Sala 7 escrita por KiaHeronstairs


Capítulo 10
Capítulo 9 - Eu sei o que estou fazendo




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Não importava o tamanho do meu esforço para levantar ou o quanto eu girava a maçaneta e gritava ameaças para o feiticeiro, a porta permaneceu intacta. Bufando de frustração, me encostei na parede enquanto tentava pensar numa solução, quase podia sentir o cheiro de engrenagens queimadas saindo da minha cabeça.

Do lado de fora começou uma chuva fraca, as gotas desciam suavemente pela janela do lado oposto do banheiro. Do outro lado da porta tudo ficou silencioso. Franzi o cenho, com o olhar fixo na porta como se eu pudesse olhar através dela se tivesse força de vontade o suficiente. Nada. A chuva aumentou e açoitou a janela sem piedade, agora relâmpagos foram adicionados ao show.

— É isso… A janela! — Sussurrei baixinho.

Senti raiva por não ter pensado nisso antes. Arrastando-me pelo chão com uma mão na frente da outra, parecendo um soldado em treinamento, consegui entrar na banheira novamente e, com um pouco de esforço, alcancei o peitoril da janela. Graças aos Céus era grande o suficiente para caber minha bunda de sereia, que eu consegui encaixar ali após algumas tentativas. Poucos segundos mais tarde destravei a janela, empurrando-a escancaradas para o lado de fora na mesma hora que a porta explodiu, enviando estilhaços de madeira para todos os lados. Por reflexo, tirei as mãos que apoiavam a parede e me mantinham segura para proteger meu rosto. Com o impacto da explosão e meu desequilíbrio de natureza, me vi caindo para fora, rumo a um pátio de pedra 20 metros abaixo. Antes que pudesse gritar ou ter qualquer outra reação, parei dois segundos antes de atingir o chão, caindo mais suavemente em seguida.

Com o coração pela boca, continuei estirada de costas no chão, sendo maltratada pela chuva. Vi uma sombra na janela, mas logo desapareceu.

Me sentei, limpando a água dos olhos, e olhei em volta; eu estava numa espécie de praça, era um local bem pequeno com alguns arbustos e três bancos. De longe avistei alguém se aproximando rapidamente, não pude ver quem era por causa da chuva. Conforme foi chegando perto, vi que era um garoto. Não me lembrava de tê-lo visto antes.

— Qual é o seu problema, garota? Sempre que eu te vejo você tá caindo! — Disse ele, gesticulando para a janela.

Ele tinha uma voz melódica e falava muito rápido, seu cabelo estava grudado no rosto e ele usava roupas simples. Tinha uma expressão engraçada, apesar de aparentar estar bravo.

— Quem é você? — Perguntei, curiosa.

— Por que você tá com uma cauda? Para de brincadeira, nós temos que ir! — Ele continuava gesticulando com as mãos para que eu me levantasse, ignorando minha pergunta.

— Pode acreditar que se eu conseguisse levantar já estaria bem longe daqui! — Respondi.

— Mas que merda! É só você querer! Se precisa de uma motivação eu posso te atropelar com um carro. — Ele gritava impacientemente, mas só porque a chuva estava abafando suas palavras.

Meu rosto ficou corado de raiva, mas não deu para ver. Quem diabos era ele? Apesar de querer muito socá-lo, apertei os olhos bem fechados e visualizei minhas pernas, eu correndo para encontrar o Adam, e encontrar meu pai. Eu tinha que encontrar meu pai. Tentei me acalmar, só ouvi o barulho da chuva, senti as gotas geladas me envolvendo e, aos poucos, minha respiração foi ficando estável.

Não sei quanto tempo durou, mas abri os olhos quando senti minhas pernas reaparecendo e…. Nem deu tempo de comemorar. Tudo o que eu vi foi que eu estava nua da cintura para baixo. Com os olhos arregalados, puxei a camisa que o Magnus me emprestou para baixo, cobrindo minhas partes intimas, mas quando levantei senti que a polpa da minha bunda estava de fora. Eu quis morrer.

A menino me ignorou. Caminhou até o portão e rapidamente sumiu da minha vista. Fiquei parada onde estava, tentando digerir a situação enquanto puxava avidamente a camisa para baixo. Ouvi um carro derrapar e o barulho alto de motor, então uma buzina ensurdecedora. Corri para fora e ele continuou buzinando, a porta do carro estava aberta como um convite. Minha mãe disse para não entrar em carro de estranhos, mas eu não tinha muitas escolhas. Bati a porta assim que entrei, já sentindo o quentinho acolhedor do interior do carro. Eu estava tremendo.

— Tem uma calça no banco de trás, eu acho. Olha aí.

Sem pensar muito, pulei para o banco de trás e puxei uma calça jeans embolada num canto. Rapidamente a vesti, feliz por não estar mais nua. Era um pouco grande e estava suja de tinta nos joelhos, mas não dei importância.

— Vai me dizer quem você é? — Perguntei, voltando para o banco da frente.

— Christian. — Respondeu. — Guardião Guerreiro em treinamento. Fui mandado para te ajudar com a sua missão.

— O que houve com o Magnus e o resto das pessoas que estavam na sala? — Indaguei, quando finalmente me dei conta do silêncio que antecedeu sua estranha chegada e a explosão.

— Feitiço Imobilus. Sempre funciona. — Respondeu, dando de ombros.

Como ele pode lançar feitiços? Tantas perguntas se passavam ao mesmo tempo da minha cabeça, eu só queria cuspir todas de uma vez, mas não podia.

— Você.... É mesmo como eu? — A surpresa era visível em minha voz.

— Hãn... Não. Eu tenho estudos e realmente sei o que estou fazendo, você não. Então não, não somos iguais. — Ele não soava rude, apesar das palavras, parecia que não se importava, que era natural dele falar assim.

— Certo, Senhor Eu-sei-o-que-estou-fazendo, onde estamos indo? — Bufei.

— Meu nome é Christian. — Ela franziu o cenho e me olhou como se eu fosse louca. — Nós vamos encontrar seu pai.

— Mas o Adam ainda está no Instituto, temos que buscá-lo. — Protestei.

De repente o carro parou bruscamente, quase me fazendo atravessar a janela. Fitei Christian com um olhar assassino.

— Eu sei. — Respondeu enquanto abria a porta do carro.

Imitei suas ações e a segui para fora do carro, dando de cara com os portões abertos do Instituto. Nunca cheguei a ver o local aos olhos dos mundanos, provavelmente porque eu já sabia o que realmente era o lugar em vez de uma velha igreja em ruínas. Sabia que o garoto também via.

Entramos na propriedade debaixo de uma chuva fina, porém gelada. Eu me encolhia, enquanto Christian parecia nem notar que estava molhado. Seu cabelo era cortado bem baixo nas laterais, enquanto no meio era comprido e caía em seus olhos, ele distraidamente o jogava para trás com um movimento da cabeça. As portas se abriram quando nos aproximamos e Jace saiu, nos fitando desconfiado.

— Maryse está voltando de Idris, você precisa levar sua criatura embora daqui. — Disse o garoto sem pestanejar.

— Eu preciso falar com o Adam. — Anunciei. — E não é minha criatura. Eu nem sei porque ele está aqui.

— Ah, eu sei! — Christian ergueu uma mão, como se estivesse numa sala de aula. — Eu o trouxe.

Murchei os ombros, enquanto o encarava com uma expressão de incredulidade no rosto. Jace fez o mesmo, cruzando os braços.

— O que? Eu tinha que vir de Hogwarts de alguma maneira, não dava para pegar um trem. — Disse ele, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Ouvi passos, seguidos de risadas e logo em seguida surgiram Adam e Isabelle, parando atrás do loiro mal-humorado. Adam fitava Christian com os olhos semicerrados, provavelmente se perguntando quem era ele.

— Adam! — Chamei. — Precisamos ir. Agora.

— E não esqueça o hipogrifo! — Avisou Christian.

— Ele está machucado nas patas, não consegue andar e ninguém aqui sabe como tratá-lo. — Explicou, a preocupação em sua voz não passou despercebida.

— Então deixe ele aí e vamos, tudo certo. — Ele virou de costas e saiu andando, como se tudo já tivesse sido resolvido.

— Não vou deixá-lo!

— Ele não pode ficar aqui! — Esbravejou Jace ao mesmo tempo que Adam.

— Então fica aí também, garoto. Que saco... — Gritou Christian, parando no meio do caminho. — Vamos! — Gesticulou para mim.

Adam estava perplexo. Ele olhava de mim para Christian como se dissesse “Sou eu ou ele”. Jace discutia baixinho com Isabelle lá atrás.

— Vamos levá-lo, Christian. Qual o problema? — Indaguei.

— Soldado ferido, esse é o problema. Ele fica e nós vamos. É ele ou seu pai.

Então ele era esse tipo de garoto, o que deixava os feridos para trás sem se importar com isso. Infelizmente, apesar de eu não gostar dele, ele tinha um bom argumento. Não tinha como levar o animal conosco, não com ele machucado. Sabia que Adam ia protestar e provavelmente me odiar, mas o que mais eu podia fazer?

Mordendo enlouquecidamente o lado interno das bochechas, pousei o olhar em Adam e entortei a cabeça, suspirando. Batalha perdida. Pude ver que ele estava engasgado para dizer alguma coisa, mas nada disse. Isabelle o encarava com olhos de filhotinho e ele sentiu o peso da culpa quando retribuiu o olhar. Eu já estava de saco cheio da cena.

— Mas o que eu vou fazer? Não sei cuidar dele. Não sei nada sobre essa criatura. — Dizia ela. — Você pode ficar e me ajudar. — Sugeriu, mordendo o lábio inferior.

— O que? Não finja que se importa com o hipogrifo, Isabelle! — Gritei com indignação.

Ela me encarou ferozmente e eu retribui o olhar. Quase pude ouvir ela rosnar. Havia a sugestão de um sorriso nos lábios do Caçador de Sombras ao seu lado, ele estava adorando aquilo.

— VAMOS LOGO! — Gritou Christian, que já estava dentro do carro e não parava de buzinar.

— Adam!!! — Isabelle e eu gritamos ao mesmo tempo.

Jace segurou o riso.

— Escuta, Izzy, eu gostaria de ficar. — Disse ele, virando-se para ela e segurando sua mão cuidadosamente. — Mas eu tenho que ir com a Lori. Você pode pedir ajuda para o Magnus, ele pode saber o que fazer.

Ela me encarou com raiva e, com um grunhido, se soltou das mãos de Adam e saiu pisando fundo para dentro do Instituto.

— Já disse que ele não vai ficar aqui! — Ralhou Jace. — Vou buscá-lo e vocês vão levá-lo por bem ou por mal.

Senti o tom de ameaça no ar, mas assim que ele virou as costas nós saímos correndo e entramos no carro, que deixou o local no mesmo instante.


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