Gone With The Water escrita por Arya


Capítulo 1
Gone with the water.


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE ESSA PORRA SAIU!
Era pra ter sido postado ontem, hehe, mas adivinha quem não tinha terminado? EEEEEEU!
ENFIM! Espero que gostem!



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Tsunami gostava do mar, e era agradecido por morar perto de um e poder acordar e sempre olhar para aquela bela visão. Ele adorava ir para lá e entrar no mar, e surfar com alguns amigos, além de zoar a cara de um deles, que ficava muito vermelho devido ao sol e a sua pele extremamente pálida.

No entanto, naquele dia aparentemente calmo e ótimo para pegar umas ondas, é como se tudo tivesse mudado na vida do mesmo que, atualmente, o rosado já olhe aquele mesmo mar com uma mistura de memórias boas e um sentimento de culpa enorme. Claro, ele não se arrependa em nada de ter conhecido-o, mas ao mesmo tempo ele queria que tudo fosse diferente.

Ou não, porque poderia afetar o modo de como as coisas ocorreram.

Como esperado, o tal dia que marcou sua vida estava ensolarado. Por sorte os pais de Fubuki fez o garoto passar quase o vidro de protetor solar na pele, porque senão ele já estaria ficando como um camarão. Andando para o lado e para o outro, Tsunami olhou o amigo correndo atrás dele com uma prancha na mão, o que o fez cruzar os braços.

— Caralho, quando eu digo dez horas, não é dez e meia! — exclamou o garoto de cabelos rosados, batendo a prancha no chão e correndo para dar uma coça no garoto.

Ele tirou os cabelos soltos que estavam no rosto de Touko e estalou os dedos, assim dando um peteleco em seu rosto o que, a propósito, doeu muito. Ele olhou o albino ao seu lado, que estava coberto de protetor solar e parecia o deixar mais branco.

— Não vou lhe bater para deixar o trabalho de ter deixa todo vermelho para o sol. — disse Tsunami e ele foi andando até a prancha, enquanto os outros dois foram atrás dele. — Vamos logo! As ondas estão maravilhosas hoje!

— Arg! Como assim o Shirou não ganha peteleco? — reclamou Touko, andando atrás dele para entrar no mar.

— Eu sou café com leite. — disse o mesmo com um sorriso inocente no rosto.

Tsunami não respondeu, apenas seguiu ao mar com suas águas cristalinas que estavam totalmente o chamando, desligando-se do mundo mesmo que prestasse atenção nos amigos atrás dele. Olhou a onda se apresentando e foi até a mesma rapidamente, logo entrando nela. A sensação daquilo tudo era envolvente e gostosa, fazia o mesmo afastar os pensamentos sobre os seus problemas em geral, sendo apenas ele e a onda.

Seu pai era dono de um bar, enquanto sua mãe vivia em outra cidade, ignorando a existência dele até o Natal, quando mandava um bom dinheiro ao mesmo porque não o conhecia muito bem para comprar algo. Desde os oito anos, tem se virado para sobreviver tendo o pai que tem e é, seu único refúgio desses problemas era aquele enorme mar que o garoto amava.

Depois de um longo tempo, Touko e Fubuki o olharam em cima da prancha, e o mesmo sorriu a eles que estavam olhando em volta e depois a praia que estava levemente longe.

— O que foi?

— Eu tenho que voltar. Compromisso com meu pai. — disse Touko fazendo um bico fofo enquanto tirava o elástico molhado de seus cabelos com leve dificuldade.

— E eu estou me sentindo enjoado. Acho que vou voltar também.

Tsunami rolou os olhos.

— Veio depois de comer, não é? — disse e o garoto abriu um sorriso culpado. — Só faz merda. Enfim, vão lá. Acho que vou pegar apenas mais uma.

Os dois se entreolharam e concordaram, virando-se e indo embora.

Depois de um tempo parado olhando ao redor e vendo aonde era melhor posicionado, o garoto olhou para trás e viu, rapidamente, se eles estavam ali, mas logo viu uma onda vindo e acabou desistindo de avistar, preparando-se. No entanto, a onda estava alta demais, e quando tsunami se posicionou, acabou se desequilibrando na prancha e, consequentemente, caiu na água.

Não era comum aquilo acontecer com ele, nem um pouco mesmo. O garoto abriu os olhos embaixo d’água e tentou nadar até a superfície, mas falhou e além disso a sua prancha bateu em sua cabeça no meio daquilo. Ele pode ver um breve filete vermelho, e seus olhos foram se fechando assim como foi perdendo seus sentidos. Não conseguiu mais prender seu fôlego e estava afundando mais e mais.

Ele viu uma cauda azul marinho passando aos seus olhos, e então um rosto de alguém pálido com os cabelos negros medianos caídos em seu rosto, movimentando-se com a água, apareceu em sua visão já turva.

Foi a única coisa que ele viu antes de seus olhos fecharem completamente.

***

Tsunami recobrou a consciência com alguém batendo de leve em seu rosto, e ele cuspiu água em uma tosse, virando-se para o lado abrindo os olhos para a jogar todo o líquido que engoliu para fora. Ele recebia tapas de alguém nas costas, e assim que se recuperou olhou a pessoa com calma.

Era um garoto moreno, de olhos castanhos escuros como o seu cabelo molhado, e tinha uma pele muito branca, como papel. Seu sorriso abriu-se quando notou que o garoto estava bem.

— Ah, você está realmente bem. — disse com o mesmo sorriso.

Tsunami novamente olhou em volta e piscou várias vezes os olhos, não acreditando no que via. Aquilo era uma calda?

O garoto olhou para onde o mesmo olhava e arregalou os olhos, depois o olhando. E, com isso, os dois gritaram ao mesmo tempo, enquanto o mesmo foi rapidamente para a água.

— VOCÊ TEM UMA CAUDA! — gritou Tsunami, afastando-se do mesmo. — UMA CAUDA DE PEIXE! ESTÃO FAZENDO UMA PEGADINHA AO ESTILO AQUAMARINE COMIGO E EU NÃO SABIA?

— O que é “Aquamarine”? — perguntou, inclinando a cabeça. — De qualquer modo... NÃO ERA PARA VOCÊ TER VISTO ISSO! DESVER AGORA!

— NÃO TEM COMO. PORQUE NÃO CORREU QUANDO VIU QUE EU ACORDEI?

— EU SOU LERDO, AINDA ESTOU NA ADOLESCÊNCIA! — ele gritou e depois tossiu brevemente. — É sério, eu sou bem lerdo. Sempre me perco porque me distraio com os corais e vocês controlando aquela onda. Como fazem aquilo?

Tsunami logo pensou rapidamente em sua prancha.

— MINHA PRANCHA!

— Calma. — ele apontou para ela ao lado dele é o rosado a puxou, colocando-se entre ambos. — Você vive controlando a onda com isso, como se chama mesmo? Prancha?

— Controlando? Que?

O rosado piscou um pouco e riu da cara de confusão do moreno.

— Isso se chama surfar, não controlo onda nenhuma. É questão de equilíbrio e dedicação.

O mesmo fez um “ahh”.

— Eu uso isso para conseguir ficar em cima da onda. E sim, se chama prancha.

O mesmo olhou aquilo e sorriu, cutucando brevemente. Tsunami começou a contar como era surfar enquanto o mesmo falava sobre observar de longe ambos surfando, além de comentar sobre o fundo do mar.

— É… Suas unhas mudam de cor de acordo com o seu humor e você tem brincos de estrelas que vivem te elogiando?

— O que? — ele disse olhando suas unhas que estavam normais e passando as mãos nas orelhas.

— Ah, nada não. — disse Tsunami rindo brevemente.

Soujirou sorriu e respirou fundo. Estavam embaixo de uma ponte de madeira que dava ao mar, e o rosado respirou fundo.

— Não sei como é na sua sociedade abaixo do mar… Existe Atlântida?

Souji o olhou confuso.

— Deixa novamente. — disse o garoto e ambos riram. — Aqui, no nosso mundinho na superfície temos a mania de que, quando fazemos um favor, temos que dar algo em troca.

— Eu te salvei, não quero algo em troca. Só o fato de você estar bem é algo maravilhoso. — o garoto falou com uma voz suave e um sorriso de ponta a ponta.

— Não, eu quero lhe dar algo em troca. Não tem alguma ideia?

Souji pensou um pouco.

— Oh, você pode me mostrar o “mundo acima da superfície"?

Tsunami piscou os olhos. Claro que ele poderia fazer isso, mas como seria complicado. Afinal, uma cauda daquela o garoto não iria passar despercebido.

— E a sua cauda? Não é normal um… um… Tritão?

— Sim. Sereias é o feminino.

— Ah, sim. Mas de qualquer modo, não é normal um ser que todos consideram inexistente andando por aí. Na realidade, nem tem como você andar por aí.

Souji olhou sua cauda e fez bico, meio triste. Tsunami sentou-se ao lado dele, em cima da sua prancha. Logo o menino teve uma grande ideia que, seriamente, Tsunami já imaginou ele fazendo um contrato com uma espécie de Úrsula da vida real. Veio até a música na cabeça.

— Tive uma ideia ótima! — disse sorrindo. — Não se preocupe, venha aqui amanhã às dez da manhã, pode ser?

— Bom… Ok, eu acho. Mas, não vá fazer nenhum pacto com uma mulher maluca para ter pernas em troca de sua voz.

Souji piscou os olhos.

— Vocês, seres humanos, são muito estranhos.— ele falou rindo.

O garoto voltou ao mar e Tsunami subiu na ponte de madeira que tinha, indo até a beira e se sentando, vendo o garoto nadar e nadar, até ir a superfície e sorrir a ele.

— Até amanhã! — o garoto disse sorrindo, logo voltando para o fundo do mar.

Tsunami sorriu e acenou, mas logo olhou para a prancha e raciocinou um pouco. Aquilo é realmente verdade? Deu um sorriso breve e depois olhou em volta, vendo um homem indo até ele com um sorriso no rosto.

É, a sua pequena utopia tinha acabado. Suspirou fundo, lamentando-se pelo o tritão querer tanto ver o que tinha acima da superfície que, para ele, era horrível.

Não que, talvez, o moreno não tenha seus problemas de peixe. Deve ser chato ter que viver fingindo que não existe.

***

— Tsunami, coloque comida pro Pac! — falou o homem se jogando no sofá com uma lata de cerveja na mão.

O rosado desviou de uma das milhares de latas de cerveja jogadas no chão e foi andando até o gato, que levantou-se ronronando com o rabo para cima e foi até ele, que colocou a comida e fez carinho na cabeça do mesmo, retirando a blusa.

Depois de trabalhar breve no bar de seu pai, ele ainda tinha que arrumar o local que viviam e, em dias de aula, ainda tinha que estudar para sair daquela miserável vida. Ok, é seu pai, mas…

— Eu soube que você terminou com aquele garoto. — disse o homem após beber um gole da garrafa, que entornou de leve por sua barba mal feita. — Tachimukai.

— Sim.

— Fez bem. Dois iguais não podem ficar juntos, é errado e nojento.

Mas ver duas mulheres se pegando em seu pornô diário a noite não é, né? — sussurrou colocando as latas jogadas no chão no saco de lixo.

O homem jogou a sua perna pesada em cima do sofá na cabeça do filho, depois o chutou para o canto.

— Sai daqui! Agora! Para o seu quarto!

O mesmo terminou de cantar as latas visíveis, porque provavelmente tinha mais embaixo do sofá e fechou o saco, levantando-se e saindo da sala e indo para o lugar mandado, sendo seguido por Pac, seu gato. Ele entrou no mesmo após Pac entrar, escutando o homem o chamar de “nojento” e que ele era um estúpido, só sabia surfar.

Ele ao menos sabia que as melhores notas da sala era dele? Ou que tinha vencido as olimpíadas de matemática durante esses três anos que cursou do ensino médio, sendo que a sua última olimpíada foi um mês antes das férias começarem que foi a, talvez, uma semana?

Ele respirou fundo, pegando o notebook e abrindo o Google, pensando um pouco. Talvez fosse melhor pesquisar sobre sereias e tritões? Deu uma breve risada.

Mas sim, era melhor.

Pegou seus fones dentro da bolsa e os colocou, apenas para ignorar seu pai falando enquanto pesquisava. É, ele nunca pensou que iria pesquisar algo assim e para um motivo tipo: Ser legal com um tritão.

Respirou fundo, rindo brevemente e começando a assistir um vídeo qualquer para ver se ajudava em algo, enquanto sentia sua barriga roncar de fome. No entanto, ele não iria fazer nada para comer tão cedo.

Escutou algo quebrando e retirou um dos fones, levantando-se rapidamente para trancar a porta. Estava acostumado com aquilo, afinal seu pai ficava sóbrio apenas quatro horas por dia.

No outro dia, Tsunami acordou às nove da manhã e escutou todo o discurso do seu pai sobre ele ter perdido o controle, dizendo que apenas estava preocupado dele não se encontrar com o filho após a morte. Ou seja, estava preocupado de Tsunami morrer e ir para o inferno.

Respirou fundo para aguentar aquilo. Ia ser um dia legal, pelo menos pensava que não fosse de feitio de peixes deixar alguém no vácuo.

A noite, ele tinha visto “Aquamarine” e “A Pequena Sereia”, então teve algumas ideias: Levaria um pente, roupas e sapatos legais, além de não ir para lugares onde vendem peixe já que… Bom, o tritão era tecnicamente metade peixe.

E ele deve falar com peixes, até pode ter uma espécie de amigo como o Linguado é para a Ariel. É realmente, ele queria saber se existe aquelas estrelas falantes, mesmo que provavelmente não existe.

Será que ele fala com tubarões? Ou sabe quando são os melhores dias para surfar sem se acidentar? Será que ele poderia o acompanhar nesses dias, ou talvez o ajudar a truques novos?

Muitas perguntas para uma pessoa só. Talvez ele teria que ir na sociedade de onde o garoto, cujo nome não sabe, vem para retirar todas essas dúvidas.

Assim que chegou no local, com dez minutos de atraso, ele foi para debaixo da ponte de madeira que ia até o mar e olhou em volta, sem ver o tritão. Talvez aquilo tudo foi de sua cabeça? Bom, do jeito que estava, nem se surpreenderia.

Talvez estivesse esquizofrênico.

Ele virou-se para trás e viu um garoto sorrindo a ele, levantando-se com duas pernas, totalmente nu. Tsunami abriu a mochila em suas costas e sorriu vitorioso ao ter imaginado aquilo, o entregando as roupas virando-se para o lado.

— Eu disse dez horas, não dez horas e dez minutos! — exclamou fazendo bico.

— Coloca isso, por favor. — disse rindo brevemente.

O garoto olhou para o outro lado e passou as mãos na sobrancelha, depois olhando quando o garoto sussurrou um “pronto", e o rosado virou calmamente. A blusa verde água de manga comprida tinha ficado enorme nele, e foi uma boa ideia pegar cintos, já que a bermuda estava meio larga. O tênis parecia também estar largo, e o garoto não tinha amarrado os cadarços.

— Venha, deixa eu arrumar isso. — ele foi até o mesmo e ajoelhou-se, amarrando seus cadarços. — Aliás, qual o seu nome?

— Souji.

Tsunami o olhou e o mesmo sorriu brevemente, de modo encantador. Talvez estivesse hipnotizado ou algo do tipo, mas o garoto tinha um sorriso contagiante e de criança. O mesmo levantou-se.

— Então, vamos? Tenho muita coisa para perguntar e lhe mostrar! — ele disse calmamente e Souji concordou, alegremente.

Eles saíram do local e foram na direção da saída da praia, enquanto Souji estranhava estar andando e parou rapidamente, e então Tsunami pegou a mão do mesmo e o puxou para andar mais rápido.

***

— Diga-me, como conseguiu as pernas? — perguntou Tsunami levemente curioso andando ao lado dele pela as ruas calmamente.

Souji olhou os pés e sorriu, dando dois pulinhos e depois mostrou um bracelete que tinha em seu pulso, mas logo o tapando novamente com o casaco.

— É da minha avó, passado de geração a geração em nossa família. Minha tataravó queria ver o mundo, então criou um colar que pudesse criar pernas em quem o usasse. — disse Souji sorrindo. — É o que me contaram.

Ele sorriu e Tsunami começou a mostrar todos os lugares daquele lugar que vivia, evitando feiras e tudo mais. O garoto também tirou algumas fotos, viu o moreno ajudar algumas pessoas e ainda o levou para provar sorvete, no qual ele escolheu o de manga. Não pareciam ter se conhecido a pouco tempo, mesmo que Tsunami perguntasse muita coisa sobre a vida de Souji e vice-versa.

Era a primeira vez que fazia algo que não o lembrasse de seu pai sem ser surfar, e estava calmo enquanto era puxado sempre pelo o pequeno e animado garoto para todos os lugares.

— O que é isso? — perguntou Souji em uma locadora, apontando para a fita de Aquamarine.

Tsunami caiu na risada e pegou o dvd, olhando a capa.

— Isso é um filme, tipo aquela coisa que estava passando na televisão na sorveteria hoje de manhã.

— Ah sim. — ele disse e o olhou. — É sobre sereias?

Tsunami concordou e lambeu os lábios.

— Fala sobre duas amigas que encontraram uma sereia, Aquamarine, na piscina depois de uma tempestade. E essa sereia tem a missão de mostrar ao seu pai, rei dos mares, que os humanos conseguem amar, então vai atrás de um grande amor.

Souji piscou os olhos.

— Parece legal! — disse entusiasmado.

Tsunami sorriu e concordou, colocando de volta na prateleira.

— Eu tenho o filme em casa. Qualquer coisa a gente pode ver lá. — disse sorrindo e o garoto concordou.

Não, não iriam conseguir ver o filme, ou talvez sim, mas teria que arrumar um modo de seu pai não descobrir.

O garoto foi para a outra sessão de filmes e Tsunami deu uma corrida atrás dele, onde parou quando viu o menino meio tímido. Ele olhou para frente, vendo um casal se beijando naquela sessão parecendo que iam se engolir.

Tsunami pegou a mão de Souji e sorriu.

— Desculpe.

Ele saiu andando para a outra, enquanto Souji o olhou brevemente após ambos soltarem as mãos. Logo, começaram a rir.

— Eles estavam se beijando. Fiquei até sem reação. — disse Souji. — É normal vocês se beijarem?

—  Sim, quando gostamos muito alguém.

Souji o olhou e fez bico.

— De onde eu venho isso é um pouco diferente.— disse olhando um filme de romance, “Um amor para recordar".

Souji olhou o surfista, que estava parando de rir, e chegou mais perto, ficando na ponta dos pés e dando um beijo no garoto. O rosado arregalou os olhos e se afastou do mesmo, que ficou confuso.

— Porque você fez isso?

— Estou apenas tentando entender vocês. Não beijam todos que gostam?

— Sim, mas não desse modo! — exclamou. — Apenas quando essa pessoa quer lhe beijar e romanticamente. Quando você quer beijar uma pessoa que você gosta de outro jeito, é na bochecha ou simplesmente não beija, apenas abraça.

Souji fez um breve “Ahhh" e encolheu-se pedindo desculpas enquanto Tsunami passou as mãos nos lábios, mas logo depois sorriu.

— Não se preocupe, ok? Só não faça isso novamente.

— Quando vocês sabem que essa pessoa quer te beijar? Tipo, na minha sociedade o beijo é apenas entre um casal que está destinado a ficar juntos, e beijamos no topo da cabeça se o afeto for de outro modo. — disse Souji. — Se bem que, normalmente, os abraços são a maior demonstração de afeto que temos. Afinal, não é legal se sentir amado e quentinho aos braços de quem você ama?

Tsunami o olhou e acabou por concordar, mas logo pensou na sua pergunta inicial e continuou a andar pela a locadora, meio sem graça ainda. No entanto, tinha que deixar passar, afinal Souji não é exatamente humano.

— Do mesmo modo que vocês devem saber. — disse Tsunami. — Rola um clima, ambos fecham os olhos e por aí vai.

— Ah sim. Nosso beijo também tem aspectos curativos e o usamos para segurar o ar de pessoas que estão a se afogar. — disse Souji. — Eu fiz isso com você naquele dia, desculpe.

Tsunami o olhou e caiu na risada.

— Por me salvar? Não precisa pedir desculpas.

— Ah, ok… Desculpe.

Tsunami o olhou com raiva e olhou uma conhecida, o que o fez puxar Souji pela a gola da camisa e sair correndo, mas não deu muito certo.

— Tsu! — disse a voz.

Ele parou e olhou. Touko. Usava uma blusa amarela e short branco, com os cabelos amarrados para trás em um rabo de cavalo. Souji parou ao seu lado, sorrindo e acenando a mesma.

— Oi Touko. — disse engolindo a vontade de dizer que aquele momento não era uma boa hora, ou de mostrar que estava sem saco.— Esse é o Souji, meu amigo de infância que veio de Tóquio. Ele veio passar as férias aqui.

— Oi, prazer, eu sou a Touko. — ela disse e ambos se cumprimentaram. — Bom, eu queria saber se você vem para a minha festa de aniversário daqui a uma semana.

— Ah… — Tsunami pensou um pouco se teria que ajudar o seu pai. — Sim, acho que sim.

Touko olhou Souji.

— Você pode vir também. Quanto mais pessoas, melhor.

— Eu? Ah, não, a gente nem se conhece e…

Touko cruzou os braços.

— Amigos do Tsunami são meus amigos também.

Ela sorriu e deu um beijo na bochecha do garoto, saindo andando atrás de Rika, uma garota de cabelo azul que estava espionando tudo. Tsunami passou a mão no local e Souji abaixou a cabeça, logo continuaram a andar.

— Ela gosta de você.

— Gosta? Acho que não.

Souji franziu os olhos e deu um sorriso travesso, que fez Tsunami dar um peteleco em sua testa e começar a andar, saindo da locadora e indo ver outros filmes antes de saírem.

Quando deu a hora de que Tsunami não poderia mais mostrar as coisas a Souji, umas oito da noite, eles voltaram para o mesmo local de partida e Souji retirou as roupas e a pulseira, no qual apenas ficou segurando, logo entrando na água.

Tsunami subiu na ponte e sentou-se na beira, vendo Souji na água e nadando com calma, o olhando.

— Queria ter lhe mostrado Aquamarine. Que tal amanhã? — perguntou. — Nessas férias eu não tenho nada a fazer mesmo.

Souji pensou um pouco e concordou.

— Podemos nos ver até a festa da sua amiga, Touko. — disse. — Eu gostei de passar o dia com você.

Tsunami sorriu ao escutar aquilo, balançando as pernas.

— E sobre o beijo de hoje, eu peço desculpas.

— Tudo bem, teria sido um problema maior se alguém visse.

— Porque? — perguntou curioso na superfície de modo que não vissem sua cauda.

Tsunami pensou um pouco.

— Na sua sociedade, vocês podem amar livremente romanticamente? Tipo, um homem pode namorar um homem ao invés de uma mulher.

Souji pensou um pouco e concordou.

— Claro, o amor é livre. Nós amamos quem quisermos e quem nos faz bem. — disse na inocência.

— Queria que aqui fosse assim. — sussurrou o olhando.

— Existe um padrão na sua sociedade? — perguntou.

— Digamos que sim, mesmo que tenha gente corajosa o suficiente para mostrar que não segue.— disse Tsunami. — Para algumas pessoas, a maior parte delas infelizmente, nós temos que amar romanticamente pessoas do sexo oposto.

— Mas e se você se apaixonar por alguém do sexo oposto?

Tsunami respirou fundo e retirou a blusa, entrando na água junto a ele em um pulo. Eles ficaram embaixo da ponte, com Souji o rondando.

— Eu posso até namorar se for recíproco, mas as pessoas vão julgar. Claro, umas não, mas vai ter sempre alguém que irá olhar torto ou até mesmo fazer algo horrível com tal casal.

Souji parou na frente do mesmo, parecendo triste.

— Fico triste em saber disso. Vocês poluem mares e sabem disso, machucam muitos outros animais e não é apenas por alimento, mas não parecem se importar. Digo, não deve ser o seu caso, mas existem humanos assim pelo o que eu vejo lá embaixo. — ele passou as mãos no cabelo. — Ao invés de se importarem com isso, se importam em padronizar algo que deveria ser livre.

— Eu sei. Acho que somos monstros perto de vocês.

Souji riu e negou.

— Ok, eu estou citando coisas e parece que realmente somos os bondosos daqui, mas não é bem assim. Nós, que vivemos lá embaixo, apenas queremos viver em paz e harmonia, mas é claro que temos um ou outro que quer promover a guerra do século contra outras pessoas.

Ele olhou para cima, vendo a luz entrando pelo os buracos entre as madeiras.

— Não somos perfeitos, mas também não somos monstros. É questão de ponto de vista.

Tsunami o olhou e depois o viu continuar a nadar em volta dele.

— Posso tocar em sua cauda?

Souji o olhou e pensou um pouco, virando-se para cima e concordando.

— Não é inadequado?

— Não. Digo, se eu não tiver deixado, seria. — ele falou.

Tsunami sorriu enquanto o tritão nadava em sua volta e tocou um dos dedos na cauda azul marinho do mesmo. Era gelada e tinha uma textura estranha, e depois de um tempo passou a mão com um sorriso no rosto, o que fez o garoto rir.

— Você sente cócegas?

— Um pouco. Sou muito sensível a isso.

Tsunami riu e parou de passar a mão, fazendo o mesmo mergulhar e voltar a superfície o olhando.

— Bom, até amanhã no mesmo horário.

— Até.

Souji sorriu e Tsunami sentiu seu coração bater mais forte, mas ignorou enquanto se afastava. Logo Tsunami estava em terra firme e Souji, por sua vez, nas profundezas do mar cristalino.

***

Uma semana depois, a aguardada festa.

A festa de Touko seria numa cabana perto da praia, e Souji estava com uma blusa laranja de manga curta e uma calça antiga de Tsunami que já estava apertada nele.

Touko, assim que os viu, sorriu e abraçou o garoto de cabelo rosa, enquanto Souji apenas virou o rosto com as bochechas rosadas.

Naquela uma semana, talvez o ser dos mares tenha começado a sentir algo pelo o bronzeado. Não era muito tempo desde que se conheceram, mas passaram por coisas boas, mostraram pequenos defeitos em relação a algumas coisas e o moreno ficou encantado pelo o Jousuke. Então, sim, provavelmente o sentimento que estava em si agora era ciúmes.

— Oi Souji. — ela disse acenando e os chamou para sentar em uma mesa.

Tsunami começou a falar com todos enquanto Souji apenas acenou, e ambos sentaram um ao lado do outro. Começaram a conversar e comer com calma, então foi o momento que Rika pediu peixe frito, o que fez Souji arregalar os olhos e Tsunami segurou a sua mão junto a risada, mesmo que não tenha sido nada engraçado ao mesmo.

Depois de umas conversas e falarem sobre todo o tipo de coisa, eles foram dançar junto a outros. Souji ficou parado vendo Tsunami com os outros, sentado na mesa ao lado de uma garota que parecia com tédio por estar ali.

— O que houve? — perguntou a menina, que usava uma peruca vermelha dada por Touko para algumas pessoas.

— Sei lá, apenas estou no tédio.

— Entendi.

— Tsunami é um cara legal. — falou a garota bebendo um pouco do refrigerante. — A Touko gosta muito dele, mas não é apaixonada. Ela o vê como um irmão mais velho.

Ele olhou a Touko dançando com o mesmo e passou as mãos no cabelo, rindo brevemente por ter ficado com ciúmes atoa.

— O primeiro namorado dele se mudou para Inazuma, o garoto ficou devastado. E caso você pense em conquistar Tsunami, o faça feliz. Souji balançou as pernas e depois viu o moreno o olhar, deixando Touko dançando com o tal Endou Mamoru, e indo na direção dele dançando.

— Venham!

— Não, preguiça.

Um garoto de cabelo azul a pegou pela a mão e a puxou, enquanto Tsunami foi andando até ele e o entregou um suco de manga, logo o puxando pela as mãos também. Ele foi para o meio da multidão, rindo e bebeu o suco, logo começando a dançar do mesmo modo que Tsunami.

No meio da música, Tsunami conversava com Souji no ouvido para ele conseguir escutar e o mesmo sorria. Pareciam felizes, e alguns olhavam sem se importar, enquanto olhos encaravam como se julgasse, mas aquilo não importava. Quando o Jousuke estava ao lado do tritão, era como se apenas eles dois existissem.

Touko olhou o amigo de longe, dando um sorriso travesso ao lado de Rika, que dizia para ele ir logo e colocar as cartas na mesa. O menino revirou os olhos e olhou Souji, puxando-o para fora do local, indo na direção da praia para ficarem as sós.

Andaram um pouco enquanto conversavam como normalmente, sorrindo um ao outro e de mãos dadas. Chegaram em seu ponto de encontro e sentaram-se na parte sem água, e Tsunami o olhou.

— Eu gostei de ter lhe conhecido.

— Também. Parece que, não sei, foi destino você se atrapalhar naquele dia e eu estar por perto para lhe salvar.

Tsunami concordou e ajeitou o cabelo do garoto, olhando para os lados. Souji o olhou fixamente e o mesmo foi se aproximando, enquanto continuava imóvel, até sentir os lábios dos dois se tocando.

Foi o melhor sentimento que Souji sentiu.

Separaram-se, e o mais baixo o olhou levemente antes e iniciar outro beijo, onde dessa vez era mais profundo e cheio de sentimento.

— Mas… — Souji parou. — Isso não daria problemas a você?

— Vamos pensar nisso depois.

— E eu sou um tritão. Digo, meus pais sabem que estou aqui, mas…

— Souji. — Tsunami o fez olhar em seus olhos. — Depois pensamos nisso, vamos ser felizes agora. Por favor.

Souji o olhou e suavizou o olhar, logo dando outro beijo em Tsunami, que retribuiu rapidamente. Depois de um longo tempo entre beijos e carícias, sem pensar em mais nada, a felicidade de Tsunami acabou.

— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? — gritou um homem atrás dele.

— Pai?

Tsunami e Souji se afastaram e o rosado olhou para trás, vendo o seu pai com uma garrafa de whisky vazia em sua mão. O mesmo mandou Souji ir embora que era melhor, e o garoto ficou travado no mesmo lugar. Parecia aflito.

O homem puxou Tsunami pelo o braço para longe e Souji foi atrás, o puxando pelo o outro. O mais velho o chutou na barriga e o jogou contra uma das madeiras que sustentavam a ponte, no qual o fez bater a cabeça e ficar meio tonto.

Foi a última vez que Tsunami viu o garoto. Ao chegar em casa, seu pai o jogou contra a parede e começou a bater nele, chutando-o e até quebrando a garrafa em sua cabeça.

Não tinha ninguém para o salvar.

Ele chorou e gritou por ajuda, mas ninguém ouviu. Nem mesmo Pac fez algo, fugindo.

Pelo menos um deles se salvou.

Apenas três dias depois que ele saiu de casa, já que estava trancado pelo o seu pai no quarto.Touko estava preocupada e mesmo que tenha ido para a casa dele na esperança de o encontrar, seu pai não estava porque trabalhava no bar.

O homem foi preso e o pai de Touko acolheu o garoto quando sua mãe disse que não o queria, apenas pagava pensão para o manter longe. Com isso, Tsunami apenas pode voltar ao seu lugar secreto onde encontrava Souji depois de uma semana e meia, e não se surpreendeu quando não encontrou o menino por lá.

Será que a batida na cabeça teria o machucado muito? Será que ele estava bem?

Colocou as mãos no bolso da calça antes de sentar-se, notando em uma concha exótica ao lado de onde sentou-se. Ele a pegou e olhou dentro, vendo que tinha um papel. A letra era feia, mas ele podia entender.

Infelizmente.

Caro Tsunami,

Muito obrigada por essa semana maravilhosa, mesmo que ela não tenha terminado do jeito que imaginávamos. Você caiu de paraquedas em minha vida e a transformou em algo muito aventureiro, já que ela era bem chata e tediosa. Afinal, viver escondido do mundo é difícil.

Eu gostaria e até mesmo poderia viver com você, namorar e o fazer feliz, meus pais ficam preocupados, mas portanto que você seja bom comigo, eles não se importam. Afinal, como disse, minha família é muito aventureira e é até comum coisas assim acontecer, mas… Talvez aquele homem não aceita, e você o chamou de pai. Talvez aquele acontecimento mostre que o destino nos uniu, mas não para ficarmos juntos.

Não ache que eu desisti na hora.

Eu vim todos os dias que você não apareceu e estou escrevendo essa carta no sétimo dia que você não apareceu, pois não aguentava mais esperar. Fiquei o dia todo aqui, mas nem sinal de você.  Onde está você? Espero que esteja bem enquanto lê essa carta, se a achar. Eu te amo, juro, mas talvez seja melhor ir embora depois de tanto tempo esperar e todo aquele acontecimento.

Com isso, termino a minha carta aqui. Deixei um presente para você dentro da concha, é uma pulseira que tinha feito para você, mas nunca tive coragem de entregar.

Eu te amo, mas agora vou embora junto com a água e a seguir. Um dia, talvez, ela me traga de volta aqui e eu possa estar mais adulto para conseguir enfrentar todos os problemas para ficar com você.  Se, no momento, você quiser obviamente.

Mas não me espere. Viva a sua vida e tente melhorar a sua sociedade acima da água, pois ela precisa.

Adeus.

***

Havia se passado um ano desde que Souji foi embora. Tsunami tinha entrado em uma faculdade local, e estava morando com a família da Touko ocupado com trabalhos da faculdade, enquanto a amiga fazia a mesma coisa. Mas, naquele momento, queria relaxar após a entrega de seu trabalho e, a pedido da rosada, foi pescar com ela.

Colocou a sua pulseira no braço direito e subiu no barco junto a amiga, que foi dentro dele mexer em algumas coisas e deixou as iscas, varas de pescar, cadeiras e baldes tudo com ele, que começou a arrumar as coisas com calma.

Colocou as duas cadeiras uma do lado da outra, os baldes também e ajeitou a isca em sua vara de pescar com calma, logo a colocando no mar e encostou-se na cadeira, já sentindo que ia ficar um enorme tempo no tédio.

— Quais são as músicas que os velhos escutam na hora de pescar? — perguntou-se.

Depois de algum tempo, Touko disse que ia demorar porque estava falando com a filha do motorista sobre uma banda, e ela não podia sair da cabine naquele momento. O garoto fez um joinha e continuou aquilo, bebendo um pouco de água que tinha trago.

Sentiu o anzol pesar e o mesmo arregalou os olhos, começando a puxar, o que foi difícil por estar pesando demais. Ele soltou um palavrão dos lábios, ajeitou o óculos e continuou a puxar com força.

Para piorar, a vara de pescar se partiu e o garoto caiu na risada, não acreditando na situação e desistindo de tudo.

É, além do mar ter levado o seu amor, também tinha quebrado a vara de pescar. Nem ao menos um peixe ele conseguiu pegar.

Virou-se para entrar na cabine e falar com Touko sobre o ocorrido, mas foi quando escutou um barulho de algo saindo da água e parou. Aquele som… Será que era algo de sua mente?

Escutou de novo, e virou-se aos poucos, vendo que não tinha ninguém ali. Respirou fundo e virou-se para continuar a entrar, mas logo foi parado por uma fala:

— Desculpe pela a vara, minha cauda tinha ficado presa no anzol.


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Notas finais do capítulo

Referências a aquamarine a parte. #apanha
Espero que tenham gostado e se tiver qualquer erro, me avisem.
XOXO



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