Um conto de destino e morte escrita por magalud


Capítulo 23
Capítulo 23 – Um tom mais pálido de vermelho




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Capítulo 23 – Um tom mais pálido de vermelho

Severus ficou quase surpreso quando a Dama da Justiça solicitou que ele desse sua opinião em juízo. Era sua chance de falar no tribunal! Ele lançou um olhar para Satã. O Senhor de todo o Mal deixou escapar um som de tédio, mas a juíza ignorou.

— Pode prosseguir - ela instruiu Severus.

A Encarnação da Morte inspirou profundamente. Ele tinha pensado a esse respeito tantas vezes. Então ele começou:

— A princípio, Senhora Juíza, devo confessar que fiquei confuso. E ainda me pergunto se um pecado realmente foi cometido. Veja, a autora foi enganada e não tinha ideia de que estava incorrendo em um pecado mortal. Satã admitiu que foi um engodo. Onde está o livre arbítrio se ela não sabia que era um pecado?

— Mas ela sabia que alguma coisa podia estar errada - lembrou a juíza. - Ela admitiu ter perguntado a ele se aquilo era errado.

Ele contrapôs:

— E a resposta que ela obteve foi uma mentira. Como ela podia tomar uma decisão fundamentada? Em que isto caracteriza liberdade de escolha?

A juíza respondeu:

— É opinião desta corte que a querelante tinha informações suficientes. O senhor tem alguma outra questão?

Severus percebeu naquele momento que a Encarnação da Justiça provavelmente já tinha tomado sua decisão, e não era favorável à causa de Hermione. Por isso ele rapidamente reformulou o plano, pedindo.

— Acompanhe meu raciocínio só um pouco, por favor, Madame, pois vou argumentar que este suposto pecado é completamente imaterial.

Uma onda silenciosa de choque espalhou-se pela mesa principal, embora ninguém tenha dito uma única palavra. Justitia pediu, simplesmente:

— Explique.

Severus tentou manter sua animação enquanto ia explicando:

— Chamo este pecado de imaterial porque ele jamais teria acontecido fora deste preciso conjunto de circunstâncias. E aquelas circunstâncias eram totalmente falsas.

— Continue - pediu a juíza.

— Por exemplo, acredito que todos aqui concordam que Satã jamais cometeria, por decisão própria, um ato de natureza altruística. Não é de sua natureza. Ele não tem uma célula de bondade em seu corpo! - Severus virou-se para ele e acrescentou, quase ironicamente: - Sem querer ofender.

A entidade do mal deu de ombros, igualmente impenitente.

— Sem problemas.

— E ainda - prosseguiu Severus - é preciso considerar também que Clotho igualmente jamais teria cometido tal pecado fora daquelas precisas circunstâncias criadas pelo acusado.

A entidade da Justiça torceu o nariz.

— Como pode proclamar isso? A própria querelante admitiu violar as regras se seu namorado pedisse, e ele é você.

Severus assentiu e lembrou:

— E ela também afirmou que ela não faria tal coisa para ninguém mais. Não foi isso?

A juíza concordou, dizendo:

— Sim, isso é correto, mas devo dizer que não vejo aonde pretende chegar.

Severus disse:

— Não se esqueça, Madame, que eu jamais seria capaz de pedir a ela que quebrasse a lei sagrada da vida ou que conspurcasse a Fonte de Toda a Vida.

— Por que insiste em dizer que jamais poderia fazer isso? - indagou Justitia. - Começo a imaginar que você se acha tão puro e santo que jamais seria capaz de cometer tal pecado!

Modestamente, Severus confessou:

— Nem de longe, Madame. Para falar a verdade, eu suspeito que é precisamente por eu não ser nem puro nem santo que não tenho permissão de adentrar o Vácuo.

A juíza começava a se impacientar.

— Sim, posso ver que você não é puro nem santo, mas aonde pretende chegar, Thanatos? Você não está fazendo nenhum sentido.

Satã estava se tornando um tom mais pálido, percebendo o que Severus tinha dito. Ele pressionou os lábios juntos.

Severus viu Metatron, o representante do Paraíso, inclinar-se suavemente na direção da juíza e cochichar uma palavra breve. A Encarnação da Justiça ergueu uma sobrancelha e disse, ao perceber:

— Oh. OH. Entendo agora. Obrigada, Alteza.

Severus indagou:

— Consegue perceber, Madame, que, se ela só fosse capaz de cometer este pecado por minha insistência, e já que não posso entrar no Vácuo porque é impossível para mim fazê-lo, então como este pecado poderia ser cometido em primeiro lugar? Seria impossível – a menos que tais circunstâncias artificiais fossem criadas. Mas, uma vez que tais circunstâncias não são nem naturais nem espontâneas, tal pecado jamais teria sido cometido num ambiente natural. Por isso, portanto, ele é imaterial.

Ela assentiu vagarosamente, em silêncio, pensando intensamente. Havia uma certa expectativa no salão. Os demônios que acompanhavam Satã prendiam a respiração. O próprio capiroto em pessoa ainda apresentava um tom vermelho mais pálido, que se tornava rosáceo a cada segundo.

— Seu argumento foi defendido de forma brilhante, Thanatos - admitiu a Encarnação da Justiça. - Muito bem articulado e impecavelmente lógico. Eu o felicito.

Severus fez uma pequena mesura de agradecimento com um esboço de sorriso, seu coração esforçando-se para não ter tantas esperanças. Poderia ele ter feito a juíza mudar sua decisão?

A Senhora Justiça sorria ao dizer:

— Isso me fez sentir falta do meu tempo na corte. E digo isso de maneira positiva. Mas mesmo um argumento brilhante como esse não apaga o fato que um pecado foi cometido, um pecado real - e material, sim, para usar a sua palavra. Uma alma foi corrompida. Então eu já tenho a minha decisão. A petição da querelante está negada, e sua alma está condenada ao Inferno.

Se algum dia Severus sentiu um banho de água gelada em sua alma, ele sentiu que este foi o mais congelante de suas duas existências. Hermione soltou um som quieto de desespero, e Severus a abraçou. Do lado oposto da mesa, Satã recebia sonoras congratulações de seus amigos demoníacos, acrescidas de insinuações sexuais.

Severus sentiu um arrepio macabro. Ele sentia Hermione tremendo em seus braços. Em sua imaginação, ele podia ver nitidamente o sofrimento e angústia que Satã criaria para ela. Por toda a eternidade.

E isso ele não conseguia suportar.

Antes que a juíza pudesse bater o martelo e passar a sentença, Severus se ergueu e pediu:

— Por favor, Madame, posso encaminhar uma solicitação?

Ela o encarou severamente.

— Thanatos, antes do começo desta audiência, todos os envolvidos concordaram em não apelar contra minha sentença. Se sua solicitação for neste sentido...

Severus garantiu:

— Isso não é um apelo, Madame. Sua sentença está tomada e não quero questioná-la. Mas eu respeitosamente solicito uma transferência de sua sentença, se possível.

— Transferência?

— Eu me ofereço voluntariamente para servir a sentença de Clotho no lugar dela.

Severus pôde perceber que o gesto foi inesperado. A Senhora Justiça ergueu uma sobrancelha, admirada. Os enviados do Céu e do Inferno, que tinham estado praticamente imóveis durante toda a audiência, mexeram-se nos assentos. Hermione gritou:

— Não!

— Isso é sério? - A juíza perguntou a Severus. - Quer servir a sentença dela?

Ele assentiu:

— Isso é muito sério, Madame.

Gravemente, ela lembrou:

— Se você aceitar, sua alma estará irrevogavelmente condenada. Neste momento, você ainda tem uma chance de redenção eterna. Se fizer isto, esta chance não existirá mais. E eu devo lembrá-lo de que não há recurso para esta sentença.

— Estou bem ciente dessas condições - ele afirmou calmamente.

— Severus, por favor! - Hermione estava exasperada.

Severus percebeu que Satã estava estranhamente calado, desta vez. Da última vez que Severus sugeriu tal arranjo, o Senhor de Todo o  Mal recusou seu pedido. Hermione chamou sua atenção mais uma vez.

— Por favor, Severus - ela pediu, com os olhos marejados. - Não faça isso. Você se perderia para sempre! Não posso permitir que faça isso!

Ele tomou as delicadas mãos entre as suas e disse, amoroso:

— E eu não posso deixar você ser condenada pela eternidade. Por favor, este não é o momento de ser nobre.

As lágrimas caíram pelas bochechas rosadas enquanto ela se lamuriava:

— Como quer que eu permita que você faça isso?

Incapaz de vê-la chorar, Severus voltou-se para a juíza.

— Isso é possível, Senhora? Ela tem que concordar?

— Na verdade - disse a Encarnação da Justiça -, o único que precisa concordar com esse novo arranjo é Satã. - Ela direcionou a pergunta para a Encarnação do Mal. - Concorda com a proposta, senhor?

Severus sentiu como se uma tonelada de rochas caísse sobre ele. Satã já rejeitara a proposta uma vez; certamente ele faria isso de novo. Hermione estava perdida!

A criatura astuta respondeu com uma outra pergunta, diretamente a Severus:

— Se eu aceitar, você vai levar o assunto para os tribunais mais uma vez? Vai tentar obter sua alma de volta?

— Não - reassegurou Severus. - Eu não apelarei da decisão. Tudo que peço, Satã, é que você cesse todo assédio a Clotho. Daqui por diante, você a deixará em paz.

— O quê?! - Satã não estava satisfeito. - Não vou dar um passe livre para se livrar do Inferno para ninguém! Se ela pecar, ela é minha!

Severus afirmou:

— Foi um mal-entendido. Não pedi imunidade. Só que pare de corromper a alma dela de maneira tão ativa. Se ela cometer um crime ou um pecado mortal, então estará condenada a arder no Inferno, como qualquer um.

Satã assentiu, e Severus ainda estava admirado que ele estivesse tão calmo a respeito da coisa toda. Será que ele tinha algum truque escondido na manga? Ele não era de confiança!

A Senhora Justiça indagou ao diabo:

— Ainda estou esperando sua resposta. Aceita a troca proposta?

O Príncipe das Trevas soltou um suspiro, como se estivesse entediado, antes de responder:

— Tá, tá, tudo bem: eu aceito. Mas com uma condição.

— E qual é?

— Eu vou levá-lo para o Inferno agora. Esse aí é um ladino, e eu acho que ele vai tentar sair do acordo, apesar de todas as promessas que está fazendo. Ou eu o levo agora mesmo, ou o negócio está desfeito.

Hermione ergueu-se, lágrimas descendo por suas faces, implorando, aos soluços:

— Por favor, dê-nos um pouco de tempo! Deixe ao menos nos despedirmos.

Ele se virou para ela e deu de ombros, insensível:

— O que impede você de fazer isso agora, gostosídeo? Vai nessa, pode dizer adeus agora mesmo.

Severus a segurou em seus braços e disse:

— Shh, está tudo bem. Tudo vai dar certo.

Ela soluçou alto:

— Oh, Severus!... Eu te amo demais!

— E eu também amo você  muito - disse ele, calmamente. - Talvez ir agora mesmo seja o melhor. Imagine como nos sentiríamos se tivéssemos algum tipo de prazo. Passaríamos os dias contando o tempo juntos, ficando cada vez mais angustiados e ansiosos à medida que a data fosse se aproximando. Assim você pode reconstruir sua vida e encontrar alguém menos danificado com quem compartilhar seu tempo.

— Não fale essas coisas sobre si mesmo - ralhou a moça. - Você é um homem tão nobre. Sinto-me tão culpada por deixar que faça isso.

Ele beijou as mãos dela, saboreando os últimos momentos juntos.

— Não fique assim. Estou muito grato por poder fazer isso por você. Saber que você estará segura e longe desta criatura será o meu conforto por toda a  eternidade, meu amor.

— Vou preservar sua memória até o fim dos tempos - prometeu Hermione, que não conseguira parar de verter lágrimas. - Acredite nisso.

Satã tornou-se desagradável ao indagar, impacientemente:

— Ei, seus pombinhos! Vocês ainda vão demorar muito? Tem gente aqui que tem reinos para governar, lacaios para comandar, essas coisas.

Gaia, com os olhos suspeitosamente vermelhos, não hesitou em espinafrar:

— Dá um tempo, Satã! Eles nunca mais vão se ver. Por toda a eternidade!

— Foi escolha deles, queridinha. - Satã deu de ombros. - Eu tenho um cargo para exercer e só estou tentando cumprir meus horários apertadíssimos.

Hermione virou-se para a juíza:

— Se for possível, Meritíssima, minha irmã de aspecto Lachesis quer ser voluntária para recolher a parafernália e dar assistência à próxima Encarnação da Morte.

Justitia voltou-se para Severus:

— Você ainda está no cargo, Thanatos. Você concorda?

Ele assentiu.

— Não poderiam estar em melhores mãos.

— Neste caso - disse a juíza -, lamento informar, mas seu tempo acabou. Então, em cumprimento ao acordo acertado entre as duas partes, a Encarnação do Mal pode colher a alma prometida, como estipulado na cominação da sentença. Se quiser, Thanatos, pode prosseguir agora.

Severus tentou afastar-se de Hermione, mas ela resistiu em se afastar dele. Então Chronos gentilmente a conteve, e ela chamou, abatida:

— Severus...! Por favor … Não!...

Severus viu Gaia aproximando-se para segurar a moça. Depois a Encarnação da Natureza assentiu para ele, assegurando que sua amada estava assistida. Então Severus despiu o manto e separou a parafernália que constituía o conjunto de seus instrumentos de trabalho. Houve uma dor quase física ao se separar da longa foice, sua preferida. Ele informou solenemente à juíza:

— Precisarei apenas da foice pessoal da Morte, Meritíssima.

A Encarnação da Justiça assentiu, e Severus notou que ela tinha dificuldade de dizer qualquer coisa naquele momento. Ele pegou a foice pequena e delicada para elegantemente fazer um preciso e pequeno corte em cada pulso. Sangue jorrou aos borbotões de uma maneira nada natural. Hermione soltou um ruído agudo e baixo ao se deixar cair sentada na cadeira, soluçando em silêncio.

Ao dar fim à própria vida, Severus cometia o mais condenável de todos os pecados: suicídio. Ele fizera isso antes, quando assumiu o cargo da Morte. Se havia alguma chance de redenção deste pecado antes, o segundo suicídio iria selar seu destino irrevogavelmente.

Satanás não escondeu a satisfação ao pedir aos companheiros a seu lado:

— Belzebu, Asmodeus, vamos trabalhar. Ajudem aí a carregar esse desgraçado para o Inferno.

Apesar da perda de sangue, Severus estava consciente o suficiente para protestar:

— Eu posso andar!

— Eu sei - disse Satã ironicamente. - Mas daí qual é a graça? Vamos lá, rapazes! A alma dele tem um sabor todo especial para mim. Ah, Severus, cansei de avisar que você era meu, não foi? Você não acreditou em mim, e olha só no que deu! E ainda dizem que fui eu quem caiu do Paraíso por causa do pecado da arrogância, vaidade e orgulho! Quem está rindo agora, mané? Ah, ah ah! Oh, vamos nos divertir tanto! Vamos lá, gente, vamos em frente que atrás vem gente!

O bom humor de Satã era um contraste e tanto com a tristeza que imperava no ambiente. Hermione estava desolada, bem como Gaia e Justitia. Marte parecia preocupado e Chronos estava irritado. As únicas criaturas que pareciam imperturbáveis eram os príncipes do Céu, Metatron, e do Inferno, Belial, embora o último não escondesse um brilho de satisfação nos olhos malévolos.

Os dois demônios seguraram Severus, um em cada braço, e o ergueram, ignorando a poça de sangue que ele criava. Hermione tentava ao máximo não choramingar, mas era claro que ela fracassava miseravelmente.

O caso era que ela não era a única ali que estava fracassando. Os dois demônios menores, Belzebu e Asmodeus, tentavam ao máximo, mas dava para ver claramente que não estava adiantando muito. Eles estavam fazendo um esforço imenso, mas eles não conseguiam mover Severus.

Satã ficou irritado e impaciente.

— Cumé, pode ser ou tá difícil? Que diabo tá acontecendo com vocês dois?

O mais alto estava totalmente envergonhado.

— Chefe, estou tentando. Esse mané é mais pesado do que parece.

Mas parecia que todos os esforços deles eram inúteis para tentar arrastar Severus dali. A Encarnação da Morte já perdera a consciência por causa da perda de sangue. Irritado, Satã empurrou Belzebu para longe e rosnou:

— Vocês são inúteis! Eu tenho que fazer tudo aqui eu mesmo! Sai daí!

Satã tentou arrastar o já inconsciente corpo de Severus, mas para sua surpresa, também ele não conseguiu mover um centímetro sequer. A Encarnação do Mal largou sua carga, sem esconder a frustração, e berrou:

— Em nome dos infernos, o que está acontecendo aqui? Que tipo de maracutaia você está aprontando agora, Justiça?

Antes que Justitia pudesse responder às acusações, o enviado do Paraíso gentilmente sugeriu:

— Talvez esta alma não seja mais adequada a ir para seus domínios, Ó, Sua Maleficência Suprema.

Satã perdeu as estribeiras.

O quê?! Não, não, não! Vocês não podem fazer isso. Fizemos um acordo! Isso é trapaça! Além disso, ele cometeu suicídio! Não há maior pecado mortal do que esse!

Sem se afetar com a explosão de fúria, Metatron lembrou:

— Não há maior prova de amor do que doar a própria vida por aqueles a quem amamos.

Hermione não entendia direito o que se passava, e ficou intrigada. Gaia reagiu com cautela, mas o rosto de  Chronos chegou a se iluminar com o enorme sorriso que ele abriu.

Por outro lado, Satanás estava mais do que passado. Possesso, na verdade. E ele resolveu ser irônico:

— Ah, claro! O sacrifício do namorado - o mártir. Essa é que é a jogada de vocês? E eu achava que o Todo-Poderoso jogava limpo! Que truque sujo!

Metatron lembrou beatificamente:

— Não há trapaça. O julgamento das almas não é uma das atribuições do Pai Maior. Isso é feito no Purgatório, como você sabe muito bem. Ao dar a própria vida em sacrifício pela mulher amada, a alma de Thanatos se redimiu completamente e agora está apta para ir ao Paraíso. Portanto, você não tem mais nenhum poder sobre ele. A alma de Severus agora pertence ao Altíssimo.

Com um discreto movimento na mão, o poderoso Arcanjo curou os pulsos de Severus ao mesmo tempo que limpou o sangue. Satã não tinha terminado de gritar com todos:

— É um embuste! Eu fui claramente enganado! Senhora Justiça, por favor! Isso não é justo!

A Encarnação da Justiça ergueu uma sobrancelha e pronunciou:

— Na verdade, é bem justo. Não existe o mínimo resquício de trapaça em nada do que se passou aqui.

— Foi um truque! - gritou Satã, numa voz esganiçada, mais vermelho que nunca e irritado como uma criança de cinco anos sem seu pirulito favorito. - Ele se matou. Suicídio é um pecado mortal! É o pior dos pecados e uma das minhas conquistas mais memoráveis! Nada pode derrotar isso!

Metatron explicou:

— Mas ao contrário de almas egoístas, Thanatos não cometeu suicídio para escapar de seus mal-feitos e de seu sofrimento ou num ataque arrogante de raiva contra Deus. Estas são as razões pelas quais as almas são condenadas pelo suicídio. Thanatos, porém, deu sua vida em sacrifício pelo bem-estar de outra pessoa. Ao concordar em sacrificar a si mesmo, Thanatos purificou sua alma de maneira mais brilhante do que ele mesmo poderia imaginar.

Satã xingou baixinho, irritadíssimo. Antes que ele pudesse prolongar a discussão, a Senhora Justiça bateu o martelo e disse:

— Então está acertado. Portanto, declaro esta disputa oficialmente resolvida e esta sessão encerrada. Corte dispensada!


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