Tragédia Natalina escrita por Rodrigo Lima


Capítulo 1
Tragédia Natalina


Notas iniciais do capítulo

O que você é capaz de fazer para seu natal ser do jeito que você quer?



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Londres dia 24 de dezembro de 1984, 23:48 segundo o Big Ben. Era véspera de natal, e o clima estava tão frio que os ossos chegavam a doer, eu estava sentado no chão em algum beco da cidade da rainha, tinha apenas a roupa do corpo, que ajudava um pouco para me aquecer. Fiquei refletindo sobre tudo, tudo que me fez chegar a esse ponto, tudo que me fez ficar sozinho em plena véspera de natal.

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Deveriam ser umas 11h do dia 23 de dezembro quando eu saí de casa junto de meu pai para comprarmos o que faltava para a ceia, meu pai era um grande homem, me ensinou desde pequeno que devo tratar a todos como iguais, me ensinou que a humildade sempre precede a honra. Os ensinamentos de meu pai me fizeram um grande homem de negócios, eu era dono de uma grande loja de roupas formais. Mas meu sucesso profissional não importa. Eu estava junto de meu pai, andando pelas ruas de Londres comprando nozes, alguns ingredientes para uma salada, e também compramos alguns enfeites que tanto alegravam a senhora minha mãe.

Após comprar tudo retornamos para casa, onde fomos recebidos com um belo almoço feito por minha mãe. Quem era minha mãe? Minha mãe era uma mulher forte e inteligente, era contadora, e tinha muito mais dons além da culinária. Ela cantava, tocava piano, desenhava e também era uma ótima escritora, infelizmente, por ser mulher, não era tratada com o devido respeito. E isso me entristecia.

Quando o sol já estava se pondo, fomos à estação de trem, para recebermos minha irmã mais velha. Minha irmã vinha do País de Gales, onde morava com seu esposo, esse que por sua vez tinha ficado para comemorar o natal com sua família. Minha irmã puxou muito de minha mãe, só não puxou o dom da culinária, mas isso não era problema, seu marido era dono de um restaurante, era ele quem comandava a cozinha.

E então, a família estava reunida para comemorar juntos o primeiro natal em anos. Porém, ainda era dia 23, então para matarmos a saudade e colocarmos a conversa em dia e eu minha irmã fomos à um bar. O lugar estava animado, havia um grupo tocando músicas natalinas em um canto do recinto, e todo o bar cantava em um coro maravilhoso. Nós tomamos algumas cervejas e conversamos ao longo da noite, quando percebemos já era 2h da manhã, e o bar ainda tinha a mesma energia de quando entramos pela porta, mas por causa do horário decidimos voltar para casa.

Fomos a pé, seguindo e cantando nossas canções favoritas de natal, infelizmente não a cantávamos tão bem quanto a mamãe. Estávamos tão alegres e sorridentes, não achava que nada poderia destruir aquele momento..., porém um golpe certeiro em minha cabeça conseguiu acabar com tudo. Eu caí no chão, quase inconsciente, mas ainda conseguia ouvir os gritos de minha irmã e um som de carne batendo, então apaguei.

“Sua punição começa agora, você irá pagar por todos os seus pecados!”. Ao ouvir essa voz me veio a imagem de um garoto batendo em um cachorrinho que tinha babado seu sapato novo, então, por dentro, eu chorei... e bem ao longe eu ouvi alguém gargalhando.

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Acordei em um hospital, com meus pais ao meu lado dizendo com uma voz chorosa “Graças a Deus você acordou meu filho.”. Eu tentei me lembrar do ocorrido, e ao fazer isso imediatamente perguntei por minha irmã, e então o rosto de meus pais se fecharam e tudo que eu via neles era tristeza.

Minha irmã foi agredida, de um jeito que jamais poderia ser esquecido, e isso a colocou em estado de choque, ela quase não falava, e as vezes gritava sem motivo algum, e essas atitudes permaneceram até o ultimo dia de sua vida. O golpe que eu levei, segundo os médicos, não deixou nenhuma sequela e logo fui liberado, descobri com os policiais que fui roubado, mas isso era o que menos me importava.

Mamãe estava muito desnorteada com tudo aquilo acontecendo, e ficou no hospital com minha irmã, eu e meu pai saímos para um café, a pedido dele. Saímos do recinto e fomos a algum recinto que atendesse as necessidades do papai. Meu pai pediu um café preto bem forte e sem açúcar, enquanto eu não tinha vontade de ingerir nada. Ficamos lá por algum tempo.

Após terminar seu café ele chamou por meu nome, sua voz estava pesada e parecia me pressionar contra a parede, o olhei e tudo que vi foi um olhar que destruiu meu coração, um olhar julgador que nunca vira antes na minha vida. A princípio eu não entendi o porquê daquilo, mas logo a ficha caiu, ele me culpava pelo ocorrido de minha irmã. Eu entrei em pânico, não sabia o que fazer, senti uma dor imensa em meu peito, como se houvesse uma bigorna esmagando meu tórax.

Eu me levantei e busquei sair de lá, mas então meu pai me disse “Senta!”, e eu não consegui fazer outra coisa a não ser o que ele ordenou. Em meio a aquele clima de tensão, um dos policiais que estavam investigando nosso caso veio até nós e nos comunicou uma notícia terrível. Minha mãe e minha irmã foram encontradas sem vida no quarto do hospital em que estavam, ambas com ferimentos no peito.

Eu desabei, não podia acreditar, minha mãe e minha irmã, então do nada fui atingido por uma grande dor de cabeça, fechei os olhos por conta da dor. Quando os abri eu vi um garoto que parecia ter quinze anos pressionando uma garota de idade parecida, a garota estava desconfortável com a atitude do menino, parecia tentar fugir dele, mas ele a prendia, em seguida a mão do menino tocou o corpo da garota, então uma lágrima escorreu de seu rosto. Mais uma vez ouvi alguém dizendo algo como “Sua punição apenas começou!”. Outra vez havia alguém gargalhando, só que dessa vez parecia estar mais perto.

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Estava tudo uma confusão, estávamos sofrendo com o acontecido, e ao mesmo tempo os policiais nos enchiam de perguntas, como se fôssemos saber o que havia ocorrido a elas. Já estava anoitecendo quando fomos liberados, meu pai seguiu para casa sozinho, eu quis acompanha-lo com medo que algo ocorresse a ele, mas ele não me deixou fazer isso, e me disse para voltar bem tarde. Não entendi o porquê de ele ter sido tão frio comigo, ainda mais em um momento como esse, em que deveríamos apoiar um ao outro.

Andei por Londres inteira, procurando entender o porquê de aquilo tudo, o porquê daquelas visões. Enquanto eu andava ouvi algo que chamara a minha atenção, um som familiar, uma gargalhada. Era fraca, parecia estar longe, e também parecia vir de um beco. Eu não tinha mais nada, decidi seguir o som.

Corri pelos becos, seguindo o som de riso histérico, corri por todos os becos de Londres, mas eu não achava a fonte da gargalhada. Corri mais um pouco até que avistei um homem em frente a um espelho velho, era ele que estava rindo.

Ele começou a falar “’Os humanos são realmente podres’... Lúcifer sempre me disse isso, eu discordo dele, há humanos bons, humanos que vale a pena serem protegidos, porém, tenho que dizer isso, alguns humanos são realmente podres.”. O homem misterioso virou-se para mim, e olhou nos meus olhos. Meu corpo estremeceu, eu arrisquei perguntar o seu nome, e ele, de modo cortês me respondeu “Eu me chamo Gabriel.”. Arrisquei mais uma pergunta, lhe perguntei o que ele fazia lá, e ele respondeu “Eu vim levar o senhor.”. Não entendi nada, fiz várias perguntas consecutivas, mas tudo que ele falou em resposta foi “Você pecou demais, está na hora de ir.”. Eu gelei.

Ele começou a falar mais coisas para mim “Eu sei o que você fez, sei o que você faz desde pequeno, sei que você agride animais, sei que você já abusou e ainda abusa de garotas, e também sei da sua obsessão por seu pai.”. Meu coração batia forte, eu não sabia como reagir a aquelas acusações, mas ele continuou a falar “Você queria seu pai só para si, você ficou imensamente feliz quando sua irmã saiu de casa, e quando soube que ela viria para o natal você planejou tudo, iria dar um jeito de ela ter medo de ficar e ir embora... “. Eu gritei para ele parar de falar, para ele ir embora e me deixar em paz, eu estava entrando em desespero, mas ele continuava “..., mas o que você não imaginava é que iriam fazer aquilo com ela, que iriam agredi-la daquele jeito, e aposto que também não imaginou que ela perderia a sanidade, ao ponto de atacar a própria mãe e depois tirar sua própria vida.”. Eu surtei, estava sentindo um turbilhão de emoções: raiva, estresse, nojo, tristeza, amargura, medo; tudo isso ao mesmo tempo.

Eu corri o máximo que pude, não prestava atenção por onde andava, minha mente estava muito perturbada. Com a visão turva e a mente confusa acabei batendo em um container de lixo, eu estava muito rápido e acabei batendo muito forte, a física fez seu trabalho de deslocar meu ombro com o impacto da batida. Caí em cima de uma poça de água, me arrastei até uma parede e sentei apoiado nela. Minha respiração estava pesada, eu estava me sentindo perdido.

Aqui estamos onde eu comecei a contar minha história, e o homem misterioso tem razão, sou um homem podre, egoísta e ganancioso, minha inveja fez minha irmã sofrer aqueles traumas, e como consequência a levou a tirar sua vida e por algum motivo insano, também roubou a vida de nossa mãe. Meu pai sabia que eu tinha organizado aquilo, eu não sei como, mas ele sabia, por isso me tratou com tanta frieza. Agora estou sozinho no beco, com o ombro deslocado, sujo, tudo isso na véspera de natal. Disse a mim mesmo em voz alta que eu merecia aquilo, então, uma voz conhecida falou “Sim, você merece, o fim de seus atos fez com que você sofresse por eles, agora é tarde para se arrepender, irei leva-lo para o outro mundo.”. Eu simplesmente aceitei, não tinha muito o que fazer naquela hora, ousei perguntar o que ele era, ele respeitosamente me respondeu “Eu sou um anjo.”. Comecei a chorar, perguntei se eu iria ser julgado, ele rispidamente disse “Você já foi julgado, humano, e não verá o paraíso tão cedo.”.

Eu o olhei, escutei o Big Bem badalar sinalizando que já era meia-noite, fechando os olhos eu lhe disse “Feliz natal, anjo.”. Ele me disse de volta, antes que eu não estivesse mais lá “Feliz natal, humano.”.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por terem lido, deem like se gostaram desse meu one-shot. Não se esqueçam de ver as minhas outras fictions: Devil Hunters, Arco I: Time Hades; Magic Runes; Demons in our Hearts; e Demonic High School



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