Monstro escrita por MaskKira


Capítulo 1
Lembranças Dolorosas


Notas iniciais do capítulo

Agradecendo a ajuda de um grande amigo, Matheus, com alguns detalhes dessa fic

A música é Monster do Tauz.



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Monster

Monstro

How should I feel?

Como eu deveria me sentir?

Creatures lie here

Criaturas mentem aqui

Looking through the window

Olhando através das janelas

Monster

Monstro

How should I feel?

Como eu deveria me sentir?

Creatures lie here

Criaturas mentem aqui

Looking through the window

Olhando através das janelas

 

Shura, Afrodite e Máscara da Morte apresentaram-se rapidamente ao templo da deusa Athena assim que foram chamados pelo Grande Mestre, falso Grande Mestre.

− Chamei vocês aqui, porque recebi uma carta.... Saori Kido se intitula a verdadeira deusa Athena e está vindo para uma audiência comigo nos próximos dias, juntamente a cinco Cavaleiros de Bronze. – Saga disse com quase desprezo.

− Quer que interceptemos no caminho? – Máscara perguntou normalmente.

− Não, tenho planos para essa menina, deixe que os Cavaleiros subam, sem permissão serão considerados intrusos. – O Grande Mestre respondeu com um sorriso perverso.

− Seria mais fácil deixar um de nós ir, nem saberiam o que está acontecendo. – Afrodite opinou.

− Eu sei, mas desejo assim, que sejam vistos como traidores e mentirosos. – Saga explicou. Shura desviou o olhar, o canceriano riu.

− Como desejar, Mestre, iremos para nossas casas. – Máscara da Morte respondeu, os três fizeram uma pequena reverencia e saíram do Templo.

− Você se diverte, não é? – Afrodite perguntou com um sorriso ao canceriano.

− Claro. – Concordou.

− Será que não é capaz de sentir nada? Essa garota é a deusa de verdade, a quem juramos proteger com nossas vidas.... – Shura resmungou baixo.

− E que você tentou matar a 13 anos atrás.... Não sinto nada, mais nada. Saga sabe o que é melhor. Fará do mundo um lugar melhor, diferente dessa menina. – Respondeu sério encarando o outro.

− E você Afrodite? – Shura o questionou.

− Oito Cavaleiros de Ouro contra Cinco de Bronze, está obvio quem vai ganhar e eu fico apenas do lado do que vence. – O pisciano respondeu também o encarando, Shura suspirou.

Máscara da Morte tornou-se pensativo, não sentia nada, mais nada, vivia pelo ideal que construiu com a ajuda do falso Grande Mestre, vivia para matar, não importa a que preço, não importa quem, por uma justiça absoluta e soberana, sem espaço para a fraqueza!

 

Eu era alguém, que acreditava só no bem.

Lutava e buscava o certo como ninguém

Mas veja bem, a verdade é que eu sempre fracassei

 

Enquanto descia as longas escadarias das 12 Casas, Máscara da Morte pensava na fala de Shura.... “Não é capaz de sentir nada? ”, quantas e quantas vezes já não ouvira aquela frase? Como poderia sentir qualquer coisa, depois de toda a desgraça que houve em sua vida?

No fundo de sua mente e seu coração ainda se recordava das lições de moral do pai, como ele se sentava com ele e os dois irmãos e lhes contava histórias, lhes falava sobre a vida e o que era justo e correto enquanto a mãe preparava o jantar.

Desde seu nascimento até os seis anos de idade, vivia em uma pequena cidade portuária na Itália, com uma família amorosa, de vida simples, mas que lhe deu e daria todo amor do mundo, mas isso tudo lhe foi tomado.

Ele se lembrava dos pais discutindo pelas dividas altas e despesas, a situação financeira no país não era das melhores... Agentes da máfia sempre estavam prontos para aliciar crianças para serviços pequenos, mas ele sempre se lembrava dos ensinamentos do pai. “Sejam sempre corretos, não importa o tamanho do mal da corrupção, sejam sempre justos e honestos”. Quanta besteira era tudo aquilo....

− Você fez o que? – Eleonora, sua mãe, questionou o marido em uma noite, depois que os três filhos haviam ido dormir, ou eram o que pensavam.

− Um empréstimo com-com Don Arturo. – Disse baixo e sem graça. Os três ouviam e não podiam entender o porquê daquilo, principalmente o irmão mais velho. Isso foi o início do fim, sem dinheiro para quitar sua dívida, o pai teve que se prestar a serviços e também ceder a sua família.

Sendo o mais jovem, Máscara então aprendeu mais facilmente toda a manha e malícia das ruas, passando por cima de tudo que um dia o pai havia pregado. Ele havia procurado a ruína da família, porque agora merecia algum respeito? Aos sete anos, ele foi “resgatado” de um tiroteio em um bar por um Cavaleiro de Prata, a essa altura, sua mãe e seu irmão mais velho já haviam morrido, a mãe por uma doença mal curada e o irmão com um tiro letal.... Apesar da pouca idade, sua vida nunca mais seria a mesma.

 

E também doeu em mim no dia que te deixei

Por anos eu tentei, mas sei que eu falhei

Não pude cumprir tudo aquilo que jurei

E eu sei (eu sei)

Fui tão longe que cheguei

Ao ponto de ser a dor da pessoa que eu mais amei

(Monster)

(Monstro)

 

Máscara da Morte encontrou na Sicília alguém para ser seu Mestre, alguém sem valor ou moral alguma, que apenas aperfeiçoou tudo o que ele havia aprendido nas ruas e com aquela vida dura de um ano.

− Um Cavaleiro não deve ter piedade nenhuma, menino. Devemos cumprir nossas ordens sem questionamentos, se uma ordem de execução for dada ela deverá ser cumprida. Sem questionamento, sem pena. – O Mestre dizia sério, o menino apenas assentia, descobriu logo que por meio de medo e força qualquer coisa poderia ser sua, qualquer benefício poderia ser alcançado. Foi nessa tenra idade que ele descobriu o prazer em matar, em ver o desespero nos olhos das vítimas, o sangue jorrando de seus corpos até a vida também se esvair completamente deles, foi nessa tenra idade que ganhou o nome pelo qual todos o conheceriam, quase se esquecendo de seu nome de verdade o qual sua mãe chamava de forma doce.

Algumas vezes ele se recordava da família, ainda unida e feliz, dos ensinamentos do seu pai, ou pensava em recuar diante de algum adversário por pena, mas não o fazia, sempre que tinha a oportunidade machucava, arrancava sangue.... Matava. Essa era sua vida agora, o passado deveria ficar em seu lugar, atrás.

 

Com 8 anos de idade ele chegou a Grécia, já com o título de Cavaleiro de Ouro de Câncer. Fez um juramento junto aos outros que possuíam o mesmo título, jurando defender o amor, a paz e a justiça na terra. Mas quanta tolice, a única justiça era a força e o medo e ele sabia disso. Logo encontrou quem partilhasse das mesmas ideias e uma dessas pessoas era o Cavaleiro de Gêmeos, agora falso Grande Mestre, Saga, ele possuía um plano bem elaborado e coeso, que faria com que o mundo se tornasse um lugar melhor, livre de toda fraqueza. Um lugar onde só sobreviveriam os fortes.

 

Aos 22 anos, ele já era conhecido, até mesmo nos exércitos inimigos, a fama de pendurar a cabeça dos adversários mortos nas paredes da 4ª Casa do Zodíaco, por ser frio, impiedoso e letal. Cumpria qualquer ordem que o Grande Mestre lhe desse, tudo claro em nome da justiça, mesmo que seja por seus fins.

Mas também foi aos 22 que ele conheceu alguém, alguém que ele pensou que mudaria tudo e mudou....

Kira tinha 17 anos, era Amazona de Prata de Cães de Caça, Saga queria evitar ao máximo a entrada de novos Cavaleiros e Amazonas no Santuário, mas não podia se fechar de tudo, também precisava que acreditassem em si, em suas verdades. Máscara da Morte a observou em uma tarde de treino em conjunto, haviam vários Cavaleiros e Amazonas que se enfrentavam em uma espécie de minitorneio. Ela não era muito alta, tinha a pele morena, cabelos curtos e rebeldes castanhos escuros, coxas fartas e se destacava por escapar com maestria de vários golpes de seus oponentes, aquele fato foi o que chamou a atenção do Cavaleiro de início.... Se pudesse ter ficado longe dela, agora ele teria ficado, suas mãos destruíam tudo o que ele tocava, com ela não foi diferente.

Assim ele se aproximou da Amazona, no início apenas pela curiosidade, ela se incomodava um pouco por não conseguir lê-lo, era telepata, mas o Cavaleiro se protegia bem desses truques, porém o incomodo da Amazona foi passando juntamente ao passar dos dias, ela acabou gostando da companhia, da conversa.... Da presença do mais velho. As vezes treinavam juntos, outras vezes ele a levava pelo Santuário, para caminharem, para ficarem longe da agitação, para ficarem juntos.

Apesar de tudo, Máscara da Morte gostava igualmente da companhia da menina, sentia-se bem como a muito tempo não sentia. As vezes se repreendia internamente por aqueles sentimentos que afloravam, mas não comentava nada com ela, eles não firmaram um compromisso, nada falaram, mas passavam muito tempo na companhia um do outro para haver outras pessoas, ainda.

 

Em uma tarde, os dois, o Cavaleiro de Escorpião e um grupo de três Cavaleiros de Prata e Duas Amazonas de Bronze foram chamados ao Templo da deusa por ordem do Grande Mestre.

− Há uma vila na Albânia.... Há traidores e rebeldes lá, quero que liquidem tudo. Nada deve restar. – Ordenou.

− Sim Grande Mestre. – Ouviu-se o coro pelo salão.

Todos arrumaram suas coisas e saíram assim que tudo estava pronto, não demorou para chegaram a vila, era noite e rapidamente as explosões, gritos e correria começaram com a destruição das casas, das pessoas...

Kira observava, entendia o que o desacato significava, mas..., mas não podia compreender, a maioria da população eram mulheres, idosos e crianças, como podiam ser rebeldes do Santuário? Não conseguiria fazer aquilo e foi ainda pior, doeu ver o canceriano, a frieza, o sorriso sádico em seus lábios, obviamente ela sabia sobre a fama dele e as cabeças estavam penduradas na 4ª Casa para comprovar, mas era diferente vê-lo. Ela não pode aguentar, afastou-se rapidamente do grupo daquilo tudo, o desequilíbrio a fez ouvir todos os apelos silenciosos de todas as pessoas, para Deus, para qualquer deus que pudesse ouvi-los e livrá-los daquela agonia.

− Onde você estava? – Máscara perguntou segurando o rosto dela, naquele momento ele temeu sentir a dor da perda por mais uma vez, ela voltou ao amanhecer quando tudo já havia terminado. – Pensei que estivesse ferida! – A repreendeu, ela não estava nem ao menos suja. Havia fugido da batalha.

− Desculpe. – Disse baixo sem conseguir olhá-lo nos olhos. Máscara estreitou os olhos azuis escuros, algo não estava certo ali. Eles arrumaram as coisas e voltaram ao Santuário com o relato do êxito.

 

O canceriano passou a se irritar, faziam três dias que haviam voltado e a morena havia tomado certa distância dele. Ele encontrou-a em uma tarde e questionou.

− Você não percebeu? A maioria não tinha nada a ver com o exército, não era uma vila de Cavaleiros, era uma vila civil, que Mestre é esse? – A canceriana disse de uma vez.

− E daí? – Desinteressado.

− Como assim e daí? Isso não é certo! – Alto.

− Não estamos aqui para questionar o Grande Mestre. – A fitou.

− Nem para cumprir ordens cegas, aquilo não foi certo, sumi porque não acreditei no que vi, não entendi, ouvi tudo aquilo. – Baixou a cabeça.

− Não deveria se preocupar com isso, fiz com que ninguém contasse que você sumiu, o Grande Mestre não vai questionar sua falta, ainda, mas se você começar com isso.... Ele pode acusa-la, prende-la, entende?

− Eu entendo.... – Resmungou. – Não quis deixa-lo preocupado. – Baixo.

− Que-quem disse que eu fiquei? – A encarou, a Amazona acabou rindo, no fundo de seu coração sabia que algo não estava certo, mas gostava mesmo do canceriano, não tinha como ficar longe dele. Ele retribuiu quando ela lhe abraçou, um abraço apertado e demorado.

 

Olha o que me tornei

O tipo de pessoa que eu nunca imaginei

O mal que estava escondido alimentei

E agora sinto que esse monstro não dominei

 

Algumas semanas se passaram desde aquela missão, Kira não se conformou com a atitude do Grande 

Mestre em relação àquela missão, decidiu fazer uma pequena investigação por conta própria, seus dons seriam bem úteis para isso.

Máscara da Morte começava a se dar conta de seus sentimentos em relação a Amazona e começava a teme-los, não podia deixar que continuasse, não podia se permitir perder mais uma vez, sofrer, não sabia como havia se envolvido, mas não podia mais. Não cortou o contado de vez, foi se afastando aos poucos, se envolvendo com uma moça aqui outra ali....

A morena estava ocupada com sua investigação, mas quando percebeu o que estava havendo foi um choque, magoou-se. Porém nada disse a ele, não questionou ou cobrou explicações, não valia a pena. Ela descobriu em seguida, a terrível verdade que o Grande Mestre escondia, a mentira, todos eles estavam sendo enganados, seguindo ordens que nada condiziam com a deusa, com tudo o que juraram defender, ele apenas os manipulava para fazerem suas vontades. Ela não podia contar a todos, agora sabia que, Máscara da Morte, Afrodite e Shura o defendiam por gosto, sabiam tudo e ainda assim compactuavam com ele.... Ela ouviu sobre o rumor de Cavaleiros de Bronze no Japão que não seguiam as regras “eram” rebeldes, seria um bom lugar para ela ir e começar a participar e ajudar em uma possível mobilização.

 

O Guardião da 4ª Casa foi chamado ao Templo naquela noite, e aquela noite estava gravada em sua memória, era motivo de seus pesadelos constantes, de seu medo, parte de seu sofrimento.

− Mandou chamar-me, Saga? – Perguntou, chamou-o pelo nome, já que não havia nenhum servo no local.

− Sim, mandei. – Sério. – Cães de Caça está saindo agora, fugindo pela passagem que um certo alguém mostrou para ela para ir escondidos a cidade. – Encarou o mais novo. – Não me importa o que faça, mas a Armadura de Prata não deve sair do Santuário, entendeu? – O geminiano o encarou, viu a expressão de surpresa no rosto do canceriano, sabia que aquele envolvimento não daria certo!

− Sim senhor, Mestre. – Respondeu voltando a sua postura, curvou-se e saiu apressado, Saga apenas observou-o.

 

A Amazona sentia-se confiante, havia chegado ali sem problemas, sair seria fácil, era o que pensava.

− Aonde você pensa que vai? – Ela arrepiou-se com a voz do Cavaleiro, virou-se para encará-lo.

− Embora. – Simples.

− Deixe a urna e deixo você ir. – Máscara disse, surpreendeu-se com o sorrio nos lábios da morena.

− Quem mandou, aquele Grande Mestre? Tenho direito sobre ela e não é ele quem vai toma-la de mim. Não tem poder nenhum sobre as minhas decisões ou a minha armadura. Não aceito ordens de um falso Grande Mestre! – Kira respondeu convicta. Ele suspirou.

− Eu estou falando para o seu bem, Kira. Não me force a te machucar. – Ameaçou.

− Você teria coragem? – Ela questionou o fitando, sentiu o rosto afoguear, se repreendeu internamente por perguntar aquilo. Máscara riu.

− Você se acha especial, não é? Importante demais, achou que ia mudar algo em minha vida? – Vociferou irritado, não iria admitir aquilo nunca, nunca.

− Não, sei bem que não sou e você deixou isso bem claro.... – A canceriana respondeu, sentia raiva, magoa.... Não era nada certo, mas pensou que ele gostasse dela, que teria certo respeito por ela. – Me deixe ir, Máscara da Morte. Melhor, venha comigo. – O fitou.

− O que? – Teve que questionar. O que ela pensava? Saga jamais os deixaria sair, mas no fundo do seu coração, naquele momento sentiu uma pontinha de esperança, alguém acreditava que ele podia ser diferente.

− Venha comigo, não tem que servir a Saga, eu sei que você sabe. Mas isso não é certo, há rumores de que a deusa de verdade vive no Japão, vamos até ela, tenho certeza que pode te perdoar, perdoar todos nós por confiarmos nele. Devemos serviço a ela apenas. Não podemos deixar ele continuar com esses planos, é loucura. – Kira explicou.

− Saga está certo. – Máscara da Morte disse sem a olhar. – Não há outra maneira de fazer as coisas, se não por meio da força, do medo. Não há como manter controle. Deixe a urna! – A encarou.

− Não! Não posso, além do mais, você sabe bem que assim que eu precisasse ela voltaria para mim.

− Por favor, Kira, eu estou pedindo, ainda. – Disse novamente em tom de ameaça, não entendia porque ela não recuava, porque não temia como os outros, nem ao menos tremia, ele não sentia nada nela, nenhum medo, isso o incomodava levemente, mas talvez fosse isso também que havia feito com que ele sentisse todas aquelas “coisas estranhas” no peito.

− Sinto muito. – Respondeu, foi rápida ao desviar quando ele avançou para cima dela com os punhos cerrados, mas não durou muito tempo.

Os dois passaram a se enfrentar e os dois sabiam que ele não estava lutando com tudo, havia uma batalha interna dentro do Cavaleiro, cumprir sua ordem ou fazer o que queria. Máscara não entendia porque não conseguia lutar a sério com ela, porque pela primeira vez na vida não queria ver sangue derramado, não queria matar.

− Venha comigo, Máscara, se for um sacrifício tão grande apenas me deixe ir. Não posso ficar nem abrirei mão da minha armadura. Diga a Saga que quando chegou eu já havia ido. – Ela disse respirando ofegante e afastada dele.

− E você acha que ele vai acreditar? Pare com essa besteira, fique você aqui! – Alto, repreendeu-se mentalmente o que estava havendo.

− Não posso. – Kira respondeu. Viu ele baixar a cabeça, Máscara não aguentava mais aqueles pensamentos divergindo dentro de si, ela sentiu o cosmo sinistro e agressivo emanando dele, arregalou os olhos pequenos e escuros por baixo da máscara prateada, a única coisa que teve tempo de pensar é que não acreditava que ele faria aquilo.

Máscara da Morte decidiu resolver o problema da única maneira que conhecia, com a morte, desferiu as Ondas do Inferno contra a Amazona de Cães de Caça, fazendo-a cair alguns metros à frente, sem a urna, com a máscara prateada estilhaçada assim como boa parte de seus ossos, ele surpreendeu-se por ter ferido apenas o corpo dela, sabia que a alma ainda estava ali, pior, que ela ainda estava viva, consciente.

Kira sentia o corpo todo doer, dores insuportáveis em alguns pontos, sentia o sangue quente escorrer pelos cortes profundos, por seu nariz sua boca, seu pulmão queimava quando ela respirava, não conseguia se mover.

Ele se aproximou da morena, surpreendeu-se a ver o rosto dela, aparentava ser bem mais jovem, abaixou-se para ter uma ideia melhor dos ferimentos.... Talvez pudesse leva-la ao centro médico, negociar algo com Saga.... Ficou curioso quanto a um papel que estava preso no lenço esverdeado que ela carregava amarrado a cintura. Pegou-o.

− Não.... – Kira resmungou fazendo um esforço tremendo com o braço direito para tentar pegar o papel, mas foi em vão. Ele abriu o dobrado, mesmo manchado com sangue ainda conseguiu ler, seus olhos azuis se arregalaram, surpresa, mas depois passou a medo, angustia....

− Por que.... Por que não me disse nada? POR QUE NÃO DISSE NADA? – Berrou irritado, era um exame de sangue comum, a Amazona estava bem, porém grávida.

−.... Não queria.... Estragar sua vida. Estava feliz com aquelas mulheres. – Respondeu baixo e de forma pausada. – Iria embora sem dizer também.... Não pensei....

− Mas que droga. QUE DROGA! – Pego-a no colo ignorando os gemidos, quase gritos de dor da canceriana. Tinha que levá-la ao centro médico logo. Ele não sabia o que sentir, sentia que não era uma má notícia, aquilo deixou-o feliz, mas porque ela não disse, talvez se tivesse dito ele não a teria atacado, ou teria? – Você tinha que ter me dito, tinha.... Se não antes tinha agora. – Reclamou sério.

− Você teria feito o mesmo. – Resmungo. Houve silencio por alguns minutos.

− Você quer ver, veja porque sou assim.... Porque ajo dessa forma. – Sério. Ela tentou se concentrar, ainda conseguiu, viu a infância, o treinamento.... Ele não entendia porque ela estava rindo.

− As escolhas foram suas, Mephisto. – Disse, ele sentia que seu coração ia sair do peito ao ouvir seu nome sendo pronunciado por ela. – Entendo que sofreu, que aprendeu muita coisa errada. – Dizia ainda de forma pausada e baixo. – Mas você escolheu seguir e não lutar, você escolheu enfrentar a mim.... Me matar em nome do seu ideal de justiça. As escolhas são suas.... – A Amazona disse antes de perder a consciência.

 

O Cavaleiro correu com ela ao centro médico, depois que Saga conseguiu o posto os únicos que tinham acesso ao serviço eram Cavaleiros e Amazonas, aspirantes, servos e aldeões tinham que se tratar com outros recursos. Eles imediatamente a levaram. Ele andava preocupado, de um lado a outro, sentia-se nervoso, culpado, pela primeira vez na vida culpado.... Quase 20 minutos depois um médico se aproximou.

− Eu sinto muito, ela estava com muitos ferimentos, o pulmão estava todo perfurado pelas costelas, não tivemos tempo de fazer nada. – Explicou o olhando. – Quanto ao bebê, era muito pequeno para tentarmos qualquer procedimento, de qualquer forma ela também teve outros órgãos perfurados incluindo o útero. Eu sinto muito. – Pediu novamente. − Já pedimos que avisassem o Grande Mestre. – Máscara da Morte tinha o olhar perdido, o que havia feito? Por que havia feito? Talvez nunca mais tivesse a chance de ter uma família, não como a que teria com ela, ela acreditou que ele pudesse ser diferente, acreditou em algo bom e ele havia mostrado o contrário a ela. Ela morreu sendo traída pelo que acreditava....

− Posso vê-la? – Perguntou ainda com o olhar longe.

− Nós não recomendamos, mas tudo bem, me acompanhe, por favor. – O médico pediu.

Kira ainda estava deitada na maca, o sangue agora formava uma poça no chão, a pele morena que possuía uma cor bonita agora estava pálida. Agora podia ver claramente alguns lugares onde os ossos estavam quebrados. Tentou se controlar o máximo que pode, mas as lágrimas vinham a seus olhos, fazia muito tempo que não chorava, não por tristeza, não pela perda, mas naquela noite ele chorou, era sua culpa.

 

E quem vai entender? (Quem vai entender)

Se quero pra mim morrer (se quero pra mim morrer)

Eu odeio o que virei, mas me faz sentir tão bem.

Pois quando estou nas sombras sou forte como ninguém

 

O canceriano foi sem seguida falar com Saga, não importava se ele estava dormindo, o que estava fazendo, ele precisava falar alguma coisa.

− Você sabia, Saga.... Sabia sobre a gravidez dela.... Quando me mandou ir atrás dela hoje? – Máscara questionou o encarando.

− Claro que eu sabia, sou Grande Mestre, peço que qualquer coisa desse tipo seja avisada a mim. – Respondeu com desinteresse.

− Por que.... POR QUE MANDOU A MIM PARA LÁ? – Vociferou, o mais velho o encarava. Sorriu em seguida.

− Quem se importa com ela ou com o que ela carregava? Você? Não seja hipócrita! Me diga, Máscara da Morte, quantas? Quantas mulheres você matou, quantas crianças? Quantas famílias você destruiu e dilacerou pura e simplesmente por diversão, para saciar seu desejo por sangue e morte? – Silencio. – RESPONDA! VOCÊ APENAS TIROU UM EMPECILHO DO SEU CAMINHO, UM LIXO QUE NÃO FAZIA NADA MAIS DO QUE OBSTRUIR A NOSSA VISÃO DE JUSTIÇA! Ao matar aquela garota e aquele feto imundo você fez um favor a si mesmo. Você se tornou mais forte e cruel, mostrou a ela o que é a vida e como ela não é bela, mostrou o ideal que estamos construindo. O único arrependimento que deveria ter é o de não ter arrancado aquele pedaço de carne da barriga dela e jogado no chão, com um belo e prazeroso sorriso. – O mais velho explicou, sabia como a Amazona estava mexendo com ele e deu um jeito de acabar com isso.

Máscara não soube o que responder, parte de si ainda estava triste, ainda estava inconformada e se doeu com aquelas palavras, mas ouvir que havia ficado mais forte.... foi algo tentador.

 

Não preciso de razão.

Eu escolhi cair pra dar de cara no chão

No meio da multidão

Percebo a solidão

Depois que você foi aqui virou escuridão

 

Ele descia as Casas depois do Mestre contar sobre os Cavaleiros de Bronze, havia relembrado de tudo aquilo. Parte de si ainda doía ao se lembrar da Amazona, já fazia um ano e ele não conseguia ver as moças da mesma forma que via ela, não havia encontrado mais quem acreditasse em si, quem não o temesse, ficava com elas por necessidade, não por vontade verdadeira. Havia feito mais uma coisa horrível, imperdoável, nem ao menos deixou Kira descansar em paz, por apego aprisionou a alma dela em um lugar devidamente lacrado, uma garrafa de vidro transparente. Nos dias em que ficava mal, bebia, ficava agarrado a ela, o brilho esverdeado que havia dentro da garrafa era capaz de emitir calor, mas mais nada além disso, nenhuma voz, nenhum toque, nenhum conforto.

Era melhor esquecer tudo aquilo, depois que eliminassem aquela menina Saga finalmente começaria a deixar as coisas em ordem, aquilo era tudo o que importava.

 

Me sinto quebrado.

Caindo em pedaços.

Porque sei que estou fora e não consigo voltar

Toda a minha insanidade eu preciso provar

Não dá

Eu já deixei me dominar

Uma fera fora da jaula, quem pode controlar?

Sinto que estou mais forte e nem eu posso parar

Você não pode mais me ver

Pois tem alguém no meu lugar

(Monster)

 

Era cedo quando, Asterion e Misty desciam as casas, foram ordenados por Saga para irem ao Japão eliminar Cavaleiros traidores, Saga queria testar aqueles garotos andes de vê-los em combate subindo as casas.

− Eu odeio a forma como ele me olha. – Asterion reclamou com o loiro, Misty andava sempre como se estivesse em uma passarela, exibindo sua beleza andrógina, como se nada mais importasse, tinha o mesmo porte diante de qualquer um.

− Você é telepata, mas é muito desligado, Asterion, são sabe nada sobre o guardião desta armadura antes de você? – Curioso, já estavam saindo, mas Misty parou na escadaria, pensaram que ele não estava ouvindo, mas ouvia. Máscara realmente detestava ver Asterion, se lembrava como a Amazona ficava bonita com ela, com aquelas cores.... Se pudesse voltar atrás se soubesse que aquela morte o deixaria aos pedaços.... Teria fugido com ela, para longe.

− Eu sei que era uma mulher, uma Amazona. – Respondeu.

− Sim, dizem que os dois eram praticamente namorados, ele, por incrível que pareça, vivia todo bobo por ela. Um dia ela se rebelou, estava indo embora, fugindo com a armadura, então o Grande Mestre mandou ele atrás dela e ele a matou. – Misty explicou simples, Asterion estremeceu.

− Eu não fazia ideia, me falaram que era uma excelente guerreira, mas nada sobre detalhes. – Quase sussurrou.

− E dizem as más línguas. – O Cavaleiro loiro fez uma pausa. – Que ela estava grávida. – Completou, Asterion arregalou os olhos verdes.

− O que?

− Isso aí, ouço por aí, ninguém confirma, mas.... – Disse.

− Monstro, doente.... – Resmungou voltando a caminhar o loiro acompanhou.

Era isso mesmo, ele era tudo aquilo o que diziam.... Monstro, havia levantado a mão contra ela, sua família. Não merecia o respeito de ninguém.

 

Cheguei a um extremo

Posso até estar morrendo e eu já quero isso mesmo

O errado é tão certo e o certo é tão errado

O mal que me faz bem é o que me deixa alucinado

E quem vai entender? (quem vai entender)

Se quero pra mim morrer

Eu odeio o que virei, mas me faz sentir tão bem

Pois quando estou nas sombras sou forte como ninguém

 

Não demorou para a menina e os Cavaleiros de Bronze provarem seu valor, derrotaram todos os Guerreiros que Saga havia mandado para detê-los. Assim eles conseguiram chegar ao Santuário, Saga ordenou que Tremy acertasse a menina com uma flecha e os quatro Cavaleiros de Bronze foram obrigados a subir as casas para salvá-la.

Máscara da Morte enfrentou o Cavaleiro de Dragão, Shiryu, o menino era discípulo do Cavaleiro de Libra. Não foi apenas um confronto físico, foi também um embate moral, o mais novo era muito correto e justo e não aceitou de forma alguma o que o dourado dizia.

O canceriano não entendia, como um reles Cavaleiro de Bronze podia ter força, havia muita determinação no libriano e isso ele admitia. A luta foi se tornando árdua, toda vez que ele pensava que havia derrotado o Dragão o garoto voltava, insistia.

Naqueles últimos minutos, Máscara desejou sim a morte, seria o melhor para todo mundo, melhor que continuar vivendo sem a Amazona, melhor que continuar vivendo sobre os olhares julgadores de todos, melhor do que apontarem que perdeu para um simples Cavaleiro de Bronze....

Assim que ele foi derrotado, jogado no yomotsu como fez com tantas outras pessoas, o vidro onde a alma da canceriana estava se partiu, libertando finalmente o brilho esverdeado que vivia dentro dele, assim como todos as cabeças esparramadas pelas paredes e colunas da 4ª Casa do Zodíaco sumiram, dando enfim liberdade para aquelas almas, antes prisioneiras e atormentadas.

 

Monster

Monstro

How should I feel?

Como eu deveria me sentir?

Creatures lie here

Criaturas mentem aqui

Looking through the window

Olhando através das janelas

Monster

Monstro

How should I feel?

Como eu deveria me sentir?

Creatures lie here

Criaturas mentem aqui

Looking through the window

Olhando através das janelas

 

Ele sentia um medo terrível, medo que a muito tempo não sentia, estava em um lugar escuro e frio. Estava morto essa era a verdade, mas o pior não era esse fato o pior era estar sozinho, sozinho como esteve na maioria de seus dias em vida. Se permitiu chorar de novo, o que havia feito? O que havia deixado? Nada! Simplesmente não havia feito nada que valesse a pena, nada mais tinha sentido agora. Agora ele sentia arrependimento de tudo e as palavras da canceriana sobre suas escolhas pesavam mais do que nunca.

Sentiu um calor próximo a seu lado esquerdo, estava sentado, ergueu a cabeça, os olhos azuis e deparou-se com a Amazona de cabelos curtos e escuros com uma expressão entediada. Máscara acabou sorrindo, podia ser uma ilusão, mas ele sabia que não, aquele calor nunca o enganaria, ele pensou em dizer algo, mas não tinha palavras, nem para dizer como se sentia, nem para pedir perdão, talvez seus questionamentos e a culpa em seu coração a tivessem levado até ali. Ela apenas estendeu a mão direita a ele, ainda com a expressão nada boa, Máscara apenas conseguia rir, com certeza algo ou alguém a havia mandado ali, obvio que ela ainda devia estar irritada e brava, ele agiu muito mal com ela, não apenas pela morte, mas por aprisiona-la em seguida.

− Me perdoa? – Pediu baixo já em pé e ainda se soltar a mão dela.

− Tá, tá.... – Ela resmungou impaciente. Passou a caminhar quase o puxando.

Ele não sabia o que viria a seguir, que castigos o aguardavam, mas se pudesse ficar mais tempo na companhia dela, sabia que poderia suportar qualquer coisa.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem, boa leitura.
Fanfic também postada no Spirit



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