Menina, garota, mulher, medo escrita por darthfangirl


Capítulo 1
Se


Notas iniciais do capítulo

Essa foi uma crônica que eu escrevi para uma aula de Português no primeiro ano do Ensino Médio. Apesar de ser um assunto difícil para mim, eu tenho um carinho muito grande por ela. Apesar do sofrimento e das crises de choro enquanto eu a escrevia e digitava posteriormente, eu tenho muito orgulho de como ela saiu. Ás vezes é bom compartilhar momentos difíceis também.



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Se eu fosse apenas um espectador, um mero pedestre que, ao passar sem pretensões, depara-se com uma cena dessas, eu teria parado. Se eu fosse um homem forte e engravatado, seguro de si mesmo e capaz de combater as injustiças do mundo, eu teria parado.

            Se eu fosse tudo isso, teria confrontado o homem que encarava a garota paralisada de medo com malícia e ferocidade, parecendo um animal prestes a devorar sua presa indefesa. Teria dito que dizer a uma garota que “a foderia fácil” era de baixo calão e certamente não digno de um cavalheiro.

            Mas, veja só, eu não era um homem forte, nem tinha coragem, e tampouco era espectador. Eu era a garota de quatorze anos que decidira passear sozinha pelo seu bairro perfeitamente seguro numa tarde fria de sexta-feira. Eu era a garota que escutou um homem com idade para ser seu avô assediá-la sob as risadas de seus companheiros de bar. A garota que o viu se aproximar e quis chorar porque a rua estava deserta e ela ia ser estuprada.

            Eu era a garota que, apesar de ser totalmente adepta à ideia de que mulheres e homens são igualmente fortes e independentes, mais do que nunca quis ser um homem, porque então aquilo não estaria acontecendo. A garota que, ainda assim, sabia que aquilo não era sua culpa. Ela poderia estar de tênis e moletom às duas da tarde ou de vestido e salto alto às duas da manhã, nunca seria sua culpa. A culpa era da sociedade estupidamente machista, ela sabia, mas mesmo assim não conseguia parar de chorar.

            E foi chorando que ela conseguiu correr e se esconder num banheiro qualquer de um estabelecimento qualquer enquanto deixava suas lágrimas se misturarem com as de todas as outras garotas de quatorze anos que tiveram a infelicidade de tentarem ser livres no Brasil.


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Notas finais do capítulo

Eu só posso agradecer as minhas duas melhores amigas por terem estado lá quando as paranoias e o medo voltaram, e por terem me dado todo o apoio do mundo quando eu decidi que queria que esse fosse o tema da minha crônica. Ju, Fer, eu amo vocês.
E a melhor amiga virtual do mundo, Nat, por ter me ajudado a dar a volta por cima nesse dia (e em tantos outros) e voltar pra casa em segurança.
Vocês são demais ♥
E obrigada a qualquer um que tenha se disposto a ler isto.



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