O Frio Hatori escrita por lovelywriter


Capítulo 2
Capítulo 2




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Resolvi me levantar e ir embora, mas quando me pus de pé, senti uma vertigem muito forte e aconteceu. Transformei-me em minha tão diminuta figura. Estava sozinho numa praça. Teria sorte se as pessoas não estranhassem aquelas roupas de homem jogadas no meio da praça, mas ao mesmo tempo, precisaria de alguém caso contrário morreria pela falta de água e pelo frio. Foi quando a ouvi:

            - EU NÃO ACREDITO!! – A mulher que corria se aproximou, admirando-se do que havia acontecido. – Um cavalo marinho? – Ela olhou para os lados. – Não tem ninguém aqui, nem água aqui perto. Você fala? O que tô falando, ele é um cavalo marinho. Claro que não fala. Mas ao mesmo tempo ele era um homem há cinco segundos atrás. Eu devo estar louca. Muito oxigênio. – Mesmo assim, ela estendeu as mãos para me apanhar e retirando a garrafa de água que carregava na cintura, me colocou lá dentro. – Espero que ele sobreviva. Que fofo, sempre sonhei em conhecer um cavalo marinho.           

Fiquei tão constrangido com sua fala que resolvi permanecer em silêncio. Ela apanhou minhas roupas e saiu correndo em direção ao prédio de luxo que ficava do outro lado da praça. Subiu o elevador e continuava a me olhar e murmurar que estava ficando louca. Quando o elevador parou, entramos na primeira porta que ficava em frente ao elevador. Ela destrancou a porta e, entrando na sala, me colocou em cima da mesa.

            - Você fala? – Ela estava hesitante.

            - Sim. Obrigado por ter me salvado.

            Sua cara era de espanto.

            - Como assim você é um cavalo marinho? Você era um homem há alguns segundos atrás.

            - É um pouco complicado. Mas devo avisá-la que eu... – E voltei a forma natural. Obviamente, estava nu. Obviamente, ela se assustou e virou-se rapidamente, jogando minhas roupas em mim.

            - VOCÊ TÁ PELADO.

            - Desculpe! – Eu me vestia rapidamente. – Eu estava prestes a avisá-la que quando retorno a forma humana isso acontece.

            - Mas, cara, como assim você vira um cavalo marinho? – Ela se levantava e gesticulava. – Eu não acredito no que tá acontecendo. Será que eu tô sonhando? – Ela se deu um beliscão.

            Eu já vestido, coloquei-me de pé e comecei a falar. Não tinha muita escolha, a não ser explicar-lhe o que havia acontecido.

            - Como você se chama?

            - Posso me virar?

            - Claro.

            - Meu nome é Yamada Amemya.

            - Eu sou Souma Hatori.

            - Pera, Souma?

            - Sim, já ouvi falar da minha família?

            - Pera, pera, pera. – Ela estreitou os olhos e deu uma pequena risada. – Sabia que seu rosto me era familiar. Então você não se lembra de mim?

            - Ahm, não. Nós já nos conhecemos?

            - Eu sabia que o que tinha visto não era um engano! Eu tinha certeza que havia visto uma pessoa se transformar num cachorro naquele dia.

            - Só um minuto, do que você está falando?

            - Nós estudamos na mesma escola. Eu estava no último ano do ginasial e vocês no último ano do colegial. Você andava com mais dois outros caras, eram super populares na escola por serem extremamente atraentes. Até as meninas da minha sala se confessavam para vocês. Como fui sempre muito curiosa, resolvi ver se vocês eram realmente tão bonitos quanto todo mundo dizia. E aí, nesse dia, fui até o terraço e vi uma das meninas se confessando para o seu amigo, ele tinha um cabelo um pouco mais claro que o seu, no mesmo comprimento. Era meio debochado, o nome dele era Shigato, Shin, Shinegui...

            - Shigure.

            - Isso! Sabia que era Shi alguma coisa. A menina se confessou e correu na direção dele, que não conseguiu se desviar. Ela o abraçou e ele se transformou num cachorro! Do mesmo jeito que você no parque. Eu sabia que não tinha visto coisas naquele diaa!! Sabiaaa!!

            - Você chegou a contar isso a alguém? – Essa história era no mínimo preocupante. Se ela tivesse contado a alguém, eu mal podia imaginar quantas memórias eu teria de apagar.

            - Claro que não. Óbvio que não. Eu sei que ninguém acreditaria e seria taxada como louca. Eu era um pouco delinquente no colégio, odiava estudar e não tinha muitos amigos. Eu gostava mesmo era de escrever. Mas foi ótimo pra mim ter visto aquilo. Foi a inspiração do meu primeiro mangá.

            - Você escreveu um mangá com base no que viu? – A ideia de ter um mangá baseado na maldição da minha família me deixava um tanto quanto desconfortável.

            - Com base no conceito, vamos dizer assim. A personagem era uma super heroína que escondia um grande segredo: não podia ser abraçada por homens. Você nunca leu? – Ela me analisou de cima a baixo. – Pensando bem, você não tem cara de quem lê mangá. Provavelmente deve se interessar mais por literatura erudita, como Dostoievsky, Tolstoi ou Prouste.

            - Você conhece esses autores? – Eu estava inteiramente surpreendido por aquela mulher. Ela era totalmente... surpreendente.

            - Eu posso ser uma mangaká, mas sou formada em Literatura e tenho mestrado em Literatura Ocidental pela Universidade de Oxford.

            - Impressionante. Suas histórias devem ser muito interessantes. Me perdoe por realmente não conhecer seu mangá.

            - Tudo bem. Já tenho fãs suficientes.

            - Você ainda escreve aquela história?

            - Não. – Ela riu. – Estou na minha segunda e mais popular serialização. Eu fiquei bem famosa com minha primeira história. Paguei meus estudos na Inglaterra com o lucro que obtive produzindo aquela obra. Mas por quê a gente tá falando de mim quando você é que é a pessoa mais interessante aqui?

            - Yamada-san, eu infelizmente não posso contar mais do que a senhorita já saiba. E receio que você esteja correndo um sério risco estando ciente dessa história.

            - Você está me ameaçando? – Seu sorriso se esvaneceu e ela tinha uma expressão séria no rosto. Não parecia ter medo de mim, por outro lado.

            - Não, claro que não. Só que você não entende a gravidade dessa situação. E os males que ela já acarretou para minha família.

            - Você se refere ao fato de que eu saber o segredo de vocês ou ao fato de vocês se transformarem animais?

            Eu suspirei e respondi:

            - Aos dois. É muito complicado. É uma maldição, Yamada-san. – Eu a encarava com seriedade. Esperava realmente que ela pudesse entender o mal que tudo aquilo podia causa-la.

            - Eu imagino que seja. O Shigure se tornou um cachorro e no dia seguinte, a menina que se declarou a ele nem mesmo se lembrava do que tinha acontecido. Eu achei aquilo estranho e resolvi perguntar se ela se lembrava de ter se declarado ao Shigure-senpai. Ela disse que não, que sabia que não tinha chance alguma com ele. Mas eu tinha certeza do que tinha visto e ouvido. Foi aí que entendi completamente vocês, os Souma. Por isso eram os príncipes gelados. Não podiam interagir normalmente com as outras pessoas, não porque não quisessem, mas porque não podiam. Eu comecei a imaginar como deveria ser horrível fazer coisas comuns, como praticar esportes mistos ou, até mesmo, pegar um trem.

            Eu a encarava em silêncio. Embora não soubesse o quão obscura era a história da nossa família, de certa maneira, ela conseguiu captar a dor de carregar aquela maldição.

            - Yamada-san, eu preciso comunicar ao patriarca da nossa família sobre você.

            - E o que vai acontecer comigo? Eu sei que alguma coisa aconteceu com aquela menina que se declarou para o Shigure. Eu sempre achei estranho que ela não se lembrasse de nada daquele dia.

            Depois de um suspiro, finalmente continuei:

            - Eu não posso contar mais nada a você além do que já sabe. Eu agradeço por ter guardado segredo por todos esses anos, mas creio que a senhorita não entende a gravidade de nossa situação.

            - Bom, acredite em mim. Eu trabalho com ficção. As pessoas me taxariam como louca se eu as contasse o que aconteceu aqui hoje.

            - Eu acho que preciso ir.

            Ela encarava o chão, hesitante. Parecia querer dizer algo.

            - Espera. Olha, eu prometo que não vou contar nada a ninguém. E posso garantir isso.

            Eu a olhei surpreso. Que tipo de garantia ela achava que poderia me fornecer? De qualquer maneira, aquela situação estava sendo problemática demais. Yamada havia se tornada popular por um mangá baseado em nossa história. Se eu apagasse a memória dela, estaria interferindo no trabalho dela. Eu suspirei, esperando pela proposta que ela me apresentaria.

            - Como?

            - Eu vou te contar o meu segredo.

           


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