Silhouette escrita por Anna Miranda


Capítulo 11
O acidente


Notas iniciais do capítulo

que parto foi para sair esse capitulo né gente, não sei se tem alguém que ainda acompanha essa história, mas cá estou eu com um novo cap, espero que vocês gostem hahaha



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A melodia suave serpenteava pelo ambiente com o único objetivo de preencher o vazio que a essa altura ela já havia se acostumado, mas vez o outra parecia incomodar. A taça meio cheia, repousava sob o mármore frio da pia como uma companheira silenciosa. De forma displicente ela mexia o macarrão dentro da panela quando o celular apitou notificando que uma nova mensagem havia chegado. Se inclinando na direção do aparelho, que estava próximo a taça, ela sorriu ao ver o nome de Robin escrito.

Fazia algumas semanas desde que pela segunda vez eles havia se encontrado e compartilhado um momento de conversa onde puderam se conhecer um pouco mais. Foi nesse encontro também que eles descobriram a paixão por filme que tinham em comum, e que também havia concordado em conversarem mais sobre isso, por isso em intervalos espaçados, eles trocavam mensagens sobre o assunto. Deslizando o dedo sob a tela fria, o aparelho desbloqueou e ela pode então ler todo o conteúdo da mensagem.

“Quão errado é apresentar Autumn o mundo debaixo das águas através de A pequena sereia II: O retorno para o mar, ao invés de deixa-la assistir o primeiro filme?”

Uma risada alta escapou de Regina ao ler a mensagem. Ela amava o como a conversa entre eles sempre flutuava pelos mais variados espaços. Um pouco mais cedo naquele dia, eles estavam conversando sobre Vertigo um clássico do cinema da década de cinquenta, e então, ali estava ele perguntando-a sobre filmes da Disney.
Desviando a atenção do macarrão que a essa altura já estava quase pronto, ela digitou de forma rápida e divertida a resposta, sem nunca deixar o sorriso que habitava seu rosto ir embora.

“Considerando que Ariel é provavelmente minha princesa favorita eu diria que é uma ofensa pessoal, talvez um ato digno de ser castigado, você não introduzir Autumn ao mundo aquático atraves do filme de 89.”

“Tarde demais, minha pequena já esta me questionando se assim como Melody, ela pode trocar suas lindas pernas por uma cauda roxa.”

“Você só pode culpar a si mesmo por essa situação, você deveria ter começado pelo filme da mãe e então, você poderia dizer a ela que a cauda viria quando ela fosse uma adolescente como Ariel.”

“Oh! Gostaria que você tivesse compartilhado sua sabedoria um pouco mais cedo, me evitaria grandes problemas haha.”

“Você devia ter perguntado antes.”

“Anotado! Todas as escolhas cinematográficas das noites de sexta-feira de filme serão avaliadas anteriormente por você.”

“Você tem um acordo.”

Ao contrario, do que vinha acontecendo até aquele momento a resposta de Robin não veio imediatamente após a dela ser enviada. Resolvendo não fazer disso um grande acontecimento, a morena serviu-se um prato de macarrão, completou o espaço vazio da taça com mais vinho e caminhou para sala ligando a tv e deixando o que quer que fosse a programação daquela noite rodar por sua tela sem prestar muita atenção.

Regina arrastava o corpo sonolento escada acima, quando o celular apitou novamente e mais uma vez o nome de Robin apareceu. Lutando pra organizar as palavras em sua mente de forma a fazer sentido, ela percebeu que ele estava se desculpando por não tê-la respondido mais cedo. Ele havia deixa o telefone na sala enquanto havia ido até a cozinha fazer uma segunda rodada de pipoca, quando retornou ele não viu que ela havia o respondido, e como estava exausto, acabou caindo no sono com Autumn enquanto eles assistiam filme, e só agora quando estava indo dormir ele viu a mensagem dela.

Objetivamente, a morena respondeu que estava tudo bem, e que ela também estava cansada e por isso estava indo para cama, e que na manhã seguinte eles voltariam a conversar. Quando acordou na manhã seguinte, o primeiro pensamento que assaltou a mente da morena foi o sonho que havia tido. Quando era mais nova, ela sua mente muitas vezes inquieta e criativa, fazia com que ela tivesse sonhos frequentes, mas com a vida adulta vieram as responsabilidades e o cansaço, então os sonhos vinham em uma frequência consideravelmente menor. Devido isso, juntamente ao conteúdo em si, que se trava de caudas de sereia e um jovem pai viúvo, que Regina não conseguiu afastar sua mente a recordação constante do sono.

—x-

As semanas após a semana avaliativa eram normalmente as semanas mais tranquilas, uma vez que Regina sempre as preenchia com atividade que as crianças gostavam para relaxa-las e assim poder introduzir suavemente o conteúdo seguinte. Mesmo que fossem só crianças, e elas não tivessem provas, seminários e nenhum outro projeto equivalente, elas ainda precisavam fazer muitas atividades em um período de tempo não tão grande, então, vez ou outra alguns alunos acabavam ficando estressados.

O inverno caminhava para o fim, a neve caia com uma frequência quase nula e vez ou outra, o sol em sua versão mais suave e tímida aparecia para brinda-los com um dia um pouco menos frio e consideravelmente mais brilhante. E por ser um dia assim que Regina resolveu estender o período de brincadeiras fora da sala de aula um pouco mais.

Bree era uma jovem de dezoito anos que apenas uma semana atrás havia começado a trabalhar como assistente da turma junto a Regina. O pensamento inicial de que teria que dividir a turma com a qual trabalhava a quase um ano com outra pessoa fez com que o bichinho do ciumes rondasse Regina, decidindo por não deixar esse sentimento florecer em seu interior, ela se esforçou mais do que o usual para receber Bree e fazer com que ela se sentisse pertencente aquele ambiente.

Uma grata surpresa veio em seguida, quando ela percebeu que além de uma menina doce e encantadora, Bree era também uma entusiasta no quesito linguagens, por isso além do inglês e do italiano, que era suas línguas maternas, uma vez sua mãe era Irlandesa e o pai Italiano, Bree ainda sabia um pouco de espanhol e estava se graduando no curso de língua de sinais. E portanto, era imensa a ajuda que Bree dava a Autumn.

“Bree, você pode olhar as crianças por alguns minutos, eu só preciso entregar uns documentos na secretaria.” Regina perguntou se aproximando da garota, que conversava animadamente com Autumn através de sinais.

“Sem problemas Regina!” Bree respondeu e nesse meio tempo Autumn abraçou as pernas de Regina em um abraço inesperado e repleto de carinho.

Se abaixando na altura de Autumn, Regina retribuiu de forma rápida o abraço e partiu para sala. Sem querer deixar a supervisão dos 16 alunos com Bree durante muito tempo, mesmo que ela fosse responsável, ela ainda era muito nova e muitas vezes tinha dificuldade em disciplinar as crianças. Crianças precisam de amor e carinho, mas também precisam ouvir não, assim como precisam de limites, e Regina havia aprendido isso na base de muitos erros.

Foi tão instantâneo quanto um estalar de dedos, em um momento ela estava na secretaria entregando os documentos para próxima reunião de pais, rindo de um comentário jocoso de Leah, e no momento seguinte elas estava correndo pelos corredores atrás de um aluno seu, rumo a área externa da escola. Ela se quer precisou atravessar todo o pátio para ouvir o choro da garota, e o amontoado de crianças em um único canto, a guiou até Autumn.

“Eu sinto muito Regina, eu só desviei meu olhar dela por um segundo, para ajudar Bella a amarrar seus cadarços e a próxima coisa que eu vi foi Autumn caída no chão com os olhos repletos de lágrimas.” Uma Bree que parecia a ponto de explodir em lágrimas se desculpava, enquanto Regina em uma rápida e treinada avaliação, identificava o que havia de errado.

“Tudo bem! Tudo bem Bree. Eu preciso que você se acalme, ok! Então eu preciso que você reúna a classe e os leve de volta para sala, eu vou com Autumn para o hospital, mas vou pedir que Leah envie alguém para te ajudar com a turma. Você pode fazer isso por mim?”

“Sim!” A garota respondeu com a voz tremula.

“Obrigada!”

Deixando as crianças com Bree, Regina se pegou Autumn em seu colo e começou a conversar com ela, agradecendo aos céus que Autumn conseguia ler os lábios, uma vez que ela estava com osbraços ocupados, com a intenção de distrai-la da dor. Regina sabia que ela devia esta sentindo uma dor imensa, uma vez que mesmo que só tenha avaliado superficialmente a situação, ela sabia que Autumn havia quebrado o braço.

“Oh querida, eu sei que doi, tente não mexer o braço esquerdo, tudo bem?” Assentindo com a cabeça, a pequena se aconchegou nos braços de Regina, deixando a cabeça descansar no vão entre o ombro e o pescoço da morena.

—x-

A distancia da escola até o hospital não passava de quinze minutos, mas para Regina esse curto espaço de tempo poderia ter durado horas e ela não saberia diferenciar. Dirigir e se preocupar com as lágrimas e a dor da pequena posicionada no banco traseiro do carro, era algo que estava levando a morena ao limite.

Regina amava todos os seus alunos de forma igualitária, logicamente por uma questão de personalidade, as vezes se dava melhor com uns do que com outros. Mas Autumn, era como se existisse no coração de Regina em um espacinho que era só dela. Era um sentimento especial que a morena nutria pela pequena, um sentimento que ela não conseguia sequer definir com as milhares de palavras que existiam em seu léxico. E era por isso, que além de preocupada, ela estava apavorada, e desejava mais do que nunca, poder absorver a dor da pequena. O coração de Regina parecia se comprimir em seu peito a cada minuto que passava.

Sem sequer tentar esconder sua preocupação, Regina em uma quase verborragia, despejou sobre a atendente uma síntese do que tinha acontecido em uma questão de segundos. Foi só quando levaram a pequena para sala da radiografia e Regina se viu sozinha pela primeira vez desde que havia sido alertada do acidente, que ela se lembrou de Robin. Precisava avisa-lo, se é que a escola não havia feito isso.

Pegando o celular para ligar para Robin, ela ouviu o celular tocar. Robin já havia sido informado e estava chegando no hospital, por isso queria saber exatamente onde elas estavam para poder se encontrar com elas. Ao avistar Robin caminhando em sua direção no corredor, a morena sentiu um misto de alivio e vergonha lhe tomarem o corpo. Alivio, pois Robin estava ali, e ela não precisaria ser tão forte assim na frente de Autumn, uma vez que ela tinha certeza que o loiro tomaria esse papel para si. Vergonha, pois não podia acreditar que depois de tudo o que Robin e Autumn havia passado nos últimos tempos, eles infelizmente estavam de volta a um hospital e a culpa era dela.

“Olá” Ela disse com a voz embargada pelo choro quando ele se aproximou e lhe deu uma abraço desajeitado e agitado.

“Oi” Ele respondeu e ansiedade era palpável em sua voz. “Onde esta Autumn? O que exatamente aconteceu.”

“Ela esta bem, na medida do possível, eles a levaram para sala de raio-x. Aparente ela quebrou o braço, eles iam leva-la de lá para sala onde colocariam o gesso, não me deixaram acompanhar ela, mas me garantiram que ia ficar tudo bem, e que qualquer coisa voltariam aqui para me chamar.” Tomando uma respiração e tentando segurar as lágrimas a morena continuou “Eu sinto muito Robin, estava tudo tão tranquilo, que eu pensei que não haveria problemas em deixar as crianças com Bree no pátio, foi apenas por alguns segundos, eu sinto muito mesmo.”

“Hey! Hey! Respire fundo, ok?” Segurando o rosto de Regina em suas mãos, Robin percebeu que mesmo que estivesse aterorizado por algo de grave ter acontecido com aquela que era o motivo de sua existencia, naquele momento ele precisava acalmar Regina. “Esta tudo bem, ok? Não foi sua culpa, acidentes acontecem, ainda mais com crianças Regina, Autumn ficará bem ok? Eu preciso que você se acalme, eu vou ver se por ser pai, eles me permitem acompanha-la. Você via ficar bem?”

“Sim” a morena respondeu com a voz marcada pelo choro e tentou discretamente enxugar a lágrima sorrateira que lhe escorreu pela face.

—x-

Quase uma hora mais tarde, Regina assistiu Robin caminhar em sua direção segurando uma das mãozinhas de Autumn na sua. O outro braço ostentava um gesso na cor roxa, e a feição da menina carregava um sorriso devido a algo que o pai estava dizendo a ela. O sorriso de ambos aumentaram quando viram Regina e em um ato de completo reflexo, ela sorriu de volta para eles.

“Oh minha querida, como você esta?” Regina perguntou se abaixando na altura da menina, e não esperando que ela respondesse, antes de lhe agarrar em um abraço.

No fim daquele dia, Regina acabou aceitando o convite de Robin e Autumn para jantar na casa deles, como uma recompensa por ela ter sido uma menina grande diante da situação, Robin permitiu que Autumn escolhesse o cardápio e ainda permitiu que ela repetisse a sobremesa.

Apesar de cansada, a pequena resistiu ao máximo que pode ao sono, uma vez que a excitação de ter Regina em sua casa, fez com que Autumn quisesse fazer todas as coisas que podia imaginar em uma única noite. Enquanto Robin, cozinhava, elas brincaram no ‘playroom’ da Autumn, elas leram duas histórias juntas. Depois do jantar jogaram uma rodada de mimicas e então partiram para uma sessão cinema.

Obviamente, quanto mais cansada ela ficava, mais aborrecida ela se tornava por não poder usar os dois braços quando queria se comunicar. Diminuir o ritmo da sua ‘fala’ foi algo que afetou mais Autumn do que Robin poderia imaginar. O filme, porém, não havia chegado se quer na metade quando ele notou que ela havia adormecido.

Robin pediu licença a Regina para levar a pequena para cama, mas quando retornou minutos mais tarde para sala ele foi surpreendido pela imagem da morena encolhida no sofá adormecida. Com um sorriso no rosto ele ajeitou da melhor forma que pode, sem acorda-la, no sofá, e a cobriu com uma manta que tinha por perto. Apagando as luzes, ele caminhou para fora do ambiente em direção ao seu quarto com a sensação de que Regina estava onde ela deveria esta, que tudo estava no lugar certo agora.

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