Bem vindos ao colégio St Vladimir onde não importa o que aconteça, jamais conseguiremos esquecer as cagadas do nosso passado.

E eu estou fugindo.

Aham… Isso mesmo. Fugindo.

Estou caminhando para o CT, Centro de Treinamento dos Red Devils, com minha bolsa de transversal preta de lado, minha garrafinha preta na mão, calça moletom cinza e regata preta com a logo dos RD, que era uma pata de lince, estampada na blusa. Cumprimento algumas pessoas no caminho. Lá, não é meramente o campo de treinamento dos jogadores, mas também as líderes de torcidas tem um lugar reservado para fazer os treinamentos. E enquanto eu caminho para lá, me preparando psicologicamente para me encontrar com a Alberta, que é a nossa líder, me relembro de tudo que aconteceu e que me fez chegar até aqui.

O término com Adrian. O início do namoro dele com Syd. As mentiras que ele espalhou. A minha forma de vingança através da música e meu repentino sucesso.

Veja bem, até o dia em que decidi cantar em cima daquele palco, no refeitório, cada um ficava no seu canto. Era tipo, cada tribo por si e a escola para todos, mas depois do meu lindo salve, até as esquisitonas hippies falam comigo. E olha que isso é difícil.

Apesar do meu sucesso repentino, Adrian não gostou nenhum pouco. Pelo que eu ouvi de Lisa, ele está louco para me pegar para dizer umas boas verdades, o que só vai acontecer quando o inferno congelar, meu chapa. E é por causa disso que eu estou indo falar com Alberta antes dos treinos. É costume que as líderes de torcidas mais antigas apadrinhem um jogador. Cuide dele. E por motivos óbvios (se é que quatro anos de relacionamento pode dizer isso para vocês) eu sou a responsável por Adrian. Até hoje e que Vladimir me ajude.

Antes que possa chegar no CT, vejo Alberta com um corsário cinza chumbo e blusa branca, cabelo preso e com uma garrafa parecida com a minha na mão. Grito por ela.

— Alberta!

Ela se vira com um sorriso e corro até lá. Me desejem sorte!

— Oi Rose. - ela diz quando me aproximo.

— Albertinha linda. Preciso que me ajude. - digo e tiro uma mecha de cabelo do meu rosto que o vento fez questão de jogar.

— Do que precisa? - ela me perguntou.

— Preciso que troque meu jogador.

Ela fechou a cara e se virou.

— Não mesmo.

Suspirei alto.

— Por favor Alberta. Eu preciso.

Ela parou repentinamente e virou pra mim.

— Olha Rose, confesso que quando fiquei sabendo que você e Adrian tinham terminado, eu havia me preparado para a sua chegada pedindo a troca. Sério, eu esperei. Mas você não apareceu, o que foi ótimo. Ser uma líder de torcida e cuidar de um jogador tem que ir além dos nossos sentimentos pessoais.

Belo discurso, eu tinha que confessar. Mas infelizmente não era assim que a coisa toda funcionava.

— Eu sei Alberta e você está certa. Quando terminamos, não tinha passado pela minha cabeça pedir que você trocasse. Mas agora as coisas mudaram.

— Sim. Você não devia ter feito aquela apresentação.

Olhei embasbacada para ela.

— Como é que é?

— É isso mesmo Rose.

Eu ri sem sentir nenhuma graça de nada.

— Você só pode estar de brincadeira com a minha cara, né? Você vai me dizer que não ouviu as mentiradas que andou rolando pela escola nos últimos dias? - Alberta desviou o olhar do meu – Aí, viu? Até você que fica mais por fora das coisas que acontecem na escola do que a semente de caju! - ela me olhou indignada – Sério, Alberta. Eu tinha que fazer isso e sério, não me arrependo.

— Fico feliz que você não se arrependa. Agora, lide com isso.

Em outras palavras: Não haveria troca.

— Tudo bem. - disse, pegando uma pasta de papel da minha bolsa com o nome Ivashkov na capa e joguei no peito de Alberta – Passe para uma das novatas porque eu tô fora.

Ela segurou a pasta por instinto e me olhou em pânico.

— Como é?

— É sério, Alberta. - disse séria – Eu não vou cuidar do Adrian, não importa o que diga ou como me ameace. Se você não quer trocar, eu abro mão. Entrega para uma das novatas.

— Mas… mas… - ela estava sem palavras e olhava a pasta sem vê-la na verdade.

Decidi jogar duro.

— Você que se vire com a Confederação das Líderes de Torcida e tente explicar porque Rose Hathaway está fora.

Aí que o pânico ficou maior. Segurei o sorriso. As CLT era formada grandemente pelas famílias tradicionais e por incrível que pareça, a família da minha mãe toda foi líder de torcida. Fazer o quê? É hereditário! Sabia que se a Confederação e minha mãe soubessem que eu estava fora, minha cabeça iria rolar… Depois da de Alberta, mas iria. Eu não ligava para isso. Já Alberta…

— Calma, Rose. Vamos conversar direito. - ela suspirou – Eu realmente não posso fazer a troca, - eu já estava me virando quando a ouvi dizer mais alto – Mas se você encontrar alguma menina que está disposta a trocar com você…

Nem deixei ela terminar, vai que ela mude de ideia. Arranquei a pasta da mão dela, estalando um beijo em sua bochecha.

— Você é a melhor!

Saí correndo para a sala de alimentação do CT super empolgada. Entrei na sala e disse:

— Quem aqui quer trocar de jogador comigo?

As meninas me olharam, olharam a pasta e voltaram a comer. Ninguém quis.

Não estava acreditando.

— Gente, estamos falando de Adrian Ivashkov lembram?

Ainda sim, nada. Argh, como eu odeio a minha vida.

Triste, triste, peguei um copo de café e sentei na mesa. Dois minutos depois, uma morena sentou com uma pasta.

— Eu troco com você.

Olhei pra cima. Era Meredith.

— Sério? - perguntei feliz.

— Uhum.

Peguei a pasta antes que ela mudasse de ideia e passei a minha pra ela. Quando a abri, quase caí de costas.

— Dimitri Belikov?! - gritei e tapei a boca na mesma hora.

Se Tasha Ozera descobrisse isso, me mataria.

— Uhum.

— Você ficou maluca? Ele é a nossa estrela. Ele é o quaterback. E você quer trocá-lo.

Ela deu de ombros.

— Eu gosto do Adrian.

Bem, tudo bem. Não seria eu que iria esfregar na cara dela de que ele estava de fato mais interessado em parâmetros nerds no momento. Passei a chave do armário de Adrian e ela me passou o de Dimitri. Caminhamos juntas até os armários pois sabíamos que o treino já deveria estar no final. Coloquei a pasta dele na bolsa. Teria que analisar quando chegasse em casa. Peguei a garrafa dele e uma toalha. Fechando o armário, fui em direção ao campo.

Sabia da fama de Dimitri. Ele era extremamente mal humorado. Chato mesmo. Não sabia como ele lidaria com tudo isso.

O treinador deu o apito final e com isso eu corri até a beira do campo. Adrian vinha em minha direção como um leão pronto para briga, mas ele foi interceptado por Meredith, enquanto eu passei reto e me dirigi para perto de Belikov, estendendo sua garrafa.

— Como foi o treino? - disse tentando ser simpática.

Qual é. Eu podia ser simpática sim se me esforçasse o bastante. Belikov me olhou com suspeita.

— Onde está Margareth?

Franziu o cenho. Margareth? Quem raios é Margareth? Foi então que eu entendi…

— Ahn… Na verdade é Meredith e ela agora cuidará do Ivashkov. Eu sou a Rose…

— Eu sei quem você é. - ele disse, arrancando a toalha das minhas mãos – Não me importo. Quero a Margareth, Meredith, seja lá quem for de volta.

Bruto.

Se tem algo que verdadeiramente me tira do sério é pessoas ignorantes.

— Olha aqui, camarada. - falei sério, perdendo qualquer grau de simpatia por ele nesse momento e me segurei para não exigir que Meredith me devolvesse Adrian – Sinto muito se você não está feliz mas daqui pra frente serei eu cuidando de você. - dei um sorriso sarcástico – Mas, se não tiver satisfeito, eu posso trocar com a Tasha.

Não era segredo para ninguém que Natasha ou Tasha como a chamamos, era apaixonada por ele. Enlouquecidamente apaixonada por ele. Do tipo que teria coragem de tatuar seu nome em seu próprio corpo, não que ela realmente já tenha feito isso. Bem… eu acho né. Mas a questão é que assim como todos sabiam o quanto ela era obcecada por ele, sabiam também que ele não dava a mínima para ela e que se possível fazia de tudo para fugir dela.

Os segundos se arrastaram lentamente.

— Tudo bem. - ele latiu.

Dei um sorriso largo.

— Esteja as 5 horas na praça Verona.

Franzi o cenho.

— Neste horário eu tenho treino.

Ele riu.

— Não estou falando das cinco da tarde. Eu quero dizer as cinco da manhã. Se vai ficar no lugar da outra, vai ter que fazer o que ela fazia. Vamos nos exercitar.

E depois dessa, ele simplesmente saiu.

Apesar de estar em pânico por ter que estar as cinco horas da manhã de pé para me exercitar, fiquei feliz por não que cuidar mais de Adrian.

Olhei para as costas tensas de Belikov que saía do campo em direção à construção do centro.

— You’re the man, - cantei – but I got the, I got the, I got the power. You make rain, but I’ll make it, I’ll make it, I’ll make it shower. You should know, I’m the one who’s in control. I’ll let you come take the wheel long as you don’t forgeeeeeet. Who got the power? I got the, I got the power…

Ri internamente.

Quem é mesmo que tinha o poder?

Hathaway 1 x 0 Belikov.