A Moment to Remember escrita por LilyMPHyuuga


Capítulo 2
Menos aqui sem você


Notas iniciais do capítulo

Boa noite/madrugada! ♥
Graças ao fuso horário e ao horário de verão, ainda estou no dia 31, dentro do prazo para entrega da songfic, rsrs. ¯_(ツ)_/¯
Quero agradecer de coração a todos que leram o primeiro capítulo, que estão acompanhando e que favoritaram! Agradecimentos ainda mais especiais a Luciana Neves e thai carvalho por terem comentado! Muito obrigada por eles, gente! Obrigada por tudo! ♥
Obrigada também à minha beta divosa, que me aguentou até agora! Tô te devendo umas mil! ♥

Espero que gostem do segundo e último capítulo! *-*
Boa leitura! ♥



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Doze horas, uma náusea, um ligeiro pânico durante as turbulências e algumas rezas para os deuses depois, Hinata finalmente colocou seus pés em território inglês. Saiu do avião praticamente tremendo – frio ou nervoso, ela logo viria a descobrir.

Encaminhou-se para a esquerda no primeiro saguão, indo até as esteiras de malas e quase tendo um surto quando suas duas únicas demoraram quase dez minutos para aparecer. Respirou fundo, colocou as malas e a mochila num carrinho e saiu do ambiente de desembarque. Olhou para a frente, direita e esquerda e não encontrou aquele que combinara dias antes de buscá-la no aeroporto.

Neji era seu primo por parte de pai, filho do irmão gêmeo de Hiashi, Hizashi. O homem era cinco anos mais velho que Hinata, formou-se em Direito e exercia a profissão na filial da empresa da família na Inglaterra – um orgulho para o pai e para o restante dos Hyuuga.

E a causa da nova ansiedade da morena.

“Calma, Hinata. Ele pode ter se atrasado, pode ter ido ao banheiro... Não perca o controle!”.

Mas nada aconteceu nos minutos seguintes. Afastou-se para um canto, para evitar o bloqueio da passagem, e sacou o celular. Discou os números no automático, agradecendo mentalmente pela ligação ter sido logo atendida.

— Hina?

Talvez não tivesse sido uma boa ideia, afinal. Suas mãos começaram a tremer, a respiração ficou pesada e a visão ficou embaçada em instantes.

— Hina? Hina, está tudo bem?

— N-Naruto-kun, e-eu... – Respirou fundo outra vez. Fora uma péssima ideia ligar assim... Só o deixaria preocupado. – Sim! – falou o mais firme que pôde, controlando as lágrimas. – Sim, estou bem! Só ligando para avisar que cheguei.

— Você está chorando?

— Claro que não, não seja bobo! – Ela enxugou do rosto uma lágrima teimosa e afastou o celular um pouco, para poder fungar longe dos ouvidos dele. – Passei doze horas sem falar nada, por isso minha voz deve estar estranha.

— Doze horas? Temos um novo recorde!

— Imaginei que fosse curtir com a minha cara na primeira oportunidade.

— A culpa é sua. Devia estar aqui, para eu poder curtir pessoalmente.

Ela soltou uma risadinha, quase se sentindo mais leve. Estava sentindo um contraste: tranquila por poder falar com ele, mas uma pilha por estar tão longe.

— Sua conta virá altíssima no final do mês se ficar me ligando para ficar calada, não é? – ele provocou, tirando-a de seus pensamentos.

— Mando para papai pagar. A culpa é dele, afinal.

— Concordo plenamente.

— Posso te ligar por Skype quando chegar na casa de meu primo?

— Deve! – A firmeza da voz dele acelerou seu coração. – Não vou sair do quarto até que o faça, estamos entendidos?

— Sim, senhor.

Naruto desligou primeiro, poupando seu nervosismo. Sabia que ele estava desconfiado e não acreditara na desculpa de doze horas sem fala, mas que provavelmente imaginara sua inquietação. Só o que podia fazer à distância era fazê-la rir e marcar a próxima conversa...

Guardou o celular no bolso e controlou a respiração. Uma morena de coques a olhava num canto, receosa em se aproximar. Hinata desviou o olhar, mas virou novamente quando sentiu a mesma mulher se aproximar.

— Com licença... – falou docemente a estranha, dando um sorriso simpático. – Você é Hyuuga Hinata? – A jovem confirmou com a cabeça timidamente. – Não se preocupe. Eu sou Tenten, noiva de seu primo, Neji. Ele ficou preso numa reunião e me pediu para vir buscá-la. – A mulher coçou a cabeça, envergonhada, num gesto parecido demais com um certo loiro. – Desculpe a demora. Tive que sair de uma aula para poder vir.

— D-Desculpe, eu não queria dar trabalho...

— Não tem problema, Hina... Posso te chamar de Hina? – Mais um aceno e uma recordação reconfortante. – Vamos para casa, Hina.

“Casa?” teve vontade de perguntar, mas se conteve. Sua casa estava do outro lado do mundo... Saiu do aeroporto e teve ainda mais certeza de que ali não era seu lar: o cheiro, a paisagem e até os ruídos eram diferentes... Nada lhe era familiar.

Os olhos voltaram a arder dentro do carro, enquanto Tenten dirigia. Os prédios históricos até a lembravam um pouco de sua cidade antiga, mas não era a mesma coisa. Nunca seria, afinal.

— Eu sei o que está sentindo – Tenten falou a certa altura da viagem. – Também vim de outro país, sabe? A dor é horrível, não é?

Sem coragem de encarar a mulher com os olhos possivelmente vermelhos, Hinata limitou-se a um simples “é”.

— Não posso te dizer que a saudade vai passar. Mas posso te consolar ao dizer que, em algum momento, você se acostuma. Ainda aperta um pouco, mas é só lembrar de pegar o celular e ligar. Aproveite para estourar a conta de telefone! – Hinata a olhou por um instante e viu a morena piscar um olho em sua direção. – A tecnologia está ao nosso favor, Hina. Use e abuse dos trinta megabytes de internet que Neji, abençoado seja, instalou em nosso apartamento!

Limpou as lágrimas, soltando um sorriso sincero para a quase prima. A mais velha queria ajudar e Hinata não dispensaria aquela demonstração de afeto tão longe de casa...

 


— Quer dizer que você e Tenten já são melhores amigas?

O olhar estreito e a clara tentativa de demonstrar ciúmes a fez rir.

— Sem dúvida! Aquela mulher é uma figura! – comentou animada. – Ela teve que voltar ao trabalho agora, mas prometo apresentá-los assim que possível. Você também vai amá-la!

Hinata percebeu a pequena palavrinha que fez o rapaz se remexer no lugar, um pouco sem graça. Ela desviou o olhar da câmera por um instante, sem coragem para falar enquanto olhava para a imagem dele no notebook.

— Aquilo que você disse... – começou, sem graça. – No aeroporto... é...?

— É verdade – falou de uma vez.

Sentiu o rosto ruborizar. Nenhuma vez ele demonstrara algo assim...

— Você nunca...

— Não é algo fácil de falar, não é? – Ele deu uma risadinha nervosa, adivinhando seus pensamentos. – Somos amigos. Eu não queria estragar isso. Ainda não quero.

Ou demonstrara e ele nunca percebera?

— Mas você...

— Não tem problema. Eu posso lidar com isso.

— Mas eu...

Como explicar para o rapaz que ela nunca o vira com outros olhos senão o de uma amiga? Naruto lhe era extremamente especial desde que o conhecera, no fim da infância. Os dois logo se afeiçoaram quando o loirinho, corajoso e imprudente, resolveu defendê-la de alguns garotos mais velhos que tentavam roubar seu sorvete. Desde então o Uzumaki era seu amigo e herói...

O melhor de todos! O mais querido e amado!

— Você o quê? – perguntou um confuso Naruto.

Amado...

— Há quanto tempo? – ela perguntou ainda sem olhá-lo, brincando com o travesseiro. O loiro soltou um suspiro audível antes de ceder:

— Anos. Mas só tive certeza há dois, quando...

— Hinata?

Deu um pulo quando ouviu o grito de Kushina. Meio segundo depois e não conseguia mais ver o amigo, pois 50% da tela foi tomada por compridos e brilhantes fios vermelhos. A outra metade era do rosto dela, quase choroso por vê-la.

— Oi, tia Kushina! Cheguei e estou bem – falou depressa, segurando o riso.

— É bom que esteja mesmo, mocinha! Sua mãe acabou de sair daqui quase chorando, ansiosa por notícias suas! Não seja uma filha ingrata, ligue para ela imediatamente, ok?

— Sim, senhora! – Hinata fez uma rápida continência, aliviando a Namikaze. A mulher colocou as mãos sobre o coração ao abrir um sorriso.

— Você está mesmo bem, não é? Já comeu alguma coisa? Que horas são aí? Parece de dia! Já almoçou? É bom que não tenha chegado e ligado o computador só para falar com esse idiota! Sua saúde em primeiro lugar!

— Respira, mãe! – Ouviu Naruto dizer baixinho.

A ruiva obedeceu, mas logo recomeçou seu interrogatório, querendo garantir que a “sobrinha” estivesse mesmo bem tão longe de seu colo.

— Não esqueça de ligar para a sua mãe!

— Já peguei o celular. – Riu, mostrando o objeto na mão.

— Fique bem, querida! – Kushina se despediu antes de sair da visão da câmera de Naruto. O rapaz estava quase do outro lado do quarto com os braços cruzados, claramente emburrado com a interrupção.

— Ela vai voltar daqui a pouco, querendo confirmar se você ligou para tia Naomi. – O garoto se aproximou novamente do notebook, meio incerto em continuar. – Imagino que você esteja cansada... Durma um pouco. Outra hora nos falamos. Não se preocupe com a hora. Vamos aproveitar essas férias até o fim, ok?

— Ok... Vou mesmo ligar para mamãe antes de deitar. Tenten e Neji disseram que só voltariam à noite, de qualquer forma. Tenho algumas horas de descanso... – Ela hesitou. – Boa noite, Naruto.

— Bom dia, Hina.

Riram antes de desligar, praticamente ao mesmo tempo, a ligação. No entanto, o sorriso da moça foi morrendo aos poucos.

Naruto ficara com vergonha de continuar falando sobre seus sentimentos? A moça não duvidava, pois até o dia anterior os dois eram apenas amigos que mal falavam sobre outros amores.

“Mas é justamente por sermos amigos que ele deveria me contar!” teimou algo em seu interior. Naruto deveria confiar plenamente nela, não deveria?

Mas, pensando de forma racional enquanto andava de um lado para outro no quarto, seria justo cobrar do rapaz sobre o que sentia quando ela não tinha a resposta que ele queria ouvir?

“Eu também te amo” foi o que respondeu para o loiro antes de se virar e entrar no avião. Era uma frase que sempre dissera para seus amigos... Para Naruto mais vezes do que para outros...

Hinata estancou, os olhos arregalados.

Teria ele entendido errado?

Poderia ter dado falsas esperanças para o melhor amigo?

Seriam falsas, afinal?

 


Os meses passaram arrastados. Hinata poderia jurar que tinha vivido cinco anos em cinco meses. O mês de janeiro se encerrava com mais uma difícil prova, fazendo a moça sair do campus universitário mais desanimada do que nunca.

Tinha conseguido passar os três primeiros meses quase com tranquilidade, se esforçando nas matérias teóricas e de cálculo. Suas primeiras notas deram orgulho para o primo e, consequentemente, para o tio e o pai. Hiashi ligara super orgulhoso depois do primeiro mês, falando que uma de suas melhores decisões foi mandar a filha para o exterior, para que “se descobrisse”... Naomi, a mãe da moça, não parecia tão feliz, por outro lado. Era para ela que Hinata contava que, por mais que se esforçasse para recompensar os gastos que estava causando, não estava tão contente com o curso quanto seu progenitor...

— Eu acho o lugar tão bonito, mamãe! O prédio antigo, os parques ao redor... E dentro é tão encantador quanto fora! Mas quando eu sento na sala de aula e me deparo com administração política, gestão, contabilidade... Não é algo que eu possa dizer que goste.

Sabia que a mãe ficava ainda mais triste com as notícias, mas não queria enganá-la. Sequer conseguia falar direito quando o pai ligava, pois se tratava basicamente de um monólogo, em que ele dizia que a filha deveria continuar com boas notas e voltar para casa dando ainda mais orgulho.

Naruto era ainda difícil de lidar... Por mais que gostasse de passar horas conversando com o rapaz, vendo-o entusiasmado com o curso de engenharia que escolhera – e de quebra vendo Sasuke e Sakura também animados com seus respectivos cursos –, ele ainda ficava chateado ao confirmar que Administração não era o curso que Hinata deveria fazer. Chegaram a discutir apenas uma vez sobre isso e, desde então, a jovem limitava-se a falar apenas as coisas boas de viver na Inglaterra e perguntar sobre tudo que o Uzumaki fazia. Falar sobre ele era dez vezes mais seguro.

Mesmo que a briga que tiveram no bosque, há quase seis meses, não saísse de sua cabeça.

“A liberdade é seu estilo! O mundo inteiro é o seu lugar! Você gosta de artes, de dança, de música, de história, de ciência... De tudo que envolve o mundo!”.

Administração, como o garoto bem previra, não era algo que a fazia feliz.

E estava conseguindo lidar com isso até que Tenten soltara:

— Então por que não larga o curso?

Foi uma ideia que sequer passara pela cabeça da Hyuuga. Largar o curso?! E seu pai? E os meses que já estudara? As despesas que estavam sendo pagas por Hiashi e por Neji enquanto ela não podia arranjar um emprego em sua área?

Quando Tenten ouvira suas lamentações pela primeira vez e fizera a pergunta que rodava sua mente nas últimas semanas, Hinata não dera uma resposta coerente de primeira. Mas de tanto pensar nisso, resolvera desabafar novamente com sua mais nova amiga.

— Você contou que não gosta de suas aulas. – A morena mais nova confirmou. – Você é uma excelente aluna, suas notas são invejáveis, mas você sente uma saudade enorme do Japão. E, também, de um certo rapaz que ficou por lá... – As sobrancelhas da Mitsashi se ergueram rapidamente, sugestivas. Hinata concordou de novo, envergonhada. – E, pelo amor de Deus, Hina, você é nova! Não é como se tivesse que tomar uma decisão tão importante aos dezoito anos!

— Dezenove.

— Que diferença absurda! – ironizou. – Deixe eu reformular meu discurso com essa idade mais madura!

Hinata soltou uma risadinha, deixando escapar um pouco de seu nervosismo. Tenten colocou as mãos sobre seus ombros, olhando-a docemente.

— Do que você gosta, Hina?

O discurso do loiro veio automaticamente em sua cabeça.

— Gosto de história, de ciência. Um pouco de música e artes também. Mas não acho que Música ou Artes Plásticas seriam uma boa ideia, pois não toco, canto ou desenho nada.

— Vamos focar na história. Quanto você gosta? Do todo ou de algo em específico?

— Específico. Como o prédio antigo da faculdade. Aquele lugar é cercado de história! Cada parede rústica me atrai!

Tenten, ao contrário da jovem, não demorou a chegar numa conclusão.

— Você gosta de Arquitetura? – Hinata arregalou os olhos, um pouco surpresa. – É um curso que fala sobre arte, mas não sobre pintura. É sobre a arte de projetar um edifício, uma casa, uma escola... Uma edificação, no geral. Você veria muito de história e de ciência também, pois precisaria saber como colocar um prédio bonito em pé.

A mais velha a puxou para o computador, mostrando-lhe diversas obras arquitetônicas espalhadas pelo mundo. Hinata reconhecera algumas, pois Naruto mesmo lhe apresentara, fascinado com as estruturas.

Os lábios dela tremeram com a saudade que apertava cada dia mais...

Principalmente depois do fatídico final de ano que teve, em que arrumara as malas ansiosa e recebera a notícia, uma semana antes do Natal, de que passaria as comemorações em Londres. Hinata chorara, esperneara e gritara, e até Minato entrou na briga, tentando a todo custo levar a garota para Konoha, sem sucesso. Hiashi estava tendo problemas na empresa e não teria condições de pagar passagens tão em cima da hora para a primogênita. E para piorar, a oferta de empréstimo vinda dos Namikaze pareceu ferir ainda mais seu orgulho... Ficara decidido que a Hyuuga só voltaria para Konoha nas férias de verão, dali a seis meses.

Só de lembrar do rosto choroso de Naruto, de quando descobrira que passaria as festas longe dela, Hinata sentia o peito doer... Ele batera o pé, teimoso como sempre, e não arredou de perto do notebook no dia 31, grudado no aparelho o dia inteiro, conversando com ela...

“Você me ama também?” ele chegara a comentar na virada de ano, meio encabulado. “Posso ter esperanças sobre nós dois?”.

Hinata nunca o tinha visto corar tanto! Principalmente depois que Kushina e Minato apareceram no quarto, interrompendo a conversa para desejar Feliz Ano-Novo para a moça, gritando – um pouco bêbados, Hinata desconfiou – o quanto queriam que a jovem estivesse com eles, pois estavam morrendo de saudades!

Naruto fingiu que esquecera sobre o que estavam falando quando o casal partiu, e a morena não insistiu no assunto, sem mais conseguir controlar as emoções, chorando como uma criança... No entanto, horas depois, já se arrependia de não ter respondido apropriadamente...


“É este o fim do momento
Ou apenas um belo desdobramento
De um amor que nunca vai ser
Para você e para mim?”

 

É claro que ela o amava! Como demorara tanto tempo para perceber que a companhia dele era a sua favorita? Que estar na Inglaterra era ainda mais angustiante por não ter o loiro por perto todos os dias? Que ela, provavelmente, suportaria cinco anos de Administração, desde que estivesse em Tóquio, perto de Naruto? Ele com certeza a ajudaria a superar seu desgosto pelo curso, incentivando-a a continuar e até estudando com ela se fosse preciso.

“Escolha algo que te faz feliz e eu irei apoiá-la” a voz dele ecoou como se estivesse ao seu lado. “Escolha o seu futuro, Hina. Não deixe ninguém fazer isso por você”.

A jovem sorriu, deixando escapar uma lágrima com as lembranças.

— Está tudo bem? – perguntou uma preocupada Tenten.

— Está tudo ótimo... – Soltou a respiração que percebeu estar prendendo. – Finalmente está tudo bem.

Naruto cursava Engenharia Civil. E agora ela sonhava com um curso de Arquitetura...

Seria o destino querendo juntá-los novamente, dessa vez em cursos que se complementavam? Seria como a lembrança do beijo que trocaram, em sua mente vinte e quatro horas por dia, reafirmando que seu lugar não era ali, mas sim nos braços do homem que amava? E ainda melhor: fazendo algo que gostava?

Hinata respirou fundo, enxugando o rosto e tomando uma decisão. Correu até a cama, resgatando o celular. Olhou as horas, somente para confirmar que não acordaria ninguém. Discou o número e esperou.

“Quando você mudar de ideia, me ligue. Eu moverei meio mundo para trazê-la de volta para ele”.

— Hina? – A voz ainda era um pouco sonolenta, mas definitivamente acordada.

— Sasuke?

 


No dia seguinte, ainda cedo, a moça pulou da cama, incapaz de conter a felicidade. Quase conseguia ver o rosto de Naruto na sua frente, com aquele sorriso lindo que a fazia flutuar...

— Vai ficar tudo bem agora, não vai? – repetiu a pergunta que fizera a ele antes de partir.

Nem pensou duas vezes antes de pegar o celular, olhando para o relógio e conferindo o fuso no primeiro toque.

— Faltando aula, hein? – Ela sorriu só ao ouvir o timbre daquela voz. – Vou contar para o seu pai.

— Uma versão nova de Draco Malfoy? Gostei. Faça mais vezes.

Ele riu.

— Vai fazer alguma prova? Está nervosa? Precisando de alguém para acalmá-la?

— E seu ego, como está? Bem elevado, pelo visto. – A moça o acompanhou nas risadas. – Não é nada demais. Só queria conversar contigo. Está em casa?

— Ainda não. Mas se você me der uns dez minutos...

— Perfeito. Até mais.

Pareceram os dez minutos mais longos de sua vida. Fora ao banheiro jogar uma água no rosto, apareceu na cozinha e avisou a Neji que não iria para a faculdade naquele dia, pois estava se sentindo indisposta – Tenten já a conhecia bem e não caiu na mentira, mas não falou nada –, tomou um café rápido e voltou ao quarto, ligando o notebook. A chamada do Namikaze logo apareceu no meio da tela.

— Sinto cheiro de novidades. – Foi o seu “olá”. – Nem me enrole. Desembuche.

Esforçou-se para não rir, mas não foi o suficiente. Abriu os braços e declarou, animada como há muito tempo não se sentia:

— Acho que finalmente me encontrei! – Respirou fundo antes de continuar, incapaz de segurar o sorriso. – Tenten me deu alguns conselhos e... Estou me sentindo revigorada! Pronta para começar cinco anos de faculdade!

— Começar? – Ao contrário dela, ele pareceu forçar o sorriso, meio confuso. – Estamos estudando desde setembro, sua louca. Ou está tentando me dizer que todas aquelas notas boas eram de mentira?

— Claro que não! – Fingiu estar ofendida, achando graça de si mesma logo depois. – Como eu poderia fingir notas?

— Eu não sei. Você é muito esperta. Conseguiria fácil!

Sim, ela conseguiria. Mas ele não precisava saber disso ainda, não é? Estava louca para ver a surpresa estampada nos olhos azuis dali a alguns meses!

— Ok, Hinata, já estou curioso com esses sorrisinhos. O que está escondendo?

Aguentaria manter segredo naquele tempo que lhe restava? Naruto a conhecia bem demais... Teria que colocar em prática alguns métodos de atuação e confiar que Sasuke também ficaria de bico fechado.

— Já disse: eu me encontrei! Enfim decidi o que quero da minha vida! Peguei disciplinas novas e entrei num novo processo de estudo. Foi um ano difícil... Ainda será um pouco, mas o próximo será perfeito! – Encheu os pulmões antes de decretar: – Eu achei a luz no fim do túnel.

Naruto claramente não processou bem a informação. O semblante dele era de total confusão.

— Hã... Parabéns?

— Não precisa conter sua empolgação – ela ironizou.

— Me desculpe, mas... você não pode julgar a minha surpresa. Afinal, até anteontem, você estava saindo de uma aula quase dormindo!

— Isso mudou ontem! – ela praticamente gritou, animadíssima, mas se conteve logo depois. – Eu encontrei onde eu pertenço... É algo bom nesses meses tão... sombrios.

Hinata não teve como não reparar no sumiço do então pequeno sorriso do rapaz.

Ele com certeza entendera errado, mas isso não a preocupava agora. Deixaria para esclarecer tudo pessoalmente...

 

~*~


“Porque você é linda por dentro
Tão amável e eu
Não consigo ver porque não consigo fazer nada sem você, você é”

 

Olhou para o relógio na parede mais uma vez. Duas e quinze.

“Seis e quinze em Londres. Muito cedo... Ela deve estar dormindo”.

A conta já era automática em sua cabeça, de tanto que ficara calculando (por meses!) a diferença de fuso horário.

“Hinata sempre foi a mais inteligente de nós dois...”.

Tinha desistido de tentar tirá-la de sua cabeça, enfim. Nos primeiros meses em Tóquio foi difícil vê-la apenas pelo computador, pois sentia o coração esmagado toda vez que tinha que desconectar, fosse para ir para a aula, fosse para Hinata ir para uma das suas. Dizer um simples “até mais tarde” era um tormento...

Até que as festas de final de ano chegaram... sem a morena. Naruto ficou com o notebook ligado por horas, determinado a não passar aquelas datas longe (em certo sentido) da garota que amava.

Sim... Como a amava! Mesmo que ela não tivesse lhe dado esperanças, só o fato da Hyuuga continuar falando com ele, sempre dizendo o quanto era especial para ela... tudo isso o enchia de confiança!

— Está sonhando acordado com a Hinata de novo? – reclamou Sasuke, baixinho, ao seu lado.

E de distração também...

Desde que voltara das férias de fim de ano e assumira que o que sentia era forte demais para ignorar, Naruto não conseguia se concentrar em nada direito. Teve que redobrar os estudos para se manter na média, pois era facilmente pego no mundo da lua.

Negou com a cabeça para o amigo, disfarçando, e tirou o celular vibrante do bolso. Uma mensagem simples:

“Já está em casa?”.

Acabara de pensar que a moça lidava melhor com o fuso do que ele. Pelo visto, se enganara.

“Não” respondeu. “Ainda são pouco mais de duas horas. Estarei livre depois das quatro”.

“Que pena” ele recebeu de volta. “Vou ter que arranjar alguma coisa para fazer...”.

Naruto não conseguia mais esconder o celular. Levantou e saiu discretamente da sala, digitando freneticamente no meio do corredor:

“Como assim ‘arranjar algo para fazer’? Que tal sair da cama e se preparar para mais um tedioso dia de aula?”

“Não tenho aula hoje. Tive que fazer uma prova”

“???”

“Fiz uma prova de manhã. Acho que me saí bem, modéstia à parte. Agora estou sem ter o que fazer.”

“Estou ficando maluco? Não é seis da manhã aí?”

“Fiquei maluca com o fuso também. (risos) O relógio está marcando duas e meia da tarde”

O celular quase caiu de sua mão. Os olhos arregalaram e o corpo inteiro tremeu.

“Vamos lá, você não é tão burro assim...”

É claro que ele não era... Mas isso não o impedia de paralisar com a notícia!

Céus! Era real? Ou estava em mais um de seus sonhos? Seria cruel demais acordar agora, como sempre acontecia antes de vê-la...

Sasuke apareceu na sua frente, carregando sua mochila.

— Falei para o professor que você não está se sentindo bem, que foi até a enfermaria. – O Uchiha mostrou o próprio celular, onde aparecia uma mensagem de Hinata: “Asakusa”. – Que tal dar uma corrida?

— Você sabia?!

O moreno deu de ombros, já se virando para voltar à sala.

— Ela é meu amigo que estava precisando de um empréstimo.

Os olhos azuis se arregalaram novamente. O ar quase faltou com a lembrança de uma fria manhã de janeiro:

 

“– Com quem você tanto fala às seis da manhã, Uchiha Sasuke? – perguntou uma ciumenta Sakura.

O garoto abana a mão na direção dela, pedindo silêncio. Naruto olhava os dois brigarem com o olhar da cozinha do apartamento que dividiam. Sasuke deu as costas para a namorada, voltando para o telefone:

— Já disse que não vou contar, pode confiar em mim. Eu sei, mas... Só estou reclamando do tempo! Como acha que eles...? Certo, certo. Não concordo, mas aceito. – Alguns segundos de silêncio. – Foi o que pensei. Vou passar o número de Itachi e você liga para ele mais tarde. Passe os valores que iremos acertar tudo. Não se preocupe com os números agora. Nos acertaremos quando chegar. É sério, não vou discutir isso. Certo... tenha um bom dia. Ou boa noite, não sei. Tá, tá, eu entendi, não precisa repetir. Tchau.

Naruto estreitou os olhos para o moreno, cobrando explicações. O rapaz sabia que, nessas horas, Sasuke odiava ter dado a ideia de compartilharem um apartamento em Tóquio. A amizade seria preservada se ficassem juntos, mas os segredos...

— Pode começar a falar – Sakura disse mais rápido.

— Estou com um amigo encrencado – Sasuke comentou sem rodeios, passando por eles e se encaminhando para o quarto, para buscar sua mochila. Os outros dois o seguiram. – Pedi para ele ligar para Itachi cobrir sua dívida. Ele não quer que os pais fiquem sabendo.

Voltou-se para os dois, surpreso com o mesmo semblante encarando-o.

— O que foi?

— Você? Com um amigo?

— É... Conta outra.

O Uchiha sorriu, misterioso.”

 

— Não ouse morrer do coração antes de encontrar Hinata! – brigou o rapaz antes de finalmente sumir dentro da sala.

A visão começou a embaçar, era bem verdade... O coração deixou de funcionar direito, batendo tão descompassado que até a respiração se tornara dificultosa.

“Meu Deus!” teve vontade de gritar. Tudo aquilo que estava sentindo era amor? Era uma força tão incontrolável assim?

O celular vibrou novamente, mostrando a mensagem que o tiraria do torpor:

“Você vem?”

 

~*~


“E quando eu não estou com você
Eu sei que é verdade
Que eu prefiro estar em qualquer lugar, menos aqui sem você”

 

O Templo de Asakusa, em Tóquio, é, ao mesmo tempo, uma obra de arte e um refúgio do caos da grande cidade. É o templo budista mais antigo da capital japonesa e, aos olhos de Hinata também merecia facilmente o título de “mais bonito”, devido às enormes lanternas e aos detalhes arquitetônicos que enchiam seus olhos.

Depois de andar por todo o lugar, decidiu entrar no templo. Tirou os sapatos, se ajoelhou e fez uma pequena prece. Talvez um pouco tola, mas era o desejo mais profundo de seu coração:

— Por favor... Que eu não tenha chegado tarde demais... Que eu ainda tenha uma chance de decidir sobre a minha vida... Que eu seja aceita pelo homem que amo...

Meditou por mais alguns minutos antes de agradecer pelas bênçãos que recebeu e decidir sair. Respirou fundo e olhou no relógio, tentando calcular a distância dali até a Universidade de Tóquio. Não parecia muito, ela deduziu. Saíra de lá depois de fazer a prova de admissão para o curso de Arquitetura, indo para um restaurante em seguida e depois passeando um pouco até chegar ao templo.

Uns quinze minutos de caminhada, pelo menos... Ainda tinha uns cinco para esperar.

Desceu as escadas da casa do santuário, sem prestar muita atenção no caminho. Distraída, teve que ouvir aquele grito escandaloso duas vezes para se situar, pois não conseguiu acreditar de primeira que era real... Era quase um sonho!

— Hinata!

Era ele mesmo... Jamais poderia confundir aquela voz!

Quando se virou, mal teve tempo para olhá-lo. Algo de um metro e oitenta a agarrou com força, e ela só conseguiu definir um contorno laranja e amarelo.

— Hina... – Ele a apertava com força, ora segurando sua cintura, ora passando a mão pelos cabelos compridos, numa tentativa desesperada de matar a saudade com aquele único contato. Foi depois de alguns segundos que ela notou os soluços do rapaz, incapaz de se deixar contagiar pelo momento. – Você está aqui... Hina... Minha Hina...

A garota o apertou ainda mais, permitindo que ele a erguesse durante o abraço, para que ficassem da mesma altura. Naruto se afastou apenas um pouco, ansioso para ver os olhos perolados de que tanto sentira falta.

Mirou-os e derramou mais lágrimas dos seus, emocionado. Uniu suas testas e declarou, firme:

— Você perdeu sua chance de fugir. Agora eu não vou mais te deixar ir! Não me interessa seu pai, não interessa seu maldito curso do outro lado do mundo! Você vai ficar aqui, comigo!

Ela sorriu em meio às lágrimas, encantada.

— Eu acho uma excelente ideia!

— Você acha? – Pareceu surpreso um instante, mas deixou de lado. – É claro que é uma excelente ideia! Você e eu somos perfeitos juntos! – Ele ergueu uma mão, enxugando o rosto choroso e acariciando as bochechas rosadas. – Eu te amo tanto, Hina... Não sou nada sem você.

A jovem fechou os olhos, aproveitando a sensação de estar presa naqueles braços fortes e carinhosos, ouvindo palavras que sonhara ouvir por longos meses...

— Diga novamente.

Pôde ouvir uma risadinha baixa antes dele aproximar seu rosto novamente, tocando seus narizes.

— Eu amo você, Hinata... Amo com todas as minhas forças!

Ela o impediu de fazer o que também sonhara por meses, colocando um indicador sobre os lábios do loiro.

— É justo que, depois de todo esse tempo, você saiba como me sinto...

Hinata desceu do colo, enxugou o rosto, segurou as mãos do Uzumaki e olhou profundamente em seus olhos, tão vermelhos e inchados quanto os seus, mas com uma camada extra de medo. Ela sorriu, tentando acalmá-lo.

— Eu não imaginava que você nutria esses sentimentos por mim, Naruto-kun... Sempre te considerei como...

— Como melhor amigo e herói, eu sei – falou um pouco amargo.

— E eu sempre te achei muito especial...

— Mais do que todos os nossos amigos... – Não conseguiu esconder a impaciência – Sim, eu sei.

— Sabe também que vai apanhar se me interromper novamente, não é?

Naruto engoliu em seco, desviando o olhar por um momento, envergonhado.

— Naruto-kun... Você tem um coração enorme, puro, que espalha alegria por onde passa... É impossível não se contagiar com toda essa luz que vem de você! Eu serei eternamente grata por ter te conhecido, por fazer parte de sua vida...

— Hina, se você está tentando me dispensar...

Como prometido, o tapa no braço dele veio, seguida de uma reclamação alta. Hinata o olhou feio.

— Quer me deixar fazer uma declaração direito, por favor?!

Naruto arregalou os olhos. Surpreso, apenas confirmou a cabeça, sem deixar de encará-la. A morena respirou fundo antes de continuar:

— Você é muito mais do que especial: é a pessoa mais importante da minha vida! Não consegui deixar de pensar em você durante um minuto desde que saí de Konoha, e fui tola ao pensar que toda essa saudade que me consumia era porque você é meu melhor amigo... Eu não sei quando aconteceu, mas esse sentimento mudou, cresceu e tomou conta de mim! Eu também não sou nada sem você, Naruto-kun... Tive que ir para o outro lado do mundo para descobrir que estou apaixonada por você e que me sentiria honrada se me aceitasse como sua namorada...

Ela gaguejou mais vezes do que podia contar, mas se esforçou ao máximo para não desviar os olhos. Em algum momento as lágrimas voltaram a cair, mas ela não parou. Continuou o mais firme que podia, mas era complicado quando enorme garoto à sua frente desistira do autocontrole, deixando os olhos transbordarem sem piedade.

— Eu amo você também, Naruto-kun! Se você me permitir, eu quero ser aquela que você esperava que eu fosse: firme, decidida, corajosa e leal aos próprios sentimentos. Quero te provar que posso merecer seu amor!

Naruto a calou, finalmente. Colou sua boca na dela com firmeza, segurando a cintura da morena e não perdendo tempo apenas no encostar de lábios. Sentiu o gosto que tanto desejara, que tanto sentira falta sem nunca ter provado...

O coração de ambos parecia querer sair do peito enquanto se entregavam ao beijo tão esperado.

— É claro que eu aceito, Hina... Eu a amo tanto! Há tanto tempo! Tudo o que eu quero é ficar contigo para sempre!

— Eu também, Naruto-kun – falava transbordando emoção. – Mais do que tudo!

Perderam a noção de tempo ali, no meio do templo, abraçados, sem ligar para a multidão que passava ao redor deles, muitas vezes apontando ou olhando curiosos para a romântica cena naquele lugar de pura paz. Alguns beijos eram trocados de vez em quando, reafirmando o sentimento puro e incontrolável que domava os seres.

— Espera! – Ele a afastou bruscamente, assustado. – Sua família sabe que está aqui?

— Não. – Ela riu. – Mas não tem problema. Estou pronta para enfrentar os escândalos. E você?

— Eu que pergunto: está feliz com isso? – Sua incerteza aumentou ainda mais o sorriso dela.

— Contigo, aqui? Sim, com certeza! Estarei feliz em qualquer lugar, Naruto-kun, desde que eu esteja com você.

 


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Notas finais do capítulo

É isso. Espero que tenham gostado! ♥
Obrigada a você que acompanhou até aqui! Um beijão para você! ♥
Até uma próxima história! ♥

Letra da música novamente, só pra garantir: https://www.vagalume.com.br/safetysuit/anywhere-but-here-traducao.html xD
Não esqueçam de conhecer o nosso blog de resenhas: http://resenhandonaruhina.blogspot.com.br =*



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