Três Palavras escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

A fic é meio antiga, importada lá do meu perfil do fanfiction. Então perdoa e não desiste de mim, juro que melhorei.



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"Eu te amo." Ela havia dito em um dia normal, com um sol infernalmente normal, quando navegavam em alto mar. É claro que era brincadeira. Só podia ser brincadeira. Afinal, era ela. Aquela mulher.

Aquilo podia ser apenas uma peça para desconcentrá-lo e, diga-se de passagem, uma peça que funcionou muito bem. Claro, porque não é todo dia que uma mulher como Nico Robin diz eu te amo para você. Não, não é. E, quando se é alguém como Zoro, é muito difícil acreditar nessas palavras, por mais naturais que pareçam.

Oh, sim, porque Roronoa Zoro é cabeça dura demais para acreditar em Nico Robin. Porque ela não é e – que fique bem claro aqui – nunca será sua nakama. Ela é apenas alguém que está ali, no navio, por estar. Sim, apenas isso e nada , aquelas malditas palavras – aquelas três malditas palavras – ainda ecoam em sua mente, por mais que use o travesseiro para abafar o som delas em seus ouvidos. Já é tarde demais, ele já foi pego pela armadilha da víbora. O eu te amo está lá para infernizá-lo pelo resto da noite – e quem sabe, pelo resto de sua vida?

Infernizar. Está aí uma palavra perfeitamente cabível nas nove letras que formam o nome de Nico Robin. Sim, porque é isso o que ela faz com sua vida desde que entrou naquele navio. Infernizá-lo chamando-o de kenshi-san, infernizá-lo atrapalhando seus treinos, infernizá-lo.

Gostaria de simplesmente ignorá-la. Esquecer-se que Nico Robin existe. Claro, isso seria bom. Na verdade, seria muito bom, pensava Zoro. Entretanto, lá estava ele, não dormindo e pensando naquela mulher.Não é que ele gostasse dela, isso era algo que jamais – frisem bem —, jamais aconteceria a ele. Porque se apaixonar por alguém como Nico Robin, seria o mesmo que colocar uma corda em torno do pescoço e pedir para ser enforcado.

Já quase podia sentir o laço ser apertado contra seu pescoço quando lembrou de uma noite – talvez seguidas de duas ou três – que ficaram juntos. Maldita bebida¹. Se bem que aquilo havia sido apenas nas três primeiras vezes, recordava-se Zoro, e aquele pensamento apenas contribuiu para que sentisse o laço apertar-se mais e mais, até que não pudesse mais respirar.

"Argh!" Exclamou, remexendo-se novamente na cama.

"Cale a boca, marimo!" Ouviu Sanji grunhir, lançando alguma coisa em sua direção. Teve vontade de levantar-se e começar uma briga ali mesmo, mas optou por apenas virar-se para o lado e fechar os olhos. Era quase de manhã quando, por fim, pegou no sono. E, em seu sonho, ouvia Nico Robin dizer que o amava.

X

A manhã seguinte tinha tudo para ser perfeita, pensava ele, enquanto via a tripulação deixar o Merry para uma expedição na cidade onde tinham parado. O cozinheiro havia dito algo sobre comprar mantimentos e Nami havia dito algo sobre fazer compras. Chopper chamou Robin para ir até à livraria, mas ela gentilmente recusou, dizendo que ficaria no navio desta vez. Usopp e Luffy explorariam os arredores, então tudo estava perfeito e...espere um instante.

O Cozinheiro foi comprar mantimentos. Nami foi fazer compras. Usopp e Luffy haviam ido fazer uma pequena expedição e Chopper havia ido à livraria sozinho. Quando Zoro abriu os olhos lentamente, se desencostando da parede do Merry, deu de cara com aqueles olhos. Não foi por menos que quase se viu nadando com os peixes em um salto mortal.

"O...o que você está fazendo aqui?!" Exclamou, já de pé.

"Oras, eu faço parte da tripulação." Ela sorriu, encarando-o. "Não estava com vontade de fazer compras hoje e tenho três livros para ler além desse." Ergueu a capa para que ele pudesse ver. "Apesar do convite do doctor-san, eu preferi ficar e te fazer companhia, kenshi-san. Por que, vê algum problema nisso?" O sorriso, o maldito e provocante e todas-as-coisas-ruins-e-perigosas-que-ele-não-se-lembrava-agora parecia zombar de si. Maldita fosse Nico Robin.

Zoro sentiu vontade de cortá-la em pedacinhos e jogar no mar, para ter certeza de que não poderia voltar viva ou sequer voltar. Por algum motivo, a simples memória de o sorriso dela sendo partido em 365 partes de diferença lhe deu uma sensação de alívio que quase – mas não fez, vejam bem – o fez esquecer-se da situação na qual se encontrava agora. Entretanto, quando sua visão se focou novamente e ele enxergou, ela, aquela mulher, estava exibindo mais um daqueles milhares de sorrisos irritantes.

"Humph, faça o que quiser, desde que não me incomode. Eu não dormi bem essa noite." Encostou-se novamente na madeira do Merry e cruzou os braços à frente do peito, preparando-se para dormir.

Os sábios dizem que certos comentários devem ser guardados para si mesmo, mas Zoro nunca fui o tipo de pessoa que gostasse de ouvir essas coisas, por isso, nunca deve ter escutado que, em boca fechada, não entra mosca. Uma sombra cobriu o sol que tanto lhe incomodava o rosto e ele foi eternamente grato por isso. Já estava começando a relaxar, quando lembrou-se que não havia sequer uma única nuvem no céu para fazer isso.

"Eu vou ficar de olhos fechados." Pensava ele, franzindo o cenho de leve. "Eu não vou abri-los e eu vou dormir e vou despertar e descobrir que nada disso passou de um sonho ou que os idiotas que saíram já vão ter voltado e não vamos estar sozinhos nesse maldito navio."

Entretanto, por mais que permanecesse com os olhos fechados — apertados com força, com tanta força que chegavam a doer – a sombra continuava lá e não parecia disposta a sair. Não queria olhar, mas sentiu-se traído por si mesmo e pelos tantos anos de treinamento, quando uma pequena brecha de seu olho mostrou as nuances dela. Daquela mulher. Ela, que estava sorrindo. Ela, que estava encarando-o de perto. Ela, Nico Robin. A maldita víbora.

"O que você quer?!" Exclamou, emburrado, e abriu os dois olhos. Não ousou a se mover — não, não, isso seria demonstrar que era fraco e que estava perdendo o controle. E Roronoa Zoro era tudo, menos fraco. – ou desviar o olhar, por mais que lhe incomodasse, encarar aqueles mil tons de azul ou de tantas cores — mas agora eram azuis, porque ela estava feliz. Mas por que ela estava feliz? – que se tornava difícil contar.

"Nada, kenshi-san," Respondeu, com seu típico tom calmo-tão-calmo-que-chegava-a-dar-raiva e sorriu. "apenas quis te observar mais de perto."

Sim, ela tinha o dom para irritá-lo com aquelas palavras simples, tão simples que chegavam a dar ódio. Seu rosto corou — de raiva, aquilo era apenas raiva excessiva, convenceu-se ele – e Zoro trincou os dentes. Já haviam passado cerca de cinco minutos no qual ficavam naquele jogo de olhares, mas Nico Robin não deu sinais de que se moveria tão cedo. E ela estava perto tão-perto-que-podia-sentir-o-cheiro-dela e era tão bom quanto flores da estação de inverno — mas ele não pensou nisso, não, não senhor! Ele não está pensando nela e no seu perfume e em nada que diga a respeito de Nico Robin! Nem no eu te amo! – ou de primavera.

"Acho que já viu o suficiente, não?" Rebateu, remexendo-se, levemente desconfortável pela posição em que se encontravam.

"Não, ainda não me cansei de te admirar, kenshi-san." O sorriso. Ele zombava. Zoro quase podia escutar as risadas – as gargalhadas, você escuta? Até mesmo o sorriso dela zomba de você, Zorinho! – que vinham daquele maldito sorriso de Nico Robin. "—Aliás..."

"Isso é ridículo." Ergueu-se, desvencilhando-se dela — do olhar dela, mas ele jamais admitiria que aquilo o incomodava, mas estava na cara, dava para ver. Não, não! Não é isso! Ele apenas se cansou de ficar sentado! – e cruzou os braços na frente do peito.

"Está fugindo de mim, kenshi-san?" Robin ergueu-se, encarando-o e apoiou-se na lateral do navio. Sorria – como sempre, porque é só isso o que Robin faz! Ela sorri, sorri o tempo todo e, quer uma novidade? É só para te IRRITAR! , encarando-o. E os olhos — eles estão tão azuis hoje, você não acha? – o seguiam para onde quer que fosse.

"Pare de dizer bobagens, mulher!" Balbuciou, olhando-a de canto — mas por que você não a encara, Zoro? Não, ele não a encara porque está nervoso – mas é apenas raiva! Só raiva! "Por que eu fugiria de você?"

O sorriso.

Tornou-se maior. Ela caminhou a passos lentos — e você contou todos eles, mas não foi porque quis, apenas o barulho dos saltos batendo no chão era irritante demais e te incomodava, foi só por isso –, um, dois, três, quatro passos e parou na sua frente. Ela era um pouco menor, mas o salto fazia com que ficassem quase da mesma altura. Ela apenas teve que erguer um pouco a cabeça e se aproximou – tão próxima e o sorriso e o olhar e o cheiro e tudo estava tão próximo dele, mas ele tenta se convencer de que não é nada, de que ela não fará nada. – de seu ouvido.

"Pensou no que eu disse...kenshi-san?" Perguntou.

As palavras.

O efeito que elas faziam. Os três passos que ele deu para trás, até que se apoiasse, sentado, na lateral do navio. Os olhos levemente arregalados, fitando os tons de anil que cobriam em uma camada fina os olhos de Nico Robin — ela tinha dúvidas quanto à sua resposta? Era essa a cor da dúvida de Nico Robin, Zorinho? –, mas ele só se preocupava com o choque térmico pelo qual seu corpo passava agora.

E elas vieram.

Como uma bomba, aquelas palavras retornaram a ecoar em sua mente, lembrando-o da noite que não dormiu e que pensou nelas – mas ele não admitiria, porque isso seria ser fraco e ele não era! Seria o melhor espadachim do mundo e não um tolo apaixonado por uma víbora! –, incomodado.

Eu te amo.

"N-não sei do que você está falando!" Ele tentou parecer forte, tentou não gaguejar e não desviar os olhos para o chão e todas-essas-coisas-idiotas-que-as-pessoas-fazem-quando-estão apaixonadas - mas ele não estava apaixonado! Não, não! – Aquilo era apenas uma reação de choque, porque ela estava querendo confundi-lo! – e ele, com certeza, não estava.

"Ah, kenshi-san," Ela aproximou-se novamente e deu os cinco passos — porque o passo dela era menor que o seu, Zorinho, mas o salto fazia o maldito toc-toc-toc ecoar por todo o lugar. – que você contou, mas que não queria contar, porque aquilo era ridículo, assim como o fato de os olhos dela mudarem de cor. "pois eu acho que você sabe muito bem..." Ela sorriu. "...mas eu posso repetir se quiser."

Ele entreabriu os lábios para dizer algo — queria mandá-la pro inferno, cavar um buraco no chão e mandá-la para lá. Talvez pudesse por em prática a idéia de fatiá-la em 365 pedaços diferentes e jogá-la no mar - não só o sorriso, mas ela inteira -, porque seria ótimo, não seria? SIM, SERIA PERFEITO, ZORINHO! –, mas as palavras simplesmente morreram. Balbuciou algo, mas foi só.

"Não diga, maldição! Não diga, porque eu não quero - e não mereço - ouvir a sua maldita mentira de novo, Nico Robin! Guarde os seus truques de víbora para outro! Guarde os seus...!"

"Eu te amo." Ela disse.

As palavras.

Três delas, ele contou. E todas as letras que tinham um som diferente quando saído dos lábios de Nico Robin e ele viu, talvez pela primeira vez tivesse prestado atenção, o momento em que os olhos mudaram do anil para o azul e então ela tinha certeza, mesmo que não ouvisse dos lábios dele — mas do que ela tinha certeza de ele não havia dito nada? Ele não está corado, é apenas o calor! O CALOR! – aquelas mesmas palavras. E ela estava novamente próxima e ele sentiu-se frágil, tão frágil diante daquele olhar feito de cores e o sorriso feito da não-malícia-ou-sarcasmo-mas-apenas-um-sorriso-verdadeiro-e-era-isso-que-o-assustava e não se moveu, nem mesmo quando a mão – era uma ou milhares de mãos? Da última vez, você contou três, acariciando os seus cabelos. – dela tocou-lhe a nuca daquela maneira tão típica e ela o beijou.

E aquilo bastou.

Não houve mais palavras, apenas troca de olhares, e sorrisos e tudo estava perdido outra vez — mas você não diria, você não diria! Não daria esse gosto à víbora, Zorinho! Não deixe ela te dominar! – e ele não quis resistir, porque ele sabia que não adiantaria mais. E tiveram os beijos, e as marcas e o caminho de roupas e eles deviam se importar com os outros membros da tripulação chegando a qualquer instante, mas aquilo pareceu tão irrelevante, tão-tão distante quanto qualquer outra coisa. E, quando, por fim, já estavam se erguendo e se vestindo novamente e evitando dizer qualquer coisa, porque aquilo podia estragar o momento, ela o segurou.

E houve o olhar.

E o silêncio.

E o sorriso dela.

X

Ele nunca admitiria, mas também a amava.

X

¹ - Faz citação à Além da Conta, uma outra ZoroRobin que eu fiz.


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Notas finais do capítulo

Sem muito a dizer, além de que esse é um casal sensacional que merece todas as fics do mundo.



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