A Maior Tola de Todas escrita por LizAAguiar


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Well, uma one-shot nascida de uma reflexão sobre a fama.

Tenham uma boa leitura ^^



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Mia sentiu uma mão lhe colocar os óculos escuros enquanto um de seus seguranças abria a porta dos fundos do hospital.

Eram seis da manhã, o sol nem ao menos havia conseguido dar as caras como gostaria, os prédios altos unidos ao solstício de inverno eram uma ótima dupla!

A pergunta em sua cabeça foi respondia com uma enxurrada de luz e gritos que deixariam uma soprana abismada, alguém abraçou seu ombro e a arrastou quando seus pés se negaram a cooperar. Baixou a cabeça e fechou os olhos, seus punhos cerrados com força poderiam ser escondidos ao cruzar os braços, mas o rosto contorcido de medo lhe empregava um tanto a mais de engenho.

Tomou um pouco de coragem para abrir os olhos assim que ouviu o som da porta abrindo, os flashs continuaram a atingi-la como tiros de armas laser da última ficção cientifica que fora burra o bastante para aceitar um papel, os gritos predominantemente femininos eram piores que avisos de Tsunami, os masculinos recentemente acoplados eram o próprio terremoto nas alturas da escala Richter, suas últimas cifras de autocontrole foram postas a prova quando tivera a obrigação de fechar a porta da SUV com calma.

Jogou os óculos de sol no banco, notando sua respiração rarefeita e as mãos tremendo.

Procurou as dicas de seu professor de yoga em algum canto perdido no cérebro, pousou ambas as mãos nos joelhos e endireitou a coluna o máximo que pode com o carro em movimento, segurou a respiração por alguns instantes e a soltou pela boca, concentrando-se nos movimentos que seu peito fazia, inspirou profundamente, sentido uma sensação agradável com o ar entrando mais facilmente pelas vias respiratórias e recheando seu pulmão, saindo em seguida com naturalidade, os músculos tensos estavam relaxando aos poucos.

Respirar era tão prazeroso.

— Coloque o cinto. — A voz monótona e baixa lhe deu um leve sobressalto, não estava sozinha, nunca estava sozinha.

Fez o que seu empresário pediu sem se dar ao trabalho de encara-lo, olhou timidamente a janela, vendo com alívio que seus fãs já não a seguiam mais.

— Quando for tentar se matar outra vez, faça isso mais tarde, de preferência lá para às 14:00 horas. — Comprimiu os lábios até que virassem uma linha fina, o carro parou no semáforo.

Mia se culpava de grande parte da merda que sua vida se tornara, porém isso não queria dizer que uma boa fração não fosse culpa do senhor das plásticas ao seu lado.

— Então troque meu remédio sem avisar ao meio-dia, Ricky. — A voz rouca e baixa a surpreendeu, mas não a ponto de esquecer a quanto tempos estava sem tomar uma gota de água.

O sinal verde preencheu sua visão que tentava a todo custo buscar algo para se ocupar, achando o motorista como foco, ele desviou o olhar do retrovisor assim que o fitou, o uniforme azul a fez entender que aquele não era de sua equipe, mais um fã ou alguém disposto a vender informações sobre sua pessoa que Ricky teria que subornar.

Novamente: ela nunca estava sozinha.

Tateou o banco a procura dos óculos e desviou o olhar para a rua, seu empresário o mandou voltar a dirigir com raiva quase imperceptível na voz enquanto digitava furiosamente no celular.

O resto do percurso tivera como trilha sonora um silêncio pesado e tóxico, mas que lhe caiu muito bem, há anos as pequenas coisas começaram a ser aproveitadas como mínimos restos de uma vida real.

O plástico que era obrigada a vestir empesteava o ar com uma facilidade enorme.

Quando o motorista parou nos fundos de um hotel diferente do que se lembrava Mia encarou seu empresário.

— Estamos evitando os ratos. — Murmurou ao sair do carro, rolou os olhos enquanto fazia o mesmo, Ricky não chamava os repórteres assim quando queria algo.

— Sua agenda está cancelada na parte da manhã. — Com uma rápida olhada pode vê-lo com os olhos presos no smartphone, ela apenas o seguiu para dentro do prédio chique, sem vontade de falar. — Às 13:00 horas a estilista vai vir tirar suas medidas. — Eles subiram pelo elevador de serviço, dividindo espaço com alguns funcionários discretos, mas não o bastante. — Às 15:00 terá um encontro com seu advogado para assinar o contrato para a próxima trilogia. — Engoliu em seco, se perguntado porque era tão difícil sair da inercia. — Às 20:00 horas deve estar pronta para um coquetel com os acionistas da gravadora. Alguma pergunta?

Por que seu doce sonho artístico tinha se transformado em um travesseiro com fronha de plástico?

— Onde fica meu quarto? — Seu sussurro saiu mais baixo do que pretendia, o estranho era que se obrigara a perguntar.

Talvez realmente devesse tomar água.

— Suíte presidencial. — Quando as portas se abriram seu empresário apontou para a última porta do corredor e lhe estendeu um cartão. Suspirou sem motivo aparente, seu maior palpite seria o cansaço metal, pegou o cartão e andou até seus aposentos provisórios sem se despedir.

Tão pouco Ricky o fez.

Assim que o click da fechadura soou Mia puxou as portas da varanda e fechou as cortinas, por fim pegou o celular do bolso do sobretudo, ativando o modo avião: sua ligação com o mundo exterior tinha sido cortada por hora. Usou a luminosidade do aparelho para encontrar o abajur de porte médio ao lado da cama sem tropeçar em tudo.

A luz amarelada e pouco estimulante tocou seus olhos de forma fraca demais, rolou-os ao notar os óculos ainda adornando sua face, jogou-os na cama junto ao celular para começar a se despir, o barulho de sacola plástica que se seguiu a deixou curiosa para saber o que Ricky tinha para ela daquela vez.

Não sendo uma pilha de músicas pop para decorar já estava de bom tamanho.

Retirou tudo que não fossem suas roupas íntimas, as malas ou deveriam estar feitas ou nem ao menos chegado, procurou o frigobar com os olhos, dentro só havia garrafas de água com gás e sem, suspirou por sua própria esperança tola em achar um doce que fosse.

Nem se lembrava a quanto tempo só comia porcarias diet.

Se enrolou no cobertor da cama sem se importar em jogar tudo no chão, Miami não tinha nem a metade da potência do inverno de Denver, no Colorado, onde crescera e se criara, mas isso não significava que era quente.

Passava seus dias até a idade adulta testemunhando um inverno potente, assistindo filmes com as amigas e tomando chocolate quente, brincando com o irmão mais novo no quintal até seu pai ameaçar cortar suas mesadas se não entrassem, também fora em um começo da estação que pensou pela primeira vez em escrever no The Voice.

Respirou fundo e desfez o coque frouxo em seu cabelo descolorido e cool o bastante para ainda chamar a atenção dos adolescentes mesmo tendo 27 anos.

Ricky já havia insinuado que teria que fazer Botox em breve.

Inspirou lentamente apenas para expulsar o ar com força, em uma tentativa simbólica de afastar suas lembranças e pensamentos melancólicos, tinha acabado de experimentar uma lavagem estomacal, merecia um descanso!

Deitou-se na cama e tateou até achar a sacola, enfiou a mão dentro sem ideia nenhuma do que encontrar, sua confusão só aumentou quando notou uma espécie de papelão reforçado com uma textura lisa, todas pequenas, como se fossem peças, sem paciência para quizes de adivinhação tão cedo novamente jogou todo o conteúdo no chão.

E qual não foi sua surpresa em constatar que era um quebra-cabeças?

Chacoalhou a sacola para ter certeza que não tinha mais nada dentro e sentou-se no chão, espalhando as peças, com toda certeza tinha mais de 200, definitivamente aquilo não era de seu empresário.

Tempo era dinheiro, mesmo que ele tivesse consciência de que precisasse descansar apenas aumentaria a dose de seu tarja preta.

Seus dedos cheios de anéis esbarraram em uma textura diferente entre as pecinhas, tinha a metade de uma folha bem dobrada no meio de tudo.

Um sorriso caloroso despontou de seus lábios ao reconhecer a letra de seu professor de Yoga, ela era um garrancho bem marcado e quase ilegível, mas a Mia pareceu a escrita mais linda do mundo naquele momento.

 

Mesmo em completo caos devemos manter a calma e buscar a ordem. Sei que vai conseguir encontra-la a seu próprio tempo, minha kohai preferida.

Senhor Miyagi.

 

Fungou ao amassar o papel contra o peito, aquele japonês idiota!

— Seu nome nem é Miyagi. — Murmurou com humor, sentando-se de pernas cruzadas em busca de concentração para adivinhar que desenho as pecinhas formariam.

Não passava de uma pré-adolescente quando montou seu último quebra-cabeças com irmãozinho sonso que tinha, porém se lembrar do básico não foi um problema.

Sem saber ao certo se o amarelado que notava nas peças era por causa do abajur, começou a setoriza-las por cores, percebendo um tom amarronzado e poucas que tinham um desenho parecido com fumaça.

Que porcaria era aquela?

— Uma porcaria divertida. — Sorriu verdadeiramente ao tentar achar o canto superior da figura.

Sua vida era um sonho de criança que dera muito errado.

Suas crises de pânico eram assustadoras, brigou com a mãe e disse coisas tão horríveis que mesmo dois anos não foram o suficiente para superar a vergonha e a culpa, os namorados gays que seu agente arranjava lhe lembravam as centenas de versões de Ken’s diferentes, — embora todos fossem tão plastificados quanto o brinquedo, — as músicas que cansou de escrever não eram comerciais o bastante, tão pouco os papéis ousados que procurava em filmes interessavam a conta bancaria de Ricky. Era a porra de uma marionete sem forças e doente.

Como pode ser tão difícil sair de um lugar ao qual se odeia?

A quanto tempo não sentia prazer verdadeiro em fazer algo? Em ser a artista com sonhos lindos e inocentes?

Foi com um suspiro que se pós a montar peça por peça, livrando a cabeça da covardia e importância que a rondavam já havia alguns anos.

Sem saber ao certo quanto tempo se passara, conseguiu montar o nascer do sol, — ou o por dele, não conseguiu notar a diferença, — alisou a imagem para prende-la bem ao chão, a textura lisa era reconfortante, acalmava o que as pessoas chamavam de coração e lhe dava uma vontade quase irreconhecível de dormir, um sono gostoso e relaxante, sem a necessidade de pílulas ou injeções.

Puxou o cobertor e se aninhou ao chão, como fazia nas festas do pijama na escola primaria, onde ainda era apenas Rachel Madeline Anderson, não a descolada e detestável Mia Foster. Usando o próprio braço como travesseiro tentou ser tragada para o aconchego do inconsciente.

Rachel ou Mia, uma delas teria que morrer e, se deus existisse, que Rachel pudesse marcas o pescoço bronzeado artificialmente de Mia com hematomas e lhe tirar todo o ar.


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Notas finais do capítulo

Sim, esse é o final :v


Para críticas, sugestões ou xingamentos vocês já sabem onde ir ^^



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