Angels Cry escrita por Kokoro Tsuki


Capítulo 1
I feel angels cry


Notas iniciais do capítulo

Não tenho lá muita coisa pra dizer aqui, mas eu espero que vocês gostem ♥



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E, quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande Dia.
Judas 1:6

 

Angels Cry

“I feel the angels cry”

Ele fora criado à imagem e semelhança de Deus nosso senhor, tendo recebido D’ele a missão dada a todos os outros: zelar pelos cordeiros do rebanho de seu Senhor. Chamado Anael, “Deus é minha graça”, ele tinha uma beleza que diziam, cegaria qualquer homem que ousasse olhar diretamente em seus olhos azuis.

E os dias passaram. Com eles os meses, então anos, então séculos. E Anael levava graça aos fiéis.

Um dia, porém, seus ouvidos ouviram uma oração diferente, vinda de uma jovem humana, que pedia a bênção dos anjos do senhor, e ele sentiu como se precisasse ajudá-la.

E foi assim que essa história começou, mas não se engane: ela não é uma história de amor.

Seu nome era Lizaveta, e pelo que sabia, não era nada comum para uma pessoa nascida naquele país, chamado de Inglaterra. Se Anael não se enganava, eles chamavam aquele lugar de “terra da rainha”, um cúmulo! Toda a terra, fosse onde fosse, não pertencia a nenhum humano vivente, pertencia somente a Ele.

Assim o anjo pensava, enquanto observava a jovem mulher rezar, com o rosto coberto por um fino e delicado véu, ajoelhada próxima ao altar de uma igrejinha pobre por aqueles cantos, clamando ao todo poderoso para que se mantivesse consigo, e que não permitisse que, por capricho de seu pai, se casasse com um tanto tantos e tantos anos mais velho.

Anael a ouviu, sabendo que este não era um pedido que poderia, simplesmente, realizar. Uma mulher deveria se submeter ao pai, e futuramente ao marido, assim eram a leis, Não havia porque interferir.

E então, uma semana depois, ela voltou.

Lizaveta pedia também forças, coragem e iluminação para que conseguisse fugir desse casamento e Anael não sabia o que pensar.

“Pecadora!” foi a primeira coisa que passou por sua cabeça, observando-a orar com fervor. “Honra teu pai, mulher! Sê submissa como nosso Senhor ordenou!”

Ele no entanto, se manteve inquieto por todo o tempo que a ouviu, e até quando, finalmente, Lizaveta se foi. Apenas naquele momento o anjo notou como eram seus cabelos escondidos por aquele véu: brancos, traziam consigo a cor da pureza e da paz. Ainda que anjos não tivessem noção da passagem de tempo, naquela noite Anael perguntou a Ele:

“Por que não a ajuda?”

E o Senhor, seu Deus, apenas o respondeu:

“Não sê insolente! Questionas assim teu Deus? Anjo questionador, aqueles que estão contra mim, serão expulsos de minha morada.”

Foi naquele instante, que o anjo Anael sentiu que, talvez, fosse errado perguntar qualquer coisa ao seu Senhor, que fosse contra as sagradas escrituras — ainda que não tivesse certeza se uma simples dúvida como aquela iria contra aquilo que o sagrado pregava. Todavia, não deixou de observar Lizaveta cada vez que a moça ia para a pequena igrejinha, cada vez parecendo mais tristonha, fazendo mais e mais perguntas surgirem dentro de si.

Uma vez, porém, ajoelhada sobre o altar, olhando para a imagem do santíssimo pregado em uma cruz, o ser celestial o observou chorar, as lágrimas escorrendo pelos olhos azuis de forma lenta, enquanto a humana parecia implorar por um sinal, para ser salva daquela união ao qual suas vontades não importavam.

Tendo sido ele criado para cuidar das ovelhas do rebanho de Deus, não podia deixar de se apiedar daquela filha da criação, sentindo seu coração murchar a cada vez que a via.Em um sobressalto, Aneal se exasperou, sentindo as asas de penas brancas se tornarem agitadas.

Talvez aquele fosse o sentimento descrito pelos homens, quando eles escreviam para suas mulheres e transcreviam em livros, retratando outros humanos.

Talvez ele estivesse se apaixonando.

E não podia deixá-la sofrer.

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Mas, ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que pregamos a vocês, que seja amaldiçoado!

Gálatas 1:18

E então, num dia chuvoso, coberta por um xale ela lá apareceu, molhada, parecendo assustada. Anael se perguntou o que havia acontecido, não tendo ele a onipresença.

Observou-a, então, se recostar sobre o altar, parecendo tremer com a roupa totalmente encharcada, as mãos em seus cabelos e as pernas dobradas contra seu peito. Lizaveta chorava de forma copiosa, vestida em tecidos bonitos, rendados, da cor de seus cabelos. Seu rosto, apesar de manchado pelas lágrimas, parecia com um pouco mais de cor do que o normal.

Ah, o casamento.

Tendo seus clamores ignorados por Deus, ela havia apenas fugido, Anael imaginava. Agora, se ele parasse para pensar, não apenas os pedidos de Lizaveta, mas nunca havia seu Senhor realizar os desejos de seus fiéis, via-o apenas observar, ouvir… E nunca fazer nada.

Apiedado, o anjo tomou a atitude que, certamente, desgraçou sua vida e a dela por toda a eternidade.

Aproximou-se, deixando de lado todas as advertências que, um dia, havia recebido sobre se fazer presente, não tendo ele sido mandado pelo Senhor ou pelo arcanjo, e se sentando ao lado dela, deixou-se ser visto.

“Você está bem?” foi a primeira coisa que deixou seus lábios, e num sobressalto, Lizaveta se afastou, para em seguida encarar o homem de longos cabelos tão azuis quanto o céu de um dia ensolarado, vestido apenas com uma túnica. Estando sozinha ali naquela igrejinha afastada com um “homem” ela pareceu profundamente assustada. “Não precisa ficar com medo, Lizaveta.”

Arqueando ambas as sobrancelhas e, assustada, levando  uma mão à boca, ela perguntou:

“Quem… Quem é você? Como sabe meu nome?”

Anael entreabriu os lábios, pronto para lhe contar que era um anjo descido dos céus, e que há tempos a observava com carinho, perdendo, porém, a coragem para tal no meio do caminho, temendo que a jovem fugisse de si. Olhando para si mesmo, notou que suas asas não eram visíveis para si, e provavelmente, também não eram para ela.

“Eu sempre te vi rezar aqui… Mas nunca tive coragem de me aproximar. Você nunca me notou.”

Ela pareceu pensar por um momento, como se refletisse se o de cabelos azuis ali dizia ou não a verdade, estranhando ainda suas roupas. No entanto, querendo ou não, Lizaveta nada tinha perder. Abraçando seus joelhos e os trazendo para perto do busto, ela decidiu acreditar nele. Apenas daquela vez.

“Qual o seu nome, então?”

Parando para pensar, de certo, “Anael” não era um nome muito comum ali, e, de todos os nomes que lhe passavam pela cabeça, somente um escapou por entre seus lábios.

“Edgar.”

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“Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos’.”

Matheus 25:41

Depois daquilo, o tempo passou. Assim que a chuva deu sinais que ia cessar eles resolveram pegar a estrada. Ela, fugindo de seu pai e de seu noivo. Ele, com uma desculpa qualquer para a seguir, lhe acompanhando, em seu íntimo estranhando que nenhum outro anjo, ou mesmo o Senhor tivessem lhe procurado por se aproximar tanto assim da humana. Deixasse estar, Ele em sua infinita bondade entenderia seus sentimentos.

Conforme os dias corriam, e os dois se escondiam pelas estradas, colhiam frutas para se alimentar, sua certeza de estar apaixonado aumentavam.

Chegarem então a uma cidade vizinha, e tanto Lizaveta quanto “Edgar” eram completos desconhecidos. Ela resolveu que abandonaria este nome e o de sua família, adotando um outro nome estrangeiro, “Serena”. Ele aprendeu o que era, como “humano” viver em meio a uma cidade.

Um belo homem de feições celestiais.

As pessoas o chamavam por vários nomes, mas ele preferia se chamar Edgar — também porque a jovem parecia amar esse nome, e passando o tempo de convivência, se agradava também de sua companhia —. O anjo do Senhor, feito a sua imagem e semelhança, tendo a beleza dos céus em cada gesto, cada palavra, cometeu, porém, o erro de se apaixonar por uma humana, mesmo sabendo que jamais poderia tê-la.

Ou era o que imaginava.

Serena era agora uma pessoa sem sobrenome, sem família, e sem ostentar tudo no qual herdaria sozinha, por ser filha única, era só mais uma jovem mulher normal que dificilmente conseguiria se sustentar sozinha, que orava todas as noites para Deus. Edgar sabia que ela jamais seria ouvida, e sentir que precisava protegê-la.

Ele aprendeu a trabalhar, e não raramente, usava seus dons para lhe dar presentes. Na verdade, se sentia um pouco surpreso por ainda ter suas asas ali quando precisava, por ainda ter aquele poder. Edgar estava feliz, e sinceramente sentia que nada jamais estragaria aquela felicidade.

Cinco anos então se passaram. O que era uma amizade que “começou” em uma igreja, transforma-se-ia num romance ao passo que eles se entregavam.

“É errado.” dizia o anjo a si mesmo e a ela. Querendo ou não, Serena era casada e segundo as leis do Senhor o matrimônio era casado. Edgar também temia, de certa forma, trazer ao mundo um nephelim* que com ele a desgraça e o caos.

“Eu sei.” ela sussurrou, se afastando, para, em seguida, sorrir. “Mas não fomos, todos nós, concebidos em pecado? Tenho certeza que Ele há de entender, pois Ele prega o amor.”

Edgar por um momento parou para pensar, e, concordando, ele se entregou.

Serena nunca esteve tão errada.

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Isso não é de admirar, o próprio Satanás se disfarça de anjo da luz.

2 Coríntios 11:14

Exatos nove meses depois, George nasceu. Tendo os cabelos brancos da mãe e os olhos azuis do pai, Edgar temeu que aquela criança traria, não apenas para si, mas para todo o mundo a desgraça e a destruição. Sendo, porém, conquistado pelo primeiro sorriso, ignorou seus temores e seguiu em frente, como pai que amava sua cria. Ele podia ver as asas de George, contudo. E se perguntava todos os dias se ninguém mais as via, se por ventura, quando a criança crescesse, deveria contar-lhe toda a verdade.

Perguntava-se também se Serena deveria saber. Naqueles seis anos, ela jamais questionara sua história, ninguém também havia procurado-a ali, ou sequer suspeitado de algo desde sua chegada. Imaginava que, de certo, os cabelos da moça chamavam muita atenção.

Poderia, porém, pensar nisso quando em casa finalmente chegasse em casa, e pudesse reencontrar aquilo que os humanos chamavam de “família”. Edgar precisava confessar que estava mais ansioso que o normal naquele dia nublado. Olhando para o céu e ouvindo os estrondos, era quase como se o firmamento fosse cair sobre suas cabeças.

Ao chegar, constatou a porta fechada e a casa extremamente silenciosa, sentindo os primeiros pingos violentos de chuva o atingirem em cheio, e empurrou a porta de madeira em seguida. O que Edgar encontrou ali lhe fazia ter a certeza de que seu “castigo” por ir contra Ele havia chegado.

Pregada de cabeça para baixo com os pés juntos e os braços abertos estava a humana por quem havia se apaixonado, o seu sangue manchando toda a parede de madeira branca, que eles haviam pintado no último verão. Desnuda, seu corpo trazia um corte vindo da virilha até a altura do queixo e por ele podia ver bem o sangue ainda a escorrer, fresco, quente, junto de suas entranhas. No rosto tão bonito, uma expressão de de dor, terror.

Do chão, jazia o menino de poucos meses, cada um de seus membros retirados e colocados novamente, e no chão, desenhado com seu sangue e o que restara de seus órgãos infantis a estrela de Davi.

Edgar soube ali, o que há pouco tempo já desconfiava. Que seu Deus não era aquilo que as escrituras novas diziam, e sim, que ele era o mesmo das antigas; E agora, vendo as pessoas que mais amava naquele estado, tinha a total certeza: Ele esperou o momento certo, e agora lhe mostrara que, sendo um anjo ou não, iria pagar por ir contra si.

Ele teria aquela imagem em sua cabeça pelo tempo para qual fora criado: a eternidade.


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Notas finais do capítulo

Nephelim: filho de anjo com humano.

Eu não gostei muuuuuuuuiiiitooo do resultado dessa one mais eu menos terminei há tempo então tá bom :v Espero que tenham gostado ♥

Beijos ♥



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