Steal Your Heart AU escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 40
Aparências


Notas iniciais do capítulo

Capítulo postado dia: 08/02/2020, às 17:38.



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Narradora

Os próximos dias passaram a se arrastar para todos. Marinette estava trancada em seu quarto desde o Baile de Outono, sem meios de comunicação ou mesmo vontade de o fazer após ter perdido duas pessoas importantes para si de uma vez só. Alya tentava de qualquer jeito encontrar uma maneira de falar com sua melhor amiga, sem sucesso. Kattie e Louis procuravam alguma pista do que o suposto bilhete deixado nas carcaças queimadas do furgão que levara Adrien e Bridgette queria dizer. Laura e Jacques começavam a planejar o plano de se infiltrarem sem suspeitas na Surveillance do final daquela quarta-feira até o dia marcado como o dia da decisão da brasileira, no sábado. Porém, não havia ninguém mais incomodada com toda aquela tensão no ar como Lila Rossi.

Tudo parecia um beco sem saída. Sua melhor amiga sendo ameaçada por traficantes. Seu pai demitido do trabalho e pronto para levá-la de volta para Florença, na Itália. Brigada já há dois dias com o único garoto que parecia realmente se importar com ela. A situação não podia ficar pior na cabeça da italiana.

Ou melhor, sempre pode.

A garota havia escutado boatos que Chloé, Chloé Bourgeios, a “Rainha da Escola”, estava supostamente namorando com o seu mexicano. É claro que ela não levou aquela história a sério e simplesmente imaginou que fosse mais uma brincadeira de mau gosto de más línguas, as mesmas que tinham espalhado a fofoca que a precedia na universidade. Porém, uma vozinha em sua cabeça estava conseguindo deixá-la com uma pulga atrás da orelha no ponto de, contra o se orgulho, ir falar com o Broussard e tirar aquela história a limpo. Estava quase chegando ao prédio do mesmo quando avistou jkmnhjualgo estranho de longe: uma limousine estacionada próximo a portaria com um homem de terno parado ao lado do automóvel. Só uma pessoa andava de limousine pra cima e para baixo. Quando decidiu apressar o passo para chegar logo na casa do garoto viu a cena que seu coração recusava acreditar: Diego e Chloé saindo pelos portões em direção a limousine estacionada.

Sentiu seu coração parar e se partir em vários pedaços quando percebeu que estava enganada por não ter escutado os boatos. Mais rápido do que pôde prever, aquela tristeza se transformou em uma fúria grande o suficiente para erguer a cabeça e ir diretamente para lá. Não levaria desaforos para casa.

Seus olhos não encontraram os do mexicano, mas sim os da loira, que não escondeu um sorriso ao vê-la.

— Lila, como vai? – lhe perguntou, com um tom de voz tão enjoadamente polido e cínico que fez a italiana ranger os dentes.

— Me poupe da sua falsa educação Chloé. – Lila esbravejou, lhe fuzilando com os olhos cerrados. – O que você pensa que está fazendo aqui, com o meu namorado, enfiando-o dentro do seu carro?

— “Seu” namorado? – a loira repete, fingindo estar confusa. O sorriso irônico em sua face fazia o sangue da morena de olhos verdes ferver. – Perdão Rossi, mas acho que você está um pouco desinformada. – diz, agarrando um dos braços do garoto. – Eu e o Diego estamos namorando. – a mesma o encara e abre mais um pouco o sorriso. – Não é, Dieguinho?

Lila divide o olhar de um para o outro quando o mexicano pigarreia levemente, agarrando a loira pela cintura e lhe fitando em seguida. Não podia ser real. Aquilo devia ser um pesadelo, isso sim.

— Sim. – Diego confirma, balançando a cabeça. – Nós estamos juntos agora.

— Isso só pode ser uma pegadinha de mau gosto. – a Rossi rebate, sentindo uma batida do coração falhar ao encarar os olhos castanhos escuros do garoto que roubara seu coração a força. – Por favor, me diga que isso é apenas um pesadelo e você não está fazendo isso só por causa da discussão que nós tivemos anteontem.

— Eu sou bem real Lila, nada disso é um sonho. – o mesmo responde, de repente virando o rosto para a loira com um olhar subitamente apaixonado que fez o estômago da italiana revirar. – E se eu estiver sonhando, eu não quero mais acordar.

— Aqui fora não Dieguinho. – Chloé o repreende, tocando em sua boca e afastando o mesmo alguns centímetros para trás. Encara a morena rapidamente e faz uma cara maliciosa para o novo namorado. – Guarde essa emoção para quando chegarmos no Le Grand Paris.

Toda aquela cumplicidade e afeto estava fazendo Lila passar mal. Sentia nojo daquele idiota que parecia ser diferente dos outros. Sentia uma vontade louca de voar no pescoço daquela piranha que Chloé Bourgeios era ao ficar com todos os garotos que desejava ter. Porém, acima de tudo, sentia os cacos do seu coração perfurarem seu interior, lhe causando uma dor que jamais havia imaginado de sentir. Tinha sido apunhalada pelas costas pelo que um dia pensou ser o amor mais improvável de sua vida. Como fui idiota por acreditar em você, sua mente gritava enquanto os seus olhos começavam a ficar embaçados.

— Sabe qual é a grande ironia nisso tudo Broussard? – a italiana o questiona, ignorando completamente os comentários adicionais que a Rainha da Escola estava murmurando. Por um momento pensou ter visto seus olhos fraquejarem, mas talvez naquela altura sua suspeita não passasse de uma brincadeira de sua mente. – Por odiar tanto o Agreste, você agora está provando ser um seguidor bem promissor dele. – quando ambos se perguntaram se a mesma havia terminado, assim, tão calma, Lila simplesmente acrescentou aos berros: - Vai a sbattere, miserabile, stupido mascalzone e non parlarmi mai più!

Ao ver a italiana que há tanto tempo estivera apaixonado e desejava com todas as suas forças conquistar agora indo embora com lágrimas nos olhos imaginando que realmente a havia esquecido para ficar com a Bourgeios não conseguia estar mais dentro dos seus planos. Sentia como se tivesse provado para si mesmo que podia ter o que quisesse também, até mesmo a garota mais popular de Paris. Por mais que a ideia de ter magoado a morena lhe incomodasse, uma outra voz falava mais alto em sua mente e repetia que agora ele podia fazer qualquer coisa sustentando aquela farsa com a loira. Tudo o que quisesse. Viu a mesma o chamando para entrar no carro e deu uma última olhada na direção por onde Lila Rossi havia acabado de passar antes de acompanhá-la, sentindo-se alguém importante quando o motorista particular da família do prefeito fecha a porta de trás. Prevaleceram em silêncio até começarem a andar, quando finalmente poderiam parar com todas as aparências.

— Ela parecia mesmo furiosa. – Chloé comenta, apertando um botão e fazendo um vidro escuro nos separar do motorista. Ele se espreguiça no banco de couro e lhe encara preguiçosamente. – Isso quer dizer que o plano está funcionando.

— Quando o seu dossiê vai ficar pronto? – o mexicano lhe indaga, indo logo direto ao ponto. A mesma suspira, cruzando os braços e virando o rosto para analisá-lo.

— O detetive que contratei disse que no máximo sábado estaria pronto. – responde, analisando suas unhas recém-pintadas de um esmalte nude.

Passam o resto do trajeto para a casa da Bourgeios calados, cada um pensando em seus próprios problemas, imaginando como toda aquela história iria acabar. Alex havia simplesmente desaparecido depois de sua última visita ao seu apartamento. Lila provavelmente iria contar o que tinha presenciado para Laura que, automaticamente, passaria o ocorrido adiante para Jacques e o latino tinha certeza que o melhor amigo não iria querer vê-lo nem pintado de ouro depois. Se sua mãe descobrisse o que estava tramando tudo poderia ir pro buraco, um esforço tão grande em vão, ou até pior: poderia querer tirar satisfações com ela. Todos os encaravam de uma maneira estranha, como se aquela repentina aproximação entre os dois fosse algo surreal de acontecer, fora da realidade. Ao mesmo tempo que estava gostando de toda aquela atenção de repente, o mexicano não deixava de se perguntar até onde a garota a sua frente iria. Quando chegaram no famoso hotel da cidade, o celular da loira começa a tocar, porém, ao ver quem era rapidamente recusa a ligação.

Andaram até o elevador de mãos dadas, um mantendo certa distância do outro, ambos ainda perdidos em seus pensamentos. Contudo, os dois foram surpreendidos ao serem abordados por um paparazzi disfarçado antes de conseguirem subir para a cobertura do prédio.

— Chloé Bourgeios, existem boatos que você está de namorado novo pela cidade. – o desconhecido comenta, apontando uma câmera de mão na face de ambos lentamente. Grava atentamente a expressão de superioridade e calmaria de um e a de surpresa e constrangimento do outro. – Gostaria de declarar alguma coisa para a coluna de celebridades da semana?

— Mas é claro. – a loira afirma, dando um sorriso branco e abraçando o mesmo de lado. – Diego Broussard, o filho de Camille Rodríguez Broussard, a médica mais renomada de toda Paris. Eu não poderia estar mais feliz no momento.

— E você, senhor Broussard, soube que é um universitário assíduo no curso de Medicina. Quando começou a se relacionar com a senhorita Bourgeios? – o paparazzi prossegue, se direcionando a Diego agora, conseguindo desconcertá-lo um pouco.

— Nós já nos conhecíamos há algum tempo. – revela, imitando o sorriso falso da acompanhante. – Essa relação foi apenas uma consequência de um sentimento de muito tempo.

— Então isso quer dizer que esse tempo todo você escondeu o que sentia da senhorita Chloé? – insiste, sem desviar a câmera do garoto.

— Não foi isso que eu disse. – Diego responde, arqueando uma das sobrancelhas. – Quis dizer que temos lá nossas diferenças, mas isso não é suficiente para nos impedir de tentarmos alguma coisa.

— Alguns rumores chegaram até nossa produção de uma possível traição de seu antigo namorado, Alex Zuberg. Isso tem alguma coisa a ver com esse relacionamento relâmpago com um amigo esquecido de longa data? – o paparazzi lhe questiona, fazendo Chloé respirar fundo e o mexicano notar que aquele papo estava chegando num nível de incômodo mútuo.

— Alex Zuberg não era meu namorado, era meu guarda-costas. – esclarece, erguendo o queixo e dando um sorriso frio. – Ele foi contratado pela minha mãe para me proteger, nada mais que isso. Agora se ele está por aí tendo casos com outras garotas, não é problema meu.

— Não foram essas informações que chegaram até mim. – o desconhecido rebate, torcendo o nariz.

— Pois então precisa renovar suas fontes. – a loira retruca, puxando levemente o braço do mexicano para continuarem andando e dando aquela conversa por encerrada. – Acho que isso é tudo.

— Por favor, só mais uma coisa. – o mesmo insiste mais uma vez, se colocando na frente dos dois jovens. – Para confirmar a notícia de primeira mão na coluna dessa semana gostaríamos de registar uma prova do amor de vocês. Seria possível?

Foi a vez de Diego encarar a garota ao seu lado. Quando seus olhos se encontram pôde notar que estava tão surpresa quanto ele. Então, com um ligeiro movimento em sua sobrancelha, o mesmo quase se assustou com a rápida aproximação da loira de olhos azuis mal conseguindo acreditar que ela estava bem ali, agarrando a gola da sua camisa e o puxando para um beijo. O que era pra ser apenas um “beijo técnico” acabou sendo muito mais proveitoso quando o mexicano finalmente se deu conta do que estava fazendo. Ele estava beijando Chloé Bourgeios, a antiga paixão platônica que se tornara inalcançável há muito tempo – a beijando de verdade. Apertando sua cintura contra si, ele apenas se permitiu tirar vantagem daquela farsa, ignorando por um pequeno momento os cliques da câmera daquele paparazzi enviado das profundezas e as vozes que discutiam em sua cabeça. Afinal, era só um beijo de mentira, não era?

— Agora, se nos dá licença. – a Bourgeios começa, se separando do moreno e empurrando o desconhecido para que pudesse passar até o elevador já aberto.

Quando as portas de metal se fecham atrás de ambos, a garota respira fundo, agradecendo aos céus o fato de finalmente ter se livrado daquele homem ridículo.

***

Diego

Era a primeira vez que eu entrava no quarto da Chloé, talvez até mesmo a primeira vez que entrava no Le Grand Paris em si. Não conseguia deixar de reparar como o conforto daquele lugar, com tudo que a mesma quisesse ou desejasse ter, fazia meu estômago revirar. Era tudo tão luxuoso e tão grande que não consegui conter minha curiosidade e fui dar uma olhada na primeira suíte que vira em toda a minha vida enquanto Chloé falava alguma coisa no interfone próximo a porta. Móveis confortáveis, um banheiro que – sem dúvida nenhuma – valia minha casa três vezes e uma cama enorme de frente com uma varanda que quase dava pra ver Paris inteira. Isso sem mencionar a piscina a poucos metros dali. Minha visão é ofuscada por algo brilhante e estreito os olhos quando volto meu olhar para dentro, em um dos cantos do amplo cômodo. Me aproximo em poucos passos, e de repente me arrependo de ter andado até ali tão rápido. Haviam muitas fotografias ali. Muitas de Chloé, em suas viagens até Nova Iorque e vários pontos turísticos no fundo. Algumas com o pai, com o mordomo – que eu não conseguia entender o porque – e uma da mãe. Analiso a pose da mesma, fingindo estar distraída e esbanjando um anel de ouro com uma grande pedra verde para o infeliz fotógrafo que estava por trás daquela câmera. Aquela esmeralda devia valer uma boa nota.

Quando abaixo os olhos mais um pouco sinto meu coração acelerar de supetão, me pegando totalmente desprevenido. Minhas mãos pegam o pequeno quadro automaticamente e por um momento sinto como se estivesse sufocando. Um turbilhão de lembranças e emoções passa como um filme na minha cabeça, ressuscitando todos os meus sentimentos confusos que eu tentara enterrar dentro de mim.

Ela guardou a foto. Guardou mesmo depois de tanto tempo. Ela poderia ter jogado fora depois que eu e o Adrien nos separamos, mas ela ainda tem.

Um meio sorriso surge sem querer no meu rosto. Eu lembrava daquela foto como se fosse ontem, quando nós três tínhamos ido até o velho fliperama perto do Arco do Triunfo para jogarmos nas máquinas e quando “acidentalmente” o Agreste tinha trocado uma nota de cem euros por fichas e ficamos até as dez da noite pra gastar tudo, fechando o fliperama junto com o dono.

Essa pode ser a sua oportunidade de finalmente conquistar a sua paixão de anos atrás.

Ah, claro. Vá lá, siga aqueles velhos conselhos do Agreste pra declarar o seu “amor” pela Bourgeios e ganhe uma resposta sarcástica dela de graça. Deixe de ser idiota Diego.

Deixe de ser idiota você, quem você pensa que é?

O cérebro dessa loucura. Já se esqueceu que agora tem a Lila na jogada? Qual é, de tanto dizer que odiava a cafajestice do cara você está muito parecido com ele agora!

Ah, por favor. A Chloé está sem namorado e sem o “melhor amigo rico” agora. É o momento perfeito para tentar, sabe-se lá quando isso vai acontecer de novo.

Já se esqueceu do que aconteceu? De quando o Adrien disse pra ela que você gostava dela? Não! Definitivamente não é uma boa ideia e...

— Diego? – a Bourgeios me chama, me fazendo quase dar um pulo quando a vejo estralando os dedos na minha frente. Pisco algumas vezes e ela revira os olhos. – Até que enfim, achei que estava passando mal aí, não me respondia de jeito nenhum.

— Desculpa, eu... – começo, voltando os olhos para a fotografia em minhas mãos. – Eu estava um pouco distraído.

— Eu notei. – ela continua, enquanto a vejo de soslaio, parecendo me analisar por um momento.

— Porque você ainda tem isso? – minha curiosidade fala mais alto e acabo pensando em voz alta. Ela dá uma risada fraca, olhando para o seu eu do passado.

— É uma das minhas fotografias favoritas. – responde simplesmente, me fazendo voltar a encará-la, mas ela não faz o mesmo. – O tempo que eu era feliz e não sabia, não me dei conta para aproveitar o quanto deveria. – sua voz nostálgica carregada de emoção quase me faz acreditar que ela de fato sentia falta daquilo tudo. – Merece estar aí. – conclui, finalmente voltando a me olhar nos olhos.

Tento decifrar seus olhos, tão azuis quanto me lembrava na época que pensava estar apaixonado por ela. Era estranho notar que eram tão familiares quanto estranhos naquela altura do campeonato. Ninguém podia dizer que Chloé não era bonita, muito pelo contrário: era mais que deslumbrante, mas alguma coisa havia mudado nela, assim como em mim. Um lado meu se sentia muito arrependido por ter me afastado dela, sem ao menos alguma explicação, apenas ignorando sua existência onde quer que estivéssemos. Já a outra... Bem, a outra tinha razão. Se eu tivesse dito algo na época poderia ter sido humilhado e rejeitado por ela apenas por não estar no círculo que a loira e o Agreste estavam. Nunca tinha ficado claro se eles realmente se importavam comigo ou se apenas tinham se tornado meus “amigos” por sentirem pena de mim por ser diferente dos outros. Medo de ser rejeitado, de nunca poder confiar em ninguém porque meus pais sempre diziam para que eu me preocupasse 100% com os estudos. Medo de terminar sozinho pro resto da minha vida. Acho que por mais que eu me recussase acreditar aquela era a verdade: saber que ninguém me entenderia e por isso nunca realmente se aproximarem de mim.

Uma memória de uma conversa com Laura me vem à cabeça, exatamente do dia que conversamos sobre isso.

“- É por isso que eu não converso com as pessoas Laura: ninguém entende e ninguém quer entender. Com os jogos, é mais fácil pois é só ir até o ponto A ou B, matar os inimgos e pegar os tesouros. Na vida real não é assim, você não tem nenhum controle sobre ela. - digo, sem desviar os olhos dos primeiros comandos do jogo. - Por mais que você se esforçe, tudo acaba dando errado e a única coisa que você ganha com isso são traumas e cicatrizes, e não importa o quanto digam que "Isso faz parte da vida" pois qualquer um que pudesse escolher não escolheria passar por essas coisas. “

Pigarreio, colocando o quadro de volta no seu lugar na parede. Precisava me concentrar, senão iria enlouquecer mais rápido do que havia previsto.

— O que viemos fazer aqui, exatamente? – lhe indago, abrindo espaço entre nós dois. Ela suspira, indo em direção a pequena mesa próxima da sua cama e soltando o cabelo no processo.

— Como disse, precisamos manter as aparências. – Chloé responde, se sentando em uma das poltronas e esfregando o couro cabeludo. – Vamos fingir que estamos ocupados como Lila e todos que nos viram entrar estão pensando nesse momento.

— Você quer dizer... – digo, gesticulando sem jeito. Não tinha – e nem queria ter – experiência com esse tipo de coisa.

Ela começa a rir, abrindo uma garrafa de vinho que eu julguei ser bem cara e coloca um pouco nas duas taças dentro da bandeija sobre a mesa. Arqueio a sobrancelha quando me sento de frente para ela e a observo começar a beber em sua taça.

— É Diego, nós vamos fingir que estamos mantendo nossa vida sexual ativa. – a loira explica, com um sorriso largo no rosto. – Deu pra entender agora?

— Certo... – murmuro, segurando a taça nas mãos sem saber o que dizer. – E quanto tempo isso vai levar? Eu tinha marcado de jogar uma partida de UNO com a Tuggi depois do jantar, pra ela parar de me encher de perguntas sobre você.

— Ah, então sua prima querida já entrou em pânico por saber que estamos “namorando”? – questiona, fazendo aspas com os dedos propositalmente. Faço uma careta e a observo virar o vinho em um gole só, piscando algumas vezes. – Wow. – ela encara o copo vazio e se serve mais uma vez. – Me conte como ela reagiu, deve ter sido engraçado.

— Ela ficou mais branca que papel e me entupiu de “Chloé? A Chloé Bourgeios que você odiava ontem mesmo?” e “Fala sério, ela fez lavagem cerebral em você é? Eu quero o meu primo de verdade de volta”. Tenho certeza que Tuggi deve estar louca da vida para quando eu chegar continuar com o interrogatório dela. – conto, dando um leve sorriso junto da filha do prefeito. Ela simplesmente estava enchendo sua taça mais uma vez. Enrugo a testa levemente. – Eu não acho uma boa ideia continuar bebendo assim. Além de estar intoxicando seu fígado vou ser obrigado a ficar de olho em você por mais tempo do que o necessário.

— Me poupe Broussard. – Chloé resmunga, fazendo questão de me chamar pelo meu sobrenome, aparentemente sóbria. – Eu não sou fraca ao álcool, como você está pensando. Isso nem mesmo me deixa feliz, pra falar a verdade fico com sono. – após alguns minutos me encarando ergue o queixo – Mas pelo que estou vendo o frouxo de nós dois é você, já que nem tocou na taça que te servi.

Bem feito. Vai lá Diego, se importe com ela e tome no...

­Antes que possa dizer mais alguma coisa viro todo o conteúdo garganta abaixo. O suco de uva concentrado junto do álcool desce queimando, e por um momento juro ter visto estrelas piscando na minha vista. A Bourgeios parece surpresa, dando uma risada sarcástica e colocando sua taça na mesa.

— Nada como magoar o ego de um homem pra ver do que ele é capaz. – comenta, cruzando as pernas e balançando o sapato de grife lentamente. – Sabe de uma coisa?

— O que? – rebato sua pergunta, ainda sentindo a garganta arder e meu estômago revirar.

Ela se levanta lentamente e vem até onde eu estava sentado, simplesmente sentando no meu colo. Antes que eu pudesse reagir ou mesmo mandar para que saísse de cima de mim a observo tirar os meus óculos e colocá-los na mesa. Minha visão fica um pouco embaçada, mas ainda consigo enxergar a garota a poucos centímetros de mim. Enxergar bem até demais do que me lembrava que conseguia.

— Você fica bem melhor sem aqueles óculos fundo de garrafa. – diz, pela primeira vez, dando um sorriso de verdade. Encaro seus olhos procurando alguma sombra de ironia ou escárnio, e não encontro nada.

Ela desvia levemente seu olhar pro meu rosto e o impulso de analisar sua face é maior do que minha consciência. Seu cabelo longo e loiro caia perfeitamente sobre seus ombros, dando a ela a beleza de uma daquelas garotas de anime japonês em contraste com o azul intenso de seus olhos, me dando calafrios. Arqueio uma sobrancelha quando suas mãos se enrolam no meu pescoço e a mesma volta a olhar profundamente pra mim. Conseguia sentir o seu perfume caro me envolver e ficar impregnado no meu nariz.

— Tenho que admitir. – Chloé murmura, mordendo o lábio inferior de propósito. O seu hálito cheirava a vinho como eu imaginei. No mínimo ela já deveria estar um pouco bêbada, por mais que negasse. – Para um nerd do seu estágio você até que beija bem.

— Isso era pra ser um elogio? – sussurro de volta, com a voz saindo mais rouca do que planejei. Automaticamente coloco uma mão em sua cintura e outra em sua perna. – Ou é só um efeito colateral a esse exemplar de 1985? – ela dá um sorriso alegre demais.

— Porque você não tenta adivinhar? – sussurra de volta, colocando seus dedos entre os cabelos da minha nuca e aproximando seu rosto do meu com um movimento simples.

Não sei ao certo qual de nós dois avançou primeiro, apenas me recordo que em questão de poucos segundos eu estava lhe beijando mais uma vez. Não apenas um beijo falso, entretanto. Podia sentir meus nervos a flor da pele a cada movimento que sentia Chloé fazer, por mais simples que fosse – pelo menos pra ela. Cada pequeno puxão que dava no meu cabelo afastava cada vez mais o meu auto controle, me dando uma dose alta de adrenalina no sangue. Aperto sua coxa e dou um sorriso vitorioso quando a ouço suspirar. Eu podia não ter experiência nenhuma naquilo, mas tinha alguns truques na manga. De repente ela para, ofegante assim como eu, e me puxa pela gola da minha camisa como fizera mais cedo para me levantar da poltrona que estávamos sentados, tirando minha camisa com uma facilidade admirável.

Ela devia agir assim com o Alex seu estúpido. Já se esqueceu que a Chloé não perde tempo pra essas coisas como você?

— Uau. – murmura, quase me secando dos pés a cabeça. – Quem diria que debaixo de um suéter do Steven Universe um dia existiria uma visão dessas. – ironiza, passando as mãos na altura da minha clavícula voltando a manter o contato visual comigo.

Ignoro seu comentário e a seguro firmemente pela cintura, tocando nossos narizes e observando sua reação. Cheiro seu pescoço apenas para provocá-la, lhe assistindo jogar a cabeça para trás e se arrepiar quando encontro o zíper do vestido que estava usando.

— Aquele garoto que gostava de Steven Universe cresceu, Bourgeios. – respondo, quando a peça de roupa cai no chão sem fazer barulho.

Que merda você pensa que está fazendo? Olha onde você está entrando, zona proibida garoto!

Ah, cala essa boca. Você e eu sabemos o que tá rolando aqui. A Chloé tá apenas aproveitando ele enquanto está sozinha. Problema da Lila ter afrontado nosso Diego daquele jeito. Bobeou, perdeu.

Só porque ela não concordou com aquela loucura toda do Jacques e da Laura você acha justo por um par de chifres na única garota que realmente gosta, respeita e talvez até ame ele?

Se ela realmente amasse o Diego, você acha que teria ficado contra a ideia dele? Claro que não, iria apoiar tudo o que ele dissesse. Não é pra isso que as mulheres servem? Serem conquistadas e então serem úteis ao nosso favor?

A Chloé não sente nada por ele, ao contrário da Lila. E mesmo que ela sentisse, isso ficou no passado, junto com a história que eles tiveram...

— Já chega! – grito, balançando a cabeça e tomando distância da loira embaixo de mim em sua cama. Meu coração batia rápido demais e eu estava morrendo de calor por conta de todo aquele contato humano. – Isso já está indo longe demais!

— Do que você está falando Diego? – ela indaga, se sentando na cama apenas com as roupas íntimas e parecendo não estar nem um pouco desconfortável.

— Não se faça de sonsa Chloé. – retruco, com a respiração entrecortada. – Você está apenas me usando como um peão no seu joguinho de aparências, tudo isso apenas pra fazer ciúmes pro Alex e dar uma “lição” naquela naja que você chamava de melhor amiga. – disparo, sentindo a raiva esquentar meu rosto. – Eu não vou ser apenas mais um com quem você vai ficar.

— Você tá me chamando de quê agora? De vadia? – a loira rebate, se levantando da cama parecendo enfurecida também. – Diga nerdzinho da facul, diga o que está pensando sobre mim. Não se esqueça que você também foi egoísta e mesquinho o suficiente apenas para causar inveja e ciúmes na Rossi! – ela grita, apontando o dedo na minha cara. – Você sabe muito bem que eu não sou a vilã da história!

— Tem razão – concordo em voz alta, me aproximando da mesma o mais ameaçador que consigo – Você é apenas a garota rica, estúpida e fútil da história. A garota que foi burra o suficiente para ser chifrada pela “amiga” que considerava tanto e estava debaixo do seu nariz o tempo todo. A garota que foi mesquinha o suficiente para arquitetar todo um plano para dar o troco naquele babaca do Zuberg. A garota que foi esnobe e se sentia superior o suficiente para ignorar o melhor amigo de anos atrás, que era apaixonado por ela todo aquele tempo e que por causa do maldito Agreste e da sua maneira de “ajudar os outros” estragou tudo! – grito tão rápido que minha garganta começa a falhar, doendo tanto que mal conseguia respirar direito.

— Que porra você tá falando Diego? – Chloé me questiona, os olhos brilhando não combinando com a fúria em sua voz. – Eu não ignorei você em momento algum! Você e o Adrien eram mais que meus amigos, eram quase meus irmãos, eu jamais quis me afastar de vocês!

— Mentirosa! – retruco, batendo na parede mais próxima e assustando a mesma. – Eu vi com meus próprios olhos a conversa que você e o Agreste tiveram. Ele simplesmente contou tudo pra você e que aconteceu? Você riu. Você simplesmente me ridicularizou depois daquilo.

— Eu juro que não faço ideia do que você está dizendo. – ela revela, fraquejando pela primeira vez naquela discussão. Parecia prestes a chorar. – Eu nunca recebi nenhuma mensagem do Adrien falando sobre qualquer coisa sobre você pra te prejudicar. Muito pelo contrário, ele estava sempre dizendo como você era o melhor amigo dele e que faria de tudo por você.

— Se você realmente não faz ideia do que eu estou dizendo então porque se afastou todo esse tempo? – pergunto, tentando manter minha voz calma. – Porque se juntou com aquela cobra da Jacqueline? Porque se tornou uma pessoa tão ruim do dia pra noite? – dou uma risada fraca e passo a mão na nuca - Pra enterrar o passado vergonhoso interagindo com um cara abaixo do seu nível?

Sua reação é a que eu menos podia esperar e me pega totalmente desprevenido. Um tapa. Era o segundo tapa daquela manhã dado por duas garotas que haviam entrado na minha vida e que bagunçaram completamente minha cabeça. Ao tocar minha bochecha quente penso em um monte de xingamentos para mandar para a garota, os deixando na ponta da minha língua, pronto para serem efetuados. Mas quando olho para a Bourgeios toda a minha fúria se desfaz.

Ótimo. Mais uma pra lista das garotas que você já fez chorar esse ano, Dieguito.

— Eu não quis, em momento algum, me afastar. – afirma, com as lágrimas escorrendo pela face. – Quando você e o Adrien discutiram eu mal tive chances de conversar com qualquer um dos dois para poder entender a situação porque minha mãe havia acabado de se divorciar do meu pai. Não haviam se passado nem mesmo dois meses quando essa picuinha entre vocês aconteceu. – revela, fazendo meus olhos se arregalarem com surpresa. Ela nunca havia dito nada daquilo pra mim. – Quando finalmente tive tempo a mãe do Adrien sofreu aquele acidente e vocês se afastaram ainda mais. Ele começou a me evitar por algum tempo, assim como você. Eu estava sozinha Diego. – a assisto, passar a mão no rosto numa tentativa falha de secá-lo – Quando Jacqueline chegou eu... Bem, eu abracei a amizade dela porque eu precisava de alguém. Precisava de algum apoio.

— Chloé... – eu começo, mas ela sequer me dá ouvidos. Se vira de costas pra mim e vai até a cômoda ao lado da cama, pegando um sobretudo amarelo que não escondia muito o seu corpo dos meus olhos.

— Eu estou cansada de tudo isto. – confessa, se deitando de costas pra mim e agarrando o travesseiro aos soluços. – De parecer inatingível a todos. De fingir que nada está acontecendo. De ficar sustentando essa aparência de rainha que não precisa de ninguém. – tiro meus sapatos com um baque surdo no chão e me aproximo do seu corpo encolhido tentando não balançar o colchão no processo. – Você tem lá sua razão. Eu sou estúpida, grossa, ridícula e um monte de outras coisas piores que você quis dizer... Eu nunca me senti tão sozinha... – murmura entre pequenos soluços e conseguindo, pela primeira vez há séculos, partindo o meu coração – Sem namorado, sem amigos, Adrien sequestrado, uma mãe que pode estar mentindo pra mim esse tempo todo, um pai que não está nem aí e...

— Ei, pare com isso. – digo, tocando em seu braço e lhe apertando levemente. – Escuta... Eu... Eu falei muita besteira, muita coisa errada. – começo, me sentindo um completo idiota por ver a loira naquele estado tão frágil como estava. Era como se fosse um diamante trincado, prestes a se estilhaçar. – Eu sou um babaca por ter falado com você desse jeito e explodir por coisas que eu já deveria ter superado. – admito, como se tivesse acabado de perder a guerra. De certo ponto de vista não estava tão longe disto. Fecho os olhos e respiro fundo. – Você não está sozinha.

Ela funga baixinho e vira um pouco o rosto na minha direção, os olhos azuis inchados e um pouco vermelhos de chorar. Ela se levanta devagar e me abraça, tremendo.

— E nem você. – rebate, num murmúrio baixinho.

— Me desculpa. – peço, lhe apertando um pouco mais. Por todo esse tempo, completo mentalmente.

Não escuto resposta vinda de Chloé. Ela devia estar cansada depois de tudo e quando olho para a varanda vejo que o tempo voara desde que havíamos entrado no Le Grand Paris. Já estava escuro e eu não fazia ideia de que horas poderiam ser naquela altura. Quando tento me levantar para pegar meu celular a loira agarra minha mão ainda com uma expressão desamparada.

— Fique. – me pede com os olhos molhados, hesitando por meio segundo e o suficiente para me convencer de não sair correndo pela porta da frente. – Por favor.

Com um suspiro e ignorando qualquer sentimento de vergonha que podia restar em mim, engatinho até a cabeceira da cama da Bourgeios e fico ali, meio sentado e meio deitado naquela cama enorme e até um pouco confortável. Não demora muito para Chloé se aproximar e deitar encolhida do meu lado, me dando um meio abraço entre pequenos soluços. Ponho minha mão direita sobre a sua que está na minha barriga enquanto levo a outra distraidamente até o seu cabelo, fazendo um pequeno carinho ali. Respiro fundo e fecho os olhos, tentando imaginar qual a probabilidade de aquilo tudo apenas ser um sonho assustador e que a qualquer instante eu fosse acordar no meu quarto, onde tudo era normal e previsível.

Quando a respiração da loira se acalma quase não consigo acreditar que também estava exausto daquele dia e um tempo depois o sono acaba ganhando de mim.


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