Em Meio a Tudo escrita por EscritaNara


Capítulo 2
Perda


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo chegando com muita emoção.
Obrigada mais uma vez pelo lindo comentário KL!
Boa leitura:D



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Sorveu mais um gole do café e buscou saborear do líquido quente enquanto engolia devagar. 

Era sua quinta xícara no dia e sabia que tomar tanto café fazia mal a saúde, mas pouco lhe importava; manter-se acordado era a prioridade no momento e não tinha o luxo de ir para casa e dormir, mesmo que lá estivesse a mulher de sua vida, cuidando do filho que ainda estava crescendo em seu ventre. Desviou a atenção por um segundo dos papéis que tentava ler ao mesmo tempo para o porta-retrato ao lado do computador em cima da mesa e, no ângulo que o tinha colocado desde a última vez, o sol deixava os cabelos de Temari em um tom ruivo. 

Sorriu de canto com a imagem da esposa com as mãos na barriga de cinco meses: era a foto que tiraram naquele mês, em um acordo dos dois de terem fotos para cada mês de avanço da gravidez.

Não sabia se estava sendo meloso demais, mas amar um ser que nem sabia como era o rosto ainda era uma coisa de outro mundo e que não deveria fazer sentido algum. Saber que teria o filho em quatro meses as vezes o deixava com as constantes perguntas que papais de primeira viagem tinham: "Será que ele se parecerá comigo?" ou "Vou ser um bom pai?".

Mas o que Nara Shikamaru sabia era que faria do possível e impossível para protegê-lo do mal que o mundo oferecia; daria a vida por ele. 

— Senhor? - sua secretária estava a porta, segurando o tablet que usava para agendar seus compromissos. - A reunião foi remarcada para quarta feira e o presidente pediu para avisá-lo. 

Shikamaru assentiu e dispensou-a, levantando da cadeira e pegando seu paletó do encosto. 

Caminhou pelos corredores com as mãos nos bolsos e acenou com a cabeça os funcionários que o cumprimentavam no caminho até a sala de seu pai. 

Alguns podiam falar pelos cantos que o fato de ser o único filho de Nara Shikaku teria o ajudado a ganhar o cargo de COO da empresa de exportações, só que ser digno do posto custou anos de trabalho duro, uma faculdade que sugou toda a sua vida e o tempo que tinha que criar para passar com Temari.

Vinte quatro horas era pouco demais e dividi-lo em vários momentos compensou em uma estabilidade de todas as formas e, aos 30 anos, casado a quatro com a mulher de sua vida e esperando o nascimento do filho era o seu conto de fadas só a espera do felizes para sempre. 

O problemático de tudo era que Temari apenas o via como o bebê chorão que se derreteu ao escutar pela primeira vez o coração acerelado do filho na ultrassom. 

Saiu do elevador a passos preguiçosos e passou direto pela secretária do pai, batendo duas vezes na porta e entrando. 

— Bom dia, otou-san - saldou e percebeu que Shikaku pedia um segundo com a mão enquanto conversava com alguém no celular. 

Observando-o gesticular com a mão próximo a enorme janela de vidro que era a parede a sua frente o levou de novo a infância, na primeira vez que foi levado pelo pai a gigantesca empresa que definiu como um "castelo de batalha".

Lembrou que esteve no colo do Nara mais velho o tempo todo e que como odiou quando as mulheres no saguão apertaram suas bochechas, falando em uma enjoada voz de bebê o quanto ele era fofo. Quando entrou no escritório que lhe parecia maior ainda aos seis anos do que aos trinta e quando prometeu a si mesmo que seria como o pai um dia. 

— Aconteceu alguma coisa? - Shikaku o olhava em expectativa. 

— Não, nada do que já não saiba - ele respondeu, andando para mais perto. - Só que como a reunião foi remarcada para quarta-feira acho que não vou poder ir. Temari tem uma consulta com o obstetra nesse dia. 

Shikaku assentiu, mexendo nos papéis em sua mesa. 

— Você está certo. Vá. Aproveite e tire o dia de folga e fique com a sua esposa ou sua mãe me fará dormir no sofá de novo por pensar que estou te prendendo aqui. 

Shikamaru riu. 

— Qual foi o motivo essa vez? 

O mais velho hesitou um pouco, descansando as costas na cadeira. 

— Yoshino cismou que eu ando comendo os chocolates dela - respondeu. - Não posso fazer nada quando ela come tudo e não lembra. 

Shikamaru riu mais ainda e balançando a cabeça, saindo da sala para voltar ao trabalho.

***

Eram quase cinco da tarde e não teve chance de sair para almoçar. Seu estômago roncava pedindo qualquer coisa e deu por encerrado o dia, terminando a ligação de quase meia hora e desligando o computador. Procurou as chaves do carro e de casa e com a maleta na mão a porta da sala foi aberta com força. 

— Ligaram do hospital! - Sayuri, sua secretária, tinha o rosto vermelho e mantinha a porta aberta. - Temari-san deu entrada na emergência agora! 

Shikamaru ficou estático; seu corpo não conseguia reagir a informação e foram as palmas de nervosismo e braveza de Sayuri que o despertaram e as mãos dela empurraram o próprio patrão para fora, berrando para ele tomar cuidado. De novo não, era o que gritava dentro si enquanto corria pelos corredores após perder dez minutos dentro do elevador. Como final de expediente, a saída/entrada estava abarrotada de gente. 

Empurrou as portas giratórias com a força que tinha e dispensou o motorista. Dirigia pelas ruas sem atenção e não soube como chegou ao hospital. Não registrou o caminho e pouco lhe importava das multas de trânsitos que infringiu. 

— Nara Temari, ela deu entrada nesse hospital essa tarde e deve está na emergência - asfixiou batendo a mão no balcão de informações, impaciente quando a recepcionista permaneceu ao telefone. - Minha mulher está grávida e se não sair desse telefone vou processá-la por mal atendimento! 

A mulher arregalou os olhos e bateu o aparelho de volta no lugar. Digitou alguma coisa no computador e murmurou o quarto e o andar em que Temari estava. 

O medo de está naquele ambiente fez o moreno caminhar apressado, esbarrando entre médicos, enfermeiros e pacientes que caminhavam com seus acompanhantes empurrando o suporte para o soro.

Repetiu intimamente que voltaria para casa com a esposa e filho com as saúdes perfeitas e riria do desespero mais tarde. Essa expectativa morreu quando, ao abrir a porta do quarto onde Temari estava, a viu desacordada, com uma máscara de oxigênio cobrindo sua boca e nariz, um médico anotando ago na prancheta e uma enfermeira. 

— Parente da Senhora Nara? - o médico perguntou e o tom de sua voz formal dele assustou Shikamaru.

— Sim. 

O homem assentiu e murmurou comandos a enfermeira, que retirou um pouco de sangue da mulher deitada e saiu. 

— Ela vai ficar bem? - Shikamaru indagou, caminhando para perto da esposa e colocando uma mão sobre a barriga dela. Procurou sentir alguma movimentação, mas não veio nada. - E o bebê? 

O médico apertou a boca em uma linha rígida de desagrado. Ajeitou o estetoscópio no pescoço e ergueu a mão em direção a porta e num acordo silencioso saíram do local. 

Já do lado de fora o moreno se recusou a sentar e pediu para ele ir direto ao ponto. 

— Qual o seu parentesco com a paciente? 

— Sou marido dela. 

O homem assentiu pesadoramente, colocando as mãos no bolso do jaleco. 

— A sua esposa chegou ao hospital com um começo de aborto espontâneo - a declaração fez o coração de Shikamaru latejar e forçou sua concentração no que o médico dizia. - Os exames feitos comprovaram o início do quinto mês de gestação e pode-se considerar normal quando casos assim ocorrem. O fator desse foi o aloimune e é quando o feto é rejeitado pelo organismo da mulher. 

Aquela explicação não o deixou satisfeito em nada. 

— Isso significa que... - deixou no ar, incapaz de falar em voz alta a pesar dos seus esforços. 

— Eu sinto muito pela sua perda, mas o bebê faleceu na ambulância. 

As paredes do hospital rodaram e finalmente ruíram sobre suas costas; o impacto da dor o fez cambalear, perdendo o suporte de suas pernas e caiu sentado no chão de olhos arregalados e as mãos na cabeça. O chamado do médico foi entrando por seus ouvidos entorpecidos. Ele informava que já tinham feito uma curetagem e ela teria alta médica em três dias. 

 

 

 

Sete anos atrás... 

Olhavam o céu azul daquela tarde felizes e riam atoa pelas lembranças compartilhadas. 

Estavam deitados sobre uma toalha xadrez abaixo de uma sombra da enorme árvore da mansão dos Nara e tentavam aproveitar o último dia juntos antes de se separarem outra vez por mais seis meses. As férias de verão chegavam ao fim e a tristeza de se despedirem era sempre a mesma, mas tentavam camuflá-la em ocasiões como aquela, apenas curtindo estarem juntos. 

— Não acredito que disse isso mesmo! - gargalhou Shikamaru, sacudindo os ombros e fazendo Temari rir também. 

Era um dos poucos momentos que estavam sem brigar ou soltando farpas irônicas um para o outro, diferente de qualquer outro relacionamento normal. Mas o normal para eles era li. 

— Disse e ainda quis dizer mais, só que alguém me tirou de lá - murmurou a loira. - Aquela garota me enxia o saco a dois meses! 

— A coitada deve ter ficado morrendo de medo. 

Temari fez bico, se virando e erguendo o rosto para o moreno. Ficou um segundo o olhando de cima. 

— Isso, proteja ela agora. 

— Não preciso mais fazer isso com você? - atiçou Shikamaru, recebendo um soco no ombro. 

— Sei me cuidar sozinha, bebê chorão. 

 O silêncio surgiu entre eles e o moreno a sentiu encolher-se sobre os seus braços; ela escondeu o rosto em seu peito de repente. O susto foi rápido. 

Ele não pode fazer nada a não ser se virar e abraçá-la forte, já sabendo o motivo do choro surpresa e totalmente imprevisto, especialmente se fosse a loira a chorar. Era difícil para ele também. 

— Amanhã volta tudo de novo - Temari murmurou chorosa, erguendo a cabeça para o namorado. - Agora só no ano que vem. 

— Mas vamos nós ver no natal, lembra? E ainda tem o ano novo. 

— É, mas até lá pode acontecer de tudo. 

Nunca na vida confessaria que sentia medo dele encontrar outra garota pela república, talvez entre as aulas ou nelas próprias. Um esbarrão na lanchonete ou na biblioteca. Um trabalho em dupla. Eram muitas possibilidades e em casos assim não poderia fazer nada... a não ser dá um belo soco na cara dos dois. 

Shikamaru assentiu, com um sorrisinho no canto da boca e imaginando a caixinha preta guardada na gaveta do seu quarto. Com tudo planejado, ele não deixaria que obstáculos fúteis os fizessem passar o natal daquele ano separados como o do anterior. Nesse tinha um pedido em especial a fazer a Temari. 

Baixando o olhar, fitou nos olhos verdes dela e aproveitou um dos raros momentos em que a personalidade sempre autoritária deu espaço para o carinho. 

— Esse ano vai ser diferente. 


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Notas finais do capítulo

Sinto muito por já começar triste, mas com o prólogo dá pra saber que rosas não serão escritos aqui, né?
Até a próxima!



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