This is Halloween escrita por hidechan


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Atrasada, mas aqui UHUAHAUAHAUH. Espero que gostem do oneshot ~ se ficar alguma dúvida sobre o enredo... bem, explicações no final.

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Taiga olhou para o celular uma última vez antes de virar à esquerda, fechou o aplicativo que até então indicava seu caminho pelas ruas apinhadas de Tokyo e parou em frente a um portão branco, sujo de algo avermelhado como a cena de um crime. Teve que dar alguns passos para o lado afim de não pisar na nojenta tinta vermelha que se estendia pela calçada.

O ruivo respirou fundo e espiou pelo jardim pequeno, seu coração deu um salto ao ver dois enormes labradores zumbis parado pertinho da porta de entrada; instintivamente segurou a grade do portão tentando se livrar do medo. Os cães não se moveram, eram obviamente de plástico, ainda assim o realismo jamais o deixaria chegar perto da campainha.

— Aquele maldito _tirou o celular do bolso discando o número já decorado.

— Oi amor, onde você está?

— Aqui fora... você pode, por favor, sair?

A ligação fora encerrada sem despedidas, Daiki apareceu na porta de entrada acenando animado para o namorado.

— Por que você não quer entrar?

Taiga meneou a cabeça para os lados, ainda agarrado ao portão.

— Ah Taiga, eles são de mentirinha _deu um tapinha na orelha do cachorro à direita _vem cá, me dá um beijo que o medo passa.

O resmungo fora cortado pelos lábios quentes do moreno, Daiki estava perfumado e com os cabelos molhados, o que distraiu Taiga o suficiente para se esquecer das monstruosidades que o cercavam.

— Mamãe quer que você experimente os cupcakes antes de irmos para a festa _disse entre um selinho e outro.

— Com prazer _murmurou.

 Dinah Aomine recebeu o genro de braços abertos, ele mal passou pela porta para ser abordado por uma enorme forma de bolinhos coloridos; escolheu um roxo e um azul comendo metade de um deles na primeira dentada.

— Delicioso _disse de boca cheia com o recheio berrante colorindo parte de seus lábios.

— Que bom meu querido _seus olhos brilharam _vou embalar.

— Não precisa caprichar tanto _Daiki foi atrás da mulher na cozinha _o Kise realmente não liga para formalidades sabe...

— Laço dourado ou prata? Ah, prata é muito natalino... acho que tenho um abóbora na gaveta _falava consigo mesma enquanto caminhava para os cantos do cômodo, Daiki deu os ombros e voltou para a sala.

Halloween era de longe a data preferida de Daiki, amava decorações criativas, festas regadas a muito álcool e principalmente as fantasias sexys das garotas que desfilavam por ai sem o menor pudor. Taiga muito pelo contrário evitava sair para não se assustar, medroso por natureza nunca em seus 19 anos tivera um Halloween de paz; naquele ano fora ludibriado por seu namorado a irem a uma festa por autoria de Kise – outra coisa que deixava seu dia das bruxas um pouco pior, o mundo inteiro sabia que ele tinha ciúme mortal do loiro – não era necessária nenhuma fantasia ou coisa do tipo, mas estar num lugar apertado com mulheres e Ryota Kise fazia Taiga querer morrer. Maldito dia em que resolveram voltar do campus da faculdade para casa... ele quis fugir da bagunça de lá e acabou se metendo em uma pior.

Entretanto, apesar de todos os pesares, Taiga se animava à medida que passava o tempo com Daiki, o namorado estava extremamente animado e ele prometeu que teriam um jantar excelente, vinho caro e principalmente que não voltariam estupidamente tarde para casa como geralmente faziam em festas de faculdade. Ainda poderia reencontrar Kuroko e Momoi, que agora moravam juntos em Chiba, estava com saudades do ex-companheiro de time. 

— Vamos? _guardou as chaves de casa no bolso da calça _vou chamar o taxi.

— Ok... _olhou desanimado para a garagem, se fossem de carro, ou não poderiam beber uma gota de álcool ou teriam que deixar o veículo no local. A lei era rígida e Dinah tinha seus olhos sobre o casal, deveras inconsequente.

À medida que iam se aproximando do local da festa, Taiga ia apertando a lateral da caixa de papelão com força desmedida: a decoração não era de uma festa normal, havia tinta vermelha, pedaços de entranhas e teias de aranha logo no portão. No jardim, ainda do carro, pode ver alguns animais decepados e zumbis que o ruivo jurou ter visto se mover alguns centímetros; era uma horrenda festa de Halloween ao estilo americano. Ao estilo que Taiga mais odiava em toda a sua vida.

— Não _balbuciou assim que o taxi partiu _sem condições. Não vou entrar ai.

— ...Taiga é só uma decoração, relaxa. Tudo é de mentira _deu um tapinha leve em suas costas _assim que começar a beber vai se esquecer do medo. Ah essa música é foda! _apertou o passo ao ouvir Avicci soar de dentro da casa.

A casa não chegava a ser uma mansão, mas era incrivelmente grande para uma festa de Halloween, estava apinhada de jovens dançando e bebendo, bebidas fumegantes de todas as cores preenchiam não só as mesas espalhadas pelo local, como também o chão que já exibia uma larga poça.

— Vamos procurar o pessoal! _disse Aomine em seu ouvido, Taiga o seguiu.

Eles andaram cumprimentando uma ou duas pessoas que eram famosas na faculdade, como os jogadores do time de basquete e as líderes de torcida. Os três cômodos do térreo estavam ocupados pela festa. Com ou sem Kise ela já estava rolando há horas, o casal aproveitou para beber o máximo que conseguiram numa disputa sem regras – a essa altura, Taiga já estava com seu humor renovado – e depois de dançarem até os pés pedirem arrego, duas garrafas de champanhe e muitas latinhas de cerveja, saíram para tomar um ar. Aomine escorou Taiga para que o mesmo não tropeçasse nos degraus e sentaram na varanda.

— Preciso mijar _declarou o ruivo se levantando em seguida _vou ali.

— Consegue ficar em pé? _riu da situação alheia enquanto acendia um cigarro, Taiga apenas mandou um dedo do meio e caminhou para trás de um arbusto em forma de bola.

Aomine olhou ao redor encontrando um casal se pegando – transando – parcialmente escondidos por outros arbustos e alguns derrotados pelo jardim, escorados nas grades e paredes da casa. Ainda eram 3 da manhã, mal haviam começado a festa.

— Taiga! Vamos lá.

— Onde? _respondeu meio grogue olhando por cima do ombro.

— No segundo andar, aqui é só parte da festa _soltou a fumaça tóxica apreciando a mesma por um segundo _vamos! Ainda não encontrei o desgraçado.

Aomine subiu para o segundo andar levando Taiga consigo e pulando a faixa que proibia a invasão.

— Oe, acho que... _Taiga puxou sua camisa.

— Relaxa, é parte da festa _disse confiante, assim que eles subiram alguns degraus, Taiga gemeu ao seu ouvido agarrando-se em qualquer coisa que vira pela frente.

Era um jogo de terror, uma enfermeira estilo Silent Hill o abordou logo no começo com seu sorriso macabro.

— Sóbrios o suficiente para entrar? _Aomine sorriu deixando seus olhos recaírem no decote.

— Estamos procurando o Ryo... e particularmente você não dá medo.

— Amigos do mestre são meus amigos também _ela lambeu os lábios vermelhos borrando um pouco mais o batom.

Daiki cruzou a linha da escada puxando Taiga pela mão, o ruivo sentiu seu coração parar por um segundo travando não somente suas pernas como também a visão. Ele arregalou os olhos para o escuro que tomou o ambiente sem aviso.

— Daiki? _os dedos fecharam no ar, sua voz não era mais alta do que um sussurro.

O ruivo tremeu, piscou algumas vezes com o medo invadindo cada pedaço de sua mente.

— Daiki?!

— Oi meu amor.

De repente tudo voltou ao normal, o som do andar inferior e a mão quente de Daiki. Taiga meneou a cabeça continuando sua caminhada pelo corredor, a enfermeira peituda já não estava mais com eles. Não soube explicar seu apagão momentâneo. Eles andaram pelo corredor sombreado pelo o que Taiga teve a impressão de ser longos minutos, a casa não era grande para tantos cômodos, entretanto Aomine não parecia se importar com o estranho fato.

— Daiki, vamos voltar _o puxou para trás _não estou me sentindo muito bem.

— Deixa de ser medroso, é feito para nos assustar, mas não é nada demais _riu _veja! Escolha uma porta.

Taiga olhou ao redor, horrorizado, o corredor – agora infinito – exibia uma dúzia de portas de cada lado. Ele esfregou os olhos e girou o corpo para os lados, de repente o chão aos seus pés desapareceu; se desse um passo cairia num abismo profundo e escuro.

— Estou com medo _balbuciou _estou vendo coisas.

— Escolha uma porta meu amor! Kise está aqui em algum lugar, vamos brincar de encontrá-lo.

— Por que não tem mais ninguém conosco? Por que esse corredor é tão grande? _sua mente girou _Daiki, Oe... Daiki? _sua mão novamente agarrou o ar _ DAIKI?!

Taiga deu um passo para o lado e caiu.

—------ + -----------------

Daiki bocejou e estalou o pescoço, olhou para o gramado achando graça na poça vermelha não muito longe de si, Kise tinha ido longe com a decoração. Jogou o restante do cigarro fora fazendo o mesmo se apagar no líquido.

— Taiga? Não acabou ainda? _olhou para o arbusto onde o mesmo tinha se escondido para se aliviar _vamos voltar lá pra dentro.

 Sem resposta ele se levantou e espiou pela escuridão, Taiga já não estava mais ali.

— Cacete, esse bêbado de merda _resmungou saindo pelo jardim _Taiga?!

— Oh! Aomine-san.

A voz animada o fez olhar para trás. Takao acenava lentamente através do portão.

— Venha até aqui me dar oi _chamou o menor _me convide para entrar também.

— O que? _sacudiu a cabeça, só podia ser efeito do álcool que não o deixava ouvir muito bem _entra, ué. Você não foi convidado pelo Kise?

— Obrigado _o portão rangeu e se afastou, Daiki podia jurar que as mãos do menor não tocaram a grade _que lugar incrível _olhou ao redor.

— Hn... onde está o Midorima?

— Shin-chan sabe... você sabe... tenho que encontrá-lo _murmurou passando por si como um fantasma, Daiki cobriu o nariz ao sentir um forte cheiro de sangue _oe! Takao!!

Mas o menino a muito não estava mais ali, jogou os cabelos para trás se preocupando com a estranheza da cena. Era Halloween afinal. Decidiu então voltar por sua própria procura, depois de dar uma volta completa no jardim, retornou para dentro da casa apertando os olhos para a escuridão. Não conseguia ver nada além de 30 centímetros diante do nariz e o som ensurdecedor não o deixava pensar.

— Taiga! TAIGA!

  Seus pés tropeçaram em algo, Daiki se desequilibrou sentindo um frio horrível na barriga, em seguida apagou.

—--------- + -----------

    3:03 da madrugada do dia 31 de Outubro. A viatura policial rondou pelo quarteirão decorado para o Halloween, o jovem recruta suspirou decepcionado por não poder participar das festas naquela noite. Infelizmente sua escala não permitia folgas naquele dia. Virou a esquina lentamente admirando as luzes que vinham de um jardim particularmente grotesco, seus olhos acompanharam as teias de aranha e as entranhas.

— Que mau gosto... _murmurou.

De repente teve que frear usando todo seu reflexo, um menino moreno de baixa estatura atravessou a rua sem prestar devida atenção.

— Ei, você está bem? _desceu do carro temendo pelo pior, felizmente o garoto se levantou sorrindo em seguida.

— Estou sim, me desculpe por entrar na frente do seu carro... _soluçou.

— Oh... mocinho, pode me apresentar seus documentos por favor?

A mão trêmula caçou algo no bolso da bermuda cor caqui.

— Aqui...

— Hum, obrigado _hesitou por um segundo _sua maquiagem vai acabar sujando o documento _reclamou _...Kazunari Takao-san?

— Hum-uhum _soluçou novamente _me desculpe _tapou a boca sujando seu rosto com a tinta vermelha.

— Melhor eu te levar para casa, entre _abriu a porta de trás _você tem um celular? Você sabe onde fica sua casa?

O recruta acompanhou as ações lentas do outro, seu sorriso vago não deixava o rosto magro e os olhos caídos davam um ar melancólico para o mesmo.

— Quero ir para casa _balbuciou _quero ir... Shin-chan, você sabe... estará lá?

— ...ah sim, sua mãe vai estar lá _respondeu sem prestar real atenção, afivelou o cinto para Takao e então tomou o bando do motorista _onde você mora?

Mas assim que olhou para trás não havia mais ninguém, o cinto de volta no lugar e a porta semiaberta denunciava a fuga do menor.

— Ah mas que droga! Esses bêbados!!! _reclamou deixando o veículo _ Takao?! TAKAO? _o chamou olhando para os dois lados da rua, em sua mão o documento de identificação manchado.

      “Viatura 467, responda. Câmbio.”

A voz grave do rádio fez o policial se voltar para dentro do carro.

— Sim?

— Está no perímetro ainda? Temos uma chamada para uma festa que está perturbando os vizinhos.

— Ah-ah... onde?

— Alameda Yuuren, 33.

— Não, o senhor deve estar enganado... _olhou para ao redor _estou nesse endereço, mas não tem nenhum som alto aqui. O número 33 realmente está com decoração de festa... _esticou o pescoço _mas não ouço nada.

— Então já devem ter resolvido o problema, obrigado. Câmbio e desligo.

— Espera! Encontre um endereço pra mim, por favor. Rg do portador número ******* nome, Kazunari Takao. Aqui de Tóquio mesmo _completou virando o documento dos dois lados _encontrei... capitão? Câmbio.

O rádio chiou por alguns segundos, o recruta ouviu então vozes distantes, tentou acertar a frequência para retomar a conexão e apenas após alguns minutos a voz do outro lado voltou a ficar clara.

— Estamos procurando, por hora passe no setor seguinte, temos outra reclamação de som alto.

— Ok _ligou a viatura olhando mais uma vez ao redor antes de partir, ele esperava que Kazunari ficasse bem.

Assim que a viatura sumiu pela esquina o menino loiro respirou aliviado, Kise soltou as grades do portão fazendo um careta em seguida, havia sujado sua mão na gosma vermelha.

— Ew... _limpou de qualquer jeito na barra da camisa.

— Podemos ligar o som novamente? _uma voz aleatória o acompanhou.

— Sim _ajeitou a gravata e a capa que serviam de fantasia _em alto e bom som! _disse animado.

E quase imediatamente o ambiente se preencheu de risos e vozes altas, Kise caminhou pelo jardim admirando alguns de seus convidados deitados na grama ou recostados nas paredes.

— Perdedores _riu, ainda assim seus olhos exibiam certa compaixão.

Adentrou o imóvel chamando imediatamente toda a atenção para si, sua presença forte atraia não somente olhares, mas também suspiros e palavras ousadas. Admirou por um momento toda a glória que o cercava.

— Hoje é All Hallow’s Eve _abriu os braços como se o gesto pudesse abraçar os mais de 80 convidados ali _o dia que os mortos podem caminhar livremente dentre os vivos! Vamos celebrar a morte!! _sua voz superou a música fazendo algumas pessoas vibrarem, continuou então com o teatro _e dancem! DANCEM PARA MIM!

A explosão de luzes encobriu o ambiente e logo o loiro já não era mais notado, ele caminhou por entre os convidados que dançavam alucinados, nenhum deles viam nada além da bebida e da loucura. Kise olhou para o relógio de pulso e soltou um suspiro em seguida.

— Quase lá... _murmurou.

—------ + --------------

Não muito longe dali o telefone tocava incessante na casa de Mieko, a mulher alta desceu as escadas de forma apressada para atender antes que o mesmo parasse de tocar.

— Residência da família Midorima, pois não? _sua voz não era de sono apesar do horário, muito pelo contrário, estava limpa e alta, até um pouco histérica.

— ...ah, ah me desculpe, aqui é o coronel Massayuki da polícia local, encontramos um RG e nossos registros apontavam para o seu endereço e número de telefone. Está na região central de Tóquio, certo? Rua Saku, 75.

— Sim, é o nosso endereço _respondeu calmamente.

— Hum, o nome vinculado é de Kazunari Takao. Vocês o conhecem?

A mulher então se calou.

— Senhora?

— Não conhecemos ninguém com esse nome!

— Mieko? Quem é? _Hiroki Midorima se aproximou tirando o telefone das mãos trêmulas da mulher _ alô? Me desculpe o descontrole da minha esposa, aqui é Hiroki Midorima.

— Tudo bem ah... vocês conhecem um garoto chamado Kazunari Takao?

— ...sim, ele é nosso relativo... _de repente Hiroki estremeceu ao ouvir batidas na porta de entrada _me desculpe, mas não é possível que seja a mesma pessoa.

Mieko se encolheu perto do marido e tapou os ouvidos. As batidas incessantes aumentaram, o trinco redondo de bronze girou brevemente, mas não totalmente a ponto da fechadura ceder.

— Sinto muito precisamos desligar, vocês devem ter confundido o nome, vocês não podem ter encontrado o Kazunari.

— Certo, vamos investigar mais a fundo. Obrigado.

— De nada _desligou _vamos meu amor, vamos voltar para o quarto... vamos _segurou a mulher pelos ombros a guiando para as escadas.

A noite de Halloween se estendia por todo o mundo, no Japão a cultura só veio com força no começo do século 21, mas atualmente era possível encontrar diversas festas ao longo da agitada capital Tóquio. Geralmente os jovens se amontoavam em festas dentro de casas com fama de ser mal assombrada, a maior festa sempre rendia cobertura do jornal local dando a eles impressão de poder e luxo, logo a competição se tornava sem limites. Naquele ano, os jovens da faculdade de Tóquio se uniram para uma grande comemoração: estavam todos convidados pelo popular Ryota Kise; seria uma noite onde todos poderiam ir e vir livremente para extravazarem o stress da rotina escolar. Além dos colegas de classe, Kise ainda contava com alguns fãs e seus melhores amigos. Aomine surtou ao saber que teriam uma festa de Halloween de verdade arrastando o namorado medroso consigo, Takao também se animou e prometeu que Midorima não faltaria, Kuroko e Momoi que a muito não apareciam se surpreenderam com o convite que surgiu na caixa de correio, o mesmo aconteceu com Akashi e Murasakibara, ambos não prometendo já que moravam num estado distante. A geração dos milagres voltaria a se encontrar, talvez não em sua totalidade, mas ainda assim algo inusitado que não acontecia desde o jogo no final do segundo ano com o time Vorpal Swords.

Nas primeiras horas da noite, a decoração na Alameda Yuuren já estava pronta, grotesca e macabra. Aos que passavam o cheiro forte de produtos indecifráveis e o medo os acompanhavam por além dos muros; seria o ponto de encontro. Dinah aprontou os “bolinhos das almas” para o filho e os embalou, Mieko e Hiroki trancaram a casa por medo das crianças invadirem a mansão pedindo doces, os outros pais também fizeram seus preparativos. Assim que o som começou tudo se tornou real, as pessoas se amontoavam aos poucos dentro da residência, a loucura invadiu totalmente a mente humana ultrapassando os limites do prazer e do medo. Era noite de Halloween afinal.

Massayuki, o chefe da polícia local, entretanto, não estava tendo tanto divertimento assim, além de procurar por Kazunari que sumira misteriosamente de dentro de uma viatura – visivelmente embriagado – também tinha que lidar com pedidos sobre um som extremamente alto na Alameda Yuuren, infelizmente toda vez que chegavam perto não havia mais a música, estavam o fazendo de idiota. Ele odiava o Halloween.

— De uma vez por todas... _resmungou _Aomine-san! Por favor.

— Sim? _o homem corpulento de cerca de 50 anos saiu de sua sala com o rosto amassado.

— Desculpe te acordar, mas pode fazer uma varredura nesse endereço? De meia e meia hora alguém liga pra cá reclamando do som alto...

— ...ah... deve ser um trote _olhou o pedaço de papel _só pode ser um trote sabe... ninguém consegue realmente esconder uma festa.

— Por favor tenente, meus recrutas de plantão não podem entrar no local sem supervisão.

— Tudo bem _colocou o quepe _estou saindo.

Sussumu Aomine deixou a delegacia em sua viatura e se dirigiu para o local, enquanto rodava pelas ruas repletas de pessoas ficou a imaginar o que encontraria ao chegar lá, seu relógio marcava 4:03 da manhã. Estava quase na hora se ele bem se lembrava.

Enquanto isso, no interior da residência, Taiga abriu os olhos um pouco tonto e se encontrou deitado no chão, ao lado de uma cama de casal, apesar de não conseguir se levantar ainda pode ouvir gemidos acima de sua cabeça. Ergueu o pescoço fazendo um esforço descomunal para ver quem era e achou graça ao perceber que um casal transava ao seu lado, mais precisamente Kuroko e Momoi.

— Ah que bom _ironizou _ seus bêbados..., bom, olha quem fala _balbuciou se arrastando para fora do quarto.

Uma vez no corredor pode se levantar e cambalear até o pé da escada, estranhamente ela parecia ridiculamente inclinada e aparentemente impossível de descer; olhou para baixo vendo uma cabeleira loira se enroscar com um cara alto e moreno. Seus olhos arregalaram, a garganta fechou por um segundo e, mesmo bêbado, seu instinto lhe dizia que algo estava estupidamente errado naquela cena: Kise e Aomine estavam se pegando no final da escada.

— Oe! _gritou, mas o som alto da música não deixava que ambos o ouvissem _seus filhos da puta. É por isso que você queria tanto vir nessa bosta?!! _gritou novamente agora chamando a atenção de Aomine.

— Ta-Taiga! Não é... TAIGA!

O ruivo pisou em falso e tropeçou, tentou se segurar em vão no corrimão de madeira, a queda brusca lhe rendeu um baque forte no último degrau. De longe a voz de Aomine pedia por socorro.

— Vai se fuder... não quero socorro algum _resmungou _filho da...

Kise deu alguns passos para trás, chocado com todo o sangue que manchava a barra de sua capa e os sapatos de grife.

— Kagamicchi, ah não... ah não está quase na hora.

A confusão fez os convidados correrem desesperados para fora, a movimentação chamou a atenção de algumas pessoas que passavam na rua; imediatamente uma delas ligou para a polícia.

— Parece que algo está acontecendo na Alameda Yuuren, 33 _a voz histérica transpôs o aparelho _ach- SOCORRO! _a menina largou o aparelho ao perceber uma mão ensanguentada em sua perna, um menino de estatura baixa estava segurando seu tornozelo com um sorriso pequeno no rosto.

— Ei, pode me convidar para participar da festa? Pode me convidar para entrar? _apontou para o portão.

A correria agora se espalhava pela rua, Aomine tentava encontrar Taiga do lado de fora, mas aparentemente ele ainda estava dentro da residência.

— Oe! O que está acontecendo? _perguntou para uma das líderes de torcida na qual conhecia.

— Um menino caiu da escada! _ela gritou _chamem uma ambulância!! _e saiu de perto rumando em direção à rua.

O moreno correu para dentro sendo empurrado por muitas pessoas, muitas delas já haviam saído, entretanto o mar de gente não parecia ter fim. Era como se 80 de repente fossem 8 mil pessoas e o número aumentava a cada um que forçava o mesmo para fora; ele se ergueu nas pontas dos pés para tentar visualizar a escada, mas não havia ninguém ali.

— TAIGA?!

Chamou o namorado pela décima vez desde que se separaram no jardim e quando conseguiu chegar até a cozinha viu o maior de costas, infelizmente o sentimento não fora de alívio: o mesmo estava prensando alguém contra a parede.

— Ku-Kuroko, Taiga?

O ruivo se virou, assustado, e largou o menor imediatamente.

— Não é isso que... oe, solte isso! Aomine!!

O moreno pegou uma das velas que estavam penduradas como decoração e jogou no chão, o álcool das bebidas no chão e os produtos inflamáveis espalhados por todo o local alimentou o fogo que cresceu rapidamente.

— SEUS FILHOS DA PUTA! _gritou _queimem todos no inferno!

 As chamas laranja lamberam tudo ao redor, em pouco tempo a fumaça alcançou o cômodo ao lado. Demorou para que os convidados percebessem o que estava acontecendo, com uma única saída e janelas fechadas por conta do som que não podia escapar livremente, a fumaça tóxica dominou o local, a porta pequena de entrada não era o suficiente para que o escoamento fosse rápido. Muitos ficaram presos no piso superior, outros pisoteados pelo pânico.

  Conforme o policial Aomine se aproximava da casa de número 33, a luz alaranjada da decoração tomava sua vista, diminuiu a velocidade contornando o muro alto desgastado pelo tempo e logo avistou um Honda azul marinho parado em frente ao portão enferrujado. Estacionou logo atrás olhando demoradamente para o homem que jazia estático com a cabeça erguida para o céu escuro e sem estrelas.

— Midorima-sensei _cumprimentou o colega.

— ...Sussumo-san _se virou para o mesmo _...não parece que a qualquer momento eles vão sair dali de dentro?

Aomine crispou os lábios.

— Já faz seis anos e ainda recebemos as mesmas ligações todo dia 31 _murmurou o policial _até quando?

31 de Outubro de 2017, seis anos atrás

Ryota Kise, o modelo da Tóquio Magazine e estudante popular da faculdade de arquitetura de Tóquio ganha um extra pelo debute que havia conseguido com sua carreira e decide dar uma grande festa de Halloween perto do bairro onde mora seus melhores amigos. Aomine convence Taiga a ir, mesmo com o ciúme descontrolado, também pede para que a mãe faça os doces para a festa, a mulher então apronta o pedido e alerta para que ambos não saiam de carro naquela noite; Aomine obedece levando a caixa azul marinho de laço abóbora, cuidadosamente em seus braços.

Ao mesmo tempo, Midorima é arrastado por Takao até a tal festa e mesmo a contragosto, pega o Honda azul marinho do pai e se despede de sua mãe. Ambos chegam perto da meia noite, cumprimentam Kise, que estava deslumbrante com uma das fantasias de seu estúdio, e então começam a beber. Bebem até que um não consegue mais encontrar o outro no meio da multidão que agora dançava loucamente dentro e fora da casa. Perto das três horas, Taiga está chateado por seu namorado não desgrudar os olhos das meninas da festa e nem da garrafa de champanhe. Ele tenta de todas as formas ir embora, mas não sairá sem o namorado; graças aos céus acaba encontrando Kuroko que o distraí do mal estar. Aomine percebe que ambos estão juntos, conversando animadamente, Kuroko nunca fora uma pessoa tão aberta, Taiga tinha melhorado seu humor 100%; o álcool o fez pensar que estavam se pegando na cozinha então chegou para tirar satisfação. Taiga negou, disse que só estavam próximos por causa do som alto e eles queriam conversar, Aomine insistiu e Taiga disse que Aomine estava descaradamente babando por Kise quando o mesmo subiu as escadas, alguns minutos antes, dando indiretas que os quartos estavam liberados para os mais íntimos.

Kise queria ter dito que os quartos estavam liberados para Aomine e Taiga, que era um presente para o casal, mas o ruivo interpretou errado por conta do ciúme que o cegava. A discussão estava alta, o dono da festa não estava à vista para resolver a situação então os convidados se meteram; o tumulto começou: alguém do outro lado da sala aproveitou para extravasar sua raiva atirando as velas no chão e paredes. O fogo começou sem que ninguém percebesse, cerca de 60 pessoas foram consumidas vivas pelas labaredas incandescentes e fumaça tóxica. Era o próprio inferno na Terra.

  Quando os bombeiros chegaram, não havia nem sinal de esperança para os que ficaram, o fogo fora controlado perto da primeira hora do dia. O Halloween havia terminado. Identificou-se o corpo do anfitrião no segundo andar e de seus melhores amigos, todos juntos, na cozinha. O garoto Kazunari, o único dos amigos que conseguira sair da casa, acabou morrendo tentando pedir ajuda para quem passava na rua chamando em prantos por “Shin-chan”. A família Midorima entrou em choque ao receber apenas os óculos do filho como recordação da tragédia, Sussumu Aomine, pai de Daiki, atendera o chamado e sua esposa reconheceu imediatamente a caixa com a fita abóbora que fora protegida milagrosamente pelas paredes reforçadas da geladeira. Um mar de loucuras, uma fantasia sem fim.

E agora, todo dia 31 de Outubro, Dinah prepara os doces e vê seu filho e genro saírem de casa para a festa; Daiki e sua ilusão de ver o namorado o traindo com um de seus melhores amigos, Kuroko; e Taiga abraçando a morte ao constatar que Daiki o traía com Kise o tempo todo num mundo de fantasias gerada pelo álcool. É claro que nada daquilo realmente aconteceu, mas almas não sabem mais o que foi verdade, o que não foi. Mieko e Hiroki ouvem Shintaro bater na porta de entrada, perdido, sem saber para onde ir, Kazunari assombra os muitos cidadãos que por ventura passam pela rua à procura de seu esposo e por fim, os vizinhos não suportam mais a música alta que ressoa do outro mundo a mando de Ryota Kise. É a noite onde os mortos caminham pela Terra, é a noite onde são livres para viverem novamente seus últimos momentos distorcidos de vida.

FIM

 

— Eh, Akachin, o que está fazendo?

Murasakibara parou ao lado de Akashi espiando curioso para a tela do notebook.

— Oh... escrevendo um novel?

— Só estou comemorando o Halloween _respondeu calmamente bebericando o chá de jasmim já frio.

— O que é Halloween? _mexeu no mouse lendo a primeira frase do conto

— ...um dia para os mortos andarem entre os vivos _estalou os dedos _mas também é um dia para comer muitos doces.

— Quero _largou imediatamente a leitura.

— Ótimo, vamos comer alguns então _Akashi fechou o notebook e se levantou _que tal parfait de morango? Tenho também dadinhos de amêndoa e balas de caramelo.

— Uah! Por isso eu adoro visitar o Akachin _sorriu abertamente seguindo o menor pelos corredores da mansão, feliz Halloween, Akachin.

— Obrigado, pra você também, Atsushi.

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Notas finais do capítulo

Essa fic se passa na "atualidade" (onde os pais dos protagonistas vivem o dia 31 de outubro, seis anos após o acidente)
??” Os espíritos voltam a reviver o fatídico dia todo 31 de Outubro, cada qual com suas lembranças distorcidas.
??”A mãe de Aomine (Dinah) ficou louca quando seu filho morreu, por isso sempre faz bolinhos e vê os meninos saindo de casa.
??” Os pais de Shintaro presenciam o sobrenatural de forma intensa, vendo que o espírito do filho tenta abrir a porta de casa.
??” E... ah claro, era só invenção do Akashi IHAIHAAHAIAIH

....acho que não ficou dúvidas, mas...... né auhuuaha me desculpem qualquer coisa -nn. ♥ obrigada!!!



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