Bela Morta escrita por Eloá Gaspar


Capítulo 22
Capítulo 21




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Na lanchonete Bruno se sentou diante do balcão como na padaria, a diferença que ainda não havia aparecido ninguém para atendê-lo e havia dois rapazes conversando do seu lado, como ninguém aparecia e os rapazes falavam alto, ele acabou involuntariamente prestando atenção na conversa deles.

— Não acredito que o seu carro parou de novo! E olha que você trabalha em uma borracharia. - o que parecia mais novo, devia ter uns 16 anos, de cabelos curtos e loiros, falou em um tom debochado.

— Enrico, não me perturba! E já te falei que o problema do meu carro não é possível resolver lá na borracharia.

— De qualquer forma, você deveria trocar esse carro.

— Com que dinheiro? - perguntou tirando o boné e coçando a cabeça cansado.

— Aí, José! Para de chorar miséria! Eu soube que a colheita lá na fazenda foi boa e você ainda tem o emprego aqui. - respondeu como se tudo fosse muito fácil.

— Você sabe quantas pessoas moram lá em casa? E você acha que trocar de caro é fácil assim? Faz o seguinte, para de se meter na minha vida e vai arrumar uma namorada. - falou logo sem paciência.

— Eu tô muito novo pra isso, não quero me amarrar agora. Não é porque na minha idade você namorava aquela menina que foi embora, eu tenho que namorar nessa idade também. - discursou cheio de razão.

Bruno escutava tudo, mas o cansaço, a fome e a descrença em tamanha coincidência, o impedia de acreditar, até que ele escutou a última frase do tal Enrico e aí ele não teve como deixar de concluir de que aquele era o José que estava procurando. Um pouco sem jeito e tímido, Bruno os interrompeu.

— Desculpa a intromissão. Mas você é o José que trabalha na borracharia?

— Sim, sou eu. - o mais velho respondeu voltando sua atenção para Bruno, com um olhar de curiosidade.

— Você foi o namorado da Ana Fontes? - continuou seu interrogatório.

— Como é que você sabe disso? - olhar de curiosidade foi substituído pelo de desconfiança.

— O senhor na padaria me contou.

— E por que ele faria isso?

José estava quase se levantando incerto sobre o rumo daquela conversa, afinal, ele conhecia praticamente todo mundo daquela região e nunca tinha visto Bruno por lá, e tudo ficava ainda mais estranho quando um desconhecido fazia perguntas sobre sua ex-namorada que havia sumido no mundo.

— Eu estava perguntando sobre Ana e ele acabou falando sobre você. Mas fica tranquilo, eu vim em paz, só preciso de algumas informações. - respondeu tentando tranquilizar José.

— Eu não sei de nada sobre a Ana, ela sumiu já faz uns 7 anos. Não faço a menor ideia da onde ela esteja. - ele havia desistido de levantar, mas ainda parecia desconfiado.

— Não é sobre o presente dela que eu quero saber, eu sei muito bem onde ela mora, trabalha e com quem se relaciona atualmente. Eu preciso saber como ela era antes do acidente. - Bruno falou de uma forma tão doce, sincera e cheio de sentimento implícito de carinho por Ana, que não era possível negar ajuda a ele.

— Você é o atual namorado da Ana? - Enrico perguntou se manifestando pela primeira vez naquela conversa.

— Bem... mais ou menos. Somos muito próximos e eu a amo de verdade, só que ela não é muito boa em expressar sentimentos. - tentou se explicar.

— Ana? Não muito boa em expressar sentimentos? Essa é novidade! Ela sempre foi tímida, mas sempre soube demonstrar o que sentia, quer dizer só uma vez que não. - José falou lembrando-se de um fato.

— E quando foi essa vez? - Bruno sabia que tinha encontrado algo importante.

— Quando os pais e o irmão dela morreram. Ela estava fazendo matrícula na faculdade lá no Rio de Janeiro, o meu pai que acabou indo buscá-la, mas preferiu dar a notícia aqui. Eu vi quando ela recebeu a notícia, no começo ela não acreditou, depois ficou parada como uma pedra um tempão, até que de uma forma esquisita, suas emoções foram sumindo. Depois do enterro ela passou mais dois dias aqui resolvendo umas coisas e depois foi embora para nunca mais voltar. - tinha ficado claro que aquela era uma lembrança triste para José.

— Ela era muito próxima dos pais e do irmão? - Bruno perguntou sentindo o clima de tristeza o atingir.

— Eles eram tudo para ela, principalmente o pai. Eles eram muito grudados. Ela o tinha como herói e fazia tudo que ele mandava. Seu Fontes era muito ciumento, foi uma luta conseguir namorar com ela, mas como crescemos juntos e ele me conhecia bem, acabou aceitando. - respondeu soltando uma curta risada ao lembrar do passado.

— Ela deve ter perdido o chão. - Bruno estava se sentindo péssimo, mesmo sem conhecer aqueles que tinham morrido, ele se sentia triste por Ana.

— Com certeza. Deve ser por isso que ela não se abre com você. Ela sempre foi de falar o que pensava, o que sentia, gostava de planejar o futuro, era muito carinhosa. - José agora sorria um pouco e Bruno se sentiu levemente enciumado, afinal, aquele cara teve de Ana o que ele sempre sonhou.

— Você tem foto dela mais jovem ou coisa assim?

— Tenho sim, a casa onde eles moravam era cedida por um tio do Seu Fontes que mora ou morava em São Paulo. Quando Ana foi embora, passou um tempo e o dono veio para esvaziar e vender. Eu e minha mãe pegamos algumas coisas, caso Ana resolvesse voltar um dia. - explicou com uma postura relaxada.

— Sem querer ser inconveniente, escutei que seu carro parou, eu posso levar você em casa e aí você me mostra as fotos. - sugeriu cheio de expectativa.

— Olha, eu vou aceitar. O ônibus aqui demora uma vida! O Enrico meu cunhado tem que ir também, ele mora um pouquinho antes de mim.

— Sem problemas.

— Desculpa a demora, é que a Maria fez uma confusão lá na cozinha. - uma moça com o cabelo amarrado em um coque falou saindo da cozinha em direção ao balcão.

— Tudo bem, Fatinha! - Enrico respondeu pegando a sacola com lanches que ela tinha nas mãos.

— Boa noite! Já foi atendido? - Fatinha falou voltando a atenção para Bruno.

— Boa noite! Ainda não, mas eu vou querer o lanche mais rápido que vocês tiverem. - respondeu com fome e ansioso para ir até a casa de José.

— Tudo bem. - respondeu sorrindo indo pegar o lanche.


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