Os Contos de A Promessa escrita por Morgenstern


Capítulo 5
Robert


Notas iniciais do capítulo

Robert contando sobre a morte de Lethicia e o encontro com Leonor.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/745947/chapter/5

Minha vida estava acabada e eu me sentia completamente perdido. Não havia mais Lethicia, não havia mais abraças ou beijos, ou eu te amo sussurrados em meu ouvido.

Meu coração estava despedaçado, eu não tinha mais lagrimas e não tinha força para sair da cama. Quando a vi cair em minha frente, meu corpo congelou. No enterro, vomitei várias vezes e na missa, não consegui falar uma palavra se quer, o soluço não deixava.

Eu não fazia ideia do que teria acontecido a ela, os médicos diziam sobre pressão alta e ataque fulminante. Mas Lethicia não tinha pressão alta. Eu sabia disso.

Que merda!

Por que resolvi sair de casa sem avisar a ela? Por que não mandei uma única mensagem só para avisar como eu sempre fiz? Por que justo nesse dia, tive de ser idiota para esquecer de avisar a Lethicia que estava indo aos Maddox?

É claro que eu não iria fazer nada demais, Aaron me convidou para assistir jogo de baseball e beber alguns cervejas. Não tinha mulheres, não teve se quer o assunto sexo. Era apenas os rapazes, gritando, bebendo e relaxando. Achei algo tão inocente que não pensei em ligar ou avisar a Lethicia, já que ela estaria passando o dia com as amigas.

Mas é claro que fui idiota.

Tão idiota.

Na noite do enterro, fui ao Setor 45. Fazer o que, eu não sei. Queria beber até esquecer todos os meus problemas. Queria ouvir uma música e me debruçar na mesa para chorar mais. Ou até, sentar no balcão e puxar assunto com o barman, que ouvia mais lamuria do que um psicólogo.

Sentei na última mesa, pedi um litro de tequila e fiquei ali observando os grupos que conversavam e riram sem qualquer problema, sem ter perdido alguém que amava muito. A música estava alta o suficiente para me deixar com dor de cabeça, confesso que nunca gostei de lugares assim, mas sempre fazia um esforço quando se tratava da Lethicia. E eu queria aprender a superar.

— Com licença. – a voz veio da mesa atrás da minha.

Bebi minha dose sem muita preocupação, talvez não estivessem falando comigo. Mas então, uma pequena e delicada mão tocou em meu ombro. Me virei bruscamente assustado.

A garota de pele morena e cabelos castanhos enrolados, sorriu sem graça puxando sua mão de volta. Na mesa com ela havia mais uma garota morena e dois homens, realmente, bonitos. Ah, devem ser namorados foi o que pensei.

 – S-sim? – perguntei ajeitando meus óculos.

 – Você poderia nos ajudar com uma coisinha? – a garota com um forte sotaque português ergueu seu cardápio pressionando os lábios enquanto o encarava intrigada. Não pude evitar sorrir.

 – Claro. – falei ao me virar totalmente para eles.

 – O que vem nesse drink? – ela perguntou erguendo o cardápio para mim.

Precisei de um minuto para enxergar, meus olhos estavam embaçado pela tequila.

 – Ah! Pêssego, tequila e pedaços de morango. Realmente eu não aconselharia. Esse aqui, é um pouco mais forte maaaaaas, é realmente delicioso.

O homem, visivelmente mais alto que o outro, inclinou a cabeça para o lado enquanto me encarava. Senti um pouco de desconforto ao encontrar seu olhar, ele lembrava muito como Julia e Letícia estavam de olho em um cara e isso me deixou nervoso.

 – Você, está sozinho ai? – a outra garota perguntou erguendo uma sobrancelha para mim. Concordei com a cabeça, agora realmente desconfortável.

 – Por que não senta conosco? – o homem mais alto perguntou, pude ver o outro ao seu lado cutucá-lo com o cotovelo me fazendo engoli duro.

Jesus, o que foi isso?

A garota portuguesa sorriu e concordei, levando minhas mágoas e o litro de tequila. No final das contas, talvez eles quisessem beber de graça, por que o litro evaporou completamente e quando dei por mim, estávamos rindo feito loucos e eu nem mesmo sabia seus nomes.

 – Ei, por que não vamos terminar isso no hotel? – o cara de olhos azuis perguntou erguendo o litro seco de tequila, nos fazendo rir novamente.

 – Ah, por favor Alec. Já está vazio. – a garota portuguesa disse limpando os cantos dos olhos.

 – Ah.

 – Garçom! – gritou o mais alto erguendo o indicador. – Mais um litro de tequila, por favor. – e se virou para nós. – Agora temos um.

Naquele instante eu não sabia como recusar e lá estava eu entrando no quarto de hotel com duas garotas ao meu lado e dois homens atrás de mim. Eu poderia até desconfiar de uma máfia ou gangue. Bebemos, nos apresentamos informalmente e acabei contando o que havia me acontecido naquele dia. Não foi algo que eu possa me orgulhar, um homem chorando na frente de quatro estranho em um quarto de hotel. Mas nem eles pareceram se importar, me aconselhavam, me davam mais bebida e traziam guardanapos de pano para limpar minhas lágrimas. Foi algo que pude agradecer. A garota portuguesa que se chamava Leonor, foi gentil comigo durante toda a noite. Depois que os dois homens, Alec e Magnus, foram para o quarto, depois que a outra garota, Beatriz, foi dormir.

E eu estava grato por isso.

Acabou que passei o final de semana naquele quarto de hotel, conhecendo-os e nos tornando amigos. O papo fluía, meu sorriso aumentava e nossas histórias eram sempre interessantes demais.

Leonor, cantava profissionalmente e quase cuspi o suco de laranja no café da manhã ao saber que ela era Leonor Estrela. Também me engasguei com o bacon quando Magnus contou como havia sido sua viagem romântica com Alec. Por fim eu estava esperando qualquer coisa vindo da outra garota, lésbica, drogada, qualquer coisa, mas então ela era “normal”.

Eu sabia que minha vida não seria a mesma dali para frente. Sabia que algo de muito ruim aconteceu em minha vida e ao menos tempo algo de muito bom. Eu não havia esquecido Lethicia, ela realmente foi alguém muito importante para mim e que eu com certeza lembraria sempre. Mas ali, sentando a mesa com aquelas pessoas, eu soube que também não seria capaz de esquecê-los tão fácil assim.

A semana estava passando como um vento e eu continuava ali, levando-os para conhecer a cidade, levando-os aos melhores restaurantes e bares da cidade. Esqueci meu telefone no alojamento, esqueci por um instante meus amigos e minha vida sem graça.

Entrei de cabeça nessa aventura com aqueles quatro. Eu sabia que não seria para sempre, que eles estavam de passagem e logo voltaria a viajar, mas eu precisava aproveitar cada segundo do novo Robert que nasceu ali.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Contos de A Promessa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.