Made of Stone escrita por littlefatpanda


Capítulo 45
XXXIV. De todas as agonias do mundo


Notas iniciais do capítulo

Panditores, não deixem o título e o ínicio de capítulo desanimarem vocês de lê-lo, ok? Hahahaha. Beijos de arco-íris! ♥

11k palavras, mas vale a pena, não pedirei desculpas.

Aliás, Carolzinha, meu amor, muito obrigada pela recomendação! Apressei aqui a edição do capítulo porque socorro, nem vi que era teu aniversário ontem, e tu ainda tirou tempo pra comentar e recomendar MOS! Pelamor, precisei editar logo aqui e te dar esse capítulo de presente! Hahhahaha. Obrigada e parabéns atrasado ♥

Boa leitura a todes!



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Quando eu era criança, lidei com a primeira sensação de agonia que tive na vida. 

Eu lembro de estar muito intrigado sobre o porquê de filhos deixarem a casa dos pais, embora não me lembre de como exatamente o assunto veio à tona. Não lembro se havia visto na televisão, escutado algo na escola ou se havia escutado a conversa da minha mãe com alguém. O fato é que eu a questionei a respeito. 

Me recordo da sensação de incredulidade e de puro humor que sentia, porque eu tinha essa certeza de que meu irmão e eu jamais sairíamos da casa da mamãe. 

Por que faríamos isso? 

Minha mãe me informou, com certa cautela e com olhinhos divertidos de quem sabe mais sobre a vida, de que iríamos os dois sair de casa e cada um teria um lar próprio com uma família. "Inclusive", ela disse, "o seu irmão provavelmente irá primeiro por ser o mais velho". Eu teria rido e achado bobagem, não fosse a certeza que eu via nos olhos esverdeados dela. Comecei a pensar que isto fazia sentido, afinal, minha mãe havia sido filha de alguém antes de construir um lar com a gente. 

Aquilo me assombrou, porque naquela época, eu tinha a sensação de que os anos passavam em um piscar de olhos e "ano que vem" eu já seria gente grande. A ideia errônea do tempo me fez pensar que meu irmão estava prestes a sair de casa, a me deixar sozinho com a mamãe e nos abandonar. Mais do que isto, que eu próprio iria fazer o mesmo em seguida e que nossa mãe ficaria sozinha para sempre. 

Era como um comichão na pele, um peso nas costas, um aperto no coração e uma ansiedade que fazia meu corpo vibrar sem descanso. A agonia me fez ficar acordado durante a noite, tentando resolver a situação do futuro que estava por vir antes que viesse, até que minha mãe percebesse e me explicasse que isto não aconteceria tão cedo. 

A ideia de abandono me assombrava. 

Quando meu pai foi embora e nos abandonou, eu não senti agonia alguma, porque a presença dele nunca havia sido algo bom e eu sequer o amava. O problema é que ele havia nos deixado, de fato. Com poucos seis anos de idade, aquilo me fez saber que abadono não era apenas possível, mas praticável. E dentro da minha própria casa.  

Alguém havia ido embora, porque as pessoas vão embora. E, na próxima vez, poderia ser alguém que eu amasse. 

Na época, eu não sabia nomear aquela aflição dolorosa que me manteve acordado durante a noite, mas eu ainda posso lembrar dela vividamente. Depois da primeira vez, a sensação de agonia se repetiu algumas vezes ao longo dos anos. 

E se há alguma palavra que possa descrever o que eu havia sentido naquele dia todo com o Alex, esta seria "agonia". 

*

O silêncio do quarto me perturbou até que eu despertasse. 

Soltei um arquejo, sentindo o coração bater forte contra as costelas, os ouvidos ardendo devido ao silêncio ensurdecedor à minha volta. 

Desnorteado, sentei na cama feito um vulto, sentindo o objeto pesado que estava no meu peito cair no meu colo. Peguei o celular e liguei a tela, os olhos lacrimejando pela luz forte, antes de forçá-los a enxergar com nitidez. A bateria fraca despertou um aviso na tela, explicando o motivo do silêncio absurdo no qual me acordei, já que o aplicativo de música se fecha quando a bateria fica fraca. 

Soltei um resmungo, retirando os fones do ouvido e jogando para o lado. Fechei o aviso do celular apenas para me deparar com mais de vinte mensagens recebidas do Alex. Pisquei, checando se havia enxergado direito, e as abri com rapidez. 

Era duas e meia da manhã. 

Eu nunca havia me sentido tão aliviado de receber uma mensagem do Alex no meio da madrugada quanto agora, por mais que significasse que ele não conseguia dormir de novo. Não era como se não estivéssemos conversando ultimamente, mas ele não me acordava para o nosso passeio no bairro há meses. 

E era isso o que ele queria, como confirmei ao ler a única mensagem com texto que ele havia enviado, enquanto as demais eram figurinhas de minuto em minuto para ver se eu despertava. No fim das contas, dei sorte da minha bateria notificar fraca só quinze minutos depois da última figurinha enviada. 

Geralmente ele não mandaria mensagem alguma - porque eu não acordo ao recebê-las - e simplesmente apareceria na janela, mas mesmo assim, já era algo grandioso. 

"Quer dar uma volta?", a mensagem dizia, simplesmente. Era ridículo, não era nada demais, e ainda assim eu quase me engasgava com o coração que parecia querer sair pela boca e correr janela afora para se encontrar com ele. "Quero", respondi, igualmente simplório, enquanto ele não fazia ideia da maneira esbaforida com a qual eu levantei da cama para me arrumar. 

Arranquei a roupa velha de pijama do corpo e vesti qualquer coisa que não tivesse mais de dez anos no meu armário antes de ouvir o som fraco dos passos na grama e as batidinhas costumeiras na janela. 

— Que bom — sussurrou ele, em resposta à mensagem, do lado de fora —, porque eu já tô aqui. 

Senti tanta falta disso que achei que iria morrer. 

Alex não estava com uma aparência muito boa, era visível, enquanto caminhávamos lado a lado no bairro vazio. Haviam olheiras debaixo dos olhos, notáveis mesmo à noite, e ele parecia estar magro e miúdo demais. Os cabelos escuros enroscavam-se nas orelhas e estavam tão bagunçados quanto os meus costumam ser, além de que sua pele morena parecia pálida demais para o rapaz praieiro que ele sempre foi. 

Ainda assim, eu poderia admirá-lo o dia todo. Se fosse eu quem estivesse no mesmo estado que ele, certamente não conseguiria estar bonito ainda assim, como ele sempre consegue estar. Era quase injusto. 

Me encolhi, esfregando os braços, devido à brisa da madrugada. Aquilo me fez dar uma olhada nele, pensando que aquela jaqueta não devia ser o suficiente para esquentá-lo. 

— Faz quanto tempo que tá me esperando? — perguntei, pensando que sua primeira mensagem havia sido enviada praticamente uma hora antes de eu acordar. 

Alex arqueou as sobrancelhas, me olhando de soslaio, como se aquela pergunta fosse um tanto estranha. Não vi nada de errado, então esperei que o que quer que passasse por sua cabeça desse espaço para uma resposta, desistindo de decifrá-lo. Quero dizer, estava bem frio ali fora e por mais que ele vestisse uma roupa de sair, era pouca para agasalhá-lo para a madrugada. 

Ele balançou a cabeça e soltou um riso antes de responder, com um dar de ombros: — Pouco. 

Estreitei os olhos, analisando-o sem muita discrição, imaginando que aquilo só podia ser uma mentira. 

— Você podia ter aparecido lá, sabe? — tentei, baixinho, para não soar como julgamento. Eu entendia o receio dele de aparecer sem aviso, depois de tudo que havia acontecido. — Se não fosse minha bateria fraca, eu não teria acordado. 

Alex assentiu, olhando para os próprios pés ao caminhar, com um sorriso de canto. 

— O silêncio te acordou? — deduziu, corretamente, mas eu apenas dei de ombros. — É, eu ia fazer isso em seguida — respondeu, enfim, mas não havia firmeza na voz, antes que soltasse um risinho divertido ao acrescentar: — Talvez. 

Sorri, o silêncio confortável recaindo entre nós mais uma vez. 

Nossos passos eram lentos e descompassados, porque não havia urgência alguma em chegar no nosso destino: o campo de futebol do bairro. Caminhávamos literalmente no meio da rua vazia, lado a lado, com os braços encostando vez ou outra. 

Alex ora se afastava, ora se acercava. 

— Tá vindo de onde? — decidi perguntar, devido a maneira com a qual ele estava vestido. 

Alex deu de ombros. — Do serviço. 

Uni as sobrancelhas em confusão. 

— Serviço? 

— É, eu consegui um emprego à noite em um bar — contou, chutando uma pedrinha, com um sorriso mínimo. Trouxe os olhos para mim. — Aquele no centro da cidade, com o desenho de um bruxo na entrada? — questionou, e eu assenti quando me lembrei. — Pois é. Eu anoto pedidos, entrego bebidas, limpo tudo, fecho ao sair. 

Arqueei as sobrancelhas, piscando algumas vezes para processar, antes de me sentir estranhamente desanimado com a novidade. 

Porque eu não sabia. 

— Não sabia — murmurei, os olhos desfocados em algum lugar do ambiente. 

Alex soltou um riso fraco, antes de bater o ombro no meu para me chamar a atenção. 

— Faz pouco mais de um mês, eu quis manter para mim no caso de que não desse certo — esclareceu, com um sorriso mínimo, antes de murmurar, algo ruim parecendo passar pela sua mente: — Não contei a ninguém além de você. 

Desviei o olhar no mesmo instante, sentindo meu coração encher-se de alguma coisa que não pude descrever. Qualquer desânimo ou incômodo desvaneceu no mesmo instante. Mas...

Por que ele estava trabalhando agora? 

Quero dizer, falta pouco para o fim do ano, e faria sentido se ele tivesse passado o ano todo se preparando para quando fosse embora, mas não era o caso. Me doía toda vez que eu pensava nisto, o que me fazia evitar pensar, mas me parecia estranho que ele começasse a trabalhar só agora. 

Por que não antes? Por que agora, em cima da hora? 

Será que ele havia conseguido juntar pouco dinheiro, por causa do violão que comprou e agora estava dando duro para conseguir mais um pouco? 

Nunca vou entender o porquê dele simplesmente não aceitar o dinheiro da família rica dele, ao menos para fugir deles, se é o que tanto deseja. 

Relanceei-o, com receio de perguntar qualquer uma das coisas e acabar ouvindo o que não gostaria. Só então digeri por completo a parte em que disse que eu era o único a saber disto. 

— Seus pais...? 

Alex contorceu o rosto em uma careta desagradada. 

— Vamos ver por quanto tempo consigo escapar escondido até que descubram — brincou, enfim, com um humor sinistro. 

Eu poderia argumentar que ele já é maior de idade, mas conhecendo o Alex, dava para entender que ele simplesmente não queria dividir nada da sua vida com os pais, ouvir suas opiniões ou sequer topar com eles dentro de casa. 

Havíamos chegado no campo de futebol e nos dirigíamos até o nosso banco de pedra, abaixo da nossa árvore. Aquilo encheu meu coração mais uma vez, de maneira que começou a bater com violência dentro do meu peito, e eu tentei disfarçar ao afagá-lo rapidamente. 

Me senti extremamente egoísta por isto, já que, apesar de tudo que sentia, eu não podia ignorar o estado emocional e físico do Alex. 

Havia algo de errado com ele, e não bastaria gênio algum para perceber. Ele era o mesmo, embora uma versão mais deprimida dele, o que acabava sendo diferente. Ele estava mais estranho de um jeito ruim e menos estranho do jeito "Alex" de ser. E também havia algo a mais, alguma coisa fora de lugar. 

Falta alguma coisa, pensei, quando parei para prestar atenção nisto e percorri seu corpo da cabeça aos pés, para que então algo clicasse na minha mente. 

Cadê o cigarro? 

— E o cigarro? — perguntei, logo que percebi que suas mãos estavam contorcidas em movimentos frenéticos, na ausência do cigarro. 

Alex piscou, lento, antes de sentar-se no nosso banco de pedra assim que chegamos. Como de costume, ergueu uma das pernas e sentou-se com uma de cada lado, para que eu sentasse do mesmo jeito, de frente para ele. 

— Não tenho fumado — resmungou, o que parecia explicar o porquê de parecer que ele havia voltado de uma guerra. — Quero parar — contou, e eu senti minhas sobrancelhas erguerem-se até enrugar a testa. 

Quer? 

Um sorriso preguiçoso espalhou-se pelo seu rosto, trazendo um pouco de vida a ele, e eu engoli em seco ao ser pego desprevenido. Com o dedo indicador, me cutucou no peito sem colocar força alguma. — E que fique claro que é por sua causa. 

Me permiti sorrir também, ainda um tanto desnorteado.  

— Sério? 

— Uhum. 

Por quê?, quis perguntar, mas novamente tive medo da resposta. Não importava, porque era bom que ele parasse de qualquer forma, já que eu vi com muitos detalhes o que aquilo estava fazendo com os pulmões dele. 

Em seguida, um silêncio novamente recaiu sobre a gente. Desta vez, um tanto desconfortável, já que não mais caminhávamos e estávamos basicamente nos encarando um ao outro. Ainda assim, eu não me importava. Já fazia tempo que eu almejava nem que fosse um gostinho do tempo que eu costumava passar com o Alex, em toda a estranheza que o envolve. 

E, principalmente, em todo o desconforto que ele me traz. 

Acabei perguntando mais detalhes sobre o trabalho dele, apenas para ouvi-lo falar, já que ele ainda parecia preso em algum lugarzinho em sua cabeça que não o permitia estar aqui por completo. 

Alex suspirou, parecendo um tanto anestesiado, mas respondeu ainda assim. Começou sem dar muitos detalhes, apenas se atendo ao horário que tinha que entrar e sair, e seu trabalho em si. Comentou que seu objetivo inicial era poder fazer trabalho autônomo, tocando e cantando, mas que o bar não queria amadores, já tinham profissionais para isto e só precisavam de ajudantes. Isso não pareceu desmotivá-lo, apesar de eu ver o toque de decepção na voz ao comentar, já que precisava do emprego de qualquer forma. 

Pouco a pouco, começou a lembrar de uma coisa ou outra e a letargia pareceu desvanecer mais a cada relato um pouquinho mais descontraído e verborrágico que o anterior. 

Que bom, porque eu já estava começando a ficar preocupado sendo o que mais fala entre nós dois. 

Tomado de alívio, pude relaxar o tanto que não havia antes devido ao seu estado de espírito, e pude simplesmente observá-lo sem preocupações. 

O problema é que, quando ele engatou no assunto, eu comecei a viajar fundo na maionese.

Era uma confusão mental abstrata sobre o quanto eu me sentia aliviado de vê-lo sair de seus pensamentos ruins, sobre estar tão feliz de me encontrar junto dele no nosso lugar, sobre como ele estava lindo sob toda aquela oscilação escura de luz na rua, sobre como era estranho vê-lo ali sem ter que entrar em um acordo sobre quantos cigarros ele fumaria na minha presença, sobre como eu também não queria entrar no acordo de tempo que ficaríamos ali porque eu não queria ir para casa. 

Eu não queria ir para casa nunca mais. 

Eu queria ficar ali, com ele, para sempre. 

Eu não queria que ele fosse embora. 

Mas então eu sacudia a cabeça, metaforicamente falando, e espantava uma vez mais qualquer pensamento sobre o futuro para focar no presente e no quão perfeito era o momento atual. Por fim, eu voltava a divagar sobre isso e o ciclo da minha confusão mental se repetia. 

Eu estava mergulhado na maionese.  

— O que foi? 

Pisquei, sobressaltando-me ao ver uma curiosidade um tanto divertida nas orbes escuras. 

— Nada — respondi, balançando a cabeça, antes de relancear o campo vazio e escuro, forçando a mente a pensar em algo. — É que eu gosto daqui. 

Não é mentira, tá? 

Eu só ocultei a parte de que eu gosto de estar ali no meio da madrugada com ele, nos nossos passeios aleatórios. E que o lugar por inteiro era um lembrete diário, toda vez que passava ali, do Alex. Não era mais só o campo de futebol do bairro, sequer era isto mais, era o nosso lugar. 

— A gente não jogou mais futebol — comentou ele, dando uma olhada ao redor, como se recém se desse por conta. Então, voltou os olhos para mim. — Você não tem vindo? 

Balancei a cabeça de um lado para o outro. 

— Não — confessei, soltando um riso. — Eu ando sedentário. 

Alex riu, concordando, como se aquilo fosse fácil de acreditar. Mas o sorriso se desfez aos poucos quando uma ruga se fez presente entre as sobrancelhas escuras. Arqueei as minhas, sob o olhar curioso dele, sem conseguir interpretar o que parecia se passar pela sua cabeça. 

— Então você não vem mais aqui? — pergunta, por fim, com certa intensidade. 

Engoli em seco, a pulsação do coração gritando no meu ouvido, e ponderei se ele também podia escutar no silêncio da madrugada. De alguma forma, no entanto, eu fui incapaz de desviar os olhos dos seus. 

Neguei, aquietado. 

— Só vem quando é comigo — deduziu ele, novamente, e eu reprimi a vontade de me encolher devido ao arrepio que subiu pelas minhas costas. 

Pisquei, sem saber exatamente como reagir, mas Alex riu logo em seguida. Era como se quisesse aliviar o constrangimento que ele próprio gerou, como se um riso o lavasse com sua destreza. Então, assentiu, como se não precisasse de uma resposta. 

Sinceramente, eu não me importava. 

Eu senti falta disto também.  

— É — murmurei, levando uma mão para o casco da árvore que nos cobria com sua sombra —, só venho com você. 

Puxei uma casquinha dela, como se fosse a coisa mais interessante do mundo, mas me recusei a encará-lo. Soube, ainda assim, que aquilo havia o surpreendido, a julgar pelo tom de sua voz. 

— É mesmo? — perguntou, mas não esperou uma resposta. — Então talvez gosta daqui porque só vem comigo? — brincou, com um riso divertido, ao cutucar meu tênis com o seu algumas vezes para chamar meus olhos para ele. 

Sorri, porque não tinha como não sorrir quando ele dava uma de engraçadinho, e olhei para ele como me era pedido via cutucadas de tênis. Só que, brincadeira ou não, ele havia acertado na mosca. E talvez no fundo ele soubesse disto, ou apenas desconfiasse, ou quisesse jogar verde para saber. 

Talvez jamais tenha acreditado nas minhas palavras, por estar escrito na minha cara o quanto eu gosto dele - provavelmente desde que o conheci - e não havia como negar isto nem se eu tentasse. 

E, por um instante, eu desejei que assim fosse. 

Antes que eu confirmasse, no entanto, alguma coisa perturbada pareceu cruzar à sua mente mais uma vez e ele perdeu qualquer resquício de sorriso. Inclinou-se para frente, uma ruga preocupante entre as sobrancelhas, e certificou-se de que eu estivesse olhando para ele porque aquilo era importante. 

— Então você tem que continuar vindo aqui mesmo quando eu não estiver mais por perto. 

Franzi o cenho, qualquer coisa que ocupasse minha mente desvanecendo no mesmo instante para processar aquela frase. Não havia sequer uma parte bonita nela. 

Aquela devia ser a sentença mais detestável da história. 

Mesmo assim, me esforcei a questionar: — Por que diz isso?

Alex dá de ombros, como se aquela fosse a coisa mais trivial do mundo.

— Me passou pela cabeça agora — diz, com tanta leveza que eu podia ter acreditado. — Não quero que deixe de ir a lugares que gosta só porque te lembram de um bobão como eu — brincou, mas eu não achei graça. 

Se possível, vinquei ainda mais a testa, sentindo as dobrinhas dela como se minha mão estivesse ali. Não era para menos, com aquele tom estranho de despedida de sua voz e as palavras ridículas em acompanhamento. 

Eu sei que ele vai embora, reforcei a mim mesmo, mas não é como se fosse amanhã. E também não era para ser como se requeresse uma despedida dramática dessas, como se eu jamais fosse vê-lo de novo, como se ele estivesse prestes a morrer. 

Credo, Alex! 

— Só não venha de madrugada — acrescentou, alargando os olhos —, porque é perigoso. — Estreitei os olhos, pensando que sempre que viemos estávamos aqui de madrugada. — Sem mim — esclareceu, com um sorriso, quando percebeu o que eu pensava. 

Torci o nariz para a piadinha, mas não soube como reagir de verdade, e logo ele engatou outro assunto como se nada tivesse acontecido. Fez mais alguma brincadeira boba, provavelmente tentando arrancar algum sorriso do meu rosto preocupado, e como este era o Alex, eu acabei cedendo. 

Por dentro, no entanto, eu comecei a sentir aquela sensação ruim a qual eu já estava familiarizado, como se alguma coisa torcesse os meus órgãos e jogasse o coração para o lado contrário do peito. E, quando eu cheguei em casa naquela madrugada, duas horas depois de sair, a mesma sensação persistiu a ponto de me impedir de cair no sono novamente. 

*

Eu quis me convencer que aquele era apenas o lado melodramático do Alex, muito parecido com o do primo dele, e que não queria dizer nada demais. Quis me convencer de que ele só estava feliz também por estar ali comigo e, de alguma forma, quis eternizar isso tanto quanto eu. 

Só que o dia seguinte me provou do contrário. 

Sentado no chão de pedra do pátio, Alex mexia nos cabelos lisos da Mary Jane, que estava deitada parcialmente na sombra com a cabeça em seu colo. Ele estava estranhamente quieto, fora algumas intromissões nas conversas alheias, apenas observando a interação de todos.

Aquilo trouxe um comichão ao meu estômago, e minha pele coçava ao imaginar o que estava acontecendo. A conversa de ontem ainda dava voltas na minha cabeça, embora eu não conseguisse prestar atenção nos meus próprios pensamentos ou sequer no próprio Alex, porque Bex não permitia.

Suspirei, focando nos olhos castanhos ao meu lado.

— O que foi? — perguntei, alternando o olhar entre Bex e Mason, ambos esperando por algo de mim.

Bex havia, nos últimos tempos, basicamente adotado a mim e ao Mason. Adotar - era essa a palavra usada pelo grupo, visto que éramos mais novos e mais miúdos comparados a Bex, e ao fato de sermos carregados por aí, um em cada braço firme do indivíduo que agora sentava entre nós dois no chafariz.

— Você não tá prestando atenção em nada hoje, Caleb — acusou, franzindo o cenho, ao mexer nos meus cabelos. — Onde tá a sua cabeça? 

Instintivamente, acabei olhando para onde Alex estava sentado, pego desprevenido pelos olhos negros. Alex arqueou as sobrancelhas, piscando algumas vezes em surpresa, como se esperasse por algo mas não soubesse pelo que esperar. 

Pudera, eu estava encarando-o, não é? 

Desviei os olhos de volta para Bex praticamente ao mesmo tempo que ouvia um "hum" de sua parte, como se eu houvesse respondido, de fato. Os olhos gentis acima das bochechas proeminentes pareciam saber mais do que eu próprio, um tanto perturbador mas também acolhedor. 

Engoli em seco, afastando os pensamentos. 

— O que você disse? 

Bex suspirou, relanceando Mason ao seu lado, que ajeitava os óculos e também parecia esperar uma resposta, menos paciente que a pessoa que me encarava. 

— Sugeri uma festa do pijama — explicou Bex, pacientemente, obtendo um aceno de Mason. 

Franzi o cenho. — Quantos anos você tem?

— Ora ora, ancião — brincou, puro deboche, ao me olhar de cima abaixo. Fiz uma careta, e logo os olhos castanhos focaram no garoto ao seu lado. — Mason, existe idade para festa do pijama? 

— Não.

Bex voltou-se para mim, dando de ombros. — Viu só?

Suspirei, inclinando o corpo para frente para poder enxergar melhor o meu amigo, cuja mesma careta inexpressiva se fazia presente no rosto delgado. 

— Maze, quando foi a nossa última festa do pijama? — argumentei, relanceando Bex, sua vez de revirar os olhos. 

— Nunca tivemos.

Dei um sorriso de canto, observando sua reação. — Viu só?

— Mas achei a ideia muito interessante — continuou Mason, bastante sincero, ao parecer analisar a situação. — Bex disse que podíamos incluir sessão de jogos, para todos. 

Traidor! 

Bex soltou uma risadinha orgulhosa, assentindo para o loiro de forma mecânica, como professores fazem com os alunos exemplares que sentam na primeira cadeira da classe e respondem todas as perguntas corretamente. 

— Sabe — murmurou, a voz cheia de crítica —, acho que agora entendo a preferência de alguns pais por um filho em específico.

Revirei os olhos, mas Bex apenas riu, enquanto Mason também parecia achar graça da minha situação. 

Antes que eu pudesse processar uma resposta, a gargalhada de Ian juntou-se à de Bex, mesclando-se com a de Korn. Foquei meus olhos neles, perpassando-os por Alex, mas ele também havia focado sua atenção acima, aos dois rapazes em pé ao seu lado. 

Desde que Dan passava mais e mais tempo com Grace, Korn havia se aproximado mais do Ian, embora eles sempre teham se dado bem. Korn era mais velho, mas parecia ter a mesma paciência de seu amor para lidar com Ian, se propondo a rir das piadas ridículas dele. 

Isso é que é amigo! 

Bex estalou a língua ao meu lado. 

— Eu poderia dizer que marquei uma festa do pijama com dois bonitões — fala, apertando a bochecha de cada um de nós, antes que eu pudesse desviar, com cada uma das mãos — e ele nem perceberia. 

Desvencilhei-me logo após, mas Mason não pareceu se incomodar. Apesar dele viver em uma bolha com Cristina, quando ela faltava aula como no dia de hoje, ele não ficava isolado e continuava tranquilo da mesma maneira de sempre. 

— Seu primo roubou meu namorado — acusou Bex, para o Alex, e eu foquei a atenção neles. 

Alex deu de ombros, enquanto Mary Jane ria, olhando-o de baixo. 

— Não posso fazer nada — defendeu-se, embora tudo na voz dissesse que também não queria fazer nada a respeito. Então, soltou um risinho. — Só tenho a agradecer que ele desgrudou um pouco de mim. 

Em seguida, um peteleco tão delicado quanto a criatura que o desprendia, acertou a cabeleira escura do Alex. Ele resmungou em resposta. 

— Eu ouvi isso, tá? — reclamou Ian, torcendo o nariz. 

— Uau, que audição seletiva! — debochou Alex, esfregando a cabeça, ao se referir ao fato de que ignoraram quando falavam deles. 

— Ainda bem, né? — brincou Korn, cutucando-o, e Ian fez uma careta em resposta. 

Pisquei, tentando entender a que ele se referia. 

Desanimado, Ian olhou ao longe, onde Grace e Dan estavam perdidos em uma conversa, separados da gente hoje. Haviam ido comprar um lanche, mas nunca voltaram completamente, ainda em pé próximos da cantina, de onde podíamos vê-los e ouvir quando falavam em um tom mais alto. 

Eu não havia percebido até agora, porque minha atenção estava em outro lugar. 

— Ian, vem cá — chamou Alex, puxando-o pela mão e, quando ele tentou desvencilhar-se, segurou-o com mais força. — Você é um bobalhão.

Ian revirou os olhos, com uma careta, soltando-se. 

— Você que é!

Alex soltou um riso descrente, estalando a língua. 

— Viu só? — apontou, como se Ian acabasse de confirmar o que ele dizia, e ele confirmara mesmo. — Quero dizer que você é muito transparente, então não é difícil de qualquer um aqui saber como você se sente — conta, girando o dedo indicador entre todos nós. Como se não bastasse, nos dirige um olhar: — Não é?

Pisquei, relanceando os demais. 

Não é que fosse mentira, aliás, era a nua e crua verdade. Só que a insegurança no olhar do Ian, ao nos olhar com confusão e receio, parecia esclarecer que talvez não devêssemos ser tão diretos sobre isso com ele. 

Alex não pareceu se importar. 

— Você acha que disfarça, mas todo mundo aqui sabe — expôs, dando de ombros, e ele não precisava especificar para que todos soubéssemos do que exatamente ele falava. 

Ian torceu o nariz, com uma expressão interrogativa. — Cala a boca. Por que tá dizen...?

— Não me interrompe quando tô falando — fala, feito um pai, o que causou risos em MJ e em Korn. 

Eu estava muito perdido no que estava acontecendo, tão confuso quanto Ian estava, para rir. 

Qualquer vestígio de brincadeira em sua última fala pareceu desvanecer quando ele olhou para cima, captando total atenção do primo, para falar. Desta vez, sua expressão estava totalmente séria e decidida, embora o tom fosse um tanto ameno. 

— O que quero dizer é — continua, firme —, mesmo que você seja transparente, isso não significa que não tenha que dizer as coisas em voz alta. Se você sente alguma coisa, você tem que falar. As pessoas pelas quais você sente alguma coisa — murmurou, vago, embora soubéssemos que essas pessoas era uma pessoa só com nome e endereço —, elas podem desconfiar, mas elas só vão saber de verdade se você deixar isso claro. E se você não se expressar, alguém mais vai fazer isso no seu lugar, e você vai ter perdido algo muito bom por motivo bobo. Se você ama alguém, Ian, você tem que expressar. 

Um minuto inteiro pareceu passar, em silêncio, enquanto eu via todos se entreolharem com confusão, admiração ou diversão, pelo que havia acabado de acontecer. 

Aquilo havia sido direcionado ao Ian, mas havia atingido a mim. 

Engoli em seco, sentindo o coração bater com rapidez pelo nervosismo, sentindo um calafrio percorrer minha coluna. Me encolhi pelo arrepio, vendo Bex relancear-me rapidamente, antes de voltar a atenção ao Alex. 

— Bicha, mas você é filosófica, hein? — soou sua voz, em seguida, quebrando a tensão do momento. 

Ouvi as gargalhadas, vendo que Alex saiu de sua postura séria para rir também, ao passo que Ian parecia desconfortável e um tanto envergonhado pela exposição. 

Eu não conseguia achar graça.

Ao mesmo tempo em que eu me sentia pessoalmente atingido pelas suas palavras, eu também percebia que aqueles conselhos ao Ian soavam tão esquisitos quanto o que eu ouvira na madrugada passada. Era quase como se ele quisesse deixar dito todas as coisas importantes, porque não tinha tempo para pronunciá-las mais tarde. 

Soavam como uma despedida, e nada conseguia tirar isso da minha cabeça, ou do âmago do meu ser, que se contorcia agonizadamente. 

— Muito obrigado — agradeceu Alex, pelo elogio, ao soltar um riso e fazer uma reverência rápida. 

— Louco de pedra, sim, mas um louco coerente — acrescentou Mary Jane, depois de voltar a sentar ao lado dele, erguendo os cabelos com uma presilha. 

— Ouça seu primo — aconselhou Korn, passando um braço em torno dos ombros de Ian —, isso aí é praticamente conselho de mãe.

Ian deu um peteleco no braço dele, fazendo-o rir. 

— Os filhos saem do ninho, você sabe, e a gente tem que orientar — continuou Alex, forçando a postura teatral de mãe, ao dar de ombros. — Não vamos poder estar sempre lá por eles. 

Estreitei os olhos pela escolha de palavras, percebendo que desta vez, Mary Jane não havia dado risada como os demais, mas dirigido um sorriso caridoso para o Alex. 

— Deixa de ser ridículo, Alex! 

— Quando você tiver mais velho, vai me agradecer.

O som ensurdecedor do sinal soou logo que a voz do Alex sumiu, e todos levantamos em seguida, mas eu não conseguia prestar atenção em nada além dele.

Sentia que o tempo passava rápido demais e que devia esperar um pouco por mim. 

Os dois, feito os siameses que Ben e Jake costumavam ser, levantaram-se ao mesmo tempo e trocaram um olhar compreensivo. Mary Jane deu uma apertadinha incentivadora em seu braço, e ele sorriu para ela, sem muita alegria, antes que se colocasse a segui-la para a sala de aula. 

No entanto, antes que ele se dirigisse para qualquer lugar, agarrei seu pulso com força desmedida. Alex virou na minha direção, arqueando as sobrancelhas pelo aperto, mas não o soltei. 

— Quando vai embora? — perguntei, tentando controlar a voz, e ela saiu baixa.

Alex piscou algumas - muitas - vezes, e soltou um riso sem graça, como que para disfarçar. — O quê? 

— Você sabe do que eu tô falando — acusei, entredentes, já que a reação dele havia confirmado o suficiente. — Você tá planejando ir mais cedo, e eu quero saber quando. 

Alex balançou a cabeça de um lado para o outro, e abriu a boca para negar também, mas só pôde deixar escapar um suspiro derrotado. Soltei seu pulso, vendo-o deixar os ombros caírem e esfregar o topo do nariz, parecendo exausto.

— Não é assim — tentou, quando finalmente pousou as orbes escuras em mim.

— Não? — perguntei, debochado, em um fiapo de voz. — É exatamente o que parece!

Alex negou mais uma vez, dando um passo na minha direção, olhando-me nos olhos.

— As coisas estão ficando muito difíceis lá em casa — murmurou, enfatizando o tanto. — Ficar esperando pelo fim do ano letivo vai me deixar louco. Eu não aguento mais, Caleb, eu só quero ser livre — sussurrou, o que eu já havia ouvido várias vezes, tentando aliviar um tanto da gravidade do que dizia ao dar de ombros e forçando um sorriso infeliz. — Você sabe disso. 

Eu já sabia o que estava prestes a ouvir quando o indaguei, mas ainda assim, não estava preparado para a confirmação daquilo que estava me comendo por dentro pela vaga e mera possibilidade.

Aquela mesma possibilidade, agora, havia se transformado em verdade.

Dei um passo para trás, como se ele tivesse socado meu estômago, e senti como se o tivesse feito mesmo. Sentia como se o chão abaixo dos meus pés houvesse sumido e que o mundo estivesse em colapso à minha volta, e nem a mais mínima discrição do que eu sentia pareceu ter importância. 

Ele vai me deixar. 

— Você vai nos abandonar — sussurrei a acusação, a mente anuviada.

Minha voz soou emotiva demais, até mesmo para mim, e assim que sua expressão mudou para uma misericordiosa, eu soube que havia falado sem pensar. Senti a raiva defensiva retornar com tudo, feito uma barreira que jamais devia ter caído, ao passo que o via tentar consertar a situação. 

— Não — sussurra, de volta, também sem parecer pensar. — Não, eu não vou — repete a mesma mentira, mais firme, ao balançar a cabeça de um lado para o outro. Era o que sua voz dizia, mas os olhos pareciam saber que aquilo não era totalmente verdade, e eu também. — Eu... Olha, não é como se eu não fosse me despedir — tentou, mas eu já negava o que quer que ele dissesse.

Fechei as mãos em punho, querendo enfiar uma na cara de pau dele, mas me contive. Sacudi a cabeça de um lado para o outro, como se meu próprio corpo rejeitasse as mentiras, feito um vírus que houvera viajado até mim pelas vibrações de onda de sua voz. 

— Eu me importo o caralho com tua despedida — grunhi, magoado, antes de pôr os pés a me afastarem o máximo que podia dele.

Sua mão me impediu antes que o fizesse, mas eu me recusei a voltar a olhar na sua cara. Enxerguei a Mary Jane, que eu não havia visto estar próxima, assistindo tudo com olhos piedosos, e a odiei por isso. Ela era cúmplice dessa ideia ridícula, estava ciente dela e ainda a apoiava. 

— Caleb, eu não vou te abandonar...

Sua voz soou um tanto desesperada, mas isso só confirmava a mentira, junto da falha nela. Trinquei a mandíbula, puxando o braço e forçando-o a me soltar, antes de girar nos calcanhares e encará-lo com tanto ódio quanto pude acumular. 

— Você não vai me abandonar? — repeti, desgostoso, ao soltar um riso nada feliz pelo nariz. — Que engraçado! — exclamei, debochado, antes de estalar a língua. — Só te digo duas coisas, Alex: primeiro, se você for embora, eu não vou me sentir abandonado — menti, com tanta firmeza quanto consegui. — Eu não sou nada seu. E segundo, você vai ir, sim, embora. Tá falando sobre isso desde que chegou aqui!

Era absurdo que ele sequer tentasse negar algo que vem afirmando praticamente todo dia feito uma sentença de anos atrás. Ele nunca teve dois pés aqui em Hybridfield, um sempre esteve em Mallow Coast para que voltasse. 

Eu não estava nada tranquilo com a ideia dele ir embora, mas eu sabia que isto era problema meu e não tinha nada a ver com ele. Só que ir embora antes do tempo era como se quebrasse uma promessa, quebrasse o que foi planejado, nos deixasse na mão. 

Soava e reverberava em mim, sim, como um abandono

Alex abriu a boca, mas não deixei-o mentir mais.

— E terceiro — acrescentei, ignorando o quanto eu soava tolo —, eu não me importo!

Dei as costas, sem esperar que ele respondesse, marchando em direção à minha sala de aula e deixando-o lá. Não antes, porém, de dirigir um olhar enraivecido para a sua cúmplice. 

Um nódulo estava entalado na minha garganta, dificultando até mesmo a simples arte de respirar.

Alguém devia ser o culpado disso.

*

Ele não pode fazer isto comigo. 

A mesma frase repetia-se na minha mente, ecoando de novo e de novo, como se Alex estivesse, de fato, me agredido. Como se ele houvesse, propositalmente, puxado o tapete debaixo dos meus pés e gargalhado da minha desgraça logo em seguida. 

Porém, era inevitável que a compreensão recaísse sobre mim de que aquilo não era pessoal, não era proposital, não era algo que ele estivesse fazendo contra mim. E tampouco era sua culpa que suas ações me afetassem, quando eu sequer gostava de admitir que o faziam. 

E, por mais dolorido que fosse, a pergunta já não mais era "por que ele me colocou nesta posição de novo?", ao invés disto, era destinada a mim: por que eu me coloquei nesta posição de novo? 

Mais uma vez, eu o assistia ir embora quando tínhamos pouco tempo juntos. Mais uma vez, o tempo escorria pelos meus dedos, e ele era puxado para longe de mim. Mais uma vez, aquela agonia se repetia. 

E eu sequer podia culpá-lo. Alex sempre foi consistente sobre ir embora, e eu sempre fui consistente sobre querer que ele fique comigo, então deveria ser eu a fazer as coisas de maneira diferente. 

Eu ganhei um ano com ele, não foi? E por que eu não o aproveitei? Por que é que eu me encontro na mesma posição que estava no ano passado?  

O gosto amargo na minha boca era insuportável, como se eu houvesse apodrecido por dentro e esquecido de cair morto. Essa sensação não estava aqui no ano anterior, ou melhor, era mínima comparada a agora. Eu estive sofrendo pela partida dele antes, obviamente, mas havia essa possibilidade de eu encontrar uma maneira de lidar com isto uma vez que ele estivesse longe. Neste ano, parece que essa maneira sequer existe. 

Eu estraguei tudo.

Agora o Alex não só ia embora antes do previsto, como ia embora antes do previsto em um ano que havia sido horrível para a gente. Não haviam memórias boas, porque todas elas eram manchadas por emaranhados de sentimentos confusos e intenções questionadoras. 

Como eu pude ser tão idiota? 

Eu recebi um ano a mais com ele, como um brinde que eu sequer merecia, e eu não aproveitei nada. Eu havia sido pior do que criança mimada que recebe diversos presentes caríssimos de aniversário e ainda faz birra porque não era o que queria. 

Quero dizer, o que mais eu poderia querer? Além de tempo com ele? Além dele próprio? 

Eu tive sorte, apoiado no azar do Alex, ao mantê-lo comigo no ano passado, mas eu não teria sorte mais uma vez. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar*. 

Alex tem estado em um lugar ruim na mente dele esse tempo todo, e eu estive com tanta raiva do que sinto e como ele responde a isto que não estive em um lugar tão diferente na minha. Os dias, as semanas, os meses se passaram, e nenhum de nós saiu de dentro das nossas próprias melancolias. 

Um ano a mais com o Alex e a gente o passou inteirinho brigando. 

Dói, pensei, ao dar-me por conta dos meus próprios erros. 

Esfreguei o rosto, querendo impedir à todo custo que qualquer lágrima miserável caísse, mas eu ainda estava engasgado. Eu sentia meu coração diminuir de tamanho no peito, encolhendo-se como eu tentava fazer com meu corpo para diminuir o impacto da dor. 

Cheguei do colégio e não consegui engolir uma garfada de comida, deitei mas não consegui descansar por um segundo. Tentei desenhar, escutar música, fazer minhas tarefas do colégio, rabiscar meu caderno, mas não havia inspiração alguma. 

A inspiração para tudo o que eu fazia me abandonaria. 

Larguei de mão as tentativas frustradas de manter minha mente ocupada, ao passo que os minutos voavam naquele início de tarde. Comecei a caminhar de um lado para o outro, encolher-me em um canto, voltar a levantar-me, deitar na minha cama abraçado em Waltney, encarar a constalação sem vida nas minhas paredes. 

Meus olhos focaram no meu presente de aniversário, em minha mesa, e eu caminhei até ele. 

Alex havia me entregado aquilo no domingo que completei quinze anos, quando veio aqui em casa, antes do próximo sábado desastroso em que nos beijamos. Era uma luminária branca em forma de violão, um pouco maior do que minha mão aberta, de um material borrachudo. Não parecia ser grande coisa, mas a luz que emitia quando estava totalmente carregada era impressionante. 

Toda vez que eu a ligava, para desenhar ou fazer as coisas do colégio, eu sentia que não só iluminava meus cadernos, como aquecia meu coração de uma maneira estranha. 

O que eu tenho a ver com violões, não é mesmo? 

Alex não se importou com o fato, entregando nas minhas mãos algo que, toda vez que eu visse, me lembraria dele. E ele o fez com um sorriso de orelha a orelha, sem pensar duas vezes, sem resquício de constrangimento, sem sinal de querer dar para trás. 

Mas de que adianta lembrar dele, se ele não mais estiver aqui?

Fechei as mãos em punho, sentindo-me tão... 

Reconheci de imediato o sentimento amargo que parecia queimar meu estômago e, junto dele e tão próximo, o meu coração: aquela era a agonia. Quando você joga veneno na pobre da barata e ela não consegue escapar seu destino, mas também não consegue acelerá-lo e tem que assistir a si própria morrer em câmera lenta. E tal qual o inseto, eu me contorcia ao visualizar a imagem do Alex escapando por entre meus dedos mais uma vez, sentindo-me impotente e um tanto culpado. 

Eu não posso simplesmente ir até lá e...

Voltei a sentar-me no chão e trouxe os joelhos até meu peito para ver se aliviava um pouco o revirar do meu estômago. 

De que adianta ir até ele agora? 

Eu já havia desperdiçado o ano todo, e agora pensava que podia mudar as coisas logo antes dele ir embora, feito um idiota. Eu tive diversas chances para aproveitar meu tempo com ele, lado a lado, como havia aproveitado os primeiros anos. Foram várias as vezes em que eu podia ter aceitado essa segunda chance para fazê-la valer a pena, durante o ano todo. Mas, se eu não havia feito nada disto durante o ano todo, não tinha sentido em fazer agora. 

Só tornaria tudo mais dolorido. 

E, afinal, como é que eu faria isto? 

Algumas coisas simplesmente não são consertáveis. 

Mas...

Bastou um questionamento pequeno, um sussurro próprio que reverberava na minha cabeça, uma parte de mim que ainda resistia à minha desistência. Enquanto um lado ganhava em peso nos repetidos "e se der tudo errado?", o outro lado, aquela minúscula parte de mim, foi coerente em apenas uma frase cujo questionamento baixo soou como um sussurro. 

O que eu tenho a perder?

Foi o que bastou para que ganhasse aquela discussão interna. E se isto não era prova do tanto que eu queria ir atrás dele, agarrá-lo pelo colarinho e ordená-lo a ficar aqui pelo máximo de tempo possível, bem ao meu lado, eu não sei o que era.  

Se eu o perderia de qualquer forma, não existe motivo para deixar que ele vá para longe enquanto as coisas estão assim. 

Levantei do lugar com o intuito de marchar até a casa dele, ignorando o estômago revirado, e calcei meus tênis surrados. Enfiei o celular e a carteira nos bolsos da calça e saí do meu quarto com tanta pressa que tropecei nos cadarços esquecidos do que calçava. No intervalo de tempo para dar um nó em cada um deles, minha atenção focou na minha mesa de estudos, e eu agarrei o caderno antes de sair. 

Comecei a questionar minha própria decisão, mas não dei espaço para mudar de ideia. 

Minha cabeça girou do caminho daqui até ele em torno de pensamentos embaralhados e infinitas perguntas sem resposta como, por exemplo, o que eu deveria dizer quando chegasse lá. Minha mente sequer registrou os rostos que encontrei no caminho, se havia pagado certo para o cobrador de ônibus, se havia descido no ponto correto ou como sequer cheguei lá. 

No fundo, a frustração de ter que passar por aquilo porque o Alex é tão malditamente apressado para nos abandonar só me deixava com raiva. 

E foi com raiva que abri a porta do seu quarto. 

Novamente, minha mente mal registrou como cheguei ali e o que exatamente havia dito para a empregada que me deixou entrar. Mas quiçá os acontecimentos registrados começassem com o sobressalto dele ao me ver, que provavelmente ficaria tatuado na minha memória. 

Alex estava sentado no tapete preto do quarto, os cotovelos apoiados nos joelhos e as costas apoiadas na mesa de estudos. Um dos braços estava caído, tão desanimado quanto ele parecia estar, enquanto o outro segurava um isqueiro cujo fogo se apagou assim que ele deixou de pressioná-lo ao me ver.

Não havia cigarro algum perto dele, o que fez parecer que ele estava muito ocupado, sem nada fazer, realmente encarando o fogo feito um lunático. 

— Caleb... 

Eu podia sentir minha própria mandíbula cerrada, assim como minhas mãos, uma dela ainda envolta no caderno de desenhos. Pensei no que dizer, mas nada saía dos meus lábios pressionados. 

Alex piscou algumas vezes, confuso, antes de largar o isqueiro de lado e fazer menção de se levantar: — Caleb, o que você...

— Eu te odeio. 

Antes que eu percebesse, interrompi ambos sua fala e seu movimento, visto que ele estancou no lugar quando viu o caderno de desenhos voar para os seus pés ao mesmo tempo que minha voz finalmente reverberava no seu quarto. 

— Se você for embora antes do tempo, eu juro que nunca vou te perdoar — grunhi, em uma promessa irritada. 

Percebi que ele juntou o caderno com confusão e começou a folhear as páginas receosamente, alterando o olhar entre mim e o que via, a expressão cada vez mais surpresa. Mas minha mente estava focada demais no que diria a seguir para digerir cada uma de suas expressões. 

— Eu juro que eu vou te odiar para sempre se você tirar esse tempo de mim — continuei, enxergando vermelho, tentando demonstrar o máximo de raiva que conseguia para passar a gravidade da situação. Mas o Alex ergueu os olhos para mim, mudando de expressão a tempo de eu perceber o que havia dito. — Da gente — corrigi, a voz trêmula, tarde demais. — A gente não tem nem três meses antes de você ir embora e você quer cortá-los dos planos. Cadê seu senso de responsabilidade? — ralhei, mas ambos minha voz e meu corpo não passavam firmeza alguma. — Como eu vou...? 

Eu pude vê-lo engolir em seco ao mesmo tempo em que eu o fazia. Pisquei, desviando o olhar para a minha volta, sem nada ver. 

— Como a gente vai lidar...? — corrigi, mais uma vez, mas a remenda soou tão patética que sequer consegui continuar. Abri e fechei a boca mais algumas vezes, mas eu soava tão ridículo que minha consciência não me permitiu afundar mais na vergonha. 

Eu sentia meu próprio corpo tremer de maneira que, se eu não estivesse com as mãos fechadas em punho, elas balançariam mais do que minha instabilidade emocional. 

Atrevi-me a olhá-lo mais uma vez quando ouvi só silêncio, vendo que Alex balançava a cabeça de um lado para o outro em descrença, os olhos presos no caderno que encarava.

Desci os olhos para este, engolindo em seco mais uma vez. A página aberta continha a silhueta dele na minha janela aberta pela metade, a mesma silhueta escurecida pela madrugada que eu sempre via quando ele me acordava sem entrar no quarto e me esperava do lado de fora. 

— Pensei que não gostasse de mim — sussurrou, com um tom de carinho e de tristeza, ao mesmo tempo. 

Quando ergueu as orbes escuras e as focou em mim, eu soube que estava tão exposto quanto estaria caso estivesse desprovido de roupas. Engoli em seco, sentindo um calafrio subir minha espinha ao mesmo tempo que sentia a tremedeira perfurar o exterior do meu corpo fraco e alcançar meu coração, mais debilitado ainda. Ao menos, era assim que eu imaginava. 

Por que outro motivo eu me sentiria afetado o suficiente para lacrimejar? 

Neguei, mais uma vez, embora nós dois soubéssemos que era inútil. 

— Não gosto — tentei, em nada mais que um fiapo de voz, balançando a cabeça de um lado para o outro. 

Alex suspirou, largando o caderno ao lado de seu isqueiro antes de finalmente levantar-se. Havia uma estranha piedade nos buracos negros que me encaravam de volta, como se tivesse dó de mim, mas também como se me entendesse. 

A tremedeira, dessa vez, concentrou-se no meu lábio inferior e eu senti, antes que pudesse processar, quando uma lágrima caiu do meu rosto. Aquilo me fez recuar dois passos, na defensiva, assim que ele andou os mesmos na minha direção. 

Ele inclinou o rosto para o lado, parecendo frustrado com minha reação.

— Caleb...

— Não gosto — firmei, limpando o rosto com brusquidão, ainda que minha voz soasse embargada feito uma criança. 

Minha cabeça estava uma confusão tão emaranhada quanto o que eu sentia e, de súbito, a porta atrás de mim pareceu tentadora. 

É ridículo, pensei, como tudo isso é ridículo! 

Evidentemente, vir até aqui havia sido uma decisão racional da minha parte, embora impulsiva. Eu quis vir até aqui e fazer esse papel de palhaço ao pedir que ele ficasse comigo tempo suficiente para que eu pudesse corrigir o ano todo. Inclusive, havia trazido a maior prova do que eu sentia por ele comigo, nas minhas mãos, e as joguei para ele de bom grado. 

Ainda assim, por que eu era tomado por essa ridícula e incontrolável vontade de correr porta afora? 

Dei mais um passo atrás, sob os olhos atentos de Alex, mas ele foi mais ágil. Como se pudesse ler a minha mente, fechou o espaço entre a gente mais rápido que a duração de um suspiro. 

Antes que eu pudesse processar, senti ambas as mãos em meu rosto, acariciando minhas bochechas com leveza. Prendi a respiração, sendo engolido pelos olhos pretos que não haviam deixado os meus em instante algum, sentindo meu coração bater com tanta força no peito que podia escutá-lo. 

— Caleb... — sussurrou, com tanto carinho que eu tive que quebrar o olhar, baixando a cabeça, para não chorar. — Você gosta. 

A urgência em abortar a missão ainda estava ali, mas estava sendo abafada pesadamente pelo deleite de estar em suas mãos novamente. Estar em suas mãos, sob seu cuidado, à sua mercê. 

Aquilo era tão assustador que eu queria me deitar com os joelhos no peito para que me sentisse seguro outra vez. Eu queria correr na direção contrária, voltar para o meu quarto, sob minhas estrelas desenhadas, colocar uma música tão alta que retumbasse na minha cabeça e abraçar meu travesseiro até que pudesse respirar novamente. 

Eu quero tanto...

Senti-o limpar minhas lágrimas, com delicadeza. 

Mas eu também quero...

Eu também queria a inseguração de estar ali, de pular de bungee jump com tanta audácia quanto Alex pulava, sem pensar duas vezes e sem olhar para trás. Eu queria a dormência de qualquer dor em todo lugar que ele tocasse, e o silêncio da gritaria mental que seu abraço trazia, e a sensação morna do seu olhar. 

Eu podia ver meus tênis surrados e já envelhecidos em contraste aos pés descalços dele no tapete preto felpado de seu quarto, como uma ironia confirmativa do que eu pensava. 

Alex é sempre tão vulnerável e exposto, algo que eu admirava mas que, ao estar na posição dele, odiava a sensação. 

Ainda assim, eu tentei provar um pouco da sua valentia, a começar com sustentar a escuridão de seu olhar. Ergui os olhos marejados para ele, sentindo-o limpar mais uma vez o meu rosto com tanta ternura quanto a que eu podia enxergar, agora, em seus olhos.

Um segundo olhando-o nos olhos havia se passado e eu já me sentia em pedaços. 

— Caleb — sussurrou, mais uma vez, e podia jurar que seus olhos sorriam. — Eu gosto de você também. 

Como se possível, senti meu corpo tremer ainda mais, como se eu tivesse febre. Meu coração certamente parecia emanar a mesma quentura para todo o meu corpo, enquanto meus lábios também tremulavam em resposta às lágrimas que meu corpo não parecia querer parar de produzir. 

Mais uma vez, ele as limpou por mim, sem jamais deixar de acariciar meu rosto.

Pisquei, sentindo o coração querer explodir, quando ele aproximou-se ainda mais ao deixar um beijo em cada uma das minhas bochechas úmidas. Fechei os olhos, derrotado por completo, sentindo-o beijar a ponta do meu nariz em seguida com semelhante doçura. Então, roçou o próprio nariz no meu, antes de passar quase um minuto inteiro só com os dedos acariciando meus cabelos. 

Abri os olhos, na necessidade de enxergar o que estava acontecendo na ausência da minha visão, mas isso parecia ser exatamente o que Alex esperava que eu fizesse. Senti as pernas fraquejarem ao vê-lo tão de perto, e pude jurar ver o canto de sua boca subir antes que ele selasse nossos lábios em um beijo salgado. 

Fechei os olhos novamente, desta vez, levando ambas as mãos para as laterais de seu corpo ao sentir meus joelhos oscilarem. 

Seus lábios se moveram com uma delicadeza torturante, deslizando-os sobre os meus antes de firmá-los uma segunda vez. Encaixou-os como peças de um quebra-cabeça, até que eu sentisse sua língua quente na minha, permitindo que cada célula do meu corpo derretesse ali mesmo. 

Alex me abraçou e eu imitei o movimento, agradecendo internamente, porque eu precisava de algo que sustentasse meu corpo no lugar antes que eu me juntasse ao chão. Não que importasse, visto que cada movimento das nossas línguas me fazia sentir cada vez mais semelhante a uma gelatina. 

É só um beijo, quis me convencer, e nem é o primeiro deles. 

Mas era diferente. 

Ninguém estava bêbado, desta vez, ou em algum lugar inapropriado no meio de uma discussão boba. Não tinha a leveza do primeiro e nem a ousadia do segundo, nem a curta duração das duas vezes. Não tinha gosto de clandestinidade ou de um segredo, mas de pura exposição. 

Não importa que estivéssemos sozinhos em um quarto, era como se estivéssemos na capa de uma revista, propositalmente vulneráveis, anunciados ao mundo. Havia certo fervor, mas havia tanta ternura que eu podia me afogar nela. Era um beijo molhado, de tal forma que eu me sentia corromper, mas não havia pressa, como se cada minuto remendasse um pouquinho de tudo o que havia se quebrado entre nós dois. 

O choro havia passado, mas a vontade de chorar ainda continuava ali, quase como uma reação estranha ao que eu estava sentindo. Mas eu não conseguia apontar o que era aquele emaranhado emocional. 

Senti vazio quando seus lábios separaram-se dos meus, logo sentindo-me preenchido outra vez ao perceber que ele não havia se afastado por completo. Novamente podia senti-lo beijar meu rosto, roçar o nariz pela minha pele, respirar próximo ao meu ouvido, prender seu braço com ainda mais força em meu corpo. 

Alex ora se afastava, ora se acercava. 

Eu mal conseguia processar o que estava acontecendo e meu cérebro sequer podia formular uma frase. Mesmo que pudesse, eu não sabia o que falar. Mesmo que soubesse, não haviam garantias de que o meu processador em pane tivesse a capacidade de desempenhar sua função. 

No entanto, falar era quase uma necessidade, para extravasar tudo o que sequer parecia caber em mim. 

Eu estou transbordando.

Tentei dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas foram tentativas falhas.

Seu cheiro me invadia covardemente, e as palavras sumiam. Suas mãos afagavam meu rosto, meus cabelos, meu pescoço, minhas costas, meus braços, e as palavras sumiam. Seus olhos percorriam os meus, meu nariz, minha boca, meu corpo, e as palavras sumiam. Seu calor misturava-se com o meu e impregnava-se na minha pele, e as palavras sumiam. Sua boca beijava a minha com tanta doçura, e as palavras sumiam. Seus dedos afagavam minha pele com esmero, e as palavras sumiam. Seu abraço me tomava para ele, e as palavras desvaneciam como sequer houvessem existido.

Elas eram tentativas frustradas de verbalizar o que transbordava em mim, sem que palavra alguma se formasse. 

— Alex...

De alguma forma, seu nome era o único que eu podia pronunciar.

Ele afastou os lábios do meu rosto, como se eu houvesse exposto tudo em um monólogo extenso de uma só palavra, e pousou as orbes escuras nas minhas. Havia certo deleite nelas, mas também a espera receosa por algo, e eu imaginei que fosse a continuação da minha fala.

Para ser sincero, eu também esperava pela minha continuação. 

Afinal, "se você ama alguém, você tem que expressar", não é mesmo?

Fechei os olhos, porque talvez assim fosse mais fácil. 

— Alex... — sussurrei, em outra tentativa frustrada.

Estava ocorrendo o maior colapso do meu sistema nervoso já existente, e eu provavelmente devia agradecer que não pudesse formar uma palavra. "Eu não gosto de você" havia sido uma das minhas produções excelentes de situação em pânico, como um exemplo disto, eternizado no tempo.

Eu não queria dizer nada que estragasse as coisas, nada que fosse contrário ao que sinto, nada que fosse errado ou que não fizesse sentido, nada que o afastasse de mim. Eu só queria poder expressar tanto sentimento destinado a ele, mas eles eram um nó abstrato que eu sequer conseguia distinguir, que dirá transformar em palavras.

De alguma forma curiosa, no entanto, seu nome era a única palavra que eu pronunciava sem qualquer problema. Não havia pânico no mundo que me deixasse incapacitado de chamar por seu nome.

— Alex...

Quando abri os olhos, encontrei o sorriso mais estranhamente bonito que ele havia destinado a mim. Ele colou a testa na minha, balançando a cabeça de um lado para o outro como se não acreditasse no que ouvia, os lábios curvados em um sorriso largo que eu queria colar no meu.

Engoli em seco, sentindo seus dedos vaguearem pela minha nuca, a outra mão firmada na lateral do meu corpo como se para garantir que era ali que eu devia estar.

Havia um brilho nos olhos escuros, que não refletia resquício algum de qualquer interrogação, denunciando que ele não esperava mais nada de mim. Meu coração retumbava nos meus ouvidos ao passo que eu me dava conta de que ele havia conseguido a continuação daquela fala que esperava por nós dois. 

Apesar de eu não a haver pronunciado em momento algum.

— Alex — repeti, baixinho, vendo o deleite crescer em seus olhos —, eu não consigo não te olhar dessa forma.

Ele soltou um riso involuntário, o sorriso aumentando, quando me apertou ainda mais contra ele. 

— Eu sei, meu bem — murmurou, baixinho também, com ternura. — Eu sei. 

É claro que ele sabe, o que eu estava pensando? 

Mas uma culpa atingiu o centro do meu peito, emanando por todo ele em questão de segundos, ao passo que eu me lembrava de toda vez que o afastei, mesmo que nós dois soubéssemos da verdade. 

— Desculpa — sussurrei, assim como da vez anterior, ao engolir em seco. 

Alex negou, ainda com a testa na minha, e deixou mais um beijo nos meus lábios. — Desculpa, também — pediu, em retorno. 

Afastei o rosto, balançando a cabeça de um lado para o outro, sentindo-o estreitar o aperto com as mãos instantaneamente, como se temesse que eu me afastasse por completo. 

— M-mas você não...

Alex interrompeu ao deixar outro beijo nos meus lábios. — Você também não — murmura, estalando outro, antes que eu processasse. 

Pisquei algumas vezes, vendo-o inclinar o rosto para me olhar, de uma maneira adorável. 

Como se meu corpo tivesse vontade própria, aproximei-me com certa cautela, o suficiente para retribuir o beijo, desta vez, o que pareceu agradá-lo a julgar pelos lábios curvados em sorriso grudados aos meus. Abraçou-me com força ao aprofundar o beijo, e eu fechei os olhos novamente por instinto, abraçando-o de volta. 

Quanto tempo se passou enquanto nos beijávamos, eu não sabia, e quanto tempo ficamos apenas abraçados um no outro assim que os beijos cessaram, muito menos. 

Eu estava anestesiado, talvez por tempo excessivo, o que me fez querer dar algum sinal de vida ao invés de permanecer nos seus braços feito um paspalho apaixonado. Assim que eu fiz menção a sair do abraço, ele o estreitou um tanto mais, impedindo-me. Soltou um suspiro e, um segundo depois, ouvi a voz murmurada contra o meu ouvido: — Vai fugir de novo?

Senti meu coração afundar no peito, e engoli em seco o nódulo na garganta, mas não consegui verbalizar uma resposta. Acabei negando ao balançar a cabeça de um lado para o outro com tamanho exagero que o ouvi soltar um riso baixo. 

— Que bom — murmurou, finalmente movendo-se para me encarar —, porque eu não deixaria mesmo.

Não pude evitar sorrir, desta vez, vendo-o avançar sobre mim novamente ao deixar beijinhos estalados por onde conseguia alcançar. Soltei um riso, mas não reclamei, antes que ele me puxasse com força para outro abraço apertado, sem menção de me deixar afastar novamente. 

Inspirei seu cheiro, agora podendo senti-lo com melhor distinção na ausência do cheiro de tabaco, embora estranhamente sentisse falta de tal aroma. Sentia os lábios dormentes dos beijos e o coração, que aos poucos se acalmava, agora aquecido contra o seu. Seu corpo me abraçava tão apertado que eu não me sentia sufocado, mas protegido. 

Eu queria ficar ali, com ele, para sempre. 

Mas...

Como se lesse os meus pensamentos, Alex afastou-se no mesmo instante, ainda mantendo-me no aperto dos seus braços, e me olhou com intensidade. Sua mente parecia cheia e ele levou alguns segundos a mais, parecendo em conflito com si mesmo, antes de balançar a cabeça como se descartasse os próprios pensamentos. 

— Eu também não vou fugir — garantiu, em um murmúrio baixo, seriedade na voz. 

Não havia nada, no momento, que eu gostaria de acreditar tanto quanto isto, mas não havia como não responder com ceticismo. Não importava o quanto eu me sentisse feliz naquele momento, não mudava o motivo de eu haver chegado até ali hoje.

— Mas você disse que... 

— Eu sei o que eu disse — interrompeu ele, torcendo o nariz de forma parecida com a do primo —, mas você tem razão. Resta pouco tempo para o fim do semestre e para eu finalizar o colégio. É bobagem que eu desista antes, eu só... — interrompeu-se, um vinco fundo formando-se entre suas sobrancelhas, então balançou a cabeça. — Não importa — descartou, mais uma vez, antes de eu enxergar um canto de seus lábios erguer-se. — Eu não vou desperdiçar o tempo que tenho com você. 

Inclinei o rosto para trás quando ele tentou trazer os lábios aos meus, franzindo o cenho para suas palavras, tentando processá-las com dificuldade. 

— Alex... — tentei, receoso. 

— Eu prometo — interrompeu, mais uma vez, a voz soando temerosa. Senti seus dedos afundarem um tanto mais na minha pele, como se tivesse medo de que eu fugisse. 

— Você... — comecei, cauteloso, tentando encontrar as palavras certas. — Você parecia decidido a ir agora. Como pode simplesmente mudar de ideia? 

Alex relaxou um tanto a expressão quando percebeu o que eu questionava, mas as mãos não frouxaram em momento algum, antes que soltasse um suspiro. Aproximou-se o suficiente para deixar a testa colar na minha, os olhos melancólicos, como se enxergasse algo que eu não podia. 

— Você tem que entender que — murmurou, os olhos nos meus — eu não tinha motivo algum para mudar de ideia. Caleb — sussurrou, e a voz falhou, ao balançar a cabeça levemente de um lado para o outro —, você acabou de me dar um. 

Senti os olhos marejarem antes de ver o embaço obstruindo minha visão e engoli em seco, querendo mas sabendo não conseguir segurar o choro que retornava. Senti o coração apertar uma vez mais, ao mesmo tempo que, curiosamente, parecia encher com mais sentimento.

Assenti, ao indicar que eu entendia, e enxerguei parcialmente o vislumbre de uma lágrima escorrer por seu rosto antes que ele pegasse meu rosto com as duas mãos e deixasse um beijo casto nos meus lábios. 

— Você vale cada segundo — sussurrou, contra a minha boca, antes de me beijar mais uma vez. 

O beijo salgado trouxe um arrepio bom na minha barriga, uma quentura acolhedora no peito e um riso bastante nervoso nos lábios. Senti seus lábios curvarem em um sorriso contra os meus antes que ele me deixasse aconchegar na curva do seu pescoço outra vez. 

O abraço choroso, que agora eu sabia vir de ambas as partes, pareceu durar uma eternidade. Alex afagava minhas costas, como a uma criança desamparada, enquanto eu me agarrava nele, chorando baixinho.

Me senti na obrigação de responder, no entanto, assim que me acalmei um pouco: — Você também vale, Alex — retornei o sussurro, vendo-o vacilar.

As mãos pararam de me afagar por um segundo, e eu ouvi a dificuldade de sua respiração antes que seu peito vibrasse com um soluço que ele tentou engolir. Assentiu, como se quisesse confirmar a si mesmo que estava bem, antes de tornar a me apertar como se quisesse se unir a mim. 

Ali, que bobagem tudo parecia: os medos, as fugas, as rejeições. Nos braços dele, era como se problemas não existissem entre nós, na minha vida ou no mundo. Nos braços dele, não havia absolutamente nada de errado e absolutamento tudo era certo. 

Não havia espaço algum entre nós, que dirá um abismo.

Para onde tudo aquilo havia ido?

Pela primeira vez, meus olhos arderam pelo Alex por algo que não apertava meu peito mas que o liberava de todo aperto desnecessário. Inspirei seu cheiro tão de perto, aconcheguei-me nele, e me senti em casa como jamais havia sentido em qualquer lugar.

Jamais havia sentido nada igual.

Eu já sabia que o amava, mas seria possível que este amor houvesse se expandido ainda mais, a cada centímetro de pele que ele tocava?

Um medo instalou-se no meu corpo trêmulo feito um vírus, e eu quis me afastar dele com tanta rapidez quanto me aproximei, colocando a maior distância do mundo entre nós. Mas o que eu sentia por ele tomou conta de mim de maneira ainda mais assustadora, capaz de descartar o medo de uma vida inteira com o estalar de um beijo casto entregue na curva do meu ombro.

Meio segundo pareceu haver durado, o singelo beijo estalado. 

Meio segundo e o medo desapareceu.

E a agonia, finalmente, amenizou.


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Notas finais do capítulo

*Apesar de ser só uma expressão, achei válido corrigir que um raio pode cair, sim, VÁRIAS vezes no mesmo lugar hahahahha. Sabiam? Mas é uma expressão, e vocês entenderam o que ele quis dizer ahahhahaha.

Música pra vocês e pro capítulo: "We're not friends", Ingrid Andress, tá na playlist! (um dia termino ela e trago pra vocês, um dia, tá? hahahha)

SOBRE O CAPÍTULO:

Iti malia, que dor no coração, mas que alívio também. ♥
Estavam preparades para isto? Acham que ELES estavam preparados para isto? Acham que o Alex vai mesmo embora no fim do ano? Acham que ele ainda vai ficar até o final, como prometido? O que acham que vem depois disto?
Será que a autora aqui vai permitir um respiro de felicidade ou vai transtornar tudo logo depois? HAHAHAHAHHAHA.
Sim, eu precisei dizer isto, muahaha. Amo vocês, tá? Hihi.
Também queria dizer que, como todo capítulo importante, eu meio que empaquei nesse porque queria que saísse perfeito e obviamente isso não existe hahahah. Mas fiz meu melhor, tá bom?

CONVERSINHA COM PANDITORES:

Hã, um assunto aleatório, mas que me deixou pensativa.
Nos grupos do Wattpad e Nyah, no Facebook, vi uma galera comentar muito ultimamente sobre os leitores fantasmas (e tb os tóxicos, que não comentam nunca a não ser pra reclamar da história) e sobre a falta de apoio deles, sobre as várias visualizações e poucos comentários ou votos - no caso do Wattpad - e a influência disto nos autores desistirem de escrever.
Queria agradecer por vocês sempre haverem me apoiado. Vocês têm estado aqui por mim desde o início, e às vezes eu fico muito abismada e acho que até hj não me caiu a ficha desse apoio tão lindo. Também acho que às vezes eu não mereço, que falho com vocês com as ausências e os hiatos, demorar a responder os comentários, e às vezes com os próprios capítulos.
Eu sei que, se eu quiser seguir carreira como escritora, eu vou precisar de muito mais do que eu recebo e entrego aqui, que vai se tornar uma coisa mais direta, focada e objetiva. Pôr preço, divulgar, conquistar público, etc. Mas este não é meu objetivo aqui, não é pôr comida mesa através da escrita, meu objetivo no momento é mais pessoal: escrever porque me faz bem e ponto, compartilhar com vocês porque me faz melhor ainda. Um dia eu posso vir a querer ganhar dinheiro fazendo o que mais amo, sim, mas ainda assim, a base para isso tá aqui e ela é sólida. Vocês fizeram dela sólida e forte, vocês construíram tudo isto junto de mim, não consigo ver de outra forma.
Eu sei que vocês são bem poucos comparados a muitas histórias nessas plataformas, mas queria dizer que, pra mim, vocês são o suficiente. Me disseram algumas vezes que eu merecia mais reconhecimento, e acho bonitinha a indignação, a admiração e a preocupação de vocês hahahahaha, mas desde o início até agora eu sempre tive todo o reconhecimento que precisei. E acho que, se eu precisar de mais e investir carreira aqui, eu vou poder contar com vocês, sim. Confio em vocês e gosto do ambiente confortável que a gente criou aqui, juntos.
Por enquanto, aos preocupados, relaxem hahahah. Tá tudo bem. Vocês são todo o necessário pra mim, panditores, e eu nem sei se mereço. Obrigada por tudo, viu? Amo vocês ♥
(Sobre os leitores fantasmas, eu repito: vocês são importantes também. No caso do Wattpad, seria legal que votassem nos capítulos - não precisa ser na hr, pode ser depois de ter lido tudo, mas ainda assim, vocês tem certa influência aqui também. Estarei de braços abertos quando quiserem interagir, eu já fui fantasma - principalmente, no Nyah -, faz parte. ♥)

E já que estamos nisto, mais uma vez, peço desculpas pela demora.
Na real, eu só retornei agora - tenho escrito e ajeitado esse capítulo nas últimas duas semanas - porque eu voltei a estudar. Devo ter comentado sobre ter passado em Letras - Português/Literaturas lá no início de 2020, mas não quis entrar no assunto de eu haver estado matriculada SEM conseguir cursar ("sem conseguir" = sem ter força de vontade, às vezes nem pra levantar da cama kkkkkkkrying). Agr com a segunda dose, eu estar procurando apê pra voltar pra minha cidade, as aulas presenciais com chance de retornar ano que vem, eu tenho me sentido mais animada. Logo, finalmente tô estudando de novo! Tô nas primeiras semanas e elas já tão sugando minha alma, tô enferrujada para os estudos, e ontem levei o dia toooodo pra escrever uma simples resposta pra uma perguntinha de uma matéria que, inclusive, é DCG. Eu tô velha, gente HAHAHHAHAH.
Se eu vou conseguir vitória no fim, não sei, mas eu tô tentando ahahhaha. Espero que estejam tentando voltar à normalidade também, fazer as coisas que gostam e tendo prazer em voltar a viver novamente. Depois de tudo que a gnt passou, ao menos isso, a gente tem que ter de volta. Né? ♥
Enfim, os estudos na vdd não são desculpa pra minha ausência, mas motivo pra que ela acabe hahahhaa. Isso mesmo: eu tenho algumas responsabilidades agr e vou ter que fugir delas, então esperem me encontrar aqui sim HAHAHAHAHAHAH.
Volto logo! ♥

Me desculpem, me desculpem meeesmo por isso, mas eu PRECISO adicionar nas notas isso aqui mesmo que elas já estejam GIGANTESCAS:

Minha gata esteve doente desde o dia 4/set e o quadro dela foi piorando cada vez mais. ​Quando levei no hospital veterinário (o dinheiro que economizei durante 2 anos foi todinho ali, a propósito, e ainda FALTOU, chorem cmg), o vet disse que chutava uns 25% de chance dela sobreviver, ela tava mt mal.
Eu queria deixar aqui nas notas isto porque: VACINEM os bichinhos de vocês, gente, pelamoooor dos deuses felinos tropicais! Principalmente, gato. A Salém pegou rinotraqueíte, não é mt incomum não, que evoluiu rapidamente pra pneumonia e uma lesão na traqueia (de tossir e espirrar) que levou ar pra debaixo da pele dela (enfisema subcutâneo), foi coisa mais horrível do mundo. Ela ficou só pele e osso, não comia, não se mexia, não tomava água, não usava a caixinha, lutava pra respirar, e não tive escolha a não ser internar pra tomar soro na veia. Vacinem pra gripe, vacinem pra fiv/felv PELAMOR, sai meio carinho às vezes, mas acreditem, sai beeeem mais caro depois pra tratar tudo isso, faz mal pra eles, e vocês podem perdê-los. Não cometam meus erros!
Eu só tive sorte agr, porque ela tá melhorando. Tem comido sozinha e feito coisas normais que ela não fazia mais, tipo miar, brincar, se lamber, se espreguiçar, rolar no chão confortável, afiar as unhas.
Eu morri, né, do coração. Mas passo bem! HAHAHAHHA.
VACINAÇÃO PRA GENTE E PRA BICHO, OK?

Falando nisso, tá todo mundo vacinado? Primeira e segunda dose? Eu tô imunizadah. Me contem se vocês tão tb e vamos comemorar juntos via internet ahahhahah. Amo vocês ♥

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam!



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