A Promessa escrita por Morgenstern


Capítulo 71
Tudo Muito Dramático.




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Meus ombros caíram em derrota, meu peito doía de saudade e todos os sentimentos reprimidos durante minha vida. Doíam por eu ter sempre Daniel como um herói e que agora, me tinha como sua principal inimiga.

Maxon respirou fundo e tossiu novamente, eu não conseguia desviar o olhar do corpo e mesmo assim, ele andou lentamente em minha direção tendo cuidado de passar a uma distancia segura do corpo de minha mãe estirado no chão e não importava o que ele diria, não importava suas palavras de conforto ou seus braços, nada mais faria diferença pois nós dois estávamos a um passo do fim. E não era drama coisíssima nenhuma, era a realidade. Era o fato. Maxon se agachou ao meu lado e me abraçou fazendo questão de apertar meu rosto em seu peito e ele mesmo pode não ter pensado sobre isso, mas sua camisa estava molhada – de sangue. Meu corpo queria responder aos carinhos dele mas eu ainda estava tensa demais para me mover. Ainda estava chocada demais.

— Você não pode deixar seu irmão te machucar assim. – Maxon disse duro, firme e com toda a certeza, irritado. Mas comigo? Porque eu fiquei calada? Por eu ter escutado de boca fechada o que Daniel falava sobre mim? – Ele é um louco. – Maxon sussurrou.

Eu tinha de concordar com ele, porque quem – em sã consciência – levaria o corpo da própria mãe para o porão de casa? Quem faria tão mal a própria irmã? Finalmente pensei em como nosso pai agiria se soubesse disso. Como seria ouvir que o filho mais velho havia mandado sua pequena princesinha para a morte? Eu não conseguia imaginar meu pai fora do sofá velho da sala e principalmente, não conseguia imaginá-lo em uma situação como essa.

— Kar. Eu vou tirar a gente daqui. – Maxon disse me trazendo de volta para o porão. – Eu só preciso de um minuto. – ele disse endireitando suas costas.

— O que aconteceu com você? – perguntei engolindo o nó que não saía de minha garganta, me virando para encará-lo para ver seus olhos inchados e vermelhos, para ver seu rosto uma mistura de tons verde e amarelo. Maxon apertou os lábios e balançou a cabeça.

— Eu não sei. Algo me fez mal. – ele passou uma mão pelos cabelos macios jogando-os para trás, mostrando a testa suada. – Você está... – Maxon parou e desviou seu olhar para o corpo da minha mãe, segundos depois voltou-se para mim arrependido com a pergunta que iria fazer. Suspirou e sentou ao meu lado. – Ele pegou o corpo da minha mãe também. – disse. – E eu não sei como isso é ou foi possível, não consigo imaginar alguém fazendo isso mas seu... Daniel, conseguiu trazê-la para cá.

— E-eu n-não entendo. Porque você? Porque sua mãe?

— Lembra quando você perguntou o motivo repentino de eu me interessar pelo jogo demoníaco? – Maxon perguntou fazendo minha mente vagar pelas lembranças até achar o dia em que ele fora até o alojamento, havia falado sobre Aspen, falado sobre o jogo e perguntado se eu ainda confiava nele. Lembro de ter dito que sim e até agora não estava arrependida. Foi o dia em que encontrei Louis, o dia em que meu passado e meu futuro se encontraram na mesma sala e eu lembrei de preferi evaporar para não ficar perto deles. Lembro de ter ido para cama com Maxon e pensado que seria nossa última vez. Porque mesmo pensei aquilo? Poderia até ser engraçado se eu falasse em voz alta agora, porque com Maxon e com todo o amor que sinto por ele, não havia fim e eu precisava aceitar isso. Lembrei da nossa conversa na cama e lembrei de ter feito a pergunta. Concordei com a cabeça ciente da sua resposta naquele dia.

— Então... – ele continuou. – Eu menti. – O que? Mentiu para mim? Quantas vezes ele iria fazer isso comigo? Meus olhos arregalaram em choque, meu corpo estava prestes a se afastar quando Maxon puxou minhas mãos para seu peito. – Eu menti quando disse que Aaron tinha se visto no jogo ao lado do corpo da nossa mãe. Eu menti por que na verdade... – Maxon parou e respirou fundo, mantendo seus olhos em mim. – Eu me vi, Karlla. Não era Aaron. Era eu.

Minha cota de oxigênio só poderia ter acabado porque não consegui respirar naquele momento. Então era Maxon o tempo todo? Era o corpo dele que ele havia visto assim como eu me vi? E era por isso o interesse no jogo? Mas porque então havia mentido para mim? Porque havia dito que era Aaron? E eu então a resposta veio em letras gritantes em minha mente.ELE ESTAVA ME PROTEGENDO. Maxon estava com medo de me assustar, estava apreensivo sobre o que eu poderia fazer e ainda que ele tentasse, olha só aonde me meti. Meu corpo estava mais tenso do que o normal lembrando da noite em que havia ido com Júlia e Mylena até o endereço que Louis havia rastreado, lembrando de ter esbarrado na mesa do computador e visto a imagem de Maxon ao lado do corpo da mãe na tela. Eu não conhecia sua mãe, mas aquela imagem era tão parecida com a minha, que deduzi ser a mãe dele. Mas havia a pergunta que não queria calar...

— Porque Daniel fez isso? Porque nossas mães? – perguntei e Maxon deu de ombros.

— Talvez ele queria deixar tudo dramático. Eu sinto muito. – ele disse com uma mão em meu ombro.

Deixar tudo muito dramático.

Sim, era isso que Daniel queria fazer.

Meu corpo estava completamente exausto e sabia que Maxon estava se mantendo acordado por mim. Sabia que ele estava se mantendo forte por mim e por Deus, espero sinceramente que ele esteja pensando em uma saída por que eu mesma não conseguia pensar em nada.

Minha mente vagava pelas lembranças sem aprofundar em nenhuma delas, passava como um canal de televisão e quanto mais eu via minha mãe mais meu coração apertava, mais o nó na garganta aumentava e mais as lágrimas desciam. Eu já havia desistido de limpar o rosto, de engolir o choro e Maxon havia me dado tempo para chorar. “Chore, minha querida. Tire isso de você” e eu chorava, baixinho mais chorava. Via as lembranças de minha mãe, do próprio irmão, do nosso pai e dos momentos felizes que tínhamos. Vi os momentos engraçados com minhas amigas, o dia em que conheci Maxon e o dia em que nós ficamos.

Mas então, as lembranças felizes foram ficando para trás. Cada vez para trás. E não existia qualquer forma de sorriso. Não que eu lembre. A morte da Lethicia. O jogo. A casa abandonada. O jogo. Kriss. O jogo. Daniel e tudo o que ele vem fazendo desde sua aparição.

Não existia mais felicidade.

E já certa sobre isso, apertei os braços envolta de Maxon e me permiti ceder a fadiga do corpo. Ele, com as pernas esticadas para frente mantendo meu corpo entre elas e me apertando, me protegendo, pareceu ceder ao cansaço. Nossas respirações diminuíam a cada segundo, as pálpebras pesavam e um segundo depois estava sonhando.

— Karlla Morgenstern Maddox, não é um nome lindo? – falei a Camila que concordou com a cabeça, um sorriso no rosto avisando a todos o quanto estava feliz naquele dia. Eu não sabia o motivo do sorriso, mas que se dane era um sonho feliz.

— Tudo bem, vamos concordar em uma coisa. Não podemos nos casar no mesmo mês. – Manu disse frente ao espelho da loja segurando um lindo vestido branco em sua frente. – Não tenho dinheiro para esses vestidos caros. – ela disse virando-se para nós. Camila riu e concordou com a cabeça. De repente as duas sumiram e a loja virou uma sala de piso amadeirado e paredes revertidas com papel azul marinho. Era um quarto escuro e completamente vazio. Uma porta abriu iluminando todo o cômodo e Maxon entrou sorridente, abrindo os braços a cada passo que dava para mim.

— Estou tão feliz, meu amor. – ele disse me puxando para seu peito. – Como posso estar tão feliz? – ele perguntou me rodando pelo quarto. Sorri tentando me libertar, tentando respirar e perguntar do que ele estava falando. A porta abriu totalmente e uma pequena sombra chegou até meus pés, quando ergui o olhar encontrando dois pares de olhos que nos encaravam apreensivos.

— Papai? – disse o garotinho de cabelos castanhos e olhos castanhos, o nariz tão pequenino e as bochechas avantajadas tão familiares que me fizeram sorrir. A garota, centímetros maior que o garoto, sorriu e jogou uma mecha de cabelo para trás. Maxon suspirou e se aproximou dos dois se ajoelhando para manter a mesma altura e se virou para mim.

— Mamãe tem novidades. – ele disse animado, fazendo os dois pares de olhos desviarem para mim tão excitados quanto os de Maxon. Meu coração apertou e lágrimas embasaram minha vista. – O que vocês acham de mais um irmãozinho? – Maxon perguntou se virando para as crianças, que instantaneamente abriram um sorriso largo e charmoso como um Maddox. O garotinho se virou para mim e correu para abraçar minhas pernas.

— Obrigada mamãe. – ele disse. – Mas ele pode se chamar Simbá? – perguntou erguendo seu olhar para mim, fazendo Maxon rir jogando a cabeça para trás e a garota bufar irritada.

— Ele não vai se chamar como o leão idiota, Luke. – ela disse fazendo-o se virar rapidamente e pelo modo como Maxon sorriu, devia ter apertado os olhos para a garota.

De repente o quarto sumiu e tanto as crianças como Maxon saíram de foco deixando o breu e nada mais.


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Notas finais do capítulo

Simbá! kkkkkkkkk Eu simplesmente adoro esse sonho.
Enfim, espero que estejam gostando desses últimos capítulos.



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