Refúgio dos sonhos. escrita por Helen


Capítulo 3
Parte III




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Aquele era o último dia que eu ia ficar no sítio. Amanhã, eu teria que estar em casa, ir pra escola.... Fiquei tão triste.

Meus pais passaram a manhã toda me lembrando disso, me avisando de guardar todos os meus brinquedos e coisas. Eu acabei fazendo isso, mesmo. Perto do almoço eu já tinha arrumado tudo, só estava esperando o almoço e ir embora. Foi quando lembrei de Maria. Tinha deixado ela sozinha a manhã inteira!

Subi as escadas como um guepardo, e quando cheguei, a janela estava fechada. Me desesperei. Será que meus pais tinham achado Maria?! Se sim, o que fizeram com ela?! Abri a janela todo agoniado, e ela acabou batendo na parede com o vento que entrou, fazendo um barulhão.

— Ei! Abra essa janela com mais cuidado...

Ouvir a voz de Maria me acalmou completamente.

— Você ainda está aqui, ainda bem! — suspirei aliviado.

— Pra onde eu iria? — ela se espreguiçou.

— Não, eu quis dizer... Enfim. — esqueci meu medo. — Eu... — me preparei pra contar as más notícias. — Eu vou ter que ir embora... O feriado acabou....

— Ai, sério? — ela ficou triste. — Mas já?....

— Eu também não queria ir, mas...

— Não, tudo bem... — ela tentou me consolar — Você pode vir aqui no próximo feriado.

— É... pode ser...

Pintou um clima estranho. Minha mãe me chamou lá embaixo.

— Tchau, Maria...

— Adeus, Antônio...

Eu desci as escadas, com a cabeça baixa. Não tinha mais nada dentro da casa. Fui até a porta e vi meus pais colocando as coisas no carro. Minha mãe terminou de ajeitar e entrou no carro. Meu pai se virou pra mim, com o rosto mais cansado e irritado do que quando chegara, e, quase me ameaçando, me chamou.

Encarei aquele homem que chamava de pai, que cuspia um nome que dizia que era meu. Não quis obedecê-lo.

Corri pra dentro da casa, enquanto ouvia minha mãe gritar meu nome. Subi o sótão, e Maria se assustou com a minha rapidez. Peguei sua mão e saltei da janela, sabendo que meus pais estavam subindo a escada. Aterrissamos com um pouco de dificuldade, mas eu a puxei e saímos correndo. Atravessamos o riacho, chegamos no jardim.

O sol estava se pondo, e as cores do céu eram tantas que parecia que eu tinha sido alvejado com um monte de balde de tinta. O último balde tinha sido laranja. Um laranja bonito, que quase dá vontade de comer.

Puxei Maria pra frente a comecei a segurá-la com os dois braços. Ela era tão leve... tremia tanto! Conseguia ouvir sua respiração pesada. E também os xingamentos do meu pai, ao longe.

Eu corri, corri, e corri ainda mais. Atravessei por completo o jardim, e adentrei a mata selvagem. Parei quando achava que estava longe o suficiente. Coloquei Maria com cuidado no chão, e caí de cansaço. Respirei o máximo de ar que pude. Acho que o planeta ficou com bem menos ar que antes.

— Antônio... — ouvi a voz da boneca. Ela tinha se levantado.

— O.... que foi... Maria? — estava cansado demais até pra falar.

— Volte... — ela olhou pra mim.

— O que?! — levantei meu tronco de súbito. Quase caía de novo. — Como... como você quer que eu... volte?!

— Você precisa... voltar pra casa... — estava preocupada.

— Eles... eles não vão me levar pra casa... eles... — comecei a chorar de revolta. — Eles vão... me levar pra... longe... de você...

Eu a olhei, tristonho. Ela me respondeu com o mesmo olhar.

— Antônio...

— Por favor, Maria... me deixa... ficar aqui... — fechei os olhos, ainda chorando.

Comecei a ouvir soluços que não eram meus. Abri os olhos, e, entre o borrão causado pelas lágrimas, eu vi a minha boneca chorando. Saía lágrimas dos seus olhos de madeira, e eles escorriam até cair na grama.

— Maria...?

Ela caiu de joelhos. Eu me aproximei para tentar ajudá-la a se levantar e ela me surpreendeu com um abraço. Senti as lágrimas molhando minha camisa.

— Desculpa, Antônio... Mas... — cada palavra era dolorosa. — Você precisa voltar...

— Eu não quero! — abracei ela mais forte. — Eu... não quero...

— Antônio...

— Maria...

— Não se esqueça de mim, Antônio...

Eu te amo, Maria...


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