Vampire² escrita por MSMoura


Capítulo 3
Capítulo 3 - Gêmeas do Barulho




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— CARAMBACARAMBACARAMBACARAMBA - era a única coisa que eu conseguia dizer, enquanto eu corria feito um louco pelos corredores da escola, fugindo das duas garotas que queriam me matar, por algum motivo.

Como eu havia dito, fugir era uma das minhas especialidades. As "espiãs" eram rápidas, mas eu era ainda mais. Naveguei por esquinas até que consegui pular o portão que dava para a quadra da escola.
Subi correndo as escadas, três degraus de cada vez. Eu ouvi atrás de mim a corrente que prendia o portão quebrando. Não sei como elas conseguiram fazer aquilo, mas fizeram.

Ao chegar na quadra, percebi que lá era um péssimo lugar para me esconder.

O pátio era enorme, e a arquibancada era de concreto. Um enorme telhado de metal cobria o lugar, para tapar o Sol.

Ao olhar para o telhado, meus olhos me levaram até as vigas que sustentavam-no, e eu tive uma ideia.

—_____________________________________________________________________

Escondido atrás de uma das vigas, fiquei ouvindo calmamente as gêmeas do barulho, que me procuravam pela quadra.

— Evan-san tem que estar aqui. - disse a garota do lenço, Misaki. Suas vozes eram parecidas, mas não exatamente iguais - Esse lugar não tem saída.

— Fique alerta, Misaki - disse Hitomi, a garota da tiara - Ele é o escolhido de Lady Alice, ele não deve ser subestimado.

"Lady Alice?" pensei, confuso.

— Eu acho que sei onde ele está. - disse Misaki, com um tom ameaçador em sua voz.

Nisso, minha mente começou a pensar em velocidade máxima. Alice era uma vampira, e uma daquelas garotas tinha acabado de fazer seu pescoço crescer. Ela tinha que ser algo não-humano, mas o quê?

Folheando meu catálogo mental de monstros, eu acabei parando na seção da mitologia (que agora tá mais para "biologia") japonesa, e alguns yokais ("aparição" ou "monstro") começaram a aparecer na minha cabeça... Até que eu cheguei no certo.

Rokurokubi. Um yokai que pode alongar seu pescoço. Mas outra informação sobre os rokurokubis apareceu na minha mente... Tem uma classe deles que consegue desprender a cabeça do corpo, fazendo-a voar livremente por aí. Comecei a torcer para as duas irmãs serem do tipo que estica o pescoço. Senão as coisas ficariam complicadas.

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Após ficar mais ou menos um minuto escondido, comecei a ouvir um som esquisito, um tipo de zumbido, junto com o som de chamas crepitando. Quando olhei para a direita, vi algo que fez meu coração quase pular pela minha garganta.

— Achei ele, Misaki! - gritou Hitomi, que agora era apenas uma cabeça flutuante, com chamas azuis saindo de dentro de seu pescoço.

Gritei, o que fez Hitomi gritar também. Nunca achei que eu daria um susto numa cabeça flutuante, mas hoje era um dia cheio de novidades.

Corri, quase escorregando, enquanto eu tentava fugir das duas yokais. Enquanto eu fugia, vi o corpo de Hitomi sem cabeça, com chamas vivas no topo de seu pescoço, e Misaki alongando seu pescoço, pronta para atirar sua cabeça em mim.

Tive uma ideia idiota, mas que poderia funcionar. O problema era que as duas irmãs também tiveram uma ideia.

A cabeça de Hitomi veio flutuando rapidamente, e pousou na mão de Misaki, enquanto a da própria caiu como uma pedra em sua própria mão, seu pescoço alongado ao máximo, parecendo uma mangueira branca pelo chão.

Acabei parando, pensando se minha própria ideia iria funcionar contra a delas. Porém, assim que eu parei, Misaki começou a agir, jogando a cabeça de sua irmã numa velocidade incrível contra mim.

Torci para eu ainda ter algum resquício de sorte em meu magro corpo, e agachei.

E, para minha surpresa, meu plano funcionou: A cabeça de Hitomi acertou em cheio uma das vigas do telhado, deixando uma enorme depressão nela.

O corpo de Hitomi simplesmente caiu duro no chão, e sua cabeça fez o mesmo. Ela parecia apenas tonta, mas eu não tinha tempo para checar, pois Misaki estava furiosa.

— Hitomi estava certa... Não podemos subestimá-lo. - concluiu Misaki.

Misaki estaria bem mais alerta agora, e isso seria algo bem ruim para mim. Porém, assim que eu estava pronto para picar a mula, Misaki levantou sua mão, num sinal de "pare", e disse:

— Deixe-me pelo menos colocar a cabeça da minha irmã de volta no lugar. Não podemos expor o mundo dos yokais para vocês, humanos, tão facilmente.

Eu não sabia se eu confiava nela ou não, mas algo me dizia que ela estava falando a verdade.

Eu andei um pouco para o lado, deixando a cabeça de Hitomi à mostra, e Misaki imediatamente lançou sua cabeça em minha direção. Tentei botar os braços na frente do meu rosto, instintivamente, mas ela havia dito a verdade: Sua cabeça foi direto para a da sua irmã, e, mordendo-a pela orelha, Misaki trouxe-a para perto dela.

Após encaixar a cabeça de sua irmã como um brinquedo de montar, Misaki levantou-se, e disse:

— Estou pronta. Vamos continuar.

Era tudo que eu precisava ouvir.

Disparei feito um louco pelas escadas da quadra, agradecendo às duas pelo portão agora estar aberto, e corri de volta à escola.

Mas Misaki não estava para brincadeiras, pois ela havia me alcançado facilmente. Com seu pescoço alongado, ela lançou sua cabeça em minha direção, e, apesar de eu tentar, não consegui desviar.

Eu não sabia se foi por conta da distância ou nossa velocidade, mas, estranhamente, a cabeça de Misaki não me acertou em cheio como ela havia feito com o valentão... mas me acertou de um jeito "diferente".

— OM NOM NOM NOM - gritava Misaki, enquanto sua cabeça esticada mordia meu braço, tentando se segurar ou em minha carne, ou em minha camiseta de manga longa.

— AAAAAAAAAH! - gritei, enquanto eu balançava meu braço loucamente, tentando mandar Misaki para longe.

Infelizmente, aquilo não funcionou, e Misaki finalmente conseguiu se prender à minha camiseta. Eu havia subestimado sua força, pois quando ela se prendeu, seu pescoço agiu como um chicote, me jogando violentamente aos seus pés.

No chão, eu tentei levantar, mas algo rapidamente se enrolou em meu pescoço, como uma cobra tentando esmagar uma presa: Era o pescoço de Misaki, que estava me enforcando.

— Você lutou bem, Evan-san. - disse ela, apertando-me ainda mais - Mas não bem o bastante. Vou dizer à Lady Alice que você morreu com honr-AAAAAAAAA!

Para minha surpresa, no fim da palavra "honra", alguém havia chutado a cabeça de Misaki, cujo pescoço acabou se desenrolando do meu, levando todo o seu corpo para longe.

— Você tá bem, cara?! - disse uma voz familiar, que meu cérebro tentava identificar. Era mais difícil do que parecia, pois meus ouvidos zumbiam, e o sangue tentava voltar a circular normalmente.

Uma forte, porém delicada mão segurou a minha, e me ajudou a levantar. Com um brilho familiar e acolhedor em seus olhos, finalmente pude distinguir minha salvadora.

— Alice! - comemorei, enquanto eu a abraçava.

— Não acredito que você ainda tá vivo! - disse ela, rindo.

— Uau, um pouco mais de fé no seu escolhido seria ótimo. - cutuquei.

— Ah... hehe... Você acabou ouvindo sobre isso delas, não é? - perguntou Alice.

— Um pouco. Ainda estou bem confuso. Você poderia me explicar certinho o que está acontecendo... Ao invés de, você sabe, sair correndo sem mais nem menos?

— Foi mal... Isso foi algo novo pra mim também. Antes de eu te contar tudo, temos que sair daqui.

— Por quê? Você está aqui, aquelas duas rokurokubis não são páreo para você!

— Mas elas são só o começo! Elas são a... sobremesa antes do prato principal, entende?!

Pensei um pouco no que Alice acabara de dizer.

— Você não quis dizer... a entrada antes do prato principal? - perguntei.

Alice pensou um pouco no que eu acabara de dizer.

— Isso aí! - respondeu ela - Vamos correr!

— Correr? Mas... Pra ond-eAAAAAAAAA! - gritei, enquanto Alice me puxou pela mão, e começou a correr feito um raio.

Ela era mais rápida do que eu, mas, de algum jeito, eu consegui manter seu ritmo. Por sorte, não havia muita gente na área da escola durante o horário das aulas, então as poucas pessoas que nos viam mal conseguiam processar o que estava acontecendo antes de nós estarmos longe.

Eu até poderia descrever as expressões de algumas dessas pessoas, se eu conseguisse ver algo além de um borrão toda vez que eu passava por elas.

Após pelo menos uns cinco minutos correndo à velocidade da Alice, chegamos na frente de um prédio abandonado que ficava próximo ao nossos apartamentos.

— O que estamos fazendo aqui? - perguntei, arfando.

— Estamos sendo seguidos. - disse ela, calmamente - Se vamos ter que lutar com alguma coisa, que seja num lugar sem ninguém.

E então, ela me puxou de novo, e entramos no lugar.

—_____________________________________________________________________

O prédio estava bem feio. A pintura estava descascando há pelo menos uma década, e o chão tinha tanta sujeira, papel e lixo que eu não conseguia ver o piso. Subimos para o segundo andar, e lá tinha mais do mesmo na questão da falta de higiene.

Mas, como Alice havia previsto, não havia ninguém lá.

Ela se recostou em um dos pilares, e eu fiz o mesmo ao seu lado, apoiando minhas mãos em meus joelhos, tentando puxar o ar que, naquele lugar, tinha mais fedor em sua composição do que oxigênio.

— Você quer... me explicar... o que está acontecendo... ? - perguntei, arfando.

Alice parecia estar muito melhor do que eu, então começou a falar imediatamente:

— Eu... sou uma vampira.

— Eu... sei disso. - respondi.

— Eu decidi largar a minha família de vampiros por conta desse controle que eles têm sobre mim e meus irmãos... Minha irmã perdeu dois pretendentes por causa desse teste idiota que meu pai criou para quem quiser "entrar na família".

— ... Como assim, perdeu? - perguntei.

— Eles morreram. Não sobreviveram ao teste que eu e você estamos passando agora.

Meu coração ficou pesado. Será que eu estava disposto a correr perigo de vida só para virar um vampiro?

— Então... eu posso morrer antes mesmo de virar um vampiro?

— Hehe, como se eu fosse deixar isso acontecer! - disse Alice, dando um leve soco em meu braço - Eu acabei correndo hoje de manhã porque eu não sabia direito o que fazer... Estamos ligados por algo um pouco mais importante do que a nossa amizade, agora... Somos parceiros de sangue! Quando eu lembrei o que meu pai faz para testar nossos parceiros de sangue, eu sabia que eu tinha de voltar para onde você estava, e te proteger.

Eu ri.

— Você não acha que eu consigo me proteger sozinho?

— Eu sei que você sabe se cuidar, cara. Você foge como ninguém!

— É minha habilidade especial.

— Isso! - disse Alice, sorrindo, logo antes de fechar o rosto completamente - Mas você não fugiu ontem, fugiu?

Eu fiquei envergonhado. É, eu poderia ter fugido facilmente, mas algo me prendeu. Algo me fez ficar lá e enfrentar alguém que eu sabia que eu não poderia vencer.

— Você não ter fugido fez com que a gente entrasse nessa situação! - disse Alice.

— Como assim? - perguntei.

— Se você não tivesse comprado briga com aquele cara, seu sangue não teria parado em minha boca, e eu não teria ficado louca daquele jeito!

— Mas você não estava feliz por termos virado parceiros de sangue?

— SIM! Mas... O que você fez foi perigoso, cara. Pelo menos você se redimiu hoje, correu das... Roku... Tal e coisa, e esperou eu chegar!

— As Rokurokubi. - corrigi Alice.

— Isso aí, hehe.

— Mas elas quase me mataram! Se não fosse por você, eu teria sido morto por elas!

— Exatamente! - disse Alice, feliz da vida.

Eu fiquei olhando para ela por alguns segundos, o que a fez colocar a sua cara de "eu disse algo errado?".

— E se você não estivesse lá? O que eu faria?

— Você correria, e esperaria eu chegar.

— Mas e se você não chegasse? Foi por isso que eu enfrentei aquele cara... Eu não posso depender de você para sempre!

— Claro que pode! - gritou Alice. Eu fiquei impressionado, pois achei ver lágrimas se formando em seus olhos - Eu sempre vou depender de você! Eu não sou lá muito inteligente... Eu só sei ser uma bruta! Então porque você não pode sempre depender de mim, pelo menos para ser os músculos?!

— Porque você pode não estar sempre lá para me ajudar! E se você não estiver lá?!

— De agora em diante - disse Alice, segurando a minha mão - eu sempre vou estar lá!

Meu coração quase parou. Ficamos de mãos dadas pelo que pareceu uma eternidade, mas uma que eu ficaria feliz por não acabar. Até que Alice disse, rindo:

— E você será o cérebro da nossa dupla!

Rimos, e depois nos calamos novamente por alguns minutos.

— Mas... e agora? O que a gente faz? - perguntei.

— Agora - disse Alice - nós vamos arranjar um jeito de ir até a mansão do meu pai, provar que você é digno.

— Isso vai ser fácil?

— Não, hehe.

Rimos.

— Nós vamos conseguir. - disse Alice - Só precisamos seguir em frente, desconfiando de todo mundo, pois se eu conheço o meu pai, qualquer pessoa que se aproximar da gente pode ser alguém contratado por ele.

— Oi, gente! - disse uma voz vindo do topo da escada para o primeiro andar.

Alice e eu olhamos para quem havia dito aquilo, e vimos um homem de longos cabelos marrons e terno parado, nos observando.

— Quem é você? - perguntei.

— Não sou ninguém importante, não se preocupem. - disse o homem - Estou apenas de visita!

— Ah, entendi! - disse Alice, que virou para mim e continuou - Que bom, ele só está de visita. Achei que era um dos contratados do meu pai.

Eu fiquei encarando Alice, esperando as engrenagens de seu cérebro funcionarem. Até que ela soltou:

— Oh. Saquei.


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