Fantasmas escrita por Lucca


Capítulo 1
Fantasmas




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Ele inalou o cheiro dela mais uma vez, respirando colado ao seu pescoço e, então, apertou os braços ao redor dela sentido fluir dentro de si a paz por tê-la finalmente ao seu lado após tanto tempo.

Seu sono foi quebrado pelo que parecia um sussurro da voz dela, mas quando abriu os olhos, após um despertar lento, ela parecia adormecida com as mãos entrelaçadas nas suas. Teria sido um sonho? Talvez...

De repente, sua mente o despertou por completo diante de uma recordação do dia anterior:

“_ Não. Eu não tinha que fazer. Eu escolhi fazer. Eu gostava... Você não tem ideia do eu fiz ou deixei de fazer enquanto eu estava...”

Ele a interrompeu primeiro. A mensagem de Patterson impediu a continuação do diálogo depois.  Enquanto observavam o interrogatório de Dwire Lee, os dois se entenderam, mas não exploraram mais informações sobre o S&R.

Droga, ele mesmo havia dito a ela várias vezes que conhecia seu coração e que tinha certeza de que ela era uma pessoa boa, porque tanta insegurança em saber os detalhes do que ela fez? Talvez seu maior incômodo fosse saber com quem ela esteve... A aliança foi deixada para trás num sinal claro de que ele devia seguir seu caminho, de que ela o libertava de qualquer compromisso. O aperto no seu peito o lembrava que essa liberdade era uma via de mão dupla. E se existiu outra pessoa nesses dezoitos meses? “Não!” repetiu para si mesmo tentando afastar aqueles pensamentos. Ele sabia que não tinha o direito de exigir nada dela.

Ele fechou os olhos tentando espantar seus fantasmas e focou as lembranças no abraço com o qual ela o recepcionou no Nepal, na dor nos olhos dela ao ver que ele ainda usava sua aliança, na sua surpresa ao saber que ele também carregava a aliança dela. Ela o amava, isso era certo. Como, então,  Jane pode imaginar que ele não iria atrás dela? Deus, ele não desistiu de Taylor por vinte e cinco anos e meros dezoito meses não o fariam desistir dela! E aquele sentimento lindo que o consumia por inteiro fez seu corpo pulsar de alegria por senti-la ali em seus braços. Após um breve suspiro, se inclinou e deu um beijo suave no topo de sua cabeça.

Como era imenso o amor que sentia por ela. Antes dela, ele nunca tinha experimentado a felicidade intensa que tomou conta de sua vida depois que eles se entregaram um ao outro e ao sentimento que há tanto escondiam. Ele sorriu se lembrando daqueles dias tão perfeitos: a primeira noite de amor, voltar para casa todo dia ao lado dela, o nascimento de Bethany, o casamento, a vida a dois no Colorado...

“A vida no Colorado era incrível. Eu tinha você, tinha paz...Eu só... Eu não tinha um propósito. Uma maneira de saber quem eu era longe de você. Longe de nós.”

Os ecos da voz de Jane quebraram novamente sua paz.  Envolvido na onda de felicidade que varreu sua vida, ele não percebeu que faltou espaço para ela se descobrir. Na ânsia de desfrutar cada segundo daqueles momentos e de encher seus dias com paz, ele também evitou todos os assuntos complicados. Nenhuma palavra foi dita sobre a CIA, sobre Oscar, Oliver, Allie ou Nas, sobre a recepção que deu a ela em seu retorno... Ele queria silenciar os momentos ruins para que o rosto de Jane sempre tivesse aquele sorriso maravilhoso que foi tão raro desde o incidente na Times Square. Mas sua estratégia, mesmo coberta de boas intenções, teve um efeito negativo: Jane também foi silenciada, seus desejos, sua jornada em busca de si mesma.

“Kurt, por favor, você precisa me escutar...”

A voz emocionada, as lágrimas em seus olhos dela naquela maldita noite em que ele encontrou o corpo de Taylor, era a lembrança que ele mais tentava afastar. Ele não ouviu, não a deixou falar. Tanta dor teria sido evitada se ele tivesse se permitido ouvi-la... Não, ele não cometeria esse erro novamente. Faria de tudo por ela agora. Buscaria o momento certo para abordar cada coisa que ela viveu, tudo o que houver de bom ou de ruim lá, para nunca mais perdê-la, essa seria sua meta.

De repente, ele lembrou-se dela desfalecendo em seus braços em Veneza, da pulsação diminuindo, de quando ele já não sentia seu coração batendo... Lembrou-se do quanto foi difícil coloca-la naquela mala e entregá-la para o faz tudo da Dark Web quando seu impulso era injetar imediatamente o antidoto para que ela voltasse pra ele.  Seu estômago revirava ao lembrar-se da visão tenebrosa ao abrir a mala no altar da igreja. Ela estava tão pálida, tão... sem vida.

Ele voltou a apertar seus braços ao redor dela, dessa vez porque precisava senti-la viva e real ao seu lado. Ele vai tentar mil vezes e de mil formas para garantir que o resto da jornada de sua vida seja com ela.

“Berlim.”

Esse era o pensamento que mais o desesperava, o monstro que o assombrava desde que pode tê-la de volta.

“O silencio já nos feriu e afastou tantas vezes...” pensou.

Por mais uma vez era necessário omitir, só mais essa vez. Ele não suportaria presenciar os efeitos que aquela revelação teria sobre Jan. Ele daria voz a todo o resto, mas faria tudo que estivesse ao seu alcance para impedir que os acontecimentos de Berlim viessem à tona.

“Por nós, Jane.” Sussurrou e fechou os olhos tentando se convencer de essa decisão não era mais um erro na história dos dois.


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Notas finais do capítulo

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