Hecatombe escrita por Bella Burckhardt


Capítulo 4
Fantasmas do passado


Notas iniciais do capítulo

Hello, folks!!! E então, como passaram o fim de ano? Espero que muito bem! Perdoem a demora a postar, esses últimos meses foram bem corridos, mas estou de volta e aqui está o novo capítulo!
Espero que gostem, boa leitura!



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 Carson abriu os olhos lentamente, sua cabeça doía, se sentia fraca e sonolenta. Olhou em volta, não sabia onde estava, ao seu redor um pequeno cômodo de paredes cinzas e descascadas e sem nenhuma mobília, exceto, é claro, pela cadeira onde estava amarrada. Um cheiro podre dominava a sala e lhe embrulhava o estômago.

 Forçou um pouco a memória, se lembrava de estar na porta do galpão, de se despedir de Will e depois caminhar pelas ruas. Então um homem apareceu com uma arma, a arrastou para algum lugar, mas no meio do caminho uma pancada na cabeça a fez perder a consciência. A noção do que estava acontecendo fez Carson começar a se apavorar, ela se mexeu, tentando se livrar da corda que prendia suas mãos por trás da cadeira, mas não conseguiu. Ouviu passos no corredor e encarou a porta, a mesma logo foi aberta e um homem passou por ela.

 Não era o mesmo que a capturou, este era ainda mais mal-encarado, usava uma jaqueta gasta por cima das roupas, levava um revolver preso à cintura e puxava uma cadeira.

— Onde eu estou? Quem é você e o que quer? – Carson disparou assim que ele para em sua frente.

— Calminha, Carson, uma coisa de cada vez – ele disse em um tom calmo, posicionando a cadeira a sua frente.

— Como sabe meu nome?

— Eu sei de muitas coisas... Mas não de todas as que eu preciso e é por isso que está aqui.

— Diga logo o que você quer!

— Respondendo sua outra pergunta, sou Adrian Valentine, é um prazer finalmente conhece-la também – ele riu com sarcasmo e ela o encarou confusa e enraivecida. – Ora, não podemos ignorar os bons modos.

— Acho que sequestrar e amarrar pessoas não está em nenhum manual de etiqueta! – Ela esbravejou – espere, disse finalmente?

— Sim, isso mesmo, faz um bom tempo que planejo este encontro e agora finalmente pude arranja-lo, graças aos nossos adoráveis amiguinhos mortos-vivos que facilitaram tudo para mim. – Ele sorri e faz uma pausa – bom, você não deve estar entendendo nada, mas eu e seu irmãozinho Joe temos uma, vamos dizer assim, longa história.

— Era amigo do Joe?

— Amigo não é bem o termo. Você sabe, até poderíamos ter construído uma amizade, mas é difícil manter relações com um cara que invade seu espaço, ganha sua confiança e depois destrói seus negócios, enjaula seus parceiros, mete uma bala na cabeça da sua mãe e ainda degola seu irmão menor.

 Carson arregalava os olhos a cada palavra dele, estava cada vez mais perdida no meio daquilo tudo.

— O trabalho dele é proteger as pessoas, mas não todas elas ao que parece, não é? – Adrian se sentou frente a ela e seu semblante se tornou sombrio – eu sei tudo sobre vocês, Carson, passei um bom tempo da minha vida escondido, investigando cada passo dos dois, buscando o momento perfeito para aparecer e fazer aquele filho da mãe pagar por tudo que fez e, olhe só, esse momento chegou, a coisa que ele mais ama na vida está aqui, completamente indefesa, bem na minha frente.

 A loira permaneceu quieta, apenas ouvindo seu discurso e se apavorando cada vez mais.

— Você não sabe o quanto foi difícil esperar que o idiota baixasse a guarda, mesmo quando estavam distantes ele ainda dava um jeito de te proteger, o cara arranjava contatos em todos os lugares, era amigo dos guardas da faculdade, do delegado daquele fim de mundo, conseguiu gente até lá na Flórida, tudo para garantir que sempre teria algum cão de guarda te rondando. – Carson se surpreendeu com a informação, não fazia ideia daquilo – e não podemos julgar, o cara conseguiu bons inimigos no trabalho, gente da pesada mesmo. Quanto mais se sobe nessa carreira, mais perigoso fica. Ah, sabia que ele recebeu uma proposta dos federais? Graças a Deus que não deu tempo de assumir, se não jamais conseguiria trazê-la aqui.

 Ele olhava no fundo de seus olhos, fazendo-a congelar no lugar. O par de íris verde-musgo carregado de ódio e amargura.

— Mas chega de falar de mim, agora é sua vez – ele apoiou os cotovelos sobre as pernas, se aproximando ainda mais da garota. – Que tal começar contando onde está seu irmão, nosso querido Joe, hein?

 A pergunta surpreendeu Carson ainda mais e fez tudo se encaixar melhor para ela, finalmente percebera que o homem falava de seu irmão como se ele ainda estivesse ali. Adrian não sabia da morte de Joe, levou-a até aquele lugar achando que poderia ferir seu irmão.

— O meu irmão... – ela respirou fundo – Joe está morto.

 Explicou, segurando as lágrimas que a afirmação lhe trazia – era a primeira vez que dizia aquilo em voz alta.

— O que disse? – Adrian franziu a testa.

— Joe está morto, fomos atacados pelos mortos, ele ficou cercado e não consegui salva-lo.

— Não! – Adrian se levantou – meus homens viram vocês saindo do prédio, ele estava lá, estava vivo, uma mulher espantou a horda!

— Foi depois de sairmos, fizemos barulho e outros chegaram até nós.

— Não pode ser verdade – ele agora andava pela sala, passou as mãos pelo rosto e as levou a cintura –, ele não pode ter morrido, não pode, era eu quem iria mata-lo!

 Adrian socou a porta de metal e esta emitiu um som estrondoso enquanto ele se voltava mais uma vez para Carson, caminhando para ela como uma fera enraivecida.

— Pois muito bem – ele segurou seu rosto com força, fazendo-a olhar para ele –, já que Joe não foi forte o suficiente para resistir até nosso encontro, você vai herdar a dívida dele!

 Riu, soltou-a e então pesou a mão contra seu rosto em um ruidoso tapa. Carson sentiu a face queimar e um filete de sangue escorrer de seus lábios, quando voltou seu rosto para cima viu Adrian caminhando para a porta.

— Não, aonde vai? Você não pode me deixar aqui! – Elevou a voz, apavorando-se pelas palavras dele – Por que está fazendo isso? Disse que queria justiça por sua família, eu não lhe fiz nada e diz que preciso pagar, onde está a justiça nisso?

 Ele parou na porta e voltou a encara-la por um instante.

— Deve ter se enganado, em momento algum mencionei a palavra justiça. O que eu quero é vingança e, apesar de tênue, existe uma diferença entre as duas coisas. – Disse e acrescentou pausadamente – A vida não é justa, Carson.

 Dito isso, saiu da sala e bateu a porta atrás de si.

 Adrian não podia acreditar que passara tanto tempo planejando aquilo para no final o cara morrer pela boca de um zumbi. Ah, os “zumbis”, outra novidade decepcionante para ele, achou que os malditos mortos iriam ajuda-lo, mas acabaram desgraçando seu plano. Ouvira o estranho nome vindo de alguns amigos caribenhos, cujas famílias comparavam a praga com um feitiço do vodu haitiano, além disso um jornalista regional também usara o termo para se referir às criaturas, influenciando alguns a aderirem à nomenclatura.

 Seja lá como fossem chamados, os mortos vivos pareciam estar tomando o controle de tudo.

 Adrian subiu as escadas para o terceiro e último andar do prédio onde se instalou com os comparsas. Era um complexo de três apartamentos nada luxuosos que já estava abandonado desde antes da confusão começar. Ele entrou no apartamento e se jogou no sofá da sala com uma garrafa de bebida, estava transtornado demais para qualquer coisa, tudo em que conseguia pensar era no ódio e em como adoraria desconta-lo na infeliz que jazia no porão.

 Sem sua permissão, as imagens do fatídico dia que destruíra sua vida lhe vieram à mente. Viu Joe, quase que seu braço direito nos negócios, invadir a sala de sua casa com uma arma em punho e devidamente fardado. Sua mãe e seu irmão morreram tentando parar Joe e as duas mortes foram desculpadas como legitima defesa, mas Adrian sabia que os dois eram inocentes, que fizeram aquilo por lealdade. Por que ninguém conseguia ver isso? Era o que ele sempre se perguntava.

 E agora todo seu esforço fora desperdiçado por um instante de distração. Bastou tirar sua atenção dos Hartley por alguns minutos e tudo fora por água abaixo. Era o que se ganhava dando confiança àquele bando de ratos bêbados, nunca devia tê-los deixado de vigia, mas eram tudo o que havia restado para o serviço.

 Batidas na porta de madeira fizeram Adrian rolar os olhos, nunca conseguia mais do que alguns minutos sozinho.

— Chefe? – A voz cavernosa de Calf chamou de fora do quarto.

— O que é?

— O que devemos fazer com a mulher? – Ele abriu uma fresta na porta e se inclinou para dentro. Adrian respirou fundo e sinalizou para que entrasse.

 Calf era um marmanjo alto, forte e estúpido em todos os sentidos da palavra, um verdadeiro brutamontes, perfeito para se ter ao lado quando os mortos resolvem despertar, como Adrian vinha percebendo.

— Nada por enquanto, apenas deixe-a onde está.

— Mas ela está berrando feito louca, dá para ouvir do primeiro andar. Está chamando os zumbis e agitando as garotas.

— Então faça-a calar a boca, coloque uma mordaça ou qualquer coisa!

 Adrian virou outro gole da bebida e Calf saiu do apartamento, passou por dois dos colegas fumando na escada do segundo andar e viu mais três vigiando as garotas no primeiro piso, os outros estavam cuidando dos mortos do lado de fora. Acenou para os três homens na porta e adentrou o apartamento do primeiro andar, viu todos os olhares se voltarem para ele assim que entrou.

 Eram cinco mulheres e duas garotinhas, a mais nova era filha de uma delas e se encolhia nos braços da mãe, já a outra alguns dos homens encontraram na rua logo depois de sequestrarem a loira, ela se sentava sozinha em um canto e se levantou quando viu Calf.

— Quem é que está gritando lá embaixo? – Perguntou a menina, não devia ter mais do que dez anos, usava um vestido rosa e tinha os cabelos dourados desgrenhados.

 Calf a encarou um segundo, quase sentia pena da menina, mas a ignorou e passou direto, olhava em volta atrás de algo para amordaçar a loira.

— Isso vai servir – arrancou um lenço da mão de uma delas, que soltou um gritinho assustado, Calf riu seco e saiu de lá, descendo para o porão.

 Em um corredor estreito haviam três salas, a primeira era a casa de máquinas do antigo elevador, a segunda devia ser onde os moradores amontoavam suas tralhas, estava lotada de móveis e bugigangas, e a terceira estava vazia quando revistaram tudo a mando de Valentine, nada além de vassouras e um monte de roedores mortos, esvaziaram a sala e prenderam a refém ali.

 Os gritos dela aumentaram quando ouviu a porta sendo destrancada, mas logo estes se tornaram murmúrios abafados pelo lenço. 

 Carson praguejou mentalmente quando viu o homem sair e tranca-la ali de novo. Não fazia ideia de nada do que Adrian dissera, sabia que o trabalho de Joe era perigoso, mas não fazia ideia do quanto e nem de que ele se preocupara tanto com ela. Não fazia ideia do que faria a seguir também, aquele homem era louco e ficou claro que não a deixaria sair dali tão cedo, isso se a deixasse sair, então engoliu o desespero e se aquietou, precisava pensar, Joe passou a vida protegendo-a, morreu lutando por ela e por aquelas pessoas, não podia desistir e se deixar morrer pelas mãos de um criminoso qualquer.

 Em algum momento Adrian voltaria ali, muito provavelmente para matá-la e se fosse assim essa seria sua única chance de fazer algo, precisava de um bom argumento já que mesmo desamarrada não conseguiria ir contra um homem daquele tamanho e, como a boa jornalista que era, argumentos não lhe faltavam, só precisava pensar e achar algum que se encaixasse em um cenário apocalíptico.

 O tempo se arrastava lentamente, ela se sentia cansada, dolorida e seu estômago começava a reclamar, sem um relógio e nenhuma janela não sabia quanto tempo havia se passado quando ouviu um disparo no andar de cima, seguido de uma correria, alguns gritos e vozes desesperadas. Aguçou a audição para tentar entender o que se passava e ao que parece alguém havia levado um tiro, obviamente o bando de ogros de Valentine não sabia o que fazer, continuaram falando e falando, mas ninguém fazia nada. Uma ideia começava a se formar na mente de Carson.

 A porta se abriu subitamente e Valentine caminhou para dentro com um olhar sombrio, se sentou na outra cadeira puxando-a para ainda mais perto.

— Sabe, eu pensei bastante sobre isso tudo, bastante mesmo, apesar de ser uma coisa difícil de fazer quando se tem um bando de ratos falastrões te perturbando o dia todo, eu pensei. Mas não sei o que fazer com você, podia te colocar com as outras garotas, mas quem é que precisa de prostitutas no fim do mundo? Acho até que vou parar de investir nessa área. Também podia te dar de presente uma sessão de torturas, como nos filmes – ele ri, cínico –, mas ao que parece vou ser obrigado a sair logo desse lugar e, meu Deus, você consegue ser barulhenta como o inferno, não posso te levar se continuar desse jeito.

 Carson tenta manter a calma mesmo diante de suas sugestões, ele remove a mordaça dela e volta a falar.

— Então, eu acho... – sua voz é agora como um sussurro e ele se curva, parando a centímetros de seu rosto – eu acho que vou ter que te matar, Carson. – Ele faz uma pausa – é mesmo uma pena ter que desistir dos incontáveis planos que fiz e pular logo para o final, mas o que posso fazer se nossos amiguinhos zumbis resolveram acabar com toda a diversão? Eu achei que eles seriam uma benção, mas cada vez mais se mostram uma maldição. Não posso chantagear o Joe com você, não podemos nos divertir como planejado porque está tudo tomado pelos mortos, não há nada a fazer e você não tem ideia do quanto isso me deixa zangado!

  Adrian se afasta mais uma vez, fica de pé e vira as costas a ela, leva a mão a uma faca presa ao quadril.

— Espere! – Ela pede afobada e ele para – não precisa ser assim.

— Ora, bobinha, é claro que precisa, acha mesmo que vou desistir de tudo e ainda te deixar viva? – Adrian se vira novamente com sua risada sarcástica.

— Eu ouvi o tiro, sei que um dos seus homens se feriu, eu posso ajudar! – Carson fala de uma vez e engole em seco, não sabia realmente como, mas era sua melhor ideia.

— E quem disse que preciso da sua ajuda?

— Daqui dá para ouvir o cara gemendo de dor, se sabem o que fazer, por que não fizeram ainda?

 Ela o desafia e ergue olhar, precisava mostrar confiança, mesmo que ela própria não acreditasse em muito do que dizia.

— Pois bem, e quando foi que se tornou médica? Vai me dizer agora que tinha uma enfermaria naquela editorazinha em que trabalhava? – Ele ri e Carson não para de se surpreender com o quanto ele sabia, mas pensa rápido e o responde.

— Não, não tinha, mas deixou passar o fato de que meu pai era médico, um ótimo cirurgião, a propósito. E ele adorava passar os fins de semana assistindo a operações gravadas, adorava ainda mais falar sobre essas coisas com a gente, passamos boa parte dos feriados com ele desse jeito – ela disse e não estava mentindo –, um péssimo programa, fazíamos só para vê-lo feliz, mas não significa que eu não aprendi nada.

 Adrian a encara por alguns minutos, a investiga com o olhar atrás de algum sinal de hesitação, mas não o encontra.

— Tudo bem – ele respira fundo e concorda. – Você só tem uma chance, se ele morrer, você morre!

 Carson soltou o ar aliviada, não era muito melhor do que sua situação atual, mas já era alguma coisa. Adrian a desamarrou e a colocou de pé com um puxão, ela sentia o corpo doer e sua visão embaçou um segundo, com certeza era culpa da pancada que levou, mas Adrian não dava a mínima e a arrastou para fora da sala com uma mão firme apertando seu braço.

 Eles subiram um lance de escadas e entraram em um apartamento velho, no sofá estava um homem grande, sujo e desacordado, com a camisa encharcada de sangue e um pano amarrado logo abaixo da cintura. Adrian a atirou para o lado dele com um empurrão.

— Faça alguma coisa – ordenou lhe lançando um olhar intimidador, Carson concordou com a cabeça e olhou em volta.

 Dois outros homens estavam ali, um na porta e outro encostado na janela lacrada, além deles um grupo de mulheres se aglomerava em um canto afastado, olhavam-na assustadas e curiosas, presumiu que fossem as garotas a quem Valentine se referiu, não tinha entendido muita coisa sobre ele e seus “negócios”, mas sabia que não era flor que se cheire. Ela respirou fundo e se ajoelhou ao lado do baleado, com cuidado desfez o torniquete improvisado e levantou a camisa do homem.

— Meu Deus – murmurou, não pelo ferimento feio que via, mas por não saber como faria para resolver. – Ahn, tudo bem, alguém checou se a bala saiu?

 Perguntou olhando ao redor e o capanga na porta a respondeu.

— Não, só tem um buraco, ela parou ai dentro.

— Okay, vamos lá, Carson, você consegue – disse a si mesma e se concentrou. – Okay, eu preciso de álcool, panos, uma pinça e de algo para costurar ele.

— Vodka serve? – O outro cara perguntou.

— Oh, eu... eu não sei, acho que sim, se não tiver mesmo outra coisa – ela deu de ombros e ele lhe trouxe uma garrafa da bebida.

— A Loren tem um kit de costura – uma das garotas se lembrou.

— Sim e também deve ter uma pinça por aqui em algum lugar– a tal Loren entrou em um quarto e logo voltou com algumas toalhas, linha, agulha e uma pinça de sobrancelhas.

— Obrigada – Carson agradeceu pegando as coisas de sua mão.

 Lavou as mãos na pia da cozinha e esterilizou – ou quase isso – os objetos usando a vodka, voltou para o sofá e respirando fundo começou a trabalhar. Agora havia uma bacia com água ao seu lado e uma mulher segurando uma lanterna – já havia anoitecido e não tinham eletricidade –, ela limpou o ferimento, pigarreou um tanto nervosa e enfiou a pinça no furo que obstruía o abdômen do desacordado, o objeto era pequeno e o ferimento mais fundo do que ela esperava, teve que mergulhar quase toda a pinça para finalmente alcançar o projetil. Quando sentiu que o havia pegado, puxou de volta os dois com todo o cuidado, estava quase retirando quando ouviu o choro de uma criança e se assustou.

— Merda! – Praguejou e olhou por cima do sofá, Loren sacodia uma menininha no colo para acalma-la, Carson não vira a criança antes.

 Adrian se aproximou olhando feio e ela continuou o que fazia, sem querer havia espetado o homem e ele resmungava alguma coisa incompreensível, parecia estar acordando. Novamente buscou o projetil no ferimento e com ainda mais cuidado o retirou, finalmente. Suspirou e largou a pinça no chão, pegou a agulha e fechou a ferida.

 Fez um curativo e com uma faixa improvisada enrolou mais uma vez o abdômen. Quando terminou o homem parecia bem, só um pouco febril.

— Ele pode precisar de remédios, principalmente se a febre aumentar, pode ser sinal de infecção – explicou a eles.

— Hm, muito bem, se algo acontecer com ele a culpa vai ser sua, então é melhor que se recupere – Valentine diz e ela se ergue, o encara incrédula. – E parece que encontramos uma utilidade para você, então parabéns, vai vir conosco, mas tem que prometer que vai ficar quietinha!

— O que? Ir para onde?

— Você vai ver, e é melhor não tentar fugir, as coisas podem ficar bem feias para o seu lado – ele meneia a cabeça. – Não vai se livrar de mim tão cedo, docinho, ainda vamos passar muito tempo juntos.

 Valentine abriu um sorriso maldoso, apesar de tudo ainda havia encontrado um jeito de atormentar a garota e executar sua vingança.

 Carson ia dizer algo, mas então olha para a porta do quarto e paralisa.

— Carson? – Uma menina surge, está sonolenta e coça os olhos, parecia ter acabado de acordar.

 Carson a reconhece, era a menina que ajudou na fuga do prédio, mas ela viu quando a menina correu para a mãe, não entendia como ela podia estar ali.

— Como... – ela olhava da menina para Valentine, cujo sorriso se alargava ainda mais – Como ela chegou aqui?

— Meus homens a encontraram na rua pouco depois de acharem você. Se conhecem?

 As coisas se clareiam em sua mente quando pensa um pouco e se lembra que não viu a mãe dela no galpão, nem a mãe e nem a bebê que segurava. Elas deviam ter se perdido no caminho. A menina vem até ela e Carson se abaixa para olha-la.

— O que aconteceu? Onde está sua mãe?

— Eu não sei, nós nos escondemos quando aquele monstro pegou o seu irmão, aí vocês sumiram e... – ela para um minuto – Eu não lembro bem, ficou de noite e apareceram mais, e a mamãe me mandou correr.

 Carson a olha com pena, se lembrava de já ter visto a família algumas vezes quando visitava Joe, eram boas pessoas. Ela ergue o olhar para Valentine.

— Olha só, mas que coincidência, é sempre bom reencontrar os amigos! – Ele se agacha e então diz em voz baixa –Estava mesmo pensando em jogar a pestinha para os zumbis, mas parece que você é tudo que restou para ela, por isso acho que agora, se você for boazinha, ela vai continuar sã e salva por aqui – o sorriso ainda dança em seu rosto. – E então, animadas para pegar a estrada?


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Notas finais do capítulo

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