Sua existência é horrível.

Tudo sobre você a incomoda. Tudo, tudo, tudo. Principalmente quando resolve abrir algum site e começar a escrever sobre o que sente. Isso a faz se sentir dramática, pior do que já é no geral, mas é inevitável, pois isso vem de onde você cresceu.

Entre suas dezenas de ideias para escrita, era provável que conseguiria escrever um livro inteiro apenas sobre seu ódio de si mesma, da figura que via no próprio espelho. Poderia passar páginas inteiras descrevendo o quanto odiava a gordura que rolava por cima das bordas de suas bermudas, ou seus dedos gorduchos e horrorosos que nem chegavam perto das fotos que você tanto almeja. Entretanto, nos últimos meses, seu foco foi na sua personalidade detestável, horrorosa e tóxica, no quanto você deveria morrer por ser uma pessoa ruim e em como ninguém merece uma influência tão má assim por perto.

Você odeia cada detalhezinho seu, cada curativo que gruda pra cima da pele. O ódio ferve, borbulha, causa um desconforto insuportável, tão grande que sente vontade de arrancar sua pele fora com as próprias unhas. O calor sobe aos olhos, criando lágrimas, e esquenta o peito, dando uma sensação desagradável de que seu coração vai saltar para fora das costelas.

Você quer tanto morrer que já esqueceu o quanto é bom estar leve.