Kihyun é uma pessoa boa. Sim, ele é.

Não possui muitos amigos, porém cuida bem dos que têm. Se dá bem com a família, nunca se envolveu em brigas, ainda que com seu pavio curto, e nunca voltou para casa depois das dez.

(Até porque ele nunca saia de casa.)

De certa forma, Kihyun é bom até demais, ele acredita.

Por isso, não há razões pelas quais ele deveria estar passando por uma situação dessas. Talvez, no fim, o karma não seja real.

— Cadê...

Kihyun virou-se para o outro lado na cama, dando logo de cara com Hoseok; sem camisa, com uma calça jeans escura tão justa que ele não entendia como o outro conseguia respirar, revirando as gavetas do seu armário.

— Aqui — ele respondeu depois de mais alguns segundos jogando roupa e mais roupa ao chão, e Kihyun quis morrer ao ver a bagunça que havia se amontoado por todo o lado.

— O que você tá fazendo? — ele indagou, finalmente acordado da soneca que havia decidido tomar vinte minutos atrás. Ele deveria saber que deixar Hoseok sozinho e sem supervisão não era uma boa ideia.

— Oh — Hoseok virou-se, e Kihyun não pôde não reparar no abdômen definido do outro. De novo. Pela milésima vez. Ele nem sabia porque ainda se chocava com aquilo. — Eu te acordei? Desculpa.

— Ugh — Kihyun suspirou, voltando-se de lado para encarar o teto sem responder.

— Eu vou sair agora. Jooheon me convidou — Hoseok prosseguiu, como se estivesse acostumado com a falta de reação do outro. Ele colocou uma camiseta exageradamente colada, vermelha de tal maneira que qualquer um conseguiria saber que era ele a metros de distância, e passou um pouco de colônia no pescoço e nos pulsos.

O nariz de Kihyun ardeu.

— Tá. Vai lá.

— Eu acho que eu vou voltar um pouco tarde.

— Tá bom, Hoseok.

— Você não quer vir junto?

Kihyun virou a cabeça para encará-lo novamente, vendo que o outro havia penteado o cabelo escuro para trás.

— Não.

— Certo — respondeu o mais velho, simples, e pegando o celular que estava na sua própria cama, foi em direção da porta. — Te vejo mais tarde!

E se foi.

Kihyun suspirou. Não, ele não merecia aquilo.

Há dois meses apenas havia começado sua “nova vida” de universitário. Como a maioria dos jovens, mudou-se para um dormitório uma semana antes do início das aulas, mas o problema estava no fato de que ele não possuía a mínima ideia de quem seria seu colega de quarto; todos os seus outros amigos haviam decidido ir por caminhos diferentes, logo a Kihyun restou apenas a incerteza.

Ele não sabe que tipo de pessoa imaginava que seu companheiro seria. Mas definitivamente não era Lee Hoseok.

Certo, ele era bonito. Até mesmo bonito demais, às vezes. Não era uma pessoa ruim, embora seus hábitos de deixar tudo bagunçado e desarrumado irritassem Kihyun ao limite. Era popular, tinha um caminhão de garotas atrás dele e um corpo de deus grego que gostava de exibir em qualquer oportunidade possível. Para completar tudo isso, cursava dança e tinha talento para a coisa, pelo o que Kihyun havia presenciado ao redor do campus, quando o pegava com os amigos.

Ainda assim, Kihyun e Hoseok não possuíam nada a ver, além de talvez o fato de gostarem de arte (Kihyun cursava fotografia, era normal) e compartilharem o mesmo quarto no dormitório. Nada. Hoseok tinha um monte de amigos e conhecidos, vivia sendo convidado e indo para festas, e contava histórias do tipo que Kihyun achava que só aconteciam em filmes.

—  Uma vez —  Kihyun conseguia ouvir mentalmente —  dei um amasso numa garota no meio da rua e quase fomos atropelados. Selvagem!

Ele suspirou mais uma vez. Kihyun nunca havia sequer dado um selinho em alguém na vida.

Para completar o caso, as pessoas sabiam que Kihyun dividia quartos com Hoseok (na verdade eles acreditavam que ambos eram amigos, mas Kihyun não exatamente o enxergava como tal) e viviam a lhe perguntar o número do mais velho, pedindo que arrumasse um jeito de apresentá-los, e viviam a lhe importunar com perguntas bestas. Não, ele não sabia qual era a marca de refrigerante favorita de Hoseok, e não dava a mínima se ele estava namorando ou não.

(Não, ele não namorava. Se o fizesse, seria muito óbvio.)

Hoseok, embora o mais novo continuasse a lhe evitar, sempre achava uma maneira de importuná-lo. Não exatamente, é claro, ele apenas queria conversar; mas Kihyun raramente se sentia confortável o bastante ao redor do outro para achar suas investidas agradáveis. Ele dizia bom dia, boa noite e sempre fazia questão de cumprimentar Kihyun quando o via por aí, e por mais que Kihyun achasse aquilo tudo muito estranho, com o passar dos meses, aprendeu que aquela apenas era a personalidade afetuosa do mais velho. Ele era assim com todo mundo.

Bem. Ele estava ali por um diploma, não para entrosar com o cara mais cobiçado do bloco. Além disso, Hoseok tinha coisa melhor para fazer do que se preocupar com ele.

Um beep veio de seu celular, de repente, e Kihyun o pegou da escrivaninha de imediato. Minhyuk. Ele abriu a mensagem.

< Minhyuk: 08:27 pm > e aí

< Minhyuk: 08:27 pm > como está o seu marido

Kihyun revirou os olhos. Havia conhecido Minhyuk por acaso, no campus, enquanto andava por aí. Tornaram se amigos facilmente, ainda mais porque Minhyuk não sabia fechar a matraca, o que tornava conversar com o outro fácil. Kihyun poderia dizer que Minhyuk era seu amigo mais próximo na universidade, no momento; já haviam conversado muito para apenas dois meses de amizade.

< Kihyun: 08:28 pm > Cala a boca.

< Minhyuk: 08:28 pm > fez jantar pra ele? q bonitinho xD ramen de novo?

< Kihyun: 08:28 pm > Eu vou te bloquear.

< Minhyuk: 08:28 pm > credo dramática

< Minhyuk: 08:29 pm > mas então, sai desse seu quarto aí, vamos dar um role

Kihyun franziu as sobrancelhas. Não era a primeira vez que o outro o chamava pra sair, mas tão do nada… Bem, Minhyuk sempre havia sido impulsivo.

< Kihyun: 08:30 pm > Aonde?

< Minhyuk: 08:30 pm > tá tendo um show por aqui perto

< Minhyuk: 08:30 pm > é uma dessas banda de maconheiro que só sabe fazer cover de bon jovi, mas é melhor q nad

Certo. O que ele tinha a perder.

< Kihyun: 08:31 pm > Tá bom, eu vou.

< Minhyuk: 08:31 pm > q bom, eu tô ai ♥

— Hã? — Kihyun indagou em voz alta, e no exato momento ouviu batidas na porta. — Filho da mãe...

— Eu ouvi isso!

Kihyun pulou fora da cama, gritando um ‘espera aí’ e trocando de roupa o mais rápido que conseguiu. Se ele soubesse onde aquela história daria, provavelmente não teria sequer respondido à mensagem de Minhyuk.