Continuando o que dizia antes...

Senti que o sucesso do meu pai acabaria com minha invisibilidade. Não por culpa dele, mas por culpa daqueles que o cercavam, transformando qualquer ato corriqueiro em algo digno da primeira página de um jornal local...

Eu não queria deixar de ser invisível. Eu não queria mais ser fotografado, não queria mais responder pergunta nenhuma...

Por um momento, eu só desejei estar escrevendo, deitado no chão frio do meu quarto sem nenhum medo de ser visto e julgado por olhos que não me olhavam pra nada mais além de me julgarem...

Mas fantasmas não têm esse poder de mudar as coisas. O que foi feito não é tão facilmente desfeito.

Assim, eu fui crescendo, perdendo cada vez mais a minha invisibilidade, precisando improvisar e me esconder nos menores lugares para ter a privacidade de no mínimo pensar, achar uma saída para minha família... Mesmo que eles continuassem sorrindo e não parecessem precisar de uma saída.

Talvez vê-los sorrindo foi o que me manteve sorrindo também durante minha agonia.

Os anos se passaram. Envelhecemos, ficamos mais ricos. Meu pai continuou famoso. Meus irmãos encontraram um rumo.

Eu, permaneci como ghost-writer. Mesmo que eu não já fosse mais fantasma.