— Não vai chutar? — Uma voz de timbre infantil lhe rouba a atenção. Quando tinha chegado aos campos da escola maldita? E era muita coincidência encarar seu sobrinho lhe dirigindo a palavra. Depois de quanto tempo?

Os olhos negros e brilhantes de Hikaru o encaravam com um sorriso gentil, sem raiva. Kageyama Reiji fitou a bola de futebol à seus pés pensativo. Deveria chutar? O futebol lhe apresentou a humilhação para seu ídolo, estragou sua vida. Então, em troca, ele destruiu os sentimentos dos outros, esmagou pessoas, arruinou vidas. Todos os dias uma nova pessoa o odiava e o amaldiçoava. Mas ele sorria. Não de maldade, não de perversidade. Sorria porque se sentia vivo para o mundo novamente. O futebol tinha tornado Reiji, um perdido nessa sociedade, sem algo que podia chamar de lar, sem atenção. Em resposta, ele decidiu ser um destruidor por muito tempo em busca dessa atenção que perdeu.

O homem pega a bola com as mãos, o garoto mantém o sorriso, esperando pacientemente a resposta de seu pedido.

Kageyama deixou de ser um destruidor. Agora era como um canhão solto, que deixa seu perigo adormecido e depois explode, chocando todos. Porém continuava sendo odiado e amaldiçoado por todos.

— Para que isso? — Indaga ao sobrinho. Mesmo sendo parentes, estaria Hikaru confiando em alguém como ele, que odiou o futebol?

— Eu acredito em você. — Respondeu o rapaz sem desfazer o sorriso nem por um segundo.

— Vou te mostrar que não é bem assim. — Ameaça o homem, em posição de chutar, mirando no garoto, que ergue os braços em defesa.

A bola é chutada e o de cabelos roxos cai pelo impacto ao ser atingido. Ele queria mostrar ao menino que não era apenas luz. Apesar de ter mudado, ainda tinha as trevas em si. Não era bom se apegar ao tio, se é que podia ser chamado assim, um homem como ele. Mas, Reiji também não queria ficar perto de Hikaru e acabar o destruindo com sua escuridão.

— Aprendeu? Não é porque eu passei para o lado bom, que esqueci tudo. O futebol ainda me decepciona. — Disse com indiferença, porém meio arrependido.

O menino se levanta com uma leve expressão de dor e encara o tio, sorrindo de novo.

— Então por que não chutou de verdade pra me machucar? — O homem se sente confuso pelas palavras. — Porque você não quer mais usar o futebol pra destruir. Por isso confio em você.

— Você não sabe nada sobre mim. — Reiji vira as costas sem esperar o sobrinho retrucar.

O homem saiu com a calma de uma pena caindo no chão. Mas por dentro, estava perturbado, atordoado. Kageyama Reiji era como um canhão solto que esconde seu poder e explode chocando todos, mas agora, sem causar tragédias.