Ela adorava vê-la jogar, sempre tão concentrada e segura de si, os cabelos presos balançando suavemente ao ritmo frenético de seus passos, o sorriso vitorioso que contagiava todos que estavam a sua volta, motivando o time a seguir em frente. Não era a toa que ela era a capitã.

 Peixes nunca teve muito interesse em esportes, nem ao menos se importava em acompanhar o desenrolar das partidas do time do coração do pai pela televisão, mas ali estava ela com os olhos vidrados na bola, agitada como uma fanática, como se entendesse do que as pessoas sentadas ao seu lado falavam enquanto estalavam a língua em xingamentos a cada jogada perdida ou sussurravam estratégias que os jogadores poderiam ter usado para ganhar vantagem contra o adversário. Não, Peixes não conseguia entender nada do que aquelas pessoas falavam e nem se preocupava em entender, tudo o que queria era vê-la jogando.

 Oh, céus!

 Quando as coisas tinham ficado desse jeito?

 Quando foi que vê-la jogar se tornou algo tão essencial em sua vida?

 Peixes se lembrava vagamente de uma amanhã chuvosa, tinha saído de casa para comprar pão, mas algo fez com que parasse no meio do caminho. Ela.

 Estava ensopada da cabeça aos pés, mas permanecia com a bola em mãos e estava usando o uniforme do time. “Ela esta treinando sozinha”, foi o que Peixes pensou ao admirar seus arremessos e perceber que estava olhando por tempo demais só depois de ouvir o telefone tocar.

 Voltou sua atenção para a quadra, para o jogo. Era muito tímida para começar uma conversa, mas estando ali, escondida em meio a tantas pessoas, ela podia finalmente admira-la. Nunca haviam trocado uma única palavra, mas Peixes sentia como se já se conhecessem a séculos.

  Ela estava com a bola em mãos, correndo pela quadra tão rápido quanto um trem-bala, enganando o adversário, correndo pela quadra rumo à cesta. E então ela saltou.

 Um salto tão alto que Peixes jamais acreditaria se não o visse com seus próprios olhos, assim como os que estavam ao seu redor, ela se levantou para ver melhor.

 Uma enterrada. Todos gritaram, vibrando.

 A partida tinha terminado. E Peixes observou as companheiras correrem para abraça-la, gritando e sorrindo abertamente.

 Mais uma vez, elas haviam ganhado.

 E mais uma vez, tudo graças à capitã.