A Promessa escrita por Morgenstern


Capítulo 52
Forte O Bastante.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/745941/chapter/52

Tentei não chorar mesmo sentindo as lágrimas rolando em meu rosto enquanto corríamos para longe daquele lugar. Tentei não tremer mesmo meu corpo gritando por isso. Tentei não surtar ao lembrar do corpo enforcado no quarto, tentei não voltar só para checar se era realmente minha colega de quarto ou eu estava ficando louca. Olhei para Mylena ao meu lado e a vi forçando para não cair, já tropeçando nos próprios pés com dificuldade para respirar. Julia estava atrás de nós e eu não iria arriscar olhar para trás. O som de nossos tênis nas pedras era o único que me deixava tranquila porque eu sabia que a cada passo estava mais longe daquele lugar.

Paramos frente a porta do refeitório, o prédio estava fechado e completamente escuro, assim como o prédio das aulas por onde havíamos passado – sem sinal de qualquer pessoa. Respirei fundo com as mãos apoiadas nos joelhos enquanto descansávamos por uns minutos. Julia caiu no caminho de pedra e logo o choro veio, baixinho com lágrimas que caíam tão rapidamente como se elas já estivessem ali a muito tempo. A muito muito muito tempo.

— Ju. – Mylena colocou uma mão no ombro da amiga e esperou que ela respondesse, dando tempo suficiente para que eu me recuperasse.

— Vamos ficar bem. – foi o que falei me ajoelhando frente as duas. – Vamos mostrar isso aos meninos e vamos pensar em algo. Ok?

— Por-por favor. Eu preciso ir a um lugar. – Julia disse engolindo o choro. Concordei com a cabeça e a ajudei a levantar.

Eu não fazia ideia de onde ela queria ir, não fazia ideia do porque ter deixado Mylena dirigir seu carro e estava começando a achar que ela estava tentando nos matar enquanto cortava caminho pelos carros na pista, derrapando em cada curva e sem parar em sinais vermelhos. Supliquei para ir no banco de trás, rezando com as palmas das mãos levantadas para que chegássemos a salvo. “Não seja tão dramática, Karlla” Mylena falou ao me encarar pelo retrovisor e eu queria gritar para que ela não tirasse os olhos da rua, porque ela dirigia como uma louca. Finalmente quando estacionamos frente a uma casa estilo vitoriano na cor azul, pude sair do carro antes mesmo que Mylena pudesse desligar o carro.

A luz da varanda acendeu e Julia correu até a porta, eu estava nervosa se deveria segui-la ou esperar aqui, estava apreensiva em ver talvez o professor em um momento tão normal e que eu não estava acostumada. Mylena deu a volta no carro e me puxou pelo braço até os degraus que levavam a varanda da casa, com a porta ainda aberta. Pude ouvir “o que aconteceu, meu amor” e meu coração doeu por querer ouvir aquelas palavras, sentir braços conhecidos em meu corpo, sentir segurança. O senhor Herondale apareceu de repente na porta e mandou que nós entrássemos, fechando a porta com a chave ao passarmos e nos levando até a sala onde Julia estava sentada em um sofá de dois assentos.

— Mas o que aconteceu com vocês? – ele perguntou com as mãos na cintura, encarando cada uma de nós com os lindos olhos azuis. – Estão parecendo fugitivas.

— Primeiro, não estamos fugindo. Foi apenas uma corrida para exercitar os ossos. – Mylena respondeu com um sorriso, tão natural, tão relaxado para quem não conhecia quando estava atuando.

— Eu sei que você faz teatro e não vou acreditar nesse sorrisinho quando seus olhos não podem mentir. – ele disse firme, fazendo-a engolir duro e meus ombros enrijecerem.

— Ele sabe. – Julia falou ao beber um gole de o que havia no copo em que segurava com as duas mãos. – E nós vimos fotos. – ela falou erguendo o olhar para ele. – Fotos nossas, Will.

O professor enrijeceu e passou de pardo para muito branco.

— Como nossas? – ele perguntou confuso.

— Não sei o que está havendo, mas a pessoa nos seguia. – falei desviando o olhar para o carpete marrom. – Tinha algumas fotos nossas. – falei me erguendo do sofá, tirando as fotos que havia pegado – roubado – e entreguei ao professor.

— Não pode ser. Como alguém pode ter tirado essa foto sem ser notado? – perguntou a Julia enquanto erguia a foto dos dois, não me atrevi a encará-los mesmo sabendo que Mylena não havia tirado os olhos dele. – Seja lá o que estiver acontecendo, eu vou descobrir quem fez isso.

— Acho que foi minha colega de quarto. – falei sentindo seu olhar em mim. – Taylor McGuire.

— Encontramos o corpo dela. – Julia quem falou, deixando o professor calado em um silêncio profundo que me deixou nervosa, angustiada.

— Vou ligar para a polícia. – ele disse caminhando em direção a uma mesinha ao lado da TV.

— Não! – Mylena e eu gritamos em uníssono com um pulo do sofá.

— Me desculpem meninas, mas eu não posso fazer isso com o corpo de alguém. Preciso avisar sobre Tay.

— Garotas – Julia falou se virando para nós. – Eu vou ficar com ele. Vocês podem ir e avisar aos Maddox.

— Mas Ju.

— Por favor, My. Eu prefiro ficar aqui. – ela disse desviando seu olhar para o professor no canto da sala, me fazendo querer sorrir e concordar e dizer para serem felizes mas o momento não estava para sorrisos.

Não demorou muito para que chegássemos ao apartamento do Maxon. Não demorou um segundo para que já estivéssemos na sala, encarando Louis sentado na poltrona confortável, Aaron no sofá e Jordan ao lado. Mylena tirou os papéis do bolso e foi quem detalhou nossa descoberta, mostrei as fotos que havia levado comigo e não consegui prestar atenção nos sermões e perguntas curiosas porque estava encarando o corredor, a porta do quarto do Maxon e tentando não correr até ele.

— Mas quem diabos disse que vocês tinham de ir até lá? – Aaron perguntou elevando a voz o suficiente para que todo o apartamento ouvisse. Até mesmo a distraída aqui.

— Nós achamos provas de que alguém estava na faculdade, achamos provavelmente a pessoa que fez isso e... – parei ao ouvir uma porta ser aberta no corredor, meus olhos desviaram quase que no mesmo instante em busca de Maxon para checar se ele estava bem, se estava intacto. – Só um minuto. – falei indo em direção ao corredor, abrindo um sorriso de desculpas e saudade, esquecendo o que havia passado naquela noite, esquecendo promessas, apostas idiotas e desejando seu abraço, seu beijo e suas palavras de consolo.

De repente a porta do banheiro abriu e Maxon apareceu com uma toalha enrolada na cintura, ele me encarou por um instante antes de abrir um sorriso – magnificamente – lindo. Não esperei que ele brigasse comigo, não esperei seus gritos porque eu poderia sentir que ele estava mais preocupado, mais ansioso por mim do que qualquer outra coisa.

A porta de seu quarto abriu e a mesma morena que havia visto saindo da sala – vazia – com ele, apareceu na porta com um sorriso – ridiculamente – satisfeito e uma blusa de seu pijama. Apenas a blusa. Ela sorriu para Maxon que a encarava de queixo caído, as sobrancelhas levantas acima da testa e eu queria dá-lhe um tapa tão forte quanto poderia.

Queria esmurrá-lo.

— Wow. – foi o que falei encarando a morena, Kriss.

— Kriss, o que está fazendo? – Maxon perguntou em choque, as mãos nas cintura enquanto seu olhar fixava na garota.

Mas antes que ela pudesse responder, antes que pudesse sorrir ainda mais e me olhar com superioridade, virei em meus calcanhares e sai, passando na sala, jogando o boné de Maxon que ainda usava no balcão indo em direção a cozinha, respirando com calma e relembrando tudo o que eu havia passado hoje. Não iria chorar, não iria me abater porque além de um coração quebrado, fui forte o bastante para aguentar ver minha colega de quarto morta. Fui forte o bastante para não pirar ao ver a imagem do Maxon deitado no chão com sangue na roupa ao lado do corpo da mãe. Fui forte o suficiente...

— Karlla. Não é o que você está pensando. – Maxon disse atrás de mim, nervoso ainda com a toalha em volta de seu corpo. – Eu apenas deixei que ela ficasse aqui e...

— Tudo bem. – foi o que eu disse enquanto lavava as mãos na pia, dando – com muito gosto – as costas para ele.

— O que? – Maxon perguntou confuso, ele se aproximou e pude sentir o cheiro do shampoo, do sabonete. Podia sentir sua respiração em minha nuca.

Mas eu era forte o bastante para aguentar.

— Estou dizendo que está tudo bem.

— Não está tudo bem. – falou puxando meu ombros, me fazendo virar para encará-lo. Para ver o quão angustiado estava, mas eu era forte o bastante para isso também. – Você ficou estranha, mas não aconteceu nada entre mim e Kriss. Está bem?

— Eu já disse. – falei dando de ombros. – Tudo bem. Temos coisas mais importantes para discutir agora. – passei por ele e voltei a sala pela primeira vez ouvindo a conversa com atenção.

Com nada na cabeça a não ser acabar com esse jogo de uma vez.

Louis falava sobre o endereço que havia me entregado, falava sobre não saber onde – exatamente – era mas deu certeza sobre o sinal rastreado. Mylena contava cada passo nosso enquanto Aaron e Jordan tentavam ler os papéis organizados em fileiras no chão da sala. Sentei na ponta do sofá perto o bastante para ver o que Louis fazia com o notebook, perto o bastante para sentir seu cheiro, para encostar nossos braços em qualquer movimento nosso e eu não estava preocupada com o que Maxon fazia no quarto, não estava preocupada se ouviria gritos ou o som da cama arrastando no chão.

Pensava em como terminar esse jogo sem que ninguém seja ferido, sem que ninguém morra. Estava preocupada nos dois homens que analisavam os papéis e concordavam com a cabeça a cada frase lida. Estava preocupada com a garota sentada ao meu lado comentando como havia sido a – terrível – noite. Estava preocupada com Julia. Com minhas amigas. Jace. Rob, que não o via desde o hospital. Estava preocupada com a prima Maddox e em como eu poderia ajudá-los.

— Louis, podemos voltar na casa e olhar com mais atenção? – perguntei fazendo-o erguer o olhar para mim, confuso, porém esperançoso.

— De jeito nenhum. – Maxon respondeu ao aparecer do corredor com suas calças jeans, descalço e sem blusa. – Ninguém vai sair dessa casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Promessa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.