Uma dose violenta de qualquer coisa escrita por Blurryface


Capítulo 17
Um milhão de balas




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109 dias antes.

Luana riscava a mesa distraidamente enquanto a aula de Física acontecia. Ela olhou para o lado e viu Marina mandando mensagens de texto escondida, provavelmente para Guilherme, e Rafaela ainda mais distraída olhando pela janela. Por um segundo a loira se perguntou o que a amiga deveria estar pensando e desejou ser capaz de ler seus pensamentos. Incrível como a Rafa conseguia ser a mais aberta e ao mesmo tempo a mais fechada de todas elas...

—Só isso por hoje, pessoal – o professor disse e alguns alunos suspiraram aliviados –Não se esqueçam que eu tive que cortar alguns assuntos da nossa prova já que perdemos aula por causa daquele alagamento há uns dias atrás...

Luana, Marina e Rafaela se olharam segurando o riso.

—Não se preocupem – o professor parecia irritado –A direção da escola e os órgãos investigativos da cidade estão trabalhando duro para descobrir quem foi o responsável por essa brincadeira de mau gosto...

—Espero que peguem o desgraçado! – Luana gritou com um sorriso dissimulado no rosto –Não quero que nada atrapalhe a qualidade do meu ensino, principalmente quando se trata de física!

O professor olhou para Luana confuso e apenas concordou balançando a cabeça enquanto Marina e Rafaela sorriam discretamente.

***

—Eu esperei um tempo pra contar isso pra vocês, mas acho que chegou a hora! – Luana sorriu. Marina e Rafaela caminhavam ao seu lado.

—Ai meu Deus, o que foi dessa vez? – Marina perguntou curiosa, Rafa encarou as duas loiras.

—Tenho planejado uma das melhores pegadinhas que essa escola já viu e espero que vocês me ajudem nessa – Luana respondeu com um sorriso que tomava conta de todo o seu rosto.

—Qual o seu problema?! – Marina perguntou rindo –A polícia, a escola e sabe-se lá mais quem estão investigando o que você aprontou e você quer fazer mais coisas? Às vezes eu acho que você quer ser pega no flagra...

—É essa a questão! – Luana ficou séria mas seus olhos cinzentos estavam brincalhões como se já estivessem esperando essa reação –Eles não esperam que eu apronte de novo tão rápido. A escola está vulnerável...

—E o que você tem em mente, Sra. Planos Perfeitos? – Rafa perguntou, Luana ergueu uma sobrancelha e respondeu:

—O que eu tenho em mente é muito complexo pra vocês entenderem mas posso contar o que eu já tenho guardado: roupas pretas, luvas, gorros e um milhão de balas de tinta.

—E o que vamos fazer com um milhão de balas de tinta? – Marina perguntou rindo.

—Fácil – Luana olhou para o céu e sorriu –Vamos manchar as líderes de torcida e quem estiver no próximo jogo.

***

108 dias antes.

Rafa acordou com o celular tocando. Sua cabeça doía mas esticou o braço e pegou o aparelho sem nem mesmo verificar quem estava ligando mas reconheceu a voz de Marina de imediato.

—Não gosto disso... – a loira disse ao telefone.

—Do quê? – a garota balbuciou ainda cansada.

—Dessa pegadinha... – Marina continuou –Que, aliás, envolve esconder coisas do meu namorado. Coisa que eu não gosto de fazer...

Rafaela se sentou na cama e tirou o cabelo do rosto.

—Todas temos que fazer sacrifícios – ela ouviu Marina rir do outro lado da linha e isso fez com que um sorriso se formasse nos seus lábios –A nossa prioridade é com nós mesmas se quisermos encontrar nossa dose violenta de qualquer coisa...

—É assim que vamos encontrar? – Marina perguntou com um tom de ironia na voz –Sujando líderes de torcidas de tinta e fazendo seus peitos aparecerem?

—É por um bem maior... – Rafa respondeu rindo –Vamos pensar positivo! É última pegadinha que vamos ter que fazer com Luana, pelo menos por um tempo...

—O que quer dizer?

—Lembra que ela está planejando uma surpresa especial pro final do ano? Bom, ela disse que vai passar meses planejando tudo...

—Tenho medo só de pensar no que vamos ter que ajuda-la – Marina comentou.

—E acha que eu não tenho? – Rafa sorriu e podia imaginar a amiga do outro lado fazendo o mesmo.

***

107 dias antes.

Rafa estava sentada na arquibancada apreensiva. O jogo de basquete começara a pouco mais de 5 minutos e não havia nem sinal de Marina ou de Luana, por um segundo ficou mal ao imaginar que as duas estariam se preparando para fazer a pegadinha sem ela mas logo relaxou pois sabia que não fariam isso.

Luana tinha dado instruções para que as duas sentassem na arquibancada como se fossem ver o jogo e esperassem ordens dela, claro que nenhuma das duas a contestou. Era parte do pacote não saber o que aconteceria...

Rafa relaxou ao ver Marina entrando no ginásio. Ela parecia procurar alguém até que seus olhos pararam nela e a loira sorriu ao começar a caminhar na sua direção.

—Imagino que Luana ainda não tenha dado as caras... – Marina falou quando estava próxima o suficiente de Rafa e roubou um punhado da pipoca que a amiga estava comendo.

—Não – Rafa respondeu –Nenhuma ligação, nenhuma mensagem... Bem típico de Luana – as duas riram e voltaram sua atenção para a quadra.

Guilherme, assim como todos os outros jogadores, estava com o rosto tenso e preocupado já que perdiam por uma quantidade razoável de pontos. Marina não pôde deixar de pensar no quanto ele parecia lindo quando ficava preocupado mas ela logo teve sua atenção desviada para outra coisa...

No canto da arquibancada, uns três degraus abaixo de onde ela e Rafaela estavam, Eli se encontrava de pernas cruzadas observando distraidamente o jogo. Marina o conhecia o suficiente para saber que ele não se interessava pelos esportes da escola e se perguntou o que ele fazia ali.

—Rapidinho... – disse se afastando de Rafaela e se aproximando do garoto de cabelos brancos.

Os ombros de Eli se enrijeceram como se sentissem a presença de Marina mas ele não se virou para olhá-la.

—Desenvolvendo seu amor pela escola? – a loira perguntou com um sorriso no rosto, o garoto a encarou sério mas com um esboço de sorriso nos lábios e isso foi o suficiente para ela.

—Talvez... Ou talvez eu só queira ver uma boa pegadinha – ele ergueu a sobrancelha e isso fez com que Marina gelasse.

—Fala baixo! Alguém pode ouvir você... – ela sussurrou o mais baixo que conseguiu mas severamente.

—Quer dizer que você sabe algo sobre isso, Sra. Presidente do Grêmio? – ele perguntou com uma cara de quem se divertia muito com a situação.

—Você acha que alguma coisa acontece aqui sem que eu saiba? – ela provocou.

—Muita coisa acontece nessa escola... – Eli respondeu e voltou sua atenção para o jogo. Marina teve vontade de perguntar o que ele queria dizer com aquilo mas, ao ouvir o apito do árbitro avisando que o quarto havia terminado, decidiu voltar para perto de Rafaela. A amiga parecia ansiosa demais.

—Onde ela está? Luana nunca se atrasa para essas coisas... – comentou.

Foi nesse momento que as líderes de torcida entraram na quadra e começaram a fazer o show do intervalo. Era a mesma coisa bizarra de sempre: elas entravam com seus sorrisos falsos, agitavam seus pompons e sacudiam suas bundas até os jogadores terem descansado e depois se gabavam por fazer um grande “serviço” para a escola. Claro, ver a bunda daquelas garotas era importante para todos os alunos.

Marina estava quase dormindo de tanto tédio quando percebeu algo estranho. Olhara para onde Eli se encontrava mas ele não estava mais lá, era como se o garoto tivesse simplesmente evaporado. Foi aí que aconteceu...

Tão rápido que ninguém teve tempo de processar direito que estava acontecendo, as balas começaram a zunir pelo ginásio. Algumas atingiam em cheio das líderes de torcida nas coxas, barrigas, rostos e cabelos manchando-as de tintas das mais diversas cores mas as que erravam iam parar ou na parede ou diretamente nos jogadores que estavam atrás. Marina viu quando uma bala atingiu em cheio a orelha de Guilherme, o manchou de roxo e quase o fez cair, não conseguiu segurar o riso. Um zunido infernal enchia o ambiente, era um misto das risadas da arquibancada, dos gritos das líderes de torcida e dos jogadores e o barulho dos tiros. Mas então os tiros acabaram...

E as luzes se apagaram.

As pessoas começaram a correr desgovernadas para fora, algumas escorregaram na tinta espalhada pelo chão mas Marina pegou Rafaela pela mão e a levou até a saída o mais rápido possível.

—Onde será que ela está? – Rafa perguntou ainda rindo um pouco.

—No lago, com certeza – Marina respondeu.

As duas correram até o lago, mesmo sendo longe de onde estavam. Elas se encontravam naquele estado de espírito em que conseguiriam fazer qualquer coisa tamanha era a euforia que elas experimentavam, tudo parecia possível naquele momento. Já começava a anoitecer e elas ainda riam ao se lembrar dos gritos das líderes de torcida e, especialmente, da cara de Letícia toda coberta de tinta.

Quando chegaram no lago, era exatamente o que esperavam. Uma bicicleta estava encostada na grama enquanto Luana vestida de preto jogava uma arma de paintball no fundo do lago.

—Você é genial, sabia? – Marina disse séria fazendo Luana se virar assustada e abrir um sorriso logo em seguida.

—Eu sei – a loira de olhos cinzentos se aproximou das duas e as abraçou –Até pensei em deixar vocês participarem mas achei que seria mais interessante simplesmente deixar vocês assistirem ao show... O que acharam?

—Se essa pegadinha foi assim, mal posso esperar para ver como vai ser a do final do ano – Rafa comentou rindo.

—É esse o espírito! – Luana comemorou.

—E você teve a ajuda de Eli, provavelmente... O que ele fez? – Marina perguntou curiosa, tinha certeza de que o garoto tivera alguma participação na pegadinha.

—Ora, quem você acha que apagou as luzes? – Luana sorriu enquanto pegava a bicicleta e caminhava com as amigas em direção à estrada que levava de volta à cidade.

—Não gosto dessas coisas, mas você realmente está ficando boa nisso – Marina admitiu –Vai se tornar inesquecível pra essa cidade se continuar desse jeito...

—Nós todas vamos nos tornar inesquecíveis... – Luana comentou enquanto continuavam caminhando juntas.


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