A Promessa escrita por Morgenstern


Capítulo 44
Aposta.




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Maxon estava com raiva de mim e eu não conseguia entender o quão complicado era escutar o que eu tinha a dizer. Ele havia me visto conversar com os rapazes – que jogavam o jogo demoníaco – mas não quis ouvir o motivo para eu ter feito. Gritou comigo enquanto íamos ao hospital, estava nervoso e irritado, dirigia como um louco e me forcei a rezar durante o caminho, chegar viva ao hospital era tudo o que eu pedia. Aaron, Jordan e Letícia não falavam uma palavra no banco de trás, eu não ouvia nem mesmo o choro ou os soluços dela com os gritos de Maxon. No hospital, fiquei o mais longe quanto pude dele, consegui me manter forte por fora, mas estava despedaçada por dentro, por ter discutido com Lethicia, por não ter me desculpado antes que ela pudesse sair. Despedaçada pela falta de confiança, pela infantilidade de gritar na frente de todos, por eu ter sido tão idiota e ter ficado calada.

— Como ela está? – ouvi Mari sussurrar a alguém.

Pisquei olhando em volta, Mylena estava dormindo sentada ao lado da Mari, Letícia ainda dormia no colo do Jace, que também dormia sentado. Julia estava deitada em dois bancos com Camila sentada ao lado e não vi Manu ou Larissa, ou Maxon.

— Conseguiu dormir. – Camila respondeu observando Julia respirar lentamente, encolhida no pequeno assento desconfortável.

Os pais da Lethicia estavam no necrotério, havia sido uma das piores cenas que eu presenciei, a mãe ameaçando desmaiar, o pai segurando-a pelos braços, médicos correndo pelo corredor com cadeira de rodas, com calmantes e pranchetas. A imagem de meu pai no último dia de vida da minha mãe passou pela minha mente, mas eu não era capaz de imaginar o que realmente aconteceu, além do “deram apenas um remédio que a fez dormir” eu sabia que tinha mais coisa que ele não estava contando para mim e meu irmão, talvez por sermos novos demais, fracos demais.

Eu não fazia ideia de onde Maxon havia ido, mas se dependesse de mim, continuaria sem saber, continuaria tão longe quanto poderia. “Você estava conversando com um bando de homens. Você não me respeitou.” Foi o que ele gritou, disse que eu estava flertando enquanto os outros tentavam fazer algo por Lethicia. Ele disse que eu não poderia ter sido mais idiota e eu queria gritar que ele era o idiota por ter feito essa cena ridícula, que era ele o mais idiota de todos por ser tão cego e idiota por não querer ouvir meus motivos. Queria gritar que não iria dá chance nenhuma de conhecer o lado bom dele, que provavelmente não existia, mas apesar de tudo, eu ainda gostava dele e me sentia tão burra por isso.

Tão idiota.

— Amiga – era Manu, me trazendo a realidade. – Vamos para o Morgan.

— O que? Mas e os outros? – perguntei olhando para Julia e Letícia que ainda dormiam.

— Eu acho melhor não acordar e deixá-las aqui. Mas é melhor a gente voltar. Maxon disse que vai ficar aqui, os meninos também e achou melhor a gente ir para casa.

— Ele achou melhor? – perguntei irritada, Manu concordou com a cabeça e eu levantei, falei com Mari, a única acordada e segui as meninas de volta a entrada. – Como vamos voltar?

— Maxon deu as chaves do carro dele.

— Onde vocês estavam? – Camila perguntou antes que eu pudesse perguntar a mesma coisa, eu estava impaciente com esse Maxon pediu. Maxon achou melhor. Maxon. Maxon. Maxon.

— No restaurante. – Manu respondeu com uma careta. – Eu avisei a vocês que estávamos indo ao restaurante. – Camila e eu balançamos a cabeça e a seguimos para o carro, direto para o Morgan.

Passei direto da minha porta e segui Manu até seu quarto, agradecendo pelo convite de passar a noite com ela, agradecendo não ter que voltar ao meu quarto sozinha, agradecendo por dormir sabendo que alguém que você ama e confia está na cama ao lado. E mesmo tendo a certeza de que eu não iria conseguir dormir, era bom estar com ela. Arrumei a cama da Julia, peguei um pijama emprestado da Manu e me escondi entre os cobertores observando o teto, permitindo ceder a minha mente – inimiga – e suas várias teorias sobre a noite de hoje. A morte estranha da Lethicia, a fase do jogo, minha calma extrema durante a noite, minha vitória por não chorar, não fazer cena, os gritos de Maxon, a indiferença e o dia de amanhã. Era óbvio que ele havia nos mandado com o carro dele para ter uma desculpa de vir pegá-lo amanhã, era claro que iríamos conversar e era incrível eu ainda está nervosa pelo o que ele tem a me dizer, nervosa em como terminará essa conversa, porque eu realmente era idiota, muito idiota de ter medo dele simplesmente acabar e ir embora. Idiota por ter acreditado nas palavras dele, acreditado que ele poderia mudar, acreditado sobre o lado bom, mas no final das contas, Maxon era um garoto imaturo.

— Ka, acha que tem forças para o enterro amanhã? – Manu perguntou, olhei para seu lado do quarto tentando enxergá-la apesar do escuro.

— Acho que não. – respondi com um suspiro.

— Eu também não. Acho que deveríamos ir, conhecíamos ela. Éramos amigas. Mas eu não consigo.

— Eu não quero passar por isso outra vez. – falei deixando um silêncio no quarto e sem esperar resposta, me virei para a parede e a encarei esperando o cansaço vencer minha mente.

Manu estava no banho quando acordei, parecia ter sido um cochilo de minutos, mas era quase sete horas que eu havia dormido. Meu celular alertava mensagens novas e ligações perdidas quando o peguei debaixo do travesseiro, eu poderia ficar deitada ali para o resto do dia, talvez da vida. Cinco ligações perdidas de Maxon, dez ligações perdidas da Julia, Camila e Aaron. Havia uma ligação perdida do Louis que fez minha espinha enrijecer. Havia uma mensagem de Julia perguntando aonde estávamos e uma de um número desconhecido.

“Hoje o dia está lindo para conversar com o namorado e perguntar sobre a aposta com o irmão de ganhar a garota. 

Carpie Diem. – A.”

Oh

Não.

Sai da cama, troquei o pijama pela roupa da noite passada e sai o mais rápido quanto podia com o celular na mão, o coração ameaçando sair pela boca, a cabeça a minutos de explodir e o corpo tremendo de raiva. Eu não sabia quem diabos era A, tinha plena certeza da noite em que ela atrapalhou meu momento com Maxon, mas se não for uma brincadeira de mal gosto, poderia agradecê-la por isso. Estava prestes a abrir a porta do Morgan quando Maxon entrou rapidamente, esbarrando comigo. Ele me olhou dos pés a cabeça e me abraçou forte o suficiente para me deixar sem ar e mesmo com todo aquele calor que ele me passava, o carinho e a proteção, eu tinha de manter a mensagem na mente.

Apenas a mensagem.

— Minha querida. – ele disse em meu cabelo. – Como você está? – perguntou me afastando, encarando meu rosto, minha roupa.

— Maxon, o que é isso? – perguntei ao erguer o celular, a mensagem estava visível para qualquer um e ele empalideceu ao ler, seus lindos olhos perderam o brilho, seus lábios se tornaram uma linha reta e eu já poderia imaginar como a nossa conversa iria terminar.

— Quem te mandou isso? – foi o que ele perguntou, pegou meu celular e leu, pelo menos, cinco vezes antes de me entregar, antes de olhar para mim.

— “A” mandou para mim e eu não estou preocupada em saber quem é “A”, quero saber se ela está certa sobre isso. – Maxon hesitou, desviou o olhar respirando com dificuldade, ele não respondeu. – Essa aposta aconteceu Maxon?

— Isso foi no começo das aulas, eu não te conhecia bem e...

— Aconteceu ou não, Maxon? – o interrompi, cansada de ouvir histórias, cansada de muito falatório e pouca ação.

— Aconteceu. Mas me deixe explicar – ele pediu com as mãos em meus ombros, seus olhos fixos nos meus, ansiosos e apreensivos.

— Não! – exclamei fazendo-o enrijecer. – Ontem você foi um idiota comigo! Você gritou na frente dos seus amigos e para que? Foi a coisa mais ridícula que você já fez. E mesmo tendo a oportunidade de ouvir meus motivos, de saber o porque de eu ter ido falar com aqueles caras, você não quis. Você não me deixou explicar, você simplesmente gritou comigo e esqueceu que eu poderia ter uma explicação. E eu estou cansada...

— Por favor.

— Cansei porque eu avisei que não queria mudar você, avisei que não adianta querer mudar alguém, avisei que já havia passado por isso e os dois saíram magoados e mesmo estando... – suspirei tentando não chorar, tentando não elevar a voz. – Eu não quero me magoar, Maxon. Você não confiou em mim.

— Karlla.

— Não. – falei dando mais um passo para trás, negando com a cabeça me livrando de suas mãos, de seu toque.

— Você está me punindo por ontem? – ele perguntou, os ombros tensos, as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo. Balancei a cabeça.

— Não, eu simplesmente não quero ouvir a desculpa que você tem para isso.

— Mas Kar.

— Já chega Maxon. – falei tão firme quanto poderia, tão dura quanto havia aprendido ser.

Não hesitei, não vacilei, não demonstrei qualquer emoção a ele. Eu estava cumprindo minha promessa de não chorar, de ser forte para mim mesma, de não fazer cena.

— Você está desistindo de nós? – ele perguntou dez tons mais baixo.

— Para começar não existe nós. Existiu você e sua aposta ridícula. Eu e minha promessa idiota. – Maxon me olhou confuso e mantive a pose, ele não sabia da promessa e eu não precisava ter falado dela.

— Que promessa? – ele perguntou mas eu não respondi, não poderia responder. – Karlla, por favor, me deixe explicar. Eu posso ouvir o que você tem a dizer sobre ontem. Eu estava nervoso, estava desesperado. Você precisa me entender.

— Não. Você, que precisa me entender.

— Eu não vou sair daqui até que você me ouça. – ele disse cruzando os braços no peito, determinado ou mimado.

— Quer saber de uma coisa? Foi um alívio saber sobre essa aposta – falei tentando soar irritada, prestes a fazer a coisa mais idiota de toda a minha vida. – Afinal, isso só mostrou o quanto aquelas palavras foram falsas, mostrou que eu sempre estive certa em não acreditar nelas e que foi um erro, da minha parte ter aceitado acreditar em você. Um erro que não vai mais acontecer. E aliás, eu nunca poderia ter gostado de você, eu prometi a mim mesma que quando viesse para cá, não iria me permitir se apaixonar. Então, estamos quites nessa. Volta para a sua vida, eu vou voltar para a minha. Você ganhou sua aposta, eu não quebrei minha promessa. Tudo certo.

Me virei para o corredor forçando minhas pernas a andarem e não correrem, forçando não olhar para trás.

Entrei no meu quarto e chorei.


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