Ezekiel nem sempre teve uma vida grandiosa, mas ele sempre achou a vida grandiosa. Mesmo quando seu trabalho se resumia a ser um tratador no zoológico, sempre pensou grande. Nos holofotes e no brilho que a mídia poderia trazer para si um dia.

Ele seria o melhor! Ele traria a alegria para o rosto dos adultos e das crianças. Ele seria um rei.

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Quando o apocalipse chegou junto com todos aqueles zumbis, Ezekiel teve certeza de que poderia fazer a diferença. Tanto quanto havia feito na vida de Shiva, salvando-a naquele dia. Não porque ela precisasse de ajuda. Mas porque precisava de carinho. E com toda a atenção que Ezekiel lhe deu, a salvou de uma vida deprimente em cativeiro.

Ao seu lado, Ezekiel fundou o Reino. E foi quando as coisas mudaram pela segunda vez.

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No começo, ele gostou da sensação de poder que aquilo lhe trazia.

Sua majestade soava muito bem para um cara que tinha um tigre deitado aos seus pés. E em meio àquele teatro no qual seus súditos viviam, Ezekiel achou um lar.

Ele podia lidar com as responsabilidades e cuidava bem de seu povo. Nunca duvidou que pudesse fazer isso.

Até que Negan apareceu pela primeira vez.

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Ele era cruel, vil e sistemático. E Ezekiel sabia que com o poder de fogo que possuíam ali, jamais poderiam vencer alguém como ele.

Negan era um assassino, ele podia dizer olhando em seus olhos. E não teria piedade de ninguém ali. Nem mesmo das mulheres e das crianças.

Então ele agiu como um rei deveria agir. Ele escutou a proposta que Negan tinha a lhe oferecer.

E como muitas vezes acontece na vida de um rei, ele cedeu e aceitou. Desde que ninguém nunca se ferisse. Desde que seu povo permanecesse protegido atrás dos muros de seu Reino.

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A vida era fácil, era simples. Os zumbis não podiam contra sua fortaleza. Levar os suprimentos para Negan era o maior perigo que tinham que encarar. Mas as coisas seguiam tranquilas desde que nadassem de acordo com o fluxo da correnteza.

As pessoas iam e vinham lhe pedindo conselhos. Ezekiel era especialmente bom em inspirar os mais jovens a seguirem seus sonhos. Era saboroso ver como eles se davam bem quando seguiam aquilo que ele propunha.

E tudo ia bem com as colheitas e com as pessoas. Mesmo quando Negan pediu um aumento em suas demandas. Mesmo assim.

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Ele achou que pudesse viver naquela cúpula para sempre. Mesmo quando Carol apareceu demandando que as coisas fossem diferentes. Mesmo quando ela lhe disse que o mundo lá fora não era o Paraíso como eles viviam ali dentro. Mesmo assim. Ele só precisava dançar conforme a música. Pelo menos foi o que ele pensou.

Até que o desastre iminente, aquele que Ezekiel sentiu desde o início que aconteceria algum dia como acontece com todo rei que chega a um impasse, chegou.

E ele teve que tomar uma decisão.

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Não foram as palavras de Rick pedindo para que lutasse ao seu lado. Não foi o que Carol lhe disse sobre viver um conto de fadas. Nem mesmo toda a humilhação que os homens de Negan fizeram alguns de seus súditos passarem.

Foi a realidade que se chocou contra ele com a morte de Ben.

E então ele percebeu que um reino não é feito apenas de conquistas. Mas de perdas também.

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Ele viu aldeões se tornando guerreiros através dos ensinamentos de Morgan. Ele mesmo quis aperfeiçoar sua luta ao lado de Shiva.

Era horroroso, era doloroso, mas ele sabia que os seus também precisariam lutar. E quando ele disse que apenas aqueles que desejassem seguir ao seu lado deveriam ir para a luta, não houve um único membro do Reino que não ergueu sua mão saudando o rei Ezekiel.

Foi a primeira vez que ele sentiu o peso do que significava ser o soberano das decisões de um povo.

Aquilo era ser rei.

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Havia sobre ele uma confiança inabalável. Precisava haver. E Ezekiel marchou para a luta ao lado de Carol com seu povo. Eles o seguiam, sem nunca questionar suas decisões.

Eles venceriam.

Disso Ezekiel tinha certeza.

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Mas de alguma forma, as coisas não saíram como planejado. Uma emboscada. Uma armadilha. E todos os seus caindo diante do campo de batalha, junto com o grito que dizia apenas uma única coisa. Carregava consigo um único desejo em comum: protejam o rei.

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Protejam o rei.

Ezekiel não teve tempo para pensar ou para sentir a dor da bala que lhe atingia. Foi apenas o peso dos corpos que se amontoavam sobre o seu. E os tiros que ressoavam, rasgando a pele e manchando tudo de carmesim.

Seria bonito se não fosse trágico.

Mas era. A maior das tragédias que seu povo poderia viver.

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Foi então que a verdade foi lançada sobre ele. Por um ninguém vestido de Negan. Por alguém que só queria leva-lo para o verdadeiro Demônio.

“Você fez todos eles serem mortos. Ainda assim, te seguem!”

Então Ezekiel olhou por cima dos ombros. E notou que seu exército ainda o seguia. Um exército de mortos-vivos. E aquele falso Negan tinha razão. A culpa era sua.

E desejou tanto ter morrido no lugar deles.

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Mas não podia, não era? Teria que conviver com aquilo. Teria que conviver com o fato de que os sobreviventes ainda o chamavam de rei.

Mas no meio daquela carnificina, de toda aquela dor, Ezekiel não se sentiu rei.

E como se todas as perdas ainda não fossem suficientes, ele viu Shiva padecer para uma horda de zumbis.

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Para salvá-lo.

Engalfinhando-se com eles. Arrancando pernas e braços.

Protejam o rei!

As palavras ressoaram novamente em seus ouvidos enquanto as águas eram tingidas com o sangue de sua companheira.

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Não era rei.

Não era nada.

Era apenas um cara.

Um cara fadado a conviver com o peso em seus ombros. O peso de cada morte causada por seus atos. O peso da morte de cada um daqueles que se sacrificou para salvá-lo. O peso da morte de Shiva.

Ainda que se sentisse um ninguém, teria que carregar aquilo consigo.

Esse era o peso nos ombros de um rei.