Minha existência não deve existir, causo pavor e ceifo vidas, ainda assim as pessoas usam-me como válvula de escape para aventuras descabidas, para fugir da própria realidade, a qual estão atadas, sou apenas um refúgio. As pessoas dão desculpas escusas para usar-me, içar-me ao ar em uma cesta com fogo que queima meu interior, deixando-me irado e fazendo-me inchar.

Flutuo pelo céu com o auxílio do vento, observando quieto um casal de namorados dentro da cesta, estou acima deles, ouvindo o vento cortar-se ao passar pelo céu, sentindo o calor morno dos raios solares sobre mim. Eu quem sofro com a mudança climática, o vento bate contra mim, leva-me mais para longe, levando os viajantes comigo, fazendo a preocupação cair sobre os moradores da cidade.

Ninguém preocupa-se comigo, ninguém quer saber dos meus sentimentos, sou somente um objeto de diversão das pessoas, uma forma de passatempo delas. Sou o sonho de uns, pesadelo de outros, sou o acaso e a desventura, o encanto e a maldição, luz e escuridão.

Ouço algo cair sobre mim, talvez um besante, as pessoas acreditam que isso é sinal de sorte. Por uma serendipidade, ouço uma declaração de amor do casal que me acompanha, mantendo minha sopesa, indo de acordo com os ditames do vento que me conduz.

Perco altitude, as labaredas do fogo que me sustentava, tomam conta de meu corpo. Ouço gritos de desespero e soluços, caio sobre os fios de eletricidade dos postes, perdi o sentido de continuar existindo, o casal procura se retirar de mim, mas está muito alto para que alcancem o chão.

Os seres humanos são muito frágeis mesmo, quanto a mim sou somente resistente, de igual fragilidade. Ninguém quer saber dos meus sentimentos, tampouco do meu estado, quem quereria saber de alguém como eu, um singelo balão?Ninguém.