1° scene - Sorvete de casquinha

Fazia muito calor naquele dia, mas era uma tarde agradável. As ruas estavam bem movimentadas é claro, vários casais passeando pelo mesmo parque, algumas crianças brincando de pique-pega. A baixinha de chuquinhas estava zangada como sempre, não gostava de crianças, ainda mais das barulhentas que frequentavam aquele parque, preferia estar em casa fazendo qualquer outra coisa. Ao seu lado o loiro alto caminhava despreocupado, com uma careta cômica que acompanhava sua face sempre, com as mãos nos bolsos, observando algumas moças bonitas que passavam.

A baixinha resmungava algumas coisas obscenas sobre o que achava de sair sem um objetivo aparente, apenas para espairecer, foi o que o maior disse para convencê-la, e a contragosto foi.

De canto de olho viu um senhor de boné branco cercado por crianças e alguns adultos, este preparava deliciosos sorvetes de casquinha com uma máquina intrigante. Como estava ali não custava nada experimentar.

— Hey cabeção. - chamou ela com aquele jeito “delicado” de sempre. - O que acha de sorvete?

— Tá me convidando para tomar sorvete? - indagou o maior arqueando as sobrancelhas incrédulo.

— Não, babaca, você está me convidando. - respondeu lhe dando um chute na canela.

— Itai… - ganiu devido ao golpe baixo da loirinha. - Já que pediu com tanta educação. Sorvete!

Hikaro não sabia qual sabor escolher então pegou o mais simples, um de morango e outro de chocolate para a baixinha chata que o acompanhava, pagou e lhe entregou o doce. Ela encarou o gelado cremoso com curiosidade e deu-lhe uma lambida para provar. Ambos seguiram caminhando pela estrada de terra da praça tomando tranquilamente o sorvete, até que…

— Deixa eu provar o seu! - pediu ela, mas aquilo soou como uma ordem. Shinji enrugou a testa puxando o próprio sorvete para si e mostrou a língua.

— Não, você tem o seu ai. - respondeu voltando a saborear o creme de morango.

Zangada pela resposta torta a baixinha puxou o mais alto pela gravata azul que usava trazendo-o para si e tomou o sorvete de sua mão jogando em seguida seu próprio sorvete contra o rosto do loiro que ficou com um chifre de cone no meio da testa e uma cara de bobo. A garota agindo naturalmente experimentou o sorvete rosa ignorando as risadas dos outros que eram lançadas para o maior que lhe acompanhava.

2° scene - Valentine's Day

Aquela era uma quarta-feira bem agitada e alegre, era 14 de fevereiro o dia dos namorados, qualquer casal em sã consciência iria fazer alguma coisa divertida naquela data. Hiyori não gostava dessa tola comemoração, para ela era uma encheção de saco muito melosa e sem graça, mas Hirako insistiu para encontrá-la em uma lanchonete, disse que seria um encontro normal, que ele pagava tudo, ela aceitou.

Era um café qualquer onde a lista de bebidas adocicadas era extensa e os lanches eram doces. Hiyori estava com a roupa de sempre porque não se importava com o que usar, na verdade, não se importava com nada. Esta analisava minuciosamente o cardápio enquanto esperava o cabeção chegar resmungando algo como: me convida e se atrasa, cabeção. Mas ela iria se vingar, pediria tudo do mais caro daquele cardápio, ele teria de lavar a louça para pagar seus gastos. Um garçom se apressou a trazer seu pedido, um milk shake simples de chocolate só para começar.

Shinji chegou daquele jeito idiota e atrapalhado, esbarrando de propósito com uma mulher bonita de seios avantajados para a ira de Sarugaki Hiyori.

O loiro sentou-se ao lado dela, em frente a mesa redonda de madeira, enquanto a baixinha escondia o rubor de raiva por debaixo do cardápio.

— Yo baixinha. - cumprimentou com uma piscadela entregando-lhe um buquê de lindas rosas vermelhas.

Hiyori havia baixado o cardápio, segurando seu copo com a bebida doce nas mãos, o encarando com aqueles olhos mortais. A mesma pegou as flores aparentemente agradada fazendo o maior sorrir vitorioso, mas em seguida sua expressão mudou para pavor. Sarugaki esbofeteou-lhe o rosto com o buquê desmanchando-o em milhares de pétalas vermelhas. Em seguida deu-lhe um pontapé fazendo sua cadeira cair para trás e finalizou virando a mesa e tudo sobre ela em cima do maior que choramingou de surpresa e dor devido a agressão repentina.

— Cabeção. - resmungou vermelha tomando seu milk shake pelo canudinho.

3° scene - Piquenique

Era fim da tarde. O vento soprava mais tranquilo não mais bagunçando os cabelos daqueles dois que se encontravam em uma colina de grama verdinha sobre uma toalha xadrez de piquenique.

Havia várias guloseimas espalhadas, sanduíches e tortas, algumas garrafas de suco natural e um bolo de chocolate com morango. Hiyori comia despreocupadamente seu sanduíche com a cabeça apoiada no ombro do maior ao seu lado. Ela observava os primeiros pirilampos flutuarem pelo ar como luzes de natal, acendendo e apagando. Fazia tempo que não tinha um tempo tranquilo para descansar, sempre provas e mais provas e o trabalho, e mais o pessoal do sobrado que só incomodava, era tenso, mas aquele dia tudo estava bem pois sua paz não lhe fugiu em momento algum.

Em certa ocasião Hirako bocejou e cutucou-a de leve para chamar-lhe atenção, está o encarou esperando pelo que diria, por mais que não quisesse admitir esperava que ele dissesse que a amava, naquele momento ela queria ouvir aquilo mais do que nunca. O loiro sorriu de seu jeito bobão e apontou para a garrafa de suco a poucos centímetros de sua mão.

— Me dá o suco, baixinha? - pediu descaradamente jogando um balde de água fria nos sentimentos da menor que revirou os olhos abrindo um sorriso sínico.

— Claro, cabeção. - respondeu com a voz rouca, como fazia quando ficava nervosa e zangada. Ele sorriu vitorioso.

Estendendo a mão, Hiyori pegou a garrafa de suco de laranja e em um movimento rápido e violento despejou o líquido adocicado em cima da cabeça do loiro deixando seu cabelo dourado grudento. Então jogou a garrafa longe e o empurrou para fora da toalha.

— IDIOTA! - gritou para ele em fúria, vermelha de raiva. Nunca mais seria gentil com ele.

4° scene - Eu te amo, de verdade!

Sarugaki e Hirako estavam sozinhos no sobrado, todos os outros que moravam naquele grande casarão de três níveis haviam saído para qualquer outro lugar, menos eles.

Hiyori estava sentada no largo sofá de veludo preto, com uma perna dobrada e a outra no chão, com o controle trocava de canal da grande televisão de parede buscando um programa interessante para assistir, até que parou em um anime qualquer bem violento e sangrento.

Shinji chegou no mesmo cômodo jogando-se no sofá ao lado dela com um sorriso travesso.

— Só estamos nós os dois aqui… - disse ele num tom malicioso deitando a cabeça sobre as coxas da garota que nem o encarou. - Sabe o que isso significa?

— Sei. - respondeu soltando o controle. - Podemos assistir o último episódio de Dragon Battle sem interrupções. - respondeu rude, vidrada no duelo que o protagonista travava com o maior vilão da saga.

— Hã? Não era isso que eu estava pensando. - disse levando a mão ao rosto da menor lhe fazendo uma carícia.

Hiyori não era muito chegada em contato físico, mas o toque de Hirako lhe deixou arrepiada e levemente corada. Mesmo assim queria ver o último episódio de Dragon Battle e ele não iria atrapalhar.

— Cai fora. - disse lhe dando um tapa na testa, leve para a força de seus golpes habituais. Ele riu.

— Você fica uma gracinha quando tá nervosa. - disse tentando tocá-la mais uma vez, sem sucesso.

Era divertido fazer isso, Hiyori não gostava que lhe tocassem, se fosse qualquer outra pessoa ela meteria a mão na cara, na verdade com ele ela fazia isso também, mas ficava nervosa, corada, constrangida, não de raiva mas de timidez. Era realmente divertido, mesmo que o resultado final fosse um golpe baixo.

— Oe. - ele chamou com aquela típica careta, ela o olhou de soslaio, entre ver o final do episódio e olhar para o rosto do maior. - Koishiteru… - disse cantarolando cada sílaba daquela palavra tão significativa. E ela enrubesceu como o esperado. Vermelha da cabeça aos pés.

Ele sabia que essa seria a reação dela, dizer eu te amo de forma carinhosa tudo bem, mas dizer daquela forma. O significado daquelas palavras, de que ele queria ficar com ela para sempre, para essa e as próximas vidas, era irresistível, nem mesmo a garota mais durona do mundo conseguiria resistir.

Cobrindo o rosto com uma das mãos Hiyori jogou-o do sofá para o outro lado da sala gritando obscenidades terríveis que só acentuaram as expectativas dele. Sabia que responderia assim, e sabia o significado.

— Koishiteru… - sussurrou de volta baixinho quando se acalmou. - Cabeção.

No fim das contas, Sarugaki não conseguiu ver o fim da saga de Dragon Battle, mas quem é que se importa?

5° scene - Bolo

Já era bem tarde e Hirako ainda não tinha voltado para casa, alguns dos outros moradores do sobrado estavam muito preocupados com o amigo, ele tinha esse hábito chato de sair sem avisar e voltar a hora que queria mas nunca chegava tão tarde assim, e ainda mais para comprar uma simples torta.

Mashiro fazia sua costumeira birra, choramingando e rolando no chão, enchendo o saco de Kensei perguntando insistentemente onde estava o bolo para seu aniversário. Sim, era aniversário daquela pestinha sem noção e Shinji foi o sortudo de sair e buscar o bolo, por que a garota de curto cabelo verde ficava insuportável nesse dia.

— Oe, cala a boca! - bradou Hiyori a ponto de explodir com a barulheira da outra garota que a encarou com lágrimas nos olhos.

— Oh, Hiyori-san, não é nada gentil gritar com o aniversariante. - alegou Hachi educadamente.

— E eu lá tô com cara de gentil? - perguntou sarcasticamente com várias veias de irritação salientes em sua testa. - E onde diabos está o cabeção? Ele vai voltar com o bolo quando? Amanhã?

Não. Nenhum deles aguentaria ouvir Mashiro a noite toda reclamando do bolo, culpando-os de estragar seu aniversário.

— Eu acho que vou procurá-lo. - disse Rose levantando-se do sofá. Todos sabia que ele só queria fugir da barulhenta aniversariante.

— Eu vou com você! - gritou Love, saindo de trás da bancada da cozinha e correndo para a porta como um desesperado.

— Vocês não vão a lugar nenhum. - rosnou Kensei. Não iria deixar ninguém fugir, ele era sempre que tinha de ouvir Mashiro depois. - Vão ficar e esperar, Hirako já está de volta.

Com mágica coincidência a porta do sobrado se abriu para trás violentamente. Lá estava Shinji Hirako, o vento fazendo seu sobretudo cinza esvoaçar como a capa de um herói, uma expressão reflexiva no rosto, uma das pernas ainda suspensa no ar por chutar a porta.

— Hirako! - exclamou Mashiro com os olhos brilhantes na direção de seu salvador, todos estavam boquiabertos com a entrada triunfal do loiro.

— Desculpa ai, a confeitaria estava fechada. - respondeu bobamente, coçando a cabeça com uma mão e fazenda uma careta cômica.

Todos os demais caíram para trás incrédulos com as palavras do rapaz.

Hiyori movida por seu impulso assassino e pela lembrança de que Mashiro não os deixaria em paz aquela noite, puxou a chinela amarela que usava e grudou no meio da cara do maior fazendo-o cair para trás com o nariz sangrando.

— CABEÇÃO! - berrou lhe dando um chute.

Aquela seria a noite mais longa e odiosa das suas vidas.

6° scene - Cozinhando

Como foi decidido no começo daquele ano, todo mundo no sobrado teria que cozinhar pelo menos uma vez por semana, não apenas deixar que Hachi fizesse tudo. Como o almoço havia sido preparado por Kensei e Mashiro a responsabilidade do jantar daquela noite seria de Hirako e Hiyori.

Nenhum dos dois era muito bom na cozinha e não fazia ideia do que preparar, ainda por cima teria de fazer as compras e lavar a cozinha depois. Por que cozinhar era tão difícil e comer tão prático?

Era com esse pensamento que Hiyori se encontra vagando pelos corredores do mercado, olhando de prateleira em prateleira pelos respectivos ingredientes da receita. Uma ou duas vezes perdeu Shinji de vista e quando o encontro, esse estava perguntou algo para uma mulher bonita, o que lhe fazia receber um soco ou um chute.

— Itai, itai. - reclamava ele ao ser puxado pela orelha pela baixinha nervosa.

— Escuta aqui, - começou apontando o indicador para ele, ranzinza. - Eu não queria, mas temos que fazer isso pelo Hachi, então, segura esse teu ânimo e me ajuda a achar os ingredientes da lista! - disse mantendo contato visual. Ele assentiu várias vezes.

Andaram pelo local mais um pouco até caçarem todos os ingredientes da receita simples que havia escolhido. Não dava para fazer nada exagerado, poderiam estragar a comida, e sem muito dinheiro, o simples era o mais viável.

Quando voltaram para casa carregando dúzias de sacolas foram recebidos por dezenas de perguntas sobre o jantar.

— É surpresa. - respondeu Shinji rindo descaradamente e empurrando Hiyori para a cozinha antes que ela soltasse uma resposta obscena.

Por sorte Hachi já tinha deixado o arroz no vapor o que facilitou o trabalho dos dois.

— Que droga. - resmungou a baixinha dando pulinhos para alcançar o armário mais alto onde ficavam as panelas grandes. Hirako riu e se aproximou por trás dela pegando o caldeirão e lhe dando um tapinha na cabeça. - Não pedi sua ajuda. - resmungou ela lhe dando um chute.

— Que menina má. - respondeu ele mostrando a língua, acendendo o fogão e esvaziando as garrafas de água mineral na panela.

Hiyori ranzinza foi cortar os temperos enquanto resmungava coisas maldosas. Hirako sentou-se na frente dela, separados pela bancada e resolveu ajudá-la para apressar o processo. A única coisa que fizeram com maestria foi fatiar todos os ingredientes.

Por acidente a faca que a baixinha usava caiu no chão, sem pressa abaixou-se para pegar, quando levantou a cabeça para voltar ao trabalho seus lábios encontraram-se com os do maior que estava inclinado sobre o balcão tentando ver a calcinha da garota que por coincidência estava de mini saia plissada.

— Aah! Seu pervertido! - rugiu raivosa dando um belo soco no rosto do loiro, e por pouco não lhe abrindo a garganta com a faca que tinha em mãos.

Shinji Hirako precisava ter cuidado quando fosse espiar Hiyori ou acabaria morrendo.