It's a Good Life escrita por No one


Capítulo 8
Capítulo 8 – Fogos de artifício




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Depois da minha última constatação, a semana seguiu normalmente para todos, menos para mim. Eu havia começado a evitar Pedro, inconscientemente, porque se eu estivesse em sã consciência já teria me jogado nos braços daquele homem. Também percebi o quão rápido meu cérebro conseguia trabalhar quando o assunto não era trabalho, mas sim o corpo escultural do diretor do centro de pesquisas. Sacudi minha cabeça com este último pensamento, tentando focar nas milhões de pastas de pacientes que estavam sobre a mesa e tentando não focar no homem a minha frente lendo concentrado algum dos prontuários, até que meu celular tocou.

          Normalmente eu nunca atendo um número desconhecido ou privado, esse era os dois, mas como nada do que eu fazia estava sendo normal para mim, atendi a droga do telefone. Eu não deveria ter atendido.

          - Alô? – Perguntei.

— Claire, me diz que é você, little bird.— Gelei, meu corpo estaqueou no lugar onde eu estava, meus olhos estavam arregalados e meu coração perdeu umas duas batidas. Tudo voltou à tona. – Bird, por favor, eu preciso da sua ajuda, eu preciso de você. — Sua última frase me fez voltar ao mundo real.

 

— Pois eu não preciso de você. – Minha voz foi fria, dura, e meu rosto não estava diferente pois pude perceber o olhar receoso que recebi de Pedro.

— Não importa, eu preciso de você, preciso que você volte de seja lá onde esteja, podemos recomeçar, é só tentar, por favor.— Ele estava bêbado, era um fato. Sexta à noite (e sim, eu era a única pessoa que gostava de ficar trabalhando em uma sexta a noite. Corrigindo, Pedro e eu), lá era mais tarde da noite ainda, música agitada ao fundo, liguei todos os pontos e bingo: ele estava do lado de fora de um bar, me ligando e provavelmente com uma garrafa de cerveja na outra mão.

— Matt, vem dançar. – Uma voz de uma garota.

— Vai indo você, preciso resolver um problema aqui, já te encontro, gata. – Rolei meus olhos e meu estômago rolou junto com o adjetivo usado por ele.

Desliguei o telefone e joguei o mesmo sobre a mesa. Passei as mãos pelo meu rosto e tentei respirar fundo algumas vezes. Depois de todo esse tempo ele não ia estragar mais um dia meu, era inaceitável.

— Você está bem? – Pedro perguntou-me visivelmente preocupado.

— Eu só preciso de ar.

Saí da sala, subi um andar e fui para uma varanda, respirei fundo mais algumas vezes e tentei organizar meus pensamentos. Eu nunca deveria ter atendido o telefone, ele estava bêbado, mas não estava sozinho. Ele ainda acha que eu pertenço a ele ou algo do gênero, está na hora de quebrar todos os possíveis laços e nos deixar o mais distantes possíveis um do outro. Automaticamente meu cérebro pensou nele, naquele último sorriso, naquela última pergunta, naquele desgraçado filho da mãe que fez de tudo para acabar comigo, e em partes conseguiu. Soquei a parede mais próxima, como uma pessoa super normal que sou. Sem perceber algumas lágrimas rolaram, respirei fundo e tratei de tentar deixa-las no lugar delas. Eu não ia chorar mais, muito menos por eles ou por esse assunto, isso era uma regra, uma questão de honra, estava na hora de eu mesma ser o centro da minha vida, e eu estava perdendo o rumo da mesma, sem falar no tempo. Pelo amor de deus, quem é que prefere estar trancada avaliando prontuários de pacientes a estar em um bar bebendo? Eu que não!

Saí quase correndo da varanda, passei em minha sala, me troquei, peguei minhas coisas e me encaminhei a sala de reuniões onde Pedro estava, eu havia esquecido meu celular lá. Quando entrei ele nem levantou a cabeça, apenas seguiu lendo um prontuário.

— Te ligaram, um tal de Matt. – Engoli em seco.

— O que ele queria?

— Acho que voltar ou pedir desculpa por alguma coisa, ficou meio difícil de entender devido ao estado que ele se encontra, né. – Dei de ombros. Quando me virei para anunciar que estava indo embora ele completou sua frase. – Little bird. – Encarei-o no mesmo instante, meu coração foi a mil batimentos por minuto, eu estava pronta para ter um troço a qualquer momento.

— Onde você...? – Não consegui terminar a frase.

— Ele te chamou assim várias vezes, demorei para associar o apelido a pessoa, já que eu não entendia quem ele chamava de vagabunda ou desgraçada do caralho.

Fiquei muda, de repente minha vontade de sair daquele lugar estava mais baixa do que o número de caras que haviam passado pela minha cama nesses últimos meses. Não consegui encará-lo, não sei porque, mas de certo modo eu estava envergonhada de Pedro ter atendido o telefone e Matt ter achado que estávamos juntos.

— Desculpe... – Murmurei.

— Pelo que exatamente? – Voltei a encará-lo. – Não é sua culpa que você seja linda e maravilhosa demais e o cara não entender quando leva um não, isso acontece. Também não é sua culpa, e que fique claro que você não me obrigou a isso, mas talvez ele ache que estamos namorando.

— Como? – Quase gritei a pergunta, minhas bochechas queimavam.

— Bom... – Pedro passou as mãos pelo cabelo, ele estava nervoso então certamente ele tinha feito alguma merda, e das grandes. – Talvez eu tenha dito a ele que nós estávamos juntos, e que você não poderia atender o telefone naquele momento pois já havia voltado para nossa cama, e eu ia fazer o mesmo. – Ele sorriu torto, como se esperasse um grande parabéns pelo seu feito. Eu ainda digeria suas palavras.

 - Nossa cama?

— De tudo que eu falei foi só isso que você ouviu?

— Filho da mãe!

— Quem? Eu ou o idiota? – Ele falou sapeca.

— Ambos! – Grunhi como uma adolescente. Respirei fundo e juntei minhas coisas. – Muito obrigada pela sua ajuda, tenho certeza que aquele idiota nunca mais irá incomodar novamente. Agora se você me da licença, preciso ir ao bar encher a cara, meu amor. – Falei com um sorriso sacana e quando eu passei por ele, ele segurou meu pulso.

— Espera, eu também preciso beber, podemos ir juntos?

— C-Claro. – Era imaginação minha ou meu estômago realmente estava parecendo o céu iluminado por aqueles milhões de fogos de artifício no 4 de julho?

Nós enchemos a cara no primeiro bar que avistamos assim que saímos do hospital, dois médicos que deveriam passar o mais longe possível da bebida encontravam-se sentados em um banco do lado de fora do bar admirando o céu. Eu não me encontrava totalmente bêbada, conseguiria chegar em casa e principalmente iria conseguir lembrar de tudo amanhã, sem ressaca. Mas é claro que a bebida não afasta tudo, só em um primeiro e breve momento, depois tudo volta à tona e consequentemente, comecei a fazer um balanço da minha vida até agora, não era grande coisa.

Me formei em medicina e me especializei em algumas áreas, mas a minha paixão sempre foi a área de doenças raras (House, a culpa é sua), tinha um relacionamento perfeito, ao meu ponto de vista, bem prejudicado aliás, e esse relacionamento acabou e levou junto partes minhas. Quando tentei dar uma nova chance só quebrei a cara. Sem relacionamento para me atrapalhar acabei me tornando uma médica renomada e bastante conhecida, pelo fato de ter um tempo livre a mais do que as outras pessoas, eu o usava para estudar, até que Matt apareceu baleado no hospital, no meu plantão. Eu estava indo muito bem, obrigada, até aquele momento, a partir dali tudo foi morro a baixo. Toda a minha pose de mulher independente e forte foi se esvaindo pelos muros que eu havia construído, ia colocar tudo a perder até o abençoado momento em que me lembrei quem ele era de verdade. Matt poderia parecer o homem perfeito, mas assim como seu irmão, ele já havia sido indiciado por agressão a mulher, tinha o pavio curto, não gostava de ser contrariado e o que ele falasse era lei, se você resolvesse ir contra a algo que ele impôs, ele tornava-se extremamente agressivo. Dois irmãos, dois grandes problemas.

Fugi a tempo, seis meses de paz para mim e para minha cabeça que estava totalmente desgraçada das ideias, eu havia me enfiado nos piores buracos, até agora. Pedro é o oposto de toda essa merda, nos conhecemos desde a faculdade, e eu não sei o porque nunca ficamos, na verdade eu sei, ele sempre foi um cavalheiro e eu nunca fui uma dama, ou pelo menos a dama digna para ele, e esse pensamento ridículo foi o que me fez entrar nas maiores furadas da minha vida, pois eu aceitei o amor que achava que merecia. A vida não funciona assim e eu percebi isso tarde demais.

Me levantei para ir, embora a noite estivesse linda e eu estivesse amando apreciá-la, nada mudava o fato que amanhã eu tinha plantão.

— Quando você vai aprender que você é uma mulher foda pra cacete? – Me sobressaltei com essa frase que ele falou (do nada), como se estivesse lendo meus pensamentos, e também porque normalmente ele nunca falava palavras de baixo calão. – Você veio beber porque um idiota te ligou e te lembrou de todo seu passado e blá blá blá, você é melhor do que isso, Claire. – Levantou a cabeça e me encarou.

— Como?

— Não estou bêbado o suficiente, mulher. Eu sei sobre Ed, na verdade acho que todos sabem. E também sei quem é o irmão daquele idiota de merda, outro idiota. Lembra o que eu te disse quando te liguei sobre a vaga?

— Não. - Murmurei. Ele riu.

— É claro que não. Eu te falei:” nunca ache que você não é digna de algo sem antes tentar”. Isso vale para você nesse momento, você tem que aprender a se valorizar, e não estou falando dos seus atributos físicos apenas, o que ficou no passado, continua lá, e assim como todos, é o seu dever esquecer. Se continuar olhando para trás, você nunca vai conseguir encarar o que pode vir em frente.

 -  Falar é fácil...desde quando você se tornou psicólogo?

— Você realmente acha que a minha vida é perfeita? Te digo que ela não é, não mesmo. Mas a nossa vida não é ruim, esta vida é boa. Você apenas precisa focar-se nos bons momentos que tem e guarda-los com todas as suas forças. Realmente, é uma boa vida.

Voltei a sentar-me do seu lado, ainda digerindo suas palavras, ele tinha razão, apesar de tudo realmente é uma boa vida. E eu não sei falar precisamente como aconteceu, mas quando percebi, meus braços estavam em volta do pescoço de Pedro e uma das minhas mãos estava em seus cabelos, bagunçando-os ainda mais. Isso não era nada comparado aos seus lábios colocados aos meus e exigindo tudo o que minha boca poderia lhe oferecer, tudo e muito mais. Posso afirmar com toda a certeza que foi o melhor beijo da minha vida, ainda mais quando senti suas mãos apertando minha cintura e fazendo com que o espaço que ainda existia entre nós fosse anulado. E mais fogos de artifício em meu estômago.


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