Entre as sombras do local onde era sempre noite, fundo em sua floresta, se encontrava um garoto. Não era visível, coisa a qual já estava acostumado, mas naquele ambiente em especial, era difícil notar que sequer existia, mas não tinha culpa de que seu uniforme era preto. Não. A culpa era de quem havia feito o uniforme daquele jeito. De qualquer forma, seria impossível o perceber ali, pois não havia ninguém ali para fazer isso. Era a única coisa com vida ali, e a única coisa que se movia, também; o que era estranho para aquele lugar. Devia ser a casa de coisas sem vida que se movem, mas agora, não havia nada ali, tirando memórias. Boas memórias. Ou talvez ruins. Não foi seu pé que foi puxado, então não tinha nenhum trauma dali, e por mais engraçado que seja, nenhum arrependimento.

Embora o lugar fosse silencioso para qualquer outra pessoa que estivesse ali, apenas havia ele ali. Aquele garoto. Então era ele o único a ter o direito de dizer se era uma noite barulhenta ou não; e com certeza era uma noite barulhenta. Mesmo que seu guia tenha ficado para traz, e aquelas aberrações de lata não se encontrassem mais ali, seus passos eram bem barulhentos, e para ser honesto, seus pensamentos também. Não era como se não estivesse habituado com aquele barulho rastejando pelo os fundos de sua mente, dando voltas, crescendo, e parecendo criar espinhos, ou patas bem afiadas. Mesmo não sabendo de nada, não podendo fazer nada, não podendo falar sobre nada, pensava, e era o que queria. Pensar. Pensar para ter obter a chave que queria: Preparo. Mas pensar é cansativo, e a caminhada era longa, e o jovem não era muito paciente.

— "Diz a lenda que quando a mãe percebe que o filho vai ser um otário logo quando nasce, ela coloca seu nome como oTaro! Haha.

Disse, com um sorriso no rosto. Depois de seu trocadilho com o nome da pessoa que queria chutar o joelho, apenas houve o silêncio, e o garoto o contemplou, sem vergonha.

— "Ninguém ia rir mesmo. Ninguém lá tinha bom gosto para piadas. Talvez a Hanako."

Suas falas o fizeram decidir uma coisa: Pensar era a melhor opção. Era melhor do que lembrar, no momento. E não é como se pudesse fugir para sempre. Teria de lembrar, de se preparar, e lutar por um motivo. Mais de um. Era irônico pensar que lutaria por pessoas que gosta, quando estava virando as costas para elas e as deixando para trás. Tudo que devia fazer para corrigir esse erro era dar a volta; mas seguiu em frente. Continuou sua marcha, pensando, planejando, rindo, chorando, pisoteando por culpa da frustração.

Mas que tipo de plano poderia estar percorrendo por aquela cabeça tão genérica e desinteressante? Algo perigoso, sem dúvidas. O que se pode esperar de uma pessoa genérica que se encontra frustrada, traumatizada e com tédio, afinal de contas?

Sim. Estava traumatizado. O que vinha dali em diante deve ser culpa de quem o traumatizou, mas nunca, jamais, sua.