Ninguém leva Pietro a sério. Ele não passa do palhaço da turma e apronta cada brincadeira difícil de acreditar. A mãe já desistiu de encucar-lhe qualquer juízo. Prefere deixar que a própria vida se encarregue de ensiná-lo. E Pietro ri na cara da vida, desafiando-a a surpreendê-lo.

Pois houve uma vez em que ela atendeu a seu pedido. O garoto passeava pelo pomar do sítio do avô, surrupiando maçãs. Não atentou para a criatura escondida entre os arbustos e quase recebeu uma mordida fatal. Que bicho feio! Pietro desabou no chão, gritando para a cabeça sorridente. Mas era apenas a cauda de uma Girafarig adormecida. Bem, não mais adormecida. Toda aquela gritaria despertou a coitada.

Depois disso, tornaram-se amigos. E Pietro continua rindo na cara da vida. Nunca aprende nada, esse moleque. Mas Girafarig é pior. Suas mentes parecem até sincronizadas. O que o garoto faz, a girafa imita. Alguns acham graça. O avô balança a cabeça e enxuga a testa. Diz a todos que o neto só faz excruciar os outros. E Pietro, malandro, sussurra para Girafarig que o avô é um velho sisudo.

Nos dias de férias, Pietro brinca de cavalgar. Girafarig logo se cansa de seu peso e joga o moleque para longe. Ele se põe de pé e grita blasfêmias inúteis. Em outras ocasiões, é o garoto quem tenta imitar a girafa. Jura possuir incríveis poderes psíquicos; só precisa despertá-los. Medita, tenta entortar colheres com a força da mente, quase estoura as têmporas tentando ler os pensamentos alheios. Sem resultados.

Mas talvez a Girafarig consiga ler os pensamentos dele. Para Pietro, o tédio é a pior mortalha. Ele resmunga, chuta os móveis e fita a erosão na parede. Quando tem a chance, Girafarig derruba-o com um empurrão. Pietro corre atrás dela, berrando. A técnica é infalível.