— Bom dia – a garota respirou fundo assim que a pessoa do outro lado da linha respondeu o “alô”. A voz parecia mais estável, pelo menos, o que era um alívio. – Então... por onde começar? Você me ligou ontem às três da manhã, bêbada, e nós conversamos sobre coisas bem profundas. Você se lembra disso?

Violet disse tudo em um só fôlego, e temeu ter assustado a garota do outro lado da linha. Se o oposto estivesse acontecendo, ela certamente ficaria assustada e desligaria o telefone na hora.

Felizmente, a pessoa não o fez. Simplesmente grunhiu.

— Eu sabia que tinha ligado pra alguém! – seu tom de voz era quase irritado. – Me diz uma coisa, você é a Alana?

Violet sacudiu a cabeça, mesmo que a garota do outro lado da linha não pudesse vê-la.

— Não, não, meu nome é Violet. E o seu é? – porque no meio dos desabafos na noite anterior, a garota não tinha se apresentado.

— Catherine... Cat. Me desculpe por ter te ligado ontem à noite.

— Tudo bem, espero que esteja se sentindo melhor – Violet teve uma lembrança vívida da noite anterior: fala arrastada, lágrimas, reclamações sobre a vida e questionamentos sobre o universo. E Alana, obviamente. – Sinto muito pelo fim do seu relacionamento.

Houve uma pausa antes que Cat respondesse.

— Ah, não... eu te contei sobre isso também?

Você não vai acreditar no quão filha da puta minha ex foi comigo! Você acredita que ela acabou tudo depois de seis anos, depois de eu ter comprado um fucking ps4 pra ela porque ela queria “viver”?

Violet suspirou, deitando-se em sua cama. Encarou o teto, que tinha um mapa de Westeros, e tentou não pensar em seu próprio término.

— Você mencionou um pouco – disse, por fim.

— E mais o quê? – havia medo e curiosidade camuflados naquela pergunta. Violet se perguntou como estaria Cat naquele momento. Talvez deitada também, ou sentada em algum sofá aleatório... certamente de ressaca. Era difícil imaginar, já que ela não fazia ideia de como era Cat.

Meu melhor amigo, Artie, aquele babaca, disse que é da Corvinal! Aquele idiota traidor! Eu juro que tô com muita raiva dele! Nem pedi conselhos sobre a Alana por causa disso!

Violet, que também era da Corvinal, pensou um pouco antes de responder.

— Você parecia bem puta porque seu melhor amigo é da Corvinal.

— Consigo ver isso acontecendo – Cat admitiu. – A Corvinal é definitivamente a pior casa, não acha?

Na parede de Violet estava o brasão azul do tamanho de um notebook.

— Sou incapaz de opinar – mentiu. – Você é...?

— Grifinória! — tá explicado, Violet revirou os olhos. – Mas por favor... Violet, certo? Esqueça isso.

— Esquecer o quê? – a garota brincou, satisfeita por ouvir uma risada do outro lado da linha.

— Você é incrível, Violet. Muito obrigada por isso. Eu realmente espero não ter te enchido muito ontem.

— Claro que não – não era uma mentira. Violet tinha acordado de um sono profundo no meio da madrugada e ficado no telefone por mais de uma hora, mas tinha compensado. Ela pôde confortar uma pessoa que estava muito mal... Ela tinha decidido fazer a ligação no dia seguinte simplesmente para certificar-se de que aquela estranha tinha ficado bem. – Espero que não esteja morrendo com a ressaca.

— Eu tomei um café amargo mais cedo, mas estou bem... considerando que eu não estou acostumada a beber vodka.

Eu acho que você bebeu bem mais que vodka na noite passada.

— Sinto muito que você ficou tão puta a ponto de beber tanto.

Uma pausa.

— É, meu término mexeu bastante comigo.

Hoje foi o pior dia da minha vida... meus pais estão se separando, e a culpa é minha! Meu comportamento ficou bem ruim depois que minha avó faleceu, já que ela era meu porto seguro, sabe? E aí eu comecei a agir como uma babaca e isso causou um monte de brigas aqui... eu sou um lixo.

Violet mordeu a língua.

— Sei bem como é. Eu também passei por um término bem tenso – confidenciou. – Mas saiba que... não é sua culpa. As pessoas são independentes, e elas mudam... e elas tomam decisões. Não coloque todo o peso em você.

— Wow, muito obrigada. Eu nem sei o que... – a admiração foi cortada pelo momento de realização. - Eu te contei bem mais coisas, né?

— Sim.

— Ah.

O silêncio reinou por uma fração de segundos que mais pareceram horas.

— Mas é bom que você pôde falar comigo – Violet finalmente disse. – Não é bom ficar guardando essas coisas pra si, e me deixa realmente feliz que você colocou isso pra fora. Espero que se sinta mais leve.

— Bom, eu não lembro muito de ter feito isso, mas... é bom saber que eu falei tudo o que queria falar. Deve ter sido o destino eu ter ligado pra você por acidente – Cat riu, tentando aliviar a tensão que tinha sido criada.

Eu acredito que as coisas acontecem por uma razão, e fico feliz por uma moça com uma voz tão doce ter atendido o telefone! Deve ter sido o destino! Com certeza foi o destino, e a gente tem que se beijar um dia!

Violet reprimiu uma risada.

—Sim, deve ter sido. Ah, estou atrasada! Ei, Cat, podemos nos falar depois? Tenho um compromisso agora – disse, quase caindo da cama ao levantar correndo para ligar seu computador. Quase não tinha percebido que estava na hora de fazer sua livestream. – Eu vou te ligar mais vezes, é claro! Prometo! Por favor, fique bem! Até mais.