O dia se encontrava límpido, mas Dany sentia a temperatura diminuir cada vez mais. Viserion. Conteve uma lágrima ao lembrar da cena dilacerante de seu filho tendo seu corpo atravessado por uma lança. Os gritos de seu dragão ainda ecoavam em sua mente, e quanto mais lutava contra esses pensamentos mais eles insistiam em machucar tudo o que havia dentro de si. Ela sabia que nada jamais a faria superar essa dor, mas também tinha consciência de que aquilo a fortaleceu para que ela pudesse combater o real inimigo. O som de alguém batendo na porta de seu quarto a afastou de seus pensamentos. Sentiu como se tivesse sido flagrada cometendo algum crime.  

—Entre. - Disse com seu doce e imponente tom de voz, como uma verdadeira rainha deveria fazer. 

—Vossa Graça. - Aquele tom soporoso e monocórdio já havia se tornado familiar. - Partiremos em breve. 

—Suponho que veio se despedir, Jon Snow. - Sorriu ao pronunciar aquele nome. 

—Espero que seja breve. - Fez uma pausa e fechou a porta atrás de si. - Vamos partir até Winterfell para unirmos as forças dos nortenhos, e de lá marcharemos para Atalaialeste do Mar. 

—Como sua rainha eu ordeno que você permaneça vivo. - Ela não precisava explicar qual rumo tomaria naquela guerra, Jon Snow era seu aliado e ela confiava nele, por isso ele estava a par de seus planos. Passar por todas as traições a fez cautelosa quanto a quem se aliar, e de alguma forma, após aquele evento em Fosso dos Dragões ela tinha certeza a respeito da índole dele. 

—Eu espero não decepcionar minha rainha. - E finalmente sorriu. 

*** 

Foi doloroso ver mais um aliado partir. Ellaria Sand,  Olenna Tyrell, Yara Greyjoy. Pensar no que poderia acontecer a Jon Snow foi de mais. 

—Ele é o homem mais difícil de se matar que eu já conheci em toda a minha vida, Majestade. E digo isso como um contrabandista que já conheceu os mais bravos homens no mundo.  

—Você também deve permanecer vivo, Sor Davos. - Dany esforçou-se para disfarçar sua preocupação com Snow. - Faça uma boa viagem. 

—Majestade. - Davos reverenciou Daenerys e Missandei e se dirigiu ao barco, juntando-se aos homens do Norte. 

E mais uma vez ela o viu partir, mas nessa circunstância não levaria muito tempo, assim ela esperava. Até breve, se tudo ocorrer conforme os planos.  

O voo de seus dragões era como uma dança melancólica, uma coreografia fúnebre que afirmava que uma parte deles havia se perdido para todo o sempre. Perder mais um filho seria simplesmente inaceitável para a Mãe dos Dragões. Eles são os únicos filhos que terei em toda a minha vida. Foi um alívio quando foi interrompida de seus pensamentos. 

—Vossa Graça, um corvo chegou do Norte. - O Olhar de Varys denunciava o viés do conteúdo da carta. Olhou mais uma vez para o mar e avistou as embarcações se distanciando da costa.