Noite das Bruxas escrita por Nonna


Capítulo 1
Capítulo Único - Sangue Negro, Garras de Prata


Notas iniciais do capítulo

EEEEEEEEEEEIIIIIIIIITA MEU POVO!!!
Pera, eu errei '-'
Cho começar de novo.
SOOOOOOOOOOOLTA NEGADA!!! Agora vai. Olha quem está aqui, meia hora adiantada, trazendo a primeira das três fics de Terror que programei para essa noite maravilhosa - que me representa, diga-se de passagem.
Eu sei que era pra ser terror, mas... :''''')
Tem bastante sobrenatural, mas eu tentei e é o que importa.
Essa fic é dedicada para a leitora Isabella Pimenta, vulgo "eu nunca me lembro do seu nickname do Nyah, então se manifeste", que fez um comentário lá na page do facebook que administro com outra autora.
Deem uma passadinha lá para ficarem por dentro das novidades: Sociedade Secreta dos Provadores de Gaspacho.
Agora...
Vamo q vamo



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Naruto e Sasuke eram o que se conhecia no mundo como “homens ousados”. Ou, como o próprio Naruto costumava dizer, “vida-lokas”. Ou, mais ainda, como Sasuke murmurava, “band of bands”.

Era a semana do Halloween e Naruto estava tão animado que mal conseguia se conter.

Recebera um convite de sua mãe para participar da confraternização anual de Halloween. Fazia quase dez anos que fora expulso da vila por seu avô e só mantinha contato secreto com sua amada mãe, sabendo dos acontecidos por ali. Quando viu o envelope branco com desenhos de uma abóboras, deu um brado alto, acordando toda a casa, e comemorou antes mesmo de ler o que a carta dizia.

Sua mãe, como sempre, reclamava da loucura que cometera, mas queria notícias atualizadas de Sasuke, principalmente aquelas que relatavam momentos negativos.

Tentou esperar por Sasuke para lhe dizer a novidade, pois o outro gosta muito de sua mãe, mas o sono e o cansaço venceram-no. Adormeceu. Aquele somente chegou quando o relógio marcou três horas da manhã, mas somente meia hora depois, de súbito, Naruto despertou quase como se tivesse tomado um susto.

Moveu os olhos para o lado, percebendo os sons do chuveiro e suspirou meio aliviado por saber que era apenas Sasuke. Aninhou-se entre os lençóis quase de forma manhosa e, como o bom cachorrinho que era, esperou ansiosamente seu companheiro terminar seu banho para poder lhe contar as novidades do seu dia e da carta que recebera. Era bom saber que teria alguns minutos com ele antes do sono matutino.

Quinze anos… Nem parecia que aqueles tempos de caça e loucura estavam no passado, pelo menos para aqueles dois. Naruto não se lembrava de muita coisa dos primeiros anos de sua vida, mas lembrava bem de cada batalha que travou contra Sasuke, dos dias, dos anos, das décadas, dos séculos… Muito tempo se arrastara antes que a mudança chegasse.

Eles eram, como sua mãe comentava nas cartas, dois seres psicologicamente evoluídos, mas etariamente retrógrados. Comportavam-se como dois moleques em parte do dia, brigando por idiotices e miudezas como: a posição dos móveis, a cor do carro, quem lavaria a louça, o excesso de pelos no ralo do banheiro ou o jornal esquecido no jardim. Na outra parte, os dois eram o que nasceram para ser e não se incomodavam com as diferenças estratosfericamente grotescas; na verdade, sabiam conviver.

Sasuke saiu do banho enxugando os cabelos negros, levemente compridos - e estavam naquele tamanho pelas simples razão de que Naruto gostava deles assim -, com uma toalha branca, vestia uma calça negra moletom justa nas pernas e uma camisa de mangas longas de tricô; em seu pescoço, balançava o colar feito de fios de barbante trançados com o pingente que significava sua união com o homem que lhe encarava.

Uma aliança de prata que não podia usar porque queimava a sua pele. Fitou o homem deitado e deixou seu semblante de tranquilidade morrer ao perceber que, mais uma vez, Naruto estava sem camisa, ou seja, sem a aliança. Revirou os olhos, deixou a toalha perto da janela para secar e foi para a sala. Naruto arregalou os olhos ao ver o companheiro sair.

—Sasuke! - falou um pouco alto, um pouco ríspido, saindo às pressas da cama ao empurrar os lençóis com os pés e, antes de correr desesperadamente atrás do outro, percebeu seu erro. O colar com a sua aliança estava sobre o criado-mudo.

Arfou, pegou-o e o colocou tão rapidamente que nem mesmo se tocou que deveria ter posto uma camisa antes. Teve que morder a mão para não gritar de dor, e acordar seu filho, quando o metal puro tocou a sua pele do peito, e encarou a porta: Sasuke estava lá com um lenço branco de algodão puro em mãos. Revirou sutilmente os olhos e cuidadosamente tirou o colar de Naruto, usando o lenço para não tocar a prata.

O outro agradeceu com um sussurro pela atitude e se mexeu para abraçá-lo, mas Sasuke desapareceu num piscar de olhos, deixando o colar envolvido no lenço sobre a cama. Naruto procurou por uma camisa no guarda-roupa e a vestiu como se fosse a pior coisa do mundo. Seguiu para o cômodo onde o outro deveria estar.

—Sasuke… - falou e o homem lhe dedicou um bocejo longo, seguido de um olhar indiferente. Naruto se aproximou, sentou-se ao lado dele no sofá. - Desculpa… Às vezes eu esqueço de usar ou de colocar depois do banho…

—Há dez anos você esquece, Naruto. - Sasuke rebateu e Naruto preparou seus argumentos para aquela discussão. Eles a tinha pelo menos uma vez por mês e, em todas elas, nunca vencia os argumentos de Sasuke. - Seu Alzheimer me irrita.

—Não é verdade, eu só… - esfregou os cabelos bem rápido com as mãos, querendo evitar que tivessem aquela briga e estragasse a sua semana. - Cara, você sabe o que a prata faz comigo. - deixou os braços cair sobre as coxas. - Você sabe que…

—Só com você? - Sasuke tocou, discretamente, o anel e apertou os olhos quando a ponta começou a queimar. Afastou a mão e fitou-a. Curou-se em poucos segundos. Levantou-se, furioso de vez, e arrancou o colar de si, jogando-o contra a parede com tanta força que o anel afundou ali. - Você que propôs que usássemos essa porcaria porque era uma das poucas malditas coisas que tínhamos em comum!

Naruto se levantou, mexendo as mãos numa tentativa de acalmá-lo, mas não adiantou de muita coisa, não quando Sasuke andava de um lado para o outro, evitando de todas as formas possíveis fazer qualquer ruído que fosse.

—Fale baixo. Vai acordar nosso filho. - sussurrou, aproximando-se lentamente. Sasuke o encarou e afastou-se um passo. - Daqui a pouco vai amanhecer… Precisa descansar, ir para a cama… Por favor. - queria tocá-lo. Havia quase uma semana que não o tocava.

—Eu cansei, Naruto. - disse e isso fez o outro empalidecer. - Cansei de lutar contra… Eu sei lá como chamo essa porra de mania que você tem de desprezar as próprias ideias depois que eu as assumo! - resmungou.

—Por favor, Sasuke. Eu sei que sou bem esquecido, mas prometo melhorar. Eu prometo que vou fazer tudo ficar diferente e…

—Você me fez essa promessa há dez anos, Naruto, e nós a renovamos todos os anos, no dia do aniversário do nosso filho. Eu cumpro a nossa promessa, mas você não. Foda-se. - Sasuke foi para o quarto e pegou algumas poucas roupas, colocando-as numa mochila.

—Para onde vai? - Naruto chegou quase dois segundos depois. Sentia-se desesperado por ver Sasuke guardar suas coisas ali. Nunca o vira fazer aquilo porque nada, absolutamente nada aconteceu que os dois não resolvessem, em quinze anos de relacionamento. - Sasuke, pelo amor de Deus, para onde vai?

—Não importa. - olhou-o seriamente e pegou sua carteira, colocando-a no bolso da calça. Sentou-se na cama para calçar os tênis e Naruto aproveitou para enfiar a carta dentro do bolso da mochila dele, caso algo muito ruim acontecesse. - Vou mandar o dinheiro do nosso filho para sua conta, não se preocupe. De vez em quando, virei vê-lo.

Pegou sua mochila e foi para o lado de fora. Naruto o seguiu, angustiado, pois sentia seu corpo reagir a cada passo dado de Sasuke para fora de casa, rumo ao horizonte que anunciava o dia chegando. Ficou ainda mais desesperado ao vê-lo erguer o capuz.

—Sasuke… Por favor, Sasuke… Não quebre a nossa promessa. Eu preciso de você, Sasuke. Não vou saber lidar com… - engoliu em seco. - Sasuke…!

—Vai saber. - ele lhe disse sem lhe dedicar um último olhar. - Precisa saber. Ume ainda é pequeno e precisa de cuidados. - lembrou.

Quando Naruto piscou os olhos, Sasuke havia sumido. Teve que prender a respiração para não gritar e não se transformar ali mesmo, pois sentia seu corpo explodir internamente. Com um salto poderoso, quase quebrando as telhas da casa, pousou sobre o teto e procurou por sinais dele pela cidade. Nada. Sasuke foi embora.

Foi difícil lidar com seu sumiço, uma vez que Naruto conseguia perceber o seu marido aonde quer que ele fosse ou estivesse, pois ele sempre deixava um rastro sensível aos sentidos extremamente aguçados dele. Difícil ainda foi dizer ao pequeno Ume que o seu outro pai não estaria dormindo no quarto quando despertasse nos dias seguintes. Porém, mais difícil ainda foi saber que o dia do aniversário estava chegando e que Sasuke não estaria ao seu lado lado para renovar os votos, muito menos para beijá-lo.

Pensou, todas as noites, em desistir de ir para a casa de sua mãe, de voltar para a vila e rever sua família, mas não podia impedir de Ume ter contato com os de sua espécie, ele precisava conhecer um pouco mais de si mesmo.

Com esses pensamentos em mente, Naruto foi para seu antigo lar uma noite antes do dia 31, tomando um ônibus. Geralmente, correndo, era bem mais rápido, mas Ume ainda tinha pouco controle de sua transformação, então teve que aguentar as quase dez horas de condução, com pessoas estranhas e seu filhote ao seu lado, admirando a janela. A luz do sol incidiu em seu peito e fez um feixe brilhar contra seus olhos.

Piscou rapidamente e fitou o objeto em seu peito: sua aliança. Desde que Sasuke sumira, não tirou uma única vez o colar dali, nem mesmo para tomar banho. A dor do metal não era nada comparada a dor de não ver ou sentir o abraço brutal de seu marido. Recostado na poltrona, deixando-se adormecer por alguns momentos, lembrou-se daquele dia.

Sasuke era conhecido como Devorador de Almas. Ao ser transformado, pelo próprio irmão mais velho, passou a matar humanos para sorver-lhe as almas e o sangue como um demônio sedento, com um abismo infinito dentro de si. Não tinha motivos para matar, pelo menos motivos que pudessem ser levemente interpretados como “justificáveis”. Matava por fome, por ego, por ira, por luxúria, por nada.

Isso prejudicava a ordem “natural” das coisas. Vampiros deveriam se manter nas sombras, matar apenas idosos ou doentes de maneira esporádica, com a única razão de se manterem sãos e sem sede. Mas Sasuke fora, por muitos séculos, o pior vampiro que caminhou pela terra, tão poderoso que podia caminhar de dia e sobreviver ao veneno lican.

Um vampiro só se tornava realmente poderoso ao sobreviver à ação do veneno de outros vampiros, isto é, ao beber o sangue de um mesmo de sua espécie. Era estritamente proibido, principalmente em sua família, uma das mais antigas e de sangue puro do mundo, mas ele nunca se importou, não depois do que aconteceu ao seu irmão. Sasuke bebera o sangue do vampiro mais poderoso que se tinha notícia no mundo da noite e fora a única vez, em toda a sua vida, que fizera isso com uma real motivação.

Seu irmão fora brutalmente atacado, quase morto, e Sasuke, mesmo sabendo que poderia morrer em sua louca empreitada, enfrentou o chefe criador de sua família e que mais bebera sangue vampiro e humano no planeta: Lord Madara Uchiha, o Primeiro.

Lutou violentamente por quase duas décadas, gastando cada gota de sangue e energia que consumira em seus séculos de vida. Ao fim, os líderes subservientes ao poder daquele foram até o castelo do lord e encontraram-no completamente destruído. Todos os servos foram assassinados, vampiros ou humanos, cada parte dos cômodo foi destruída e armas estavam retorcidas por todos os lados.

Ao chegarem ao salão de bailes, bem no meio de uma cratera profunda, com chamas vermelhas e trovões rasgando o céu, eles viram uma pilha de trapos por baixo de um esqueleto negro gigante e perto dele, usando apenas os restos do que parecia ter sido uma armadura e roupas, havia um homem.

Cada um sentiu ali que o submundo tinha um novo polo.

Madara Uchiha teve toda sua vitalidade, sua alma, seus poderes e seu sangue absorvidos por um único vampiro. Ouviram-no dizer “Dívida paga”. Madara ferira mortalmente seu irmão e, agora, Sasuke tinha poder para salvá-lo.

Se por um lado havia o demônio belo, que todos temiam; por outro, havia o anjo deformado, que a todos assustavam.

Ao passo que Sasuke se transformava no pesadelo do submundo, Naruto convertia-se naquele que seria o grande herói. Nascera numa vila de lobisomens, descendente da nobre raça dos Uzumakis, uma das mais fortes e com stamina, era a típica raça que aguentava o tranco das batalhas e era conhecida por ter um forte por derrotar inimigos. A vila era uma espécie de mundo dentro do mundo, por assim dizer, com seu próprio estilo de governo.

Sua mãe, Kushina, a Matriarca, era conhecida por ser a líder espiritual de sua vila enquanto seu pai, Minato, era o líder alpha da “matilha”.

Era como um povo xamã, sempre em contato com a natureza e cuidando para o equilíbrio entre o mundo humano e o mundo sobrenatural não fosse desnivelado. Mantinham em segredo tanto a existência dos lobisomens como dos vampiros, ainda que tivessem que matar uns ou outros. Este era o pacto para que vampiros e lobisomens não se destruíssem.

Naruto, como futuro líder de sua vila, treinou arduamente para ser forte o suficiente para peitar cada vampiro que ousasse quebrar a regra. Curioso saber que estava se preparando, enfrentando cada líder maluco de famílias vampirescas no mundo, para lidar com o vampiro mais macabro que se teve notícia. Não que tivesse medo, mas receava pelos lobos mais jovens, afinal, quando Sasuke ganhou a fama de Devorador, Naruto já era tão experiente em caçadas e já havia matado tantos quanto se lembrava.

Não ficava atrás em nada. Era tão poderoso que, segundo sua mãe, a própria lua o escolhera para o abençoar com o dom do Deus Lobo, isto é, sendo capaz de ter a força e a velocidade sem precisar transformar-se por completo. Alguns vampiros o chamavam de “Mikhael”, uma clara referência ao anjo Miguel, por causa de seu poder e de sua invencibilidade, mas ele não se incomodava com isso.

Até gostava e tratava como elogio. Ele sentia-se como o Superman ao ver as crianças pedirem que fizesse alguma coisa que elas não podiam como erguer um carro com a mão ou rugir bem alto. Era divertido. Aliás, foi divertido por um tempo.

Seu pai lhe dissera que sua missão era matar Madara, pois ele era o clássico vampiro maligno das histórias e suas atitudes estavam obrigando os humanos a mobilizarem tropas e pesquisas sobre meios de matar as criaturas da noite. Naruto era claramente ciente disso, treinava duramente todos os dias para ficar pronto para a Grande Caçada, mas tudo mudou.

Os homens descobriram o poder da prata e atacaram antes.

Os vampiros enloqueceram ao saber que o Primeiro fora assassinado.

Os lobisomens estavam assustados com o fogo cruzado, uma vez que uma guerra se iniciara entre os vampiros e a humanidade.

Mas  nada disso durou, não com Sasuke vagando pelo mundo e provando porque recebera o título de Príncipe do Sangue Negro. Naruto sentiu em cada célula do seu ser que era seu destino acabar com aquele vampiro e trazer paz a todos. Caçou. Por anos inteiros, sem cessar, caçou Sasuke como só os anjos fazem com demônios.

Os dois enfrentaram-se em batalhas épicas, cantadas e narradas até hoje para inspirar e motivar futuras criaturas do submundo, mas um não conseguia sobrepujar o outro, pois algo sempre os impedia nos minutos finais.

Naquele dia, que Naruto sentado no ônibus se lembrava, os dois finalmente entenderam a razão de não se aniquilarem.

A lua cheia deu três vezes mais poder ao lobisomem e este desafiou Sasuke numa última batalha mortal. Nada foi dito, apenas golpes e ataques foram trocados. Destruíram uma floresta inteira, desviaram o curso de um rio e abriram buracos gigantescos em uma montanha por causa da ferocidade de suas almas. A batalha durou exatos sete dias.

No último dia, quando a lua cheia perdeu toda a sua força e brilho, Naruto sentia que iria morrer, pois Sasuke tornara-se quase imune ao veneno lican e ainda tinha poder para aguentar mais uma noite de batalha, apesar de o sol já lhe afetar. Faminto e louco de fúria, o vampiro ousou beber de seu sangue, pois já não havia humanos para lhe suprir. Naruto aproveitou a deixa, mesmo sabendo que morreria, abocanhou o ombro de Sasuke.

Pela primeira vez, desde que o primeiro lobisomem e o primeiro vampiro surgiram sobre a terra, sangue lican e sangue negro entraram em contato mútuo e os portadores sobreviveram. Era comprovado cientificamente, por assim dizer, que os venenos em ambos sangues destroem os opostos. Uma simples gota era o suficiente para dar fim a vida de um lobisomem, ou de um vampiro, experiente.

Tal como ninguém nunca soube como Sasuke obteve o sangue de Madara ou como Naruto obteve o dom do Deus Lobo, ninguém nunca soube o que aconteceu naquele lugar. Encontraram os dois, quase uma semana depois do fim do embate, exatamente como haviam parado: Sasuke com a boca fincada na nuca do lobisomem, que por sua vez, cravava seus dentes e suas garras na pele alva do vampiro. Vivos.

Só se soltaram quando perceberam que eram vigiados. Sasuke desapareceu tão rápido em forma de milhares de morcegos e Naruto apenas se manteve em forma lupina para não colapsar. Depois daquilo, as viagens, os sumiços e situações assim cresceram, paralelo ao fato de que os conflitos entre as espécies do submundo praticamente cessaram. Tudo voltara a normalidade, exceto os dois.

As duas espécies eram, pouco a pouco, aniquiladas pela humanidade, pois o medo do sobrenatural crescia com o avanço da modernidade. Vampiros e Lobisomens transformaram em mitos, lendas, depois motivação para livros e histórias adolescentes, e nesse meio, Sasuke e Naruto envelheciam com um vazio que só podia ser preenchido com o outro. O submundo mudara completamente e aqueles dois eram pedaços vivos do passado.

—Pai? - Naruto piscou os olhos e viu seu filho de pé, no corredor do ônibus, com sua mochila nas costas. - Chegamos. - sorriu, gentil.

Ele se levantou, buscou a bolsa grande no compartimento superior e seguiu para o lado de fora do veículo. Percebeu-se na antiga cidade que vivera por tantos anos. O lugar estava praticamente respirando o Halloween, com suas abóboras, sua decoração característica com bruxas e outros seres do tipo. Continuava linda e emanando vida.

Respirou fundo, controlando seu espírito, e seguiu para a estação de ônibus municipal, segurando a mão de Ume. Os dois tomaram outro ônibus para a vila e, no caminho, Naruto contou histórias sobre os lugares que apareciam, como a lanchonete para onde ele levava todas as suas namoradas quando queria o primeiro beijo e o campo onde jogava bola com seus primos e seus amigos. Em vinte minutos, sentiu que estava em casa. Cada poro do seu corpo vibrou quando sentiu os cheiros do lar.

Era tão estranho estar de volta e mais estranho ainda era não ver ninguém para recebê-lo, como fora outrora, ou para tentar matá-lo. Ume observou o ambiente com curiosidade e sorriu, animado. Talvez respeitassem o fato de que estava com uma criança, ainda que há 200 anos este fato era irrelevante.

O menino pediu para ir até uma lanchonete, pois estava faminto. Naruto concordou, afinal sentia fome também. Comprou três sanduíches grandes, um para Ume e dois para si, sentaram-se numa mesa mais afastada. As pessoas lhe olhavam com curiosidade. Era fácil reconhecer que todos ali, com exceção de um ou outro humano, eram lobisomens e lhe conheciam. Dava para sentir na pele o ódio.

Baixou o olhar, meio ferido. Saber que não era mais o herói, que ninguém mais levava em consideração todos os sacrifícios que fizera, tudo o que perdera e tudo o que não pudera viver para que aquelas pessoas tivessem a boa vida que levavam. Era difícil ser percebido como a escória de sua raça por causa de uma decisão.

Agora entende-se porque ser conhecido por homem ousado, na melhor das hipóteses, ou de vida loka, ou do que quer que fosse.

A comida descia com dificuldade por sua garganta, ainda que tomasse goles grandes de água. Seria muito mais fácil se Sasuke estivesse consigo, pois sua frieza tinha certa utilidade, além do poder de seduzir quem desse uma boa olhada em seus orbes rubros. Negou veementemente para si mesmo: a presença de seu marido ali seria pedir que a caça às bruxas recomeçassem, porém com espadas de prata no lugar de forcados.

Naruto fitou o lado de fora, esperando seu menino terminar de comer, e percebeu que os olhares de rejeição iam além do estimado. Parece que cada lobisomem ali sentira o seu cheiro. Talvez não devesse ter vindo. Talvez devesse estar procurando por Sasuke e não por alguma tentativa vã de se reatar com sua família.

—Papai. - o menino chamou e Naruto o fitou. - Tem uma mulher vindo aí. - ele apontou para o outro lado da rua. Não era uma mulher. Era a comprovação de que não importava o que o povo pensasse, sua mãe sempre o amaria.

Não há palavras que descrevam a emoção e a alegria que foi o reencontro de mãe e filho. Não há páginas nem escritores que mostrem e traduzam o sentimento transmitido entre aqueles dois seres. O que aconteceu só pôde ser assistido.

Naruto foi levado para a casa de seus pais como se voltasse de uma violenta guerra. Mesmo que as pessoas da vila não lhe vissem com bons olhos, sua família ainda o recebia com calor e carinho tão típicos. Apresentar seu filho aos outros nunca foi um motivo tão grande de orgulho como agora. Havia paz ali, paz real.

Talvez o tempo não estivesse em favor de ninguém ali, muito menos de qualquer acontecimento, mas Naruto soube tirar proveito. Quando menos percebeu, já era noite, já era hora de festejar, já era hora de reviver uma noite familiar. Vestiu Ume com a fantasia que ele escolhera, uma de príncipe, e depois travestiu-se de policial. Nada mais justo do que estar vestido do que fora a vida inteira. A polícia sobrenatural.

Ajudou a sua mãe a montar a grande fogueira, quebrando a lenha com suas garras como fizera outrora, colocar os troncos ao redor e preparar o ambiente para os momentos de contação de histórias, de preparar os alimentos e outras coisas. Ajudou o novo líder da matilha, pois seu pai havia alguns anos falecido - mesmo que forte, seu pai envelhecera -, a caçar os dois javalis, além dos perus e de um grande alce para serem servidos durante as festividades. Toda a família chegou em poucas horas e o sítio estava como Naruto exatamente se lembrava: cheio de vida, de alegria, de união.

As pessoas cantavam, dançavam em volta da fogueira, comiam da carne e de outros alimentos preparados, ou trazidos, cumprimentavam e guardavam aquele momento para sempre em fotos e na memória. Haviam mais filhotes, alguns nem eram mais, estes já tinham suas próprias família, haviam outros que já eram velhos e Naruto os vira nascer. Ainda haviam aqueles que nem existiam mais e tudo o que restara fora a saudade.

Naruto só conseguia sorrir, conversar com as pessoas e perceber que ali, naquela festa, naquele pedaço de mundo, ninguém estava lhe julgando como o lobisomem que traiu a própria raça. Eles ainda se lembravam que era o grande guardião de seu povo. Ainda havia alguns respeitavam sua existência e sua decisão.

Estar de volta ao lar com seu filhote era maravilhoso, mas… Ainda não punha um fim ao vazio, ao buraco em seu peito. Só um ser podia fazer isso. Quando a meia-noite soou, Naruto sentou num tronco e esfregou o rosto, angustiado. A saudade era o pior veneno que podia haver em todo o mundo. O pior.

—Então é isso o que o sangue negro faz com lobisomens? - era a voz de sua mãe. Ele a fitou e sorriu. Afastou-se discretamente, permitindo que ela se sentasse numa parte mais confortável do tronco. - Fez você parar no tempo?

—Não é eterno… O efeito tem prazo de validade. - ele a abraçou, beijou sua face e acariciou seus fios desbotados. Ainda eram macios, brilhantes e longos, mas não tinham aquele brilho rubro intenso de antes. A idade chegara a sua mãe, mas ainda era a loba mais linda de todo o mundo. - Não funciona como nele. É mais como uma… Supercura.

—Interessante… Será que poderia curar a dor nas minhas juntas? - ela brincou e Naruto riu por alguns instantes. - Isso sim seria algo muito legal. Com certeza seria… - ela suspirou e fitou o filho. Seu instinto de mãe, aumentado pelo do lobo, não lhe enganava sob nenhuma hipótese. - Onde ele está? O convite era para que vocês dois viessem e assim, eu conseguisse uma trégua. Não quero passar meus últimos dias longe de meu único filho.

—Nós… Brigamos… De novo, e de novo, e de novo e… - Naruto apertou os olhos. - Eu não sei mais o que fazer para tê-lo comigo, mãe… Eu o amo tanto, tanto que dói como prata em brasa sob o meu coração não sentir o seu toque.

—Eu sei como é, meu filhote. - ela endireitou sua postura e segurou o rosto dele entre suas mãos, fitando-o intensamente. Odiara saber que seu filho fora envenenado, mas demorou a entender que, na verdade, o único tomado por toxinas era o vampiro mais perigoso da história. - Eu sei bem como é estar longe de quem se ama.

—O que eu faço, mãe? - engoliu em seco, aproximando-se dela para ter mais daquele carinho que só as mães conseguem passar. - O que eu faço para o ter de volta?

—Pelo o que sei de suas cartas, Sasuke sempre se controlou por você. Até onde me lembro, a fome dele por sangue é demoníaca. - ela murmurou. - Eu nunca ouvi que se passasse apenas um dia sem que Sasuke tomasse a vida de vários inocentes, apenas depois de estar contigo tivemos paz. - Naruto assentiu. - Mas você fez por ele também.

—O quê? - franziu o cenho.

—Escolheu ter uma vida e uma família com o nosso maior inimigo por amor. - ela sorriu, afagando mais o rosto de seu filhote. Mesmo com quase meio milênio de vida, Naruto seria, para sempre, o seu filhote. - E aguentou todo o ódio e a rejeição que nossa raça poderia dedicar a você confiando nesse sentimento puro.

—Não estou entendendo aonde quer chegar, mãe…

—Casais se desentendem, meu amor, até mesmo os mais improváveis e inacreditáveis do mundo. Dê um tempo para Sasuke esfriar a cabeça e mantenha-se firme nesse amor como sempre esteve. Vai dar tudo certo no final, filhote.

—Acha mesmo? - pela primeira vez, em sete dias, animou-se verdadeiramente. Ele tinha certeza que dialogar com sua mãe iria clarear sua mente e abrandar seu coração.

—Vocês dois têm um filho juntos. Se fosse para acontecer algo de muito ruim, não teria durado 15 anos, Naruto. - ela observou a criança assistindo as outras brincarem. - ‘Taí um negócio que nunca entendi…

—O quê?

—Como foi que um morto - ela o olhou sério e Naruto esboçou um sorriso, pressentindo a pergunta a seguir. - E um lobisomem tiveram um filho?

—Recombinação genética, barriga de aluguel e inseminação artificial. - falou breve e a mulher assentiu. - Sasuke sempre me disse que não sabia com o que gastar todo o seu dinheiro, então ter um filho só nosso foi uma forma muito boa de investimento.

Naruto fitou Ume brincando sozinho.

—O que ele é? Não tem cheiro de lobo e nem vampiro, mas me lembra bem o de um humano. Eu nunca vi uma criatura assim. Ele se parece muito com…

—Comigo? - Kushina assentiu. - Eu sei. O médico que desenvolveu o material genético disse que Ume é lobo porque minha genética tem maior poder de mutação do que a de Sasuke, já que ele… - gesticulou “morte”. - Mas a presença do veneno vampiro não permite que ele tenha uma transformação perfeita ou um crescimento acelerado, como eu tive. - coçou os cabelos. - Ele é um… Tem nossos dons, mas não é como nós.

—Isso sim é ainda mais interessante do que o poder de Sasuke curar a minha artrite. - Naruto gargalhou alto, satisfeito, e Kushina sorriu mais feliz. - Ele bebe sangue?

—No começo, sentia sede, mas Sasuke o impediu. Disse-me que se ele bebesse uma vez, beberia para sempre. Por sorte, foi certo. Minha fome prevaleceu e a sede desapareceu.

—Então ele é… Normal? - ela arqueou uma sobrancelha e Naruto assentiu. - Eu tenho um neto normal, então? Que ótimo! Ume! - chamou-o e o menino veio correndo para si. Ela afastou parte de seu casaco e retirou uma pequena caixinha dali. - Feliz aniversário, filhote.

—A senhora lembrou, vovó! - ele comemorou, pegando o objeto entre as mãos pequenas e abriu. - Obrigada, vovó! - colocou-se na ponta dos pés e abraçou a mulher com bastante carinho, fazendo-a se surpreender com a força que possuía.

Para uma criança com dez anos, Ume mais parecia ter a metade, com seus cabelos escuros e seus olhos incrivelmente azuis, a pele levemente amorenada e as feições delicadas. Claramente, era filhote de Naruto, a semelhança era inegável, mas havia traços do vampiro ali, mesmo que Kushina só tivesse o visto duas vezes. Não era lobo, nem humano, nem vampiro, estava perdido num limiar que ninguém jamais caminhara.

Pela forma como os outros o tratavam, não era difícil entender porque Ume sentia-se tão tímido e tão isolado. Naruto não queria que seu filho se sentisse assim, mas sabia como os filhotes tratavam estranhos: raramente aceitavam, raramente recebiam com bondade e isso era extremamente desolador para uma criança. Não era culpa deles, era o instinto autoprotetor lican que os obrigava a agir assim.

—Eu fiz para você. - um bracelete com o brasão da família Uzumaki. - Já que é um novo filhote da matilha, precisa receber um presente da matriarca. - falou de forma quase solene e os olhos de Ume pareceram ainda mais azuis quando arregalados. - Você é oficialmente um Uzumaki e um lobisomem.

O menino encarou o bracelete como se ele fosse a joia mais incrível do mundo. Riu-se, animado, para desfazer o semblante segundos depois, sentindo tristeza. Naruto não precisou perguntar, simplesmente puxou seu filho para seu colo e deixou que chorasse em seu peito, soluçando abafado. Kushina o olhou sem saber o que acontecia.

—É o aniversário dele… O primeiro que passa sem Sasuke… - sussurrou. - Todos os anos nos fantasiamos e o levamos para passar na cidade, pegando doces… Sasuke fazia questão de montar uma fogueira enquanto eu caçava qualquer coisa na floresta. Ele dizia que não havia tradição alguma entre os vampiros, mas seu filho merecia crescer com boa cultura, então ele fazia isso por mim… Por Ume… Por nossa família.

Kushina entendeu. Então realmente, embaixo de toda aquela maldade, aquele sangue, aqueles séculos de mortes e de violência, havia um coração, um pedaço de bondade que se estendia só para aqueles que conseguiam alcançar aquela parte de si. Realmente Naruto mudara o Devorador de Almas. Seu filho era o mais poderoso, no fim das contas.

Naruto ficou ali, conversando com sua mãe e narrando toda a sua vida durante aqueles quinze anos, até que a festa acabou. Já passava das três da manhã, apesar de ainda ser escuro, e seu filho finalmente parara de chorar, de sussurrar que sentia falta de seu outro pai. Com Ume nos braços, caminhou perto da fogueira, admirando o vermelho do fogo. Era bem parecido com os olhos de seu marido.

—Sabe o que quero de presente este ano, papai? - Ume murmurou, aninhando-se sobre o peito do lobisomem. Naruto negou, sem desviar das chamas. - Meu pai… - e nesse momento, os dois se fitaram.

O homem quis dizer algo, mas o franzido das sobrancelhas de seu filho fez fechar a boca. Ume olhou em volta, apressado, claramente procurando por algo. Fitou a floresta, tão escura quanto o céu que a envolvia, e saltou dos braços de Naruto num movimento suavemente acrobático. Os lobisomens, que festejavam ainda por ali, voltaram-se para a região para onde o menino seguira e começaram a se agrupar num canto mais perto de si.

—Ume? - Naruto chamou, sem compreender por que seu filho correu tão velozmente naquela direção. Demorou um pouco para entender o significado daquela postura defensiva. - Será…? - seu coração bateu mais rápido e seus olhos umedeceram.

Não demorou mais que um piscar de olhos. Mal seus olhos se abriram de novo, Naruto já se permitiu estar de braços abertos, esperando o abraço que tanto ansiara, sentiu uma brisa chocar-se contra seu rosto e a presença de Sasuke encher seu peito. Lançou-se em seus braços em pensar duas vezes, tomando cuidado para não esmagar Ume no ato.

Os olhos negros que mais amava, a pele fria que mais desejava, o toque forte que mais precisava, tudo estava ali de novo, consigo, em seus braços. Ume não chorava,  não ria, apenas apertava a lapela do casaco de Sasuke com força, talvez com medo de que fosse desaparecer de novo, ou algo assim. Naruto encarregou-se de ocupar o outro ombro, circundando a cintura alheia com seus braços.

Kushina veio buscar seu neto, pois já era hora de Ume dormir, estremeceu ao estar na presença do vampiro. Mesmo assustada, guiou o trio para o interior de sua casa. Enquanto Naruto colocava o pequeno no quarto previamente preparado, ela se permitiu observar o marido de seu filho, aproveitando que ele estava ocupado demais em observar a casa.

Era quase da mesma altura que Naruto, um pouco mais alto, usava um sobretudo negro, calças de mesma cor, suéter de tricô branco, cinto à amostra e botas cinzas, emanava uma forte presença maligna e tinha um olhar profundo, intenso, como o céu noturno.

—Pare de me encarar, my lady. - murmurou e ela estremeceu. Sasuke virou, pois estava de costas, e arqueou uma sobrancelha. - Não quero brigar com Naruto porque, sem querer, você foi tomada pela minha indução involuntária. - explicou.

—Não sabia que era capaz disso, Sasuke.

—Sim, my lady. É o mal de estar longe dele… Principalmente depois de um acesso de fúria e de beber sangue negro. - caminhou até perto da porta, afastando-se mais dela.

Nada mais disse e nada mais ela perguntou. Aquela era a confissão que Kushina precisava ouvir. A doce forma de Sasuke dizer que amava Naruto. Assim que seu filho chegou, deixou-o sozinho com seu marido. Os dois tinham muito que conversar.

Foram para fora, para perto da fogueira ainda acesa, a fim de evitar maiores problemas com quem quer que estivesse na casa. Fitaram-se e nada disseram, pelo menos não conseguiram nos primeiros segundos. Sasuke segurou firme no braço do lobisomem e o puxou para si, abraçando-o com saudade para só então beijá-lo lentamente.

Naruto suspirou baixo, quase num gemido, ao saborear os lábios finos do outro. Mergulhou os dedos nos cabelos escuros e apertou o corpo magro. Era seu, de novo tinha a certeza que era seu, apenas seu. Nada mais o tiraria de si, nada. Deram-se vários selinhos, pois precisavam de fôlego para continuar, e sorriram entre uns toques e outros.

—Jure que nunca mais vai sair de perto de mim de novo. - Naruto mandou, sentindo seu interior pulsar como no dia que Sasuke fora embora. - Jure para mim. - fitou os lábios, que se entreabriram para si, e apossou-se deles antes de ouvir sua resposta.

Não se mexeram, ficaram apenas assim: uma boca ligada a outra, uniformizando suas respirações ao passo que as mãos apertavam os tecidos de suas roupas. Quase um minuto inteiro depois, com a aquela lentidão tão típica dos dois, afastaram os rostos e se fitaram. Mesmo que ninguém conseguisse enxergar, Sasuke estava ferido, mas não no sentido físico da coisa. Naruto o via sangrar.

—Me desculpe. - ele disse, quase num sussurro. - Eu não deveria ter ido embora. Eu não deveria ter te deixado. Não devia ter me irritado com você. - Naruto percebeu que Sasuke usava o colar novamente e a prata da aliança cintilava por estar perto da sua. - Eu estava cansado de não te ver com a aliança, senti-me magoado e, para não te ferir, decidi ir embora… Mas eu não aguento ficar longe de você tempo demais. Eu te amo, my lord.

Sua mãe tinha total razão. Beijou-o de novo, rindo baixo, e afagou seus cabelos compridos. Nem percebeu quando a sua cauda e suas orelhas saíram. Odiava quando Sasuke lhe desarmava assim, mas só mostrava o quanto o amava.

—Meu cachorrinho… - Sasuke sussurrou, começou a fazer carinhos em suas orelhas de lobo e a beijar seu pescoço. Naruto não sabia se estava mais quente por causa da fogueira perto dos dois ou por causa da saudade se manifestando de novo. - Estou com sede…

Naruto sentiu cada poro de seu corpo se arrepiar. Desabotoou parte da sua fantasia, apenas para que a pele ficasse em evidência. Assentiu. Fitando a noite acima de suas cabeças, enxergando ali os olhos daquele que lhe vigiava todas as noite, Naruto sorriu ao sentir as presas profundas rasgarem a sua pele e seu sangue lhe deixar. Aquela dor, aquela estranheza sem sentido e contraditória do veneno invadindo suas veias enquanto seu sangue saía, era alívio e paz. E tão rápido quanto um sonho, acabou.

Sasuke o fitou, lambendo os lábios e os dentes para se limpar, e cortou a ponta de seu indicador com a unha, permitindo que um fio negro como seus próprios olhos deslizasse pela pele pálida. Naruto sorriu e escancarou a boca.

Numa abocanhada, três dedos do vampiro desapareceram dentro da boca daquele homem, escorregando garganta a baixo, intactos, até se desfazerem em seu estômago. Naruto arfou alto, sentindo sua barriga vibrar e se retorcer, mas estava tudo bem. Lambeu a ferida aberta com carinho, limpando-a totalmente, e sorriu para ele. Sasuke observou sua mão se restaurar: os ossos se alongarem, rasgando a carne, as fibras envolverem-no e então, a pele cobriu toda a carne, deixando os dedos como se nunca tivessem deixado de existir.

—Por que veio para cá? - Naruto indagou, depois que os dois foram para um quarto. Logo amanheceria. O lobisomem sabia que jamais o sol afetaria, pelo menos naquele dia, a vida de Sasuke, pois ele se alimentara. Sentiu isso ao perceber o gosto forte de sangue vampiresco em sua garganta.

—Porque hoje é nosso dia… - Sasuke o fitou e sorriu, revelando suas presas. - Da nossa família, da nossa vida, do nosso filho. Hoje é o único dia que o bem e o mal podem convergir em paz, manterem-se juntos e serem uma coisa só. - Naruto aninhou-se mais sobre o peito frio, que não se movia porque ele não respirava. Homens mortos não respiram. - A natureza torna-se o que realmente é.

—Vai manter a nossa promessa, Sasuke?

—Sim, my lord. - Naruto sorriu e sua cauda balançou ainda mais rápido. - Eu prometo, em nome do nosso filho e do nosso amor, não tomar sangue inocente e não roubar almas puras. - sussurrou sem nem piscar, pois não queria quebrar o contato visual.

—Eu prometo, em nome do nosso filho e do nosso amor, ficar ao seu lado por todos os anos que forem possíveis e precisos. Eu te amo, Sasuke. - beijou-o.

Dizem que a Noite das Bruxas é macabra, cheia de monstros e fantasmas, que tudo o que é ruim acontece nesta noite sombria e mística. É bem verdade. É cheia de monstros, Sasuke e Naruto são dois, principalmente quando estão com fome; é bem macabra, pois esses seres são, de fato, assustadores - basta perguntar a Ume quando vê seu pai Sasuke acordar para trabalhar ou quando vê Naruto tendo que tomar remédio -, mas nem tudo de ruim acontece. Ume nasceu, Sasuke e Naruto se casaram e o mundo vive em paz.

—Sasuke… - Naruto chamou.

Devia ser quatro da manhã e Sasuke quase ressonava, mas abriu um dos olhos, com muito custo, para fitar quem o chamava.

—Quê…? - perguntou, rouco.

—Que tal se a gente tivesse outro filho? Uma garotinha, dessa vez. Loira, mas com os olhos negros. - Naruto subiu sobre Sasuke, para poder encarar o rosto sonolento do vampiro. Suas orelhas estavam erguidas e sua cauda balançava. - O que me diz?

—Eu acho… - ele bocejou e se esticou completamente na cama. - Eu acho que… - quase dormiu de novo, mas acordou. - Sempre que suas orelhas e sua cauda aparecem, a ideia vai dar muito errado porque é idiota… - suspirou, fechando os olhos. - Mas eu gostaria de ser pai de uma menina loba…

Naruto riu, deixando que Sasuke dormisse. Todo mundo sabe que os vampiros dormem de dia e vivem à noite. Ele não era a exceção, por mais que o sol não o afetasse tanto assim. Abraçou-o, encaixando o rosto dele em seu peito forte, e sorriu ao sentir os braços dele envolverem sua cintura.

Uma filha loba? Talvez. Fitou a lua através da janela. Talvez um gato fosse melhor.


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Notas finais do capítulo

Cês gostaram? :3
Nem deu medo, né? Eu sei que não.
Então... Acho que um gato... Parece bom, hein? '-'
kkkkkkkkkk
Até daqui a pouco com as macabras... Ou não '-'



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