A Promessa escrita por Morgenstern


Capítulo 60
Você Não Vai Se Arrepender.




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Kent fez a gentileza de me levar de volta ao apartamento de Maxon, deixando claro que iria esperar por mim para que eu não demorasse. Eu estava prestes a roubar meus amigos, estava prestes a começar uma rede de mentiras que eu precisava saber como parar. Precisava achar um jeito de descobrir quem era aquela mulher – provavelmente a chefe – e desmascará-la. Kent não desligou o carro e subi as escadas rezando para que ninguém o veja comigo, para que ninguém o veja ali.

A porta do apartamento estava aberta, poderia ser um milagre ou um sinal, mas eu estava nervosa demais para parar agora. A sala estava completamente desarrumada com papéis jogados por todos os lugares e o notebook de Louis aberto em coisas que eu não ousaria mexer. Fechei a porta da sala – por precaução – peguei cada papel e tirei foto com o celular de tudo o que estava escrito, tão nítido quanto poderia, tentando ser rápida e ágil. Percebi que a caixa que havia trazido não estava em lugar nenhum por ali, então juntei todos os papéis fazendo um pequeno bloco e me apressei pelo corredor até o quarto de Maxon.

O dia ou a saudade me fizeram ver com mais atenção aquele quarto que outra vez tinha como papel de parede pôster de mulheres – gostosas – seminuas e que agora tinha paredes na cor azul claro – tal qual como o céu – e as poucas fotos que havíamos tirado presas na parede. Havia fotos do show da nossa banda favorita e eu queria sentar ali e sorri porque as adorava. Havia fotos em que nos beijávamos, outra em que ele me abraçava e todas trazendo de volta nossos pequenos momentos juntos, nossa sincronia na cama, no banheiro ou em qualquer lugar porque além de tudo o que eu fiz, além de tudo o que Maxon foi, nós somos um só.

Respirei fundo e dissipei todos os pensamentos que poderiam – e estavam – me distrair e voltei a procurar a caixa, olhando sobre a mesinha perto da janela, checando entre as cômodas em cada lado da cama e não havia qualquer indício de que estava ali, me deixando nervosa.

— Karlla? – a voz de Maxon me fez tremer todo o corpo, as pernas ameaçaram cair e pude sentir o jeans roçar nas feridas. – O que está fazendo aqui? – ele perguntou surpreso, atravessando o quarto parando a poucos passos de mim. – Por onde você andou? Porque não atendeu a droga do seu celular?

Queria chorar ali mesmo por não conseguir achar as palavras, sabia que meu queixo estava caído, que meus olhos estavam grandes demais ao observá-lo e sabia que talvez ele tenha notado minha surpresa. Seus olhos estavam cheios de curiosidade e ansiedade, seus lábios um pouco abertos mostrava sua respiração cortada e eu não iria conseguir mentir porque dessa vez era algo muito sério.

A situação era tensa e provavelmente eu iria ajudá-los se falasse sobre Kent estar lá embaixo, sobre a mulher e sobre sua vingança, mas e quanto a Manu? Como poderíamos salvá-la? Como poderíamos ter certeza de que tudo realmente poderia acabar? E eu não só estava traindo a mim mesma como também aos meus amigos.

Principalmente traindo Dylan e Lethicia.

— E-eu estou procurando a caixa. – foi minha resposta, tentando verdadeiramente não mentir para ele. Não o quanto poderia.

— Onde você estava? – Maxon perguntou outra vez, seus ombros enrijeceram e sua mandíbula foi pressionada.

Eu estava com medo daquele olhar, com medo se ele pudesse me ver por dentro, se pudesse ver o que eu estava fazendo e pensando.

— Eu estava por ai, precisava pensar. – respondi desviando o olhar para o chão, tão derrotada, tão submissa.

— Você me assustou, Kar. – ele disse. – Fiquei preocupado.

— Eu só precisava de um tempo.

— Tudo bem. – disse com um suspiro relaxado. – Manu já está acordada e com gesso na perna. – falou com um sorriso divertido. – Nós rabiscamos tudo. Até Leonor Estrela autografou. – sorri assistindo aquela emoção que vinha dele, sorri porque aquele sorriso em seu rosto poderia mudar meu mundo.

Maxon sentou na ponta da cama frente a mim falando sobre ter me visto entrar em seu quarto, ele estava no quarto do irmão e não disso o motivo. Comentou sobre a noite no hospital, sobre Mariana ter fugido com Jordan logo depois que me viu sair. Contou sobre Mylena está íntima de Jamie de uma forma que Maxon ainda não sabia como e contou sobre o que eu já sabia, seus irmãos e minhas amigas. Por um instante vi aquela gargalhada de emoção que eu estava prestes a dá no hospital, mas vindo dele. Por um instante vi a mesma diversão ao lembrar que somos amigas e eles irmãos. Mas eu não entendia o porque dele está tão tranquilo em minha frente sendo que noite passada falou todas aquelas palavras para mim. Não entendia o porque do seu sorriso se ontem ele estava sério demais perguntando se deveria acreditar, se poderia confiar em mim. Não entendia o porque dele ter mudado e não conseguia sair dali, não conseguia mover minhas pernas, não conseguia respirar até meu celular tocar no bolso da calça, até eu perceber que estava segurando os papéis, até eu lembrar que estava completamente perdida.

“Sim?” falei ao atender já imaginando quem seria e estava apreensiva demais com Maxon me observando. “Porque está demorando tanto?” era Kent na outra linha, apressado e irritado. Meu coração parou e eu não sabia como responder, não sabia o que fazer. “Estou indo” respondi fazendo Maxon inclinar a cabeça para o lado, me estudando, assistindo minhas reações escorregarem de meu rosto. “Você não está sozinha?” Kent pareceu surpreso, respondi que não e ele gargalhou na outra linha do celular trazendo um frio a minha espinha, medo por não saber o que ele poderia fazer, medo pelo plano ter falhado e agora Manu poderia ser a próxima. “Diga meu nome.” Ele disse e eu poderia senti-lo sorrir tão malvado, tão satisfeito e eu queria gritar ou sair correndo por não aguentar aquela situação. “Me chame de Adam e desça já!” Kent gritou. As lágrimas ameaçaram cobrir meus olhos e engoli o nó na garganta.

Era o meu fim.

— Já estou indo Adam. – falei desligando o celular no mesmo instante, fazendo Maxon levantar da cama em um pulo, surpreso, chocado, pasmo.

— Que Adam? – ele perguntou se aproximando o suficiente para tirar meu ar. – Adam Kent, Karlla?

— Ele está me esperando. – falei dez tons mais baixo, tentando desviar o olhar daqueles olhos que eu não conseguia descrever o que sentiam, talvez incredulidade, talvez decepção.

— O que? Porque ele estaria te esperando? Ele está lá em baixo? – Maxon perguntou elevando a voz.

— Encontrei ele enquanto caminhava. Mas espera... De onde você o conhece? – perguntei fazendo-o erguer uma sobrancelha. – Você o conhece? Da faculdade? De onde? – perguntei nervosa demais, talvez mostrando demais meu desespero.

Respirei fundo e endireitei os ombros. Maxon me observava de queixo caído, completamente confuso com minhas perguntas, mas eu queria ouvir dele, queria saber quem era este homem que fez maldades com pessoas inocentes.

— Karlla, Adam Kent foi quem me pediu a revanche na segunda-feira. Eu não sei o motivo, mas era justamente o que precisávamos fazer para passar de fase nesse jogo idiota, você consegue entender isso? – Maxon perguntou tranquilo, sem elevar a voz e forçando a não surtar. – Ele é o maior inimigo que meu irmão já teve. Ele é o único que poderia ver Aaron morto e não sentir pena.

Engoli duro ao lembrar de suas palavras para mim. Ao lembrar do que ele era capaz de fazer e do que havia feito comigo. Minhas pernas doeram como lembrete e eu estava verdadeiramente perdida.

— O que vocês fizeram? – Maxon perguntou de repente. – Para onde foram? O que ele falou a você?

— Ele não falou de vocês. – falei - menti - rapidamente.

— Eu não consigo entender. – Maxon falou andando pelo quarto exasperado com as mãos na cabeça mostrando o quanto estava perturbado com aquilo. – Como você não sabia disso?

— C-como eu não...? Simplesmente por que ninguém me falou sobre ele. Não me falaram nada. Não estão me contando nada! – respondi baixando a cabeça verdadeiramente chateada. Maxon suspirou e relaxou os braços ao lado do corpo.

— Estávamos tentando não te deixar nervosa ou em perigo, mas parece que aconteceu justamente o que temíamos. – ele disse me fazendo erguer a cabeça bruscamente, encará-lo com o início de uma raiva imensa.

— O que? – exclamei caminhando até ele. – O que você disse? Não estavam falando para mim para me proteger? – eu ri, ri jogando a cabeça para trás por ele ser tão idiota, por eu ter sido jogada aos lobos pelos meus próprios amigos.

— Você tem mania de fazer coisas sem pensar, o que você queria? Que falássemos tudo e deixasse você se matar? – Maxon perguntou apertando o olhar para mim.

— Vocês são tão... – parei e respirei fundo mantendo a calma. – E você achou que eu iria cruzar os braços e não fazer nada? Você não pensou que eu poderia está tentando descobrir tudo isso sozinha, por não ter meus amigos ao meu lado? Por não ser incluída nas coisas que eles fazem? Se duvidar até Leonor Estrela está ajudando e quanto a idiota aqui passa por tudo o que passou.

— O que? – ele perguntou tentando adivinhar minha última frase e eu estava tão irritada que poderia esmurrá-lo, estava com raiva pela dor que sentia nas pernas e queria chorar.

As palavras estavam na ponta da língua, a noite passada estava viva na minha mente e minha raiva queria jogá-las para fora, empurrá-las para Maxon sentir o que eu senti, para que ele soubesse tudo o que eu passei para protegê-los. Mas minha mente era rápida demais, era aguçada e estava evitando que eu fizesse uma cena, estava lutando para que eu não faça algo impensado. “Você tem mania de fazer coisas sem pensar” foi o que ele me disse. “Você sempre pode ajudar” era o que eu queria que ele dissesse.

Respirei fundo e me mantive em pé, ignorei a dor nas pernas, ignorei a dor no peito e o nó na garganta. Maxon insistiu na pergunta, mas eu não queria responder, não queria falar que passei a pior noite da minha vida, não queria dizer que havia me ferido.

De repente lembrei de vê-lo machucado ao lado do corpo de uma mulher morta, lembrei de quando me contou que Aaron havia se visto da mesma forma que eu no jogo. Lembrei do acidente no Setor 45. Lembrei de Celeste e suas amigas colocando algo na bebida da Lethicia. Lembrei, por um acaso, de Aspen e sua simpatia repentina. E por fim, lembrei de quando havia visto Maxon pela primeira vez saindo do Morgan. Camila estava animada por irmos ao Setor 45 pela primeira vez e eu havia apressado os passos para abrir a porta do dormitório no mesmo instante que ele a abriu, esbarrando em mim com seu corpo duro e musculoso, seu sorriso charmoso e seus olhos castanhos. Aquela tinha sido a primeira vez que ele havia falado comigo, “gostei do jeans” era sua cantada e eu poderia rir agora lembrando de tudo isso, poderia sentar e lembrar dos primeiros momentos que foram tão divertidos, tão engraçados. Conheci as garotas, ganhei novas amigas, conheci os rapazes e ganhei novos amigos.

Conheci a família Maddox e me apaixonei outra vez.

Eu poderia sorrir de tudo isso se não fosse a lembrança daquela mesma mulher loira de cabelos até a cintura, seios fartos que havia me levado até a fábrica de vidro, a lembrança de que eu conhecia, mas não lembrava onde e lá estava minha resposta. “Eu não tenho a noite toda, And” Maxon disse aquela mesma mulher que vinha do corredor no Morgan, passando por nós com seu perfume exagerado, roupas minúsculas mostrando o corpo robusto. “Você não vai se arrepender.” Foi o que ela respondeu.


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