe disso.

Entre meus seios, algo mais profundo que uma tatuagem ou uma marca de poder, estava gravado em minha pele. Uma em baixo da outra, as luas em suas fases, se destacavam, não como qualquer desenho, não com qualquer significado.

Aquelas luas em cor preta, mas com traços tão delicados e reais, eram uma marca que só alguém das duas classes – Reis e Imperadores - da realeza possuía. Existiam quatro tipos diferentes de marcas reais, mas não existia uma única que fosse menos importante. Todos representavam poder.

O poder de alguém que deveria governar um dia.

— Pelos Deuses! Quem é você? – Noah pergunta, já de pé e passando as mãos pelos cabelos freneticamente.

— Isso eu também quero saber. – Falo e coloco minha blusa novamente, sentindo meus mamilos se arrepiarem sob o contato com o tecido já frio.

Noah entre o choque e a incredulidade, suspira rindo e esfrega o queixo com os dedos e me olha com algo que parecia ser admiração.

— Então acho que vamos ter que descobrir isto, Alishia. – Diz e eu aceno.

— Pela primeira vez concordamos com a mesma coisa, Grão Senhor. – Eu o olho bem e digo. – Confiei em você, espero que não me traía agora que sabe a verdade.

— Eu não vou, prometo. – Afirma com firmeza.

— E posso confiar em você? – Pergunto com uma pontada medo.

— Creio que sim desde que temos um objetivo em comum. – Afirma sério.

— Qual?

Noah caminha até a grande janela do meu quarto e a abre, eu estremeço ao sentir o ar frio da noite.

— Vamos impedir que os Leberianos destruam o nosso mundo. – Noah já estava na sacada quando ele me olha sobre o ombro e completa. – Ou vamos pelo menos tentar.

Então com um baixo – quase inaudível - estalar, Noah havia deixado de ser um Grão-Fenwick e se transformado em uma enorme ave. Um gavião.

Muito tempo depois dele ter desaparecido entre as distantes luzes da Capital de Níbia, eu ainda olhava para o céu noturno, encostada na grade da pequena sacada.

Algo como medo e excitação borbulhavam em meu estomago. Tinha contado basicamente tudo para aquele homem, que precisava de pouco para arruinar todo meu objetivo naquele palácio. Mas bem no fundo, uma vozinha sussurrava que eu podia confiar naquele sensual Grão-Fenwick.

Minha única escolha naquele momento, era arriscar.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem!



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